sábado 15 2014

Canalha minoritária e golpista macula protesto legítimo e democrático contra desmandos do governo petista. Mas ficou claro: trata-se de uma minoria repudiada por todos, inclusive pelas Forças Armadas

Veja.Com

Pelo menos 10 mil pessoas pediram democracia; uns poucos idiotas é que pregaram golpe (Felipe Rau/Estadão)
Pelo menos 10 mil pessoas pediram democracia; uns poucos idiotas é que pregaram golpe (Felipe Rau/Estadão)
Os imbecis conseguiram.
Os idiotas chegaram lá.
Os zumbis se impuseram sobre os vivos.
Os estúpidos ganharam a ribalta.
A escória da democracia mostrou a fuça.
Pelo menos dez mil pessoas, segundo cálculos que me parecem modestos — e ainda farei outro post a respeito — participaram e participam ainda de um ato de protesto contra o governo Dilma. A esmagadora maioria pede a efetiva apuração dos casos de corrupção, cobra a punição aos larápios que assaltam o estado, repudia as ameaças de controle da mídia.
Leio, no entanto, o título da homepage da Folha Online:
“Pedido de ação militar racha protesto contra Dilma na Paulista”.
No Estadão Online:
“Pedido de intervenção militar racha protesto anti-Dilma na Paulista”.
No Globo Online:
“Defensores de intervenção militar dividem ato contra Dilma”
No UOL:
“Lobão abandona ato após pedido de ação militar”.
Retomo
Eis aí. Na manifestação anterior, um único cartaz de um único sujeito — coincidentemente entrevistado pelas respetivas reportagem de Folha e Estadão — bastou para que o protesto fosse tratado como manifestação golpista. Desta feita, havia um carro de som de um tal “Movimento Brasileiro de Resistência” — cuja existência desconheço, com muito gosto —, que pedia a intervenção militar no país.
As democracias não podem proibir a estupidez, ou democracias não seriam. As pessoas têm o direito de ser ignorantes. Mas eu também tenho o direito de repudiar a sua burrice. Se um único cartaz bastou para enviesar a cobertura jornalística do ato anterior, é evidente que um carro de som ganharia ainda maior saliência. Desta vez, ao menos, informa-se a coisa correta: o pedido de intervenção militar era coisa de uma minoria, que acabou marchando sozinha, por sua própria conta, até o Comando Militar do Sudeste.
Quem vai bater à porta de quartel é carpideira ou gente com vontade de lamber botas. Falaram para ninguém. Conheço generais da ativa que tratam essa gente por aquilo que é: um bando de trouxas, de oportunistas, que se aproveitam da justa indignação de pessoas decentes para lançar seu ridículo grito de guerra.
Por que esses celerados não dão ao menos um exemplo contemporâneo de governo militar que seja democrático e decente? Existem ditaduras militares no continente americano hoje? Sim. Qualquer pessoa informada sabe que a Venezuela, na prática, é uma. Cuba também. As fachadas socialista e comunista só escondem a real natureza do regime: são camarilhas militares que garantem a opressão.
Apanhei durante a ditadura. Fui perseguido com meros 16 anos. Repudio de modo absoluto esses asquerosos, que não sabem o que é democracia; que acabam, porque burros, legitimando o regime corrupto e de desmandos em curso. Se querem pedir ditadura, que marquem suas próprias manifestações.
Essa gente me dá nojo!
O ato da esquerda
Se o ato não é de esquerda, a imprensa tem especial predileção por dar destaque às bandeiras dos aloprados, em detrimento da expressão legítima e pacífica dos indignados? E claro que sim! E não há novidade nenhuma nisso. Todos conhecem os motivos. Jornalistas, na média, são preguiçosamente esquerdistas — no mais das vezes, por falta de informação, de leitura, de conhecimento da história e até por complexo de culpa mal resolvido. São muito poucos, se é que existem, os que deitaram os olhos em alguma teoria ou capazes de citar alguma obra de referência. Nada! Trata-se de um deserto de ideias, ornado por supostas boas intenções. Já tentei debater. É impossível. É de Wikipédia para baixo. Mas esse não e um dado novo na equação.
Querem ver? Este panfleto estava sendo distribuído na manifestação organizada na quinta por Guilherme Boulos. Leiam:
panfleto Grande Cuba
E aí? O que lhes parece? Como se sabe, isso aí não mereceu nem sequer menção na grande imprensa e jamais iria parar num título. Por que não se publicou algo assim: “Em ato em defesa do governo Dilma, manifestantes pedem que Brasil vire uma grande Cuba”. Seria uma manchete mentirosa? Tão mentirosa e tão verdadeira quanto a informação de que, na semana passada, os que marcharam contra Dilma pediam intervenção militar. Talvez ainda haja uma diferença: caso se pergunte aos reais orgnizadores dos atos de protesto se apoiam um golpe, a resposta será “não”. Mas pergunte a Boulos se ele realmente não gostaria que o Brasil virasse uma Cuba continental.
Como vai piorar…
A situação política no Brasil está se deteriorando. As consequências dramáticas da Operação Lava Jato estão apenas no começo. Deixo aqui uma recomendação aos que organizam protestos: que, doravante, defensores de intervenção militar sejam literalmente isolados em manifestações assim. Que se crie uma espécie de cordão sanitário em torno dessa escória política, que odeia a democracia.
O Artigo 5º garante que alguém expresse a opinião de que uma intervenção militar é a saída para o Brasil? Garante! Mas que seja longe das pessoas decentes.
O bolsonarismo só é bom para os BolsonarosLeio, finalmente, no Estadão isto aqui:“Não é o momento de pedir intervenção militar”, disse ao Estado o deputado eleito por São Paulo Eduardo Bolsonaro, um dos líderes mais celebrados do ato. Em um evento similar há duas semanas, ele foi fotografado portando um revólver. Dessa vez ele garante que está desarmado. “Tem gente armada por mim por aí”, afirmou.
Não sei o que esse cara que dizer com “Tem gente armada por mim”, mas suponho. E não me parece coisa boa. Bolsonaro pai ou Bolsonaros flhos sabem que nunca mais haverá intervenção militar no Brasil. Esse discurso barulhento, ambíguo e tendente à truculência que alimentam só serve para lhes render votos — e, portanto, as benesses correspondentes aos cargos públicos que ocupam.
Para eles, esse tipo de discurso agressivo e bronco é uma maravilha. Terão cada vez mais votos de uma minoria de extremistas sem importância. Mas esses senhores acabam é conspurcando a causa da democracia. Quem gosta de bolsanarismo é Jean Wyllys (PSOL-RJ), que sai gritando “fogo na floresta!” e multiplica seus votos por dez. Uma coisa é o oposto simétrico da outra. Wyllys arruma voto para os Bolsonaros, e os Bolsonaros arrumam votos para Wyllys. Sem Bolsonaro para praguejar sandices contra os gays, aquele rapaz seria só um ex-BBB em busca de notoriedade. Com a colaboração do discurso homofóbico do outro, virou celebridade “progressista”. Não caiam em truques vulgares assim. Se existe “gente armada por Eduardo Bolsonaro”, espero que seja ao menos dentro das regras legais — ou é prática similar ao banditismo.
E deixo claro: não adianta enviar para cá um bando de cachorros loucos para encher o meu saco porque não tenho medo de patrulha. Tenho asco de petralhas que assaltam os cofres públicos disfarçados de amigos do povo — e sei como combatê-los — e asco idêntico de oportunistas que se aproveitam da boa vontade alheia para colher benefícios e votos.
Meu amigo Lobão fez muito bem ao soltar os cachorros contra a canalha minoritária e golpista. E ainda escreverei um post aplaudindo a esmagadora maioria que estava na rua, composta de pessoas lúcidas.
Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/canalha-minoritaria-e-golpista-macula-protesto-legitimo-e-democratico-contra-desmandos-do-governo-petista-mas-ficou-claro-trata-se-de-uma-minoria-repudiada-por-todos-inclusive-pelas-forcas-armadas/

Cardozo ataca oposição e 'clima eleitoral' após as prisões

Lava Jato

'Há aqueles que ainda acham que estamos em uma disputa eleitoral', disse ministro, sem citar nomes. Na véspera, Aécio disse que 'as coisas estão chegando muito perto dos mais altos dirigentes desse governo'

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, falou sobre a Operação Lava Jato neste sábado, em São Paulo
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, falou sobre a Operação Lava Jato neste sábado, em São Paulo (J.F. Diório/Estadão Conteúdo)
Cardoso afirmou que contou à presidente Dilma Rousseff, que participa da cúpula do G20, na Austrália, os detalhes da operação: “Ela está ciente”
A oposição foi o principal alvo de José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, na entrevista coletiva em que ele comentou as prisões da sétima fase da Operação Lava Jato, na sexta-feira. Ele falou sobre o caso neste sábado, em São Paulo, enquanto a Polícia Federal começava a colher os depoimentos dos suspeitos presos na véspera. Cardozo disse que a PF está cumprindo seu papel e que o governo não aceita “insinuações de que se criaram obstáculos” para a investigação do esquema de propinas na Petrobras. Sem citar nomes, o ministro criticou parlamentares e partidos de oposição por suas declarações sobre a corrupção na estatal. “Há aqueles que ainda acham que estamos em uma disputa eleitoral. Talvez não tenham percebido que o resultado das urnas já foi dado e que há vencedores”, alfinetou. Na sexta, o senador Aécio Neves disse que “tem muita gente sem dormir em Brasília” por causa da operação e que “as coisas estão chegando muito perto dos mais altos dirigentes desse governo”.
Cardozo recorreu a um termo que ficou notório nas falas do ex-ministro José Dirceu durante as investigações de outro escândalo, o do mensalão, para defender sua posição. “Repilo veementemente a tentativa de se politizar essa operação”, disse o ministro. Questionado sobre se a crítica se dirigia a algum político em particular, o ministro respondeu que se referia “a qualquer pessoa que esteja tentando transformar isso em palanque, tentando manter o clima eleitoral”. Cardozo também fez uso de algumas das mais consagradas frases feitas da política para comentar a operação – disse, por exemplo, que as investigações vão continuar “doa a quem doer” e que “se houver culpados, eles serão punidos”, qualquer que seja o partido dos acusados. Cardoso afirmou ainda que contou à presidente Dilma Rousseff, que participa da cúpula do G20, na Austrália, os detalhes da operação: “Ela está ciente”.
Conforme o ministro, Dilma pediu que a Polícia Federal “prossiga com firmeza na apuração das irregularidades e que proceda com lisura e imparcialidade nas investigações e zele para que tudo seja esclarecido”. Cardozo também deixou transparecer sua preocupação com a situação da Petrobras em meio ao terremoto que sacode a estatal. “Se por um lado as investigações têm de prosseguir, de outro, a Petrobras não pode parar”, defendeu, dizendo ainda que pretende conversar com a presidente da empresa, Graça Foster, “para que se tenha clareza” sobre como o governo atuará nos casos de contratos firmados com as empreiteiras envolvidas na investigação de corrupção. “A Petrobras continuará atuando e a lei será respeitada. A melhor defesa que precisamos fazer da Petrobras, que é uma empresa vital para o país, é investigar os fatos, apurar as ocorrências e punir pessoas”. Os contratos, disse o ministro, “serão analisados caso a caso para ver que medidas serão tomadas”

Motivo de pânico para o PT


Duque: e se ele falar?
Duque: e se ele falar?
A prisão do ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque é motivo de pânico para os suspeitos na Operação Lava-Jato e para dezenas de políticos ainda não listados nas falcatruas. Se ele falar, numa delação premiada, a casa acaba de cair.
Por Lauro Jardim
http://veja.abril.com.br/blog/radar-on-line/brasil/a-prisao-de-duque-e-motivo-de-panico/

Petrolão: nova fase da Lava Jato atinge o clube do bilhão

Em VEJA desta semana


Escândalo de corrupção na Petrobras leva à cadeia representantes de oito das maiores empreiteiras do país e mais um ex-diretor da estatal ligado ao PT

Rodrigo Rangel e Hugo Marques
CHEFE – Ricardo Pessoa, dono da empreiteira UTC, preso na sexta-feira passada: o "capo" do cartel da Petrobras gostava de repetir que tinha um único amigo no governo – "o Lula"
CHEFE – Ricardo Pessoa, dono da empreiteira UTC, preso na sexta-feira passada: o "capo" do cartel da Petrobras gostava de repetir que tinha um único amigo no governo – "o Lula" (Marcos Bezerra/Futura Press/Estadão Conteúdo)
Em um país de instituições mais frágeis, a prisão por suspeita de corrupção de altos executivos das maio­­res empresas nacionais não se efetivaria nunca ou produziria uma crise institucional profunda. Antes, portanto, de entrarmos nos detalhes dessa pescaria da Polícia Federal em águas sujas da elite empresarial, celebremos a maturidade institucional do Brasil — a mesma que foi posta à prova e passou com louvor quando o Supremo Tribunal Federal (STF) mandou para a penitenciária a cúpula do partido no poder responsável pelo escândalo do mensalão.
Esse senhor pesadão, bem vestido, puxando uma maleta com algumas mudas de roupa e itens de higiene pessoal, não está se dirigindo a um hangar de jatos executivos para mais uma viagem de negócios. Ele está sendo conduzido por policiais para uma temporada na cadeia. A foto ao lado mostra o engenheiro Ricardo Pessoa, dono da empreiteira UTC, apontado por investigações da Operação Lava-Jato como o “chefe do clube”. Um clube muito exclusivo, diga-se. Dele só podiam fazer parte grandes empresas que aceitassem as regras do jogo de corrupção na Petrobras. Por mais de uma década, os membros desse clube se associaram secretamente a diretores da estatal e a políticos da base aliada do governo para operar um dos maiores esquemas de corrupção já desvendados no Brasil — e, por sua duração, volume de dinheiro e penetração na mais alta hierarquia política do país, talvez um dos maiores do mundo.
Dono de uma holding que controla investimentos bilionários nas áreas industrial, imobiliária, de infraestrutura e de óleo e gás, Pessoa foi trancafiado numa cela da carceragem da Polícia Federal. Ele e outros representantes de grandes empreiteiras que se juntaram para saquear a maior estatal brasileira e, com o dinheiro, sustentar uma milionária rede de propinas que abasteceu a campanha de deputados, senadores e governadores — e, mais grave ainda, segundo declaração do doleiro Alberto Youssef à Justiça, tudo isso teria se passado sob o olhar complacente do ex-presidente Lula e de sua sucessora reeleita, Dilma Rousseff.
Na ação policial de sexta-feira foram presos dirigentes de empresas que formam entre as maiores e politicamente mais influentes do Brasil: OAS, Camargo Corrêa, Mendes Júnior, Queiroz Galvão, UTC, Engevix, Iesa e Galvão Engenharia. Essas companhias são responsáveis por quase todas as grandes obras do país. Os policiais federais vasculharam as salas das empresas ocupadas pelos suspeitos presos e também suas casas. Embora tendo executivos seus citados por Youssef e Paulo Roberto Costa, o e­­x-diretor da Petrobras preso em março, que está contribuindo nas investigações, não foram alvos das investidas policiais da sexta-feira passada dirigentes de outros dois gigantes do ramo: a Odebrecht e a Andrade Gutierrez. O juiz Sergio Moro recebeu pedido dos procuradores para emitir ordem de prisão contra dois altos executivos da Odebrecht. Negou os dois, mas autorizou uma incursão na sede da empresa em busca de provas.
Márcia Poletto/Agência o Globo
O ELO – Renato Duque, ex-diretor da Petrobras, que cobrava 3% de propina para o PT: preso depois que a Polícia Federal descobriu que ele tinha contas secretas no exterior
“Hoje é um dia republicano. Não há rosto e bolso na República”, declarou o procurador Carlos Fernando Lima, integrante da força-tarefa encarregada da Lava-Jato, a origem da investigação.
No rol dos empreiteiros caçados pela polícia estavam megaempresários, como Sérgio Mendes, da Mendes Júnior, João Auler e Eduardo Hermelino Leite, da Camargo Corrêa, Ildefonso Colares Filho e Othon Zanoide, da Queiroz Galvão, Léo Pinheiro, da OAS, e Gerson Almada, da Engevix. Uma parte dos alvos não havia sido localizada pela polícia até o fim da tarde de sexta. Alguns estavam em viagem no exterior e foram incluídos na lista de procurados da Interpol. O juiz Moro bloqueou 720 milhões de reais em bens dos investigados.
O papel central de Ricardo Pessoa, da UTC, no esquema foi detectado logo no princípio das investigações. Não demorou muito para que os policiais e procuradores não tivessem mais dúvida. Aos curiosos com sua prosperidade crescente nos últimos anos, Ricardo Pessoa dava uma explicação que, até o estouro do escândalo, parecia apenas garganta: “Só tenho um amigo no governo: o Lula”. Pessoa coordenava o cartel, do qual participavam treze empreiteiras. Esse grupo de privilegiados se encontrava para decidir o preço das obras na Petrobras, dividir as responsabilidades pela execução de cada uma delas — e, o principal, o valor da propina que deveria sobrar para abastecer os escalões políticos. Tecnicamente, esse era o grupo dos corruptores. Os diretores da Petrobras participantes do esquema eram os corruptos. De cada contrato firmado com a Petrobras, os empresários recolhiam 3% do valor, que se destinava a um caixa clandestino. O pagamento era feito de diversas maneiras: em dinheiro vivo e em depósitos no exterior ou no Brasil mesmo, em operações maquiadas como prestação de serviços, principalmente de consultoria — um termo vazio de significado, mas que transmite um certo ar de austeridade e necessidade.
As empreiteiras do esquema firmavam contratos de consultoria com empresas de fachada que embolsavam o dinheiro e davam notas fiscais para “limpar” as operações, que pareciam protegidas por uma inexpugnável confraria de amigos posicionados nos lugares certos em Brasília e na Petrobras. Os recursos desviados abasteciam o PT, o PMDB e o PP, os três principais partidos da base de apoio do governo federal. A investigação mapeou o caminho da propina paga por várias das integrantes do clube. Entre 2005 e 2014, o grupo OAS, por exemplo, repassou pelo menos 17 milhões em propinas apenas por meio do doleiro Alberto Youssef.
Além dos empreiteiros e de seus principais executivos, também foi preso o ex-diretor da Petrobras Renato Duque, apontado como o homem que, no fatiamento da propina, cuidava da parte que cabia ao PT. Esse elo que a polícia começa a fechar entre o diretor corrupto e a empresa corruptora tem atormentado deputados, senadores petistas e altos dirigentes do governo. Funcionário de carreira, Duque entrou na Petrobras em 1978 — um ano depois de Paulo Roberto Costa — por concurso. Galgou alguns postos ao longo de sua trajetória, mas sua nomeação como diretor, em 2003, surpreendeu a todos. Duque era, então, chefe de setor, alguns níveis hierárquicos abaixo da diretoria. Nunca antes na história da Petrobras um chefe de setor havia ascendido sem escalas à cúpula. A explicação logo se tornou pública. Duque era o escolhido de José Dirceu, com quem tinha um relacionamento antigo. Discreto e de temperamento afável, Duque procurava não ostentar. Entre 2003 e 2012, ele reinou absoluto na diretoria de Serviços. Paulo Roberto Costa revelou à Justiça que, por lá, 3% do valor dos contratos era repassado exclusivamente ao PT.
VEJA
EXPLOSÃO – Fernando Baiano: o lobista, que está foragido, ameaça contar o que sabe e elaborou uma lista com beneficiários de propina ligados ao PMDB















