quinta-feira 19 2015

Dirceu recebeu R$ 1,2 mi enquanto estava na cadeia


EMS e Consilux pagaram 700.000 e 500.000 reais, respectivamente, quando o mensaleiro cumpria pena no Complexo da Papuda em Brasília


Por: Daniel Haidar, de Curitiba - Atualizado em 

José Dirceu deixa a VEP (Vara de execuções penais) acompanhado de sua advogada e de um militante do PT
José Dirceu em 4 de novembro do ano passado: o 'consultor' foi liberado para terminar de cumprir pena em casa(Dida Sampaio/Estadão Conteúdo)

Do dia 16 de novembro de 2013 até 4 novembro de 2014, o ex-ministro José Dirceu cumpriu 11 meses e 20 dias de prisão por ter arquitetado o esquema do mensalão. Passou seis meses trancafiado no Complexo Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal, e posteriormente foi transferido para uma unidade que abriga detentos em regime semiaberto. Nesse período, conseguiu um emprego para organizar a biblioteca do escritório do advogado e amigo José Gerardo Grossi, com salário de 2.100 reais mensais. Voltava para o Centro de Progressão Penitenciária do DF para dormir. Em 142 dias, amealhou cerca de 10.000 reais pelo serviço. Mas, segundo a Receita Federal, um montante exponencialmente maior passou pelas suas contas bancárias enquanto esteve na cadeia. Investigado por novas suspeitas de corrupção e lavagem de dinheiro, José Dirceu recebeu pagamentos como "consultor" de novembro de 2013 a novembro de 2014: faturou pelo menos 1,2 milhão de reais. O site de VEJA confirmou que a gigante farmacêutica EMS e a construtora Consilux pagaram 700.000 reais e 500.000 reais, respectivamente, ao petista.
Dirceu começou a ser investigado na Operação Lava Jato porque a Polícia Federal e o Ministério Público Federal constataram que ele faturou pelo menos 8 milhões de reais de grandes empreiteiras doclube do bilhão, o cartel que fraudava contratos da Petrobras e pagava propina a políticos e partidos. A polícia investiga se os pagamentos eram propina ou recompensas pela influência do petista no governo Lula e Dilma Rousseff. A análise da movimentação financeira de Dirceu mostrou que ele recebia pagamentos não só das construtoras ligadas ao esquema de corrupção mas de diversas outras empresas com negócios regulados pelo governo federal. No total, a JD Assessoria e Consultoria faturou 29,2 milhões de 2006 a 2013 de cinquenta empresas.
Condenado a 7 anos e 11 meses de prisão por corrupção ativa no mensalão, Dirceu cumpre pena em regime domiciliar. Além da reclusão, a Justiça determinou que ele devolvesse 920.700 reais aos cofres públicos como multa. Mas, apesar de continuar recebendo dinheiro atrás das grades, ele não precisou colocar a mão no bolso: uma "vaquinha" feita por quase 4.000 simpatizantes do mensaleiro arrecadou mais de 970.000 reais.
Venezuela - Sócio-fundador da Consilux, Aldo Vendramin afirmou a VEJA que manteve os pagamentos enquanto o ex-ministro estava preso porque o contrato previa o desembolso de 90.000 reais mensais de dezembro de 2011 a junho de 2014. Segundo ele, Dirceu foi contratado para "resolver problemas" na Venezuela, onde o empresário alega que a empresa sofreu com atrasos de pagamentos depois de estrear no mercado de habitações populares do ditador Hugo Chávez, em 2006. Mas jamais deixou de ser bem remunerado.
O controlador da Consilux afirmou que Dirceu obteve sucesso em 2012. De acordo com Vendramin, ele destravou os pagamentos do governo venezuelano. A atuação do ex-homem forte do governo Lula também garantiu a assinatura de mais dois aditivos, de 80 milhões de dólares e 120 milhões de dólares, o que elevou o faturamento da empresa com o governo do país vizinho para um total de 416 milhões de dólares.
"Sou muito grato ao que Dirceu fez pela Consilux na Venezuela. A partir de 2012, não havia muito o que fazer por nós. Ele já tinha prestado os serviços. Mas continuamos pagando porque tinha contrato vigente. Nem poderia ser diferente", afirmou Vendramin em entrevista ao site de VEJA.
Ele admitiu, no entanto, que não tem documentos do governo venezuelano, e-mails ou mensagens que comprovem alguma atuação de Dirceu. Afirmou que se informava sobre a evolução dos trabalhos em conversas por telefone com o ex-ministro. Jamais foram para a Venezuela juntos.
Vendramin disse que Dirceu fazia contatos com Hugo Chávez, morto em 2013, mas que também foi recebido pelos ex-ministros Ricardo Molina, Julio Montes e Diosdado Cabello. O empresário diz ter notas fiscais e um contrato como provas de que Dirceu prestou serviços na Venezuela. Ele negou ter sido beneficiado pela influência de Dirceu em território brasileiro.
"Ele realmente defendeu interesses de uma empresa brasileira. Não temos obras com a Petrobras ou nenhuma estatal. Só trabalhamos com as prefeituras de Curitiba e São Paulo", afirmou.
EMS - Maior farmacêutica nacional e líder em genéricos, a EMS foi a empresa que mais bem remunerou Dirceu. De 2006 a 2014 foram 8,5 milhões de reais para a consultoria do ex-ministro. A empresa cita notas fiscais e contratos como prova de que o ex-ministro efetivamente prestou algum serviço, mas não esclarece por que manteve pagamentos quando Dirceu estava preso.
"Sobre a contratação da empresa JD Assessoria, a EMS informa que a prestação de serviços, que durou cerca de cinco anos, teve a finalidade de internacionalização da empresa e a prospecção, expansão e diversificação dos negócios do Grupo, exclusivamente em outros países. A EMS possui todos os documentos dos serviços prestados", informou em comunicado.

