quarta-feira 29 2015

Justiça aceita denúncia contra presidente da Andrade Gutierrez e mais 12


Juiz Sergio Moro considerou haver indícios suficientes de que executivos, lobistas e ex-dirigentes da Petrobras praticaram os crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa


Otávio Marques de Azevedo, presidente da construtora Andrade Gutierrez é encaminhado para exames no IML de Curitiba (PR) - 20/06/2015
Otávio Marques de Azevedo, presidente da construtora Andrade Gutierrez é encaminhado para exames no IML de Curitiba (PR) - 20/06/2015(Vagner Rosário/VEJA)
O juiz Sergio Moro, da 13ª Vara da Justiça Federal em Curitiba, aceitou denúncia contra o presidente da construtora Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo, e outras doze pessoas. Com isso, eles passam a ser réus na nova ação penal aberta em decorrência das investigações da Operação Lava Jato. Além do dirigente máximo da construtora, também passaram a responder formalmente por crimes como corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa o doleiro Alberto Youssef, os executivos Antônio Pedro Campello de Souza, Armando Furlan Júnior, Elton Negrão, Flávio Gomes Machado Filho, Paulo Dalmazzo, o lobista Fernando "Baiano" Soares, os operadores Mario e Lucélio Góes, além dos ex-dirigentes da Petrobras Paulo Roberto Costa, Pedro Barusco e Renato Duque.
De acordo com a denúncia apresentada pelo Ministério Público, o Grupo Andrade Gutierrez pagou propina a dirigentes da Petrobras em obras e contratos na Refinaria Gabriel Passos, em Betim (MG), no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), na Refinaria Landulpho Alves, em São Francisco do Conde (BA), na Refinaria de Paulínia (SP), no Gasoduto Urucu-Manaus, no Centro de Pesquisas (Cenpes) e no Centro Integrado de Processamento de Dados (CIPD), no Rio de Janeiro, no Gasoduto Gasduc III (RJ) e no Terminal de Regaseificação da Bahia.
A força-tarefa de procuradores que atuam nas investigações do esquema do petrolão conseguiu mapear 243 milhões de reais desviados pela Andrade Gutierrez entre 2007 e 2010 em 106 atos de corrupção ativa, 61 de corrupção passiva, 62 lavagens de dinheiro.
O Ministério Público apresentou três esquemas criminosos da Andrade Gutierrez com apoio de Alberto Youssef, Fernando Baiano e Armando Furlan, além de falsas consultorias. Os operadores Mário e Lucélio Góes também atuaram em esquemas da empresa, por meio da empresa RioMarine. Os recursos eram enviados para contas no exterior como a Maranelle e Phad. Uma vez no exterior, nas contas dos operadores, o dinheiro era repassado para as contas de Pedro Barusco. Ele também recebia valores de 300.000 a 400.000 reais em mochilas por meio de Mario Góes.
Nesta terça-feira, a Andrade Gutierrez voltou a protagonizar as investigações da Lava Jato. Na 16ª fase, que ampliou as investigações para o setor elétrico, foi preso temporariamente o presidente da AG Energia Flávio Barra, suspeito de integrar uma trama de pagamento de propina envolvendo as obras da usina nuclear de Angra 3. Para o MP, a corrupção era o "modelo de negócio" da empreiteira.

Moro manda prender quem barrar buscas na Odebrecht


Advogados da empreiteira impediram que PF copiasse e-mails de diretor investigado durante a 16ª fase da Lava Jato, nesta terça-feira, no Rio de Janeiro

Fabio Gandolfo, diretor da Odebrecht Infraestrutura, investigado na 16ª fase da Lava Jato
Fabio Gandolfo, diretor da Odebrecht Infraestrutura, investigado na 16ª fase da Lava Jato(Reprodução/VEJA)
O juiz Sergio Moro determinou que a Polícia Federal prenda os funcionários e advogados da Odebrecht que se opuserem à busca realizada pelos agentes nesta terça-feira na sede da empresa na Praia de Botafogo, no Rio de Janeiro. A empreiteira também é alvo de uma ordem judicial de busca e apreensão na 16ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada para levantar provas e apurar a suspeita de crimes em contratos com a estatal Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras.
Moro determinou que a PF cumpra o mandado "se necessário mediante a utilização de força e prisão daqueles que se opuserem" pelo crime de impedir investigação contra organização criminosa, cuja pena varia de três a oito anos de prisão.
Na manhã desta terça, o delegado da PF Igor Romário de Paula comunicou ao juiz que advogados da empreiteira "se recusaram" a ceder as senhas de acesso aos servidores para extração de dados e arquivos da conta de e-mail do diretor superintendente da Odebrecht Infraestrutura, Fábio Gandolfo, um dos investigados nesta fase. A PF suspeita que a postura da Obebrecht seja "uma mera estratégia de retardar a investigação policial".
"A alegação dos defensores baseia-se no fato de que o servidor de e-mails da empresa estaria estabelecido no exterior e não abrangido pela ordem judicial", escreveu o delegado.
O obstáculo criado pelo departamento jurídico da Odebrecht irritou o juiz Sergio Moro. Ele também considerou que a Odebrecht pode tentar destruir provas no arquivadas no e-mail de Gandolfo e por isso não liberou acesso imediato aos agentes da PF.
"Ora, não cabe aos empregados da Odebrecht, quer advogados ou não, se oporem ao cumprimento do mandado de busca. O crime investigado ocorreu no Brasil, o executivo investigado realizou comunicações no Brasil, não tendo qualquer relevância o suposto óbice apontado", anotou Moro. "Como o comportamento adotado indica possibilidade de destruição de provas, como também indicam anotações anteriores do presidente da holding [Marcelo Odebrecht], ao recomendar 'higienização de apetrechos', amplio a busca para deferir o pedido para a extração dos backups, cópias de segurança e logs de acesso da conta investigada das últimas 48 horas."