A polícia já descobriu onde estão as contas bancárias que receberam parte desses recursos. Elas foram identificadas por Julio Camargo, dirigente da Toyo, outra empreiteira envolvida no escândalo, que também fez acordo com a Justiça para contar o que sabe. E ele sabe muito, principalmente sobre a distribuição de dinheiro ao partido que está no governo há doze anos e a alguns de seus altos dirigentes. Foi com base no depoimento de Julio que a polícia decidiu pedir a prisão temporária de Duque e colocar outro funcionário da Petrobras no radar: Pedro José Barusco, que atuou como gerente de engenharia. Barusco só não foi preso porque propôs um acordo de delação premiada. Os policiais também chegaram a uma personagem que leva o escândalo ao coração do PT: Marice Correa de Lima, cunhada de João Vaccari, tesoureiro do partido, outro investigado. Marice lidava com o que o doleiro Youssef chama de “reais vivos”. Em dezembro do ano passado, a cunhada do tesoureiro do PT recebeu no apartamento onde mora, em São Paulo, 110 000 reais. Origem das cédulas: a construtora OAS. Marice é também mais um elo a ligar o petrolão ao mensalão. A petista apareceu nas investigações do grande escândalo do governo Lula como encarregada de pagamentos. Outro alvo da operação de sextafeira, o lobista Fernando Soares, o Baiano, é apontado como o arrecadador do PMDB na Petrobras. Baiano estava foragido. Sua prisão vai ajudar a esclarecer outras frentes de corrupção na estatal — entre elas, a rede de propinodutos instalada no negócio da compra da refinaria de Pasadena, no Texas. E os resultados da Operação Lava-Jato estão apenas começando a aparecer.  

