sexta-feira 17 2014

Sai novo manifesto em apoio a Aécio — desta vez, de ex-eleitores do PT

Eleições 2014

Manifesto em apoio ao tucano tem assinaturas coletadas com intelectuais e ativistas de esquerda que afirmam não se sentirem representados pelo PT

O candidato à Presidência da República pelo PSDB, Aécio Neves, chega para o debate promovido pelo SBT, nesta quinta-feira (16), em São Paulo
O candidato à Presidência pelo PSDB, Aécio Neves, recebe apoio de ex-petistas (Felipe Cotrim/VEJA.com)
A mobilização virtual de eleitores tem ido muito além dos compartilhamentos de virais em redes sociais. Manifestos têm sido produzidos por grupos intelectuais como forma de defender candidaturas e ideias. No início da semana, 164 economistas se mobilizaram para explicar detalhadamente por que a crise internacional — principal argumento usado pela presidente Dilma para explicar o fracasso econômico — é, na verdade, uma falácia. Agora, 246 intelectuais e profissionais liberais também redigiram um texto de apoio ao tucano Aécio Neves. Aqueles que assinaram afirmam, inclusive, terem sido ativistas de esquerda e/ou eleitores de candidatos petistas. "Sempre respeitamos o PT, em cujos candidatos muitos de nós já votaram. Pensamos que o rico pluralismo da esquerda deve se combinar com a recusa a qualquer posicionamento inflexível, submisso a princípios abstratos ou comandos partidários. Não aceitamos que nenhum partido atue como se fosse o único representante coerente da esquerda ou da democracia", afirma o texto, cujo título é 'Esquerda Democrática com Aécio Neves'.
Os signatários da lista se dizem decepcionados com o PT, sobretudo após a campanha eleitoral deste ano, em que o partido dizimou a candidatura de Marina Silva à presidência. "A campanha petista no primeiro turno valeu-se de táticas e subterfúgios que desonram o bom debate. Caluniou, difamou e agrediu moralmente a candidatura de Marina Silva, sob o pretexto de que seria preciso fazer um 'aguerrido' confronto político. Atropelou regras procedimentais e parâmetros éticos preciosos para a esquerda e a democracia", afirmam os autores.
Segundo o texto, o tucano Aécio Neves poderá dar seguimento às políticas sociais dos últimos anos, além de ampliar os programas já existentes. "O capitalismo brasileiro se consolidou sob os governos do PSDB e do PT, tendo sido modelado pelas mesmas elites econômicas e pela predominância do capital financeiro. Agora, temos de avançar para um novo patamar de modernização e superar o padrão de liberalismo que presidiu àquela consolidação. Não dá para aceitar que os setores mais pobres da população sejam abandonados à própria sorte ou transformados em consumidores, em vez de cidadãos", dizem os autores.
Entre os que assinaram a lista estão o ator Marcos Palmeira, o economista José Eli da Veiga, da USP, o ex-presidente do IBGE, Sergio Besserman Vianna, e o cientista político Luiz Eduardo Soares, que foi secretário de Segurança Pública no governo Lula.
Manifesto petista — No seio do PT, também houve um manifesto. A militância conseguiu, com grande esforço, coletar uma lista de onze nomes encabeçada por Maria da Conceição Tavares, que adotou com desfaçatez o slogan da campanha petista "O Brasil não pode parar" para veicular um texto de apoio à candidatura de Dilma Rousseff. O documento, que mais parece uma peça publicitária escrita pelo marqueteiro João Santana, tamanho alinhamento retórico com o texto discursado por Dilma em sua campanha, afirma que as conquistas econômicas são mérito do atual governo e que a "crise" não pode servir de argumento "para um retorno às políticas econômicas do passado". Outros dois nomes que endossam o texto são Luiz Gonzaga Belluzzo e Nelson Barbosa. O primeiro é conselheiro econômico de Dilma. O segundo foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e tem operado junto ao PT para ser indicado ao cargo de Ministro , caso Dilma se reeleja. 