Suíça bloqueia US$ 400 mi desviados da Petrobras


Governo suíço identificou cerca de 60 informações sobre transações suspeitas envolvendo a petroleira do Brasil; nove investigações foram abertas

Por: Laryssa Borges, de Brasília - Atualizado em 
Petrobras - O procurador federal Deltan Dallagnol, em entrevista coletiva
Petrolão – O procurador federal Deltan Dallagnol, que integra a força-tarefa da Operação Lava Jato(Heuler Andrey/AFP)
O Ministério Público da Suíça informou nesta quarta-feira que bloqueou 400 milhões de dólares (cerca de 1,3 bilhão de reais) em recursos desviados da Petrobras. Desse montante, 120 milhões de dólares já foram devolvidos ao Brasil. Segundo a procuradoria suíça, nove investigações foram abertas para mapear todas as transações utilizadas por agentes que atuaram no escândalo do petrolão - ex-dirigentes da Petrobras, operadores do propinoduto e empresários que detinham contratos com a estatal.
Os processos de apuração foram instaurados na Suíça em 2014 depois que o Ofício de Comunicação em Matéria de Lavagem de Dinheiro - o equivalente ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) brasileiro - identificou cerca de sessenta informações sobre transações suspeitas relacionadas à petroleira do Brasil.
De acordo com o Ministério Público suíço, as suspeitas são que ex-dirigentes da Petrobras, empreiteiros, operadores do esquema criminoso, intermediários financeiros e empresas brasileiras e estrangeiras atuavam em um esquema de lavagem de dinheiro por meio de 300 contas bancárias em mais de trinta bancos do país europeu.
"Na Suíça temos nove procedimentos de investigação sobre o complexo da Petrobras e, neste caso, bloqueamos de 400 milhões de francos suíços [398 milhões de dólares ou 1,3 bilhão de reais]", informou o procurador Geral da Confederação, Michael Lauber, após reunião em Brasília com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. "Estamos apoiando no melhor da nossa possibilidade as investigações. O principal objetivo é obter decisões claras de tribunais condenando atividades de lavagem e devolvendo o dinheiro bloqueado na Suíça para o Brasil."
O montante de dinheiro congelado atualmente na Suíça é ainda maior se contabilizados os recursos de correntistas de outras nacionalidades: 5,5 bilhões de francos suíços (16,2 bilhões de reais).
Segundo os investigadores suíços, cerca de 1.000 transações bancárias ligadas ao escândalo do petrolão estão sendo analisadas - um terço ligadas a bancos suíços, um terço em bancos fora da Suíça e o restante ainda não identificado. "O caso da Petrobras é muito especial. Estou em visita de trabalho para intercambiar com meu contraparte [informações]. Estamos convencidos de que um caso tão complexo para ambos os países necessitam esforços comuns. Não toleramos uso indevido do sistema financeiro suíço para corrupção e lavagem", disse procurador Michael Lauber.
Ele se recusou a comentar casos específicos de autoridades investigadas no escândalo do petrolão, como o ex-diretor da Petrobras, Renato Duque, preso após as autoridades detectarem que ele esvaziou contas bancárias na Suíça e transferiu recursos para o principado de Mônaco. "Não posso citar nomes específicos, mas quando temos nove investigações internas na Suíça, isso contempla mais do que nove indivíduos. Há empresas bancárias, investigações contra bancos suíços", disse. "Se eu citar algum nome vou fazer a pior coisa que um procurador pode fazer, vou dizer exatamente as pessoas investigadas."