LAVA-JATO – O “Dia do Juízo Final” e o Apocalipse do petismo


Diga-se pela enésima vez: o PT não inventou a corrupção. É claro que não! O que o partido fez foi transformá-la num sistema e alçá-la à categoria de uma ética de resistência. Nesse particular, sem dúvida, inovou. Se, antes, a roubalheira generalizada era atributo de larápios, de ladrões, de safados propriamente, ela se tornou, com a chegada dos companheiros ao poder, uma espécie de imperativo do “sistema”. Recorrer às práticas mais asquerosas, contra as quais o partido definiu o seu emblema na década de 80 — “Ética na política” —, passou a ser chamado de “pragmatismo”.
Observem que o partido não se tornou “pragmático” apenas nessas zonas em que a ação pública se transforma em questão de polícia. Também a sua política de alianças passou a ter um único critério de exclusão: “Está do nosso lado ou não?”. Se estiver, pouco importa a qualidade do aliado. Inimigos juramentados de antes passaram à condição de fieis aliados. O símbolo dessa postura, por óbvio, é José Sarney. No ano 2000, Lula demonizava Roseana nos palanques; em 2003, os petistas celebraram com a família uma aliança de ferro.
Os demônios que vão saindo das profundezas da Petrobras são estarrecedores. Não se trata, como todos podemos perceber, de desvios aqui e ali, como se fossem exceções a regras ancoradas no rigor técnico. Não! A corrupção era, tudo indica, sistêmica; não se tratava de um corpo estranho; era ela o organismo. E, convenham, parece que não havia valhacouto mais acolhedor e seguro do que a estatal. A Petrobras, com a devida vênia, nunca foi exatamente um exemplo de transparência, já antes de Roberto Campos ter-lhe pespegado a pecha de “Petrossauro”.
Em nome do nacionalismo mais tosco — antes, meio direitoso, com cheiro de complexo burocrático-militar; depois, com o viés esquerdoso, tão bocó como o outro, só que ainda mais falsificado —, há muitos anos a empresa se impõe ao país, não o contrário. Não foram poucas as vezes em que mais a Petrobras governou o Brasil do que o Brasil, a Petrobras. Com a chegada do PT ao poder, o que já era nefasto ganhou ares de desastre.
A empresa passou a ser o “bode exultório” — que é o oposto do “bode expiatório” — da esquerdofrenia petista. E porque o partido é esquerdofrênico? Porque o estatismo advogado pelos “companheiros” só pode ser exercido, como é óbvio, com o concurso do capital privado, com o auxílio de alguns potentados da economia, com o amparo de quem reúne a expertise para tocar a infraestrutura. E o resultado é o que se tem aí.
Não vou livrar a cara das empreiteiras, não. Quem não quer não corrompe nem se corrompe. Mas não dá para esquecer o depoimento de Alberto Youssef ao juiz Sérgio Moro, em que sobressaem duas informações importantes:1) o doleiro afirmou que era pegar ou largar; ou as empreiteiras aceitavam pagar o preço — ou melhor, incluir a propina no preço —, ou estavam fora do jogo; e boa parte preferiu jogar;2) indagado por Moro se as empreiteiras costumavam cumprir a sua parte no acordo, Youssef disse que sim. E explicou os motivos: ela tinham muitos interesses em outras áreas do governo, não apenas na Petrobras. Afinal, também constroem hidrelétricas, estradas, infraestrutura de telecomunicações etc.
Assim, duas conclusões se fazem inevitáveis:1) as empreiteiras, tudo indica, atuaram como corruptoras, sim, mas é razoável supor que falavam a linguagem que o outro lado queria ouvir;2) não há por que o padrão de governança das demais estatais e órgãos públicos federais ser diferente. Como já afirmei neste blog muitas vezes, estamos diante de um método, não de um surto ou de um lapso da razão.
Governo em parafusoJá está mais do que evidente, a esta altura, que Lula e Dilma foram suficientemente advertidos para parte ao menos dos descalabros. Os que se lançaram a tal empreitada, talvez ingenuamente, imaginavam que a dupla não sabia de nada. A questão, meus caros, desde  sempre, é outra: havia como não saber? Tendo a achar que não. O TCU alerta, por exemplo, para os desvios da refinaria de Abreu e Lima desde 2008.
Recorram aos arquivos. A partir de 2010, o então presidente Lula começou a atacar os órgãos de fiscalização e controle, muito especialmente o TCU. No dia 12 de março daquele ano, foi ao Paraná inaugurar a primeira etapa das obras de modernização e ampliação Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), em Araucária, na região metropolitana de Curitiba. O Tribunal de Contas havia recomendado a suspensão de verbas para a Repar justamente por suspeita de fraude e superfaturamento. Lula não deu pelota e ainda atacou o TCU. Leiam:“Sou favorável a toda e qualquer fiscalização que façam, até 24 horas, via satélite. Acontece que as coisas são complicadas. Muitas vezes, as pessoas levantam suspeitas de uma obra, paralisam a obra e, só depois da obra paralisada, chegam à conclusão de que está correta. Quem paga o prejuízo da obra paralisada? Não aparece. O povo brasileiro paga porque não tem obra”.
Pois é… Vejam quanto “o povo brasileiro” está pagando pelo método Lula de fazer política.
O terremoto que está em curso abalou as empreiteiras, aquelas que ou pagavam a propina ou ficavam fora do negócio.. Pesos pesados do setor estão na cadeia, alguns em prisão preventiva, e outros, em prisão provisória. Mas estamos bem longe do topo na escala. Estima-se que o esquema possa enredar nada menos de 70 políticos, muitos deles com mandato. A delação premiada pode devastar parte considerável da classe política brasileira. E, aí sim, talvez saibamos o que é a terra a tremer.
E a gente se espanta ao constatar que o segundo mandato de Dilma ainda não começou. Talvez só em janeiro muita gente se dê conta de que pode haver mais quatro anos de mais do mesmo, só que num cenário à beira do abismo.
Policiais Federais chamaram esta sexta de “Dia do Juízo Final”, que é apenas uma passagem do Apocalipse!
Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/lava-jato-o-dia-do-juizo-final-e-o-apocalipse-do-petismo/