Dilma superestima o número de pessoas atendidas pelo Mais Médicos em mais de 30 milhões

Saúde

Registros oficiais do Departamento de Atenção Básica do Ministério da Saúde mostram que a quantidade de cidadãos atendidos não chega a metade do que afirma a propaganda eleitoral do PT

Leonardo Coutinho
Propaganda do Mais Médicos no site da candidatura de Dilma Rousseff: o número real de atendidos é de no máximo 20 milhões
Propaganda do Mais Médicos no site da candidatura de Dilma Rousseff: o número real de atendidos é de no máximo 20 milhões (Reprodução/VEJA)
Uma das principais bandeiras da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff é o Programa Mais Médicos. A candidata já disse em debates na TV e em propagandas eleitorais que 50 milhões de pessoas passaram a ser atendidas pelos 14.462 profissionais em atuação no programa. A cifra é impressionante, mas irreal. Se fosse verdadeira, significaria que um em cada quatro brasileiros é atendido pelo Mais Médicos. Segundo o Ministério da Saúde, 80% dos beneficiados – 40 milhões de pessoas – consultam-se com equipes de Saúde da Família que foram criadas ou reforçadas após o início do Mais Médicos, em outubro de 2013. Os demais, 10 milhões, são atendidos pelos 2.947 médicos do programa que trabalham nas Unidades Básicas de Saúde.
Mas os registros oficiais do Departamento de Atenção Básica (DAB) do Ministério da Saúde(veja como acessar os dados abaixo) mostram uma contradição em relação ao que se diz na propaganda eleitoral. Segundo esses dados, de outubro de 2013 a agosto de 2014, o incremento no número de pessoas cobertas pelo programa Saúde da Família foi de 9,48 milhões. “Os números foram claramente inflados. Para atingir os 40 milhões de habitantes, seriam necessárias cerca de 12.000 novas equipes de Saúde da Família e só foram criadas 3.662 no período”, diz um funcionário do Ministério da Saúde que revelou os dados a VEJA.
Na melhor das hipóteses, partindo-se do pressuposto que o Ministério da Saúde e a campanha de Dilma Rousseff não inflaram também os dados dos atendimentos nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), o total de pessoas beneficiadas pelo programa não chega a 20 milhões. Nessa conta estão os 10 milhões de cidadãos que o Ministério da Saúde afirma serem atendidas pelas UBS, mais as 9,48 milhões de pessoas que se somaram àquelas que já eram cobertas pelo Programa Saúde da Família antes da importação de médicos estrangeiros, em sua maioria cubanos.
O programa Saúde da Família foi criado em 1994, no governo de Fernando Henrique Cardoso. No seus primeiros oito anos uma média de 6,8 milhões de pessoas por ano passaram a ser atendidas pela iniciativa. Em 2003, quando Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a Presidência da República, estavam em funcionamento no país cerca de 17.000 equipes de Saúde de Família, que atendiam 55 milhões de pessoas. Ao final de seu mandato, o programa tinha 31.660 equipes, que cobriam 100 milhões de pessoas. O avanço foi de 5,6 milhões de famílias por ano.
O governo Dilma chega ao final de seu primeiro mandado com um incremento de apenas 18 milhões de novos atendimentos (uma média de 4,5 milhões por ano), apesar do esforço do Mais Médicos. Trata-se do pior desempenho desde a criação do programa, há duas décadas. Segundo o DAB, atualmente 118.348.067 pessoas são atendidas em todo o Brasil, por um conjunto de 38.156 equipes que são compostas por no mínimo um médico, um enfermeiro, um auxiliar ou técnico de enfermagem e um grupo de até doze agentes comunitários.
O Ministério da Saúde afirmou, por meio de nota, que dos 11 515 médicos atuando no Programa Saúde da Família cerca de 3 000 passaram a compor as novas equipes e outros os demais foram destinados a equipes que não tinham profissionais. A pasta afirma que cada equipe atende em média 3 450 pessoas, o que atingiria 40 milhões de pessoas.
Os registros do Departamento de Atenção Básica (DAB) mostram, entretanto, que nos dois anos que antecedem a implantação do Programa Mais Médicos a diferença entre o número de equipes cadastradas no Ministério da Saúde e aquelas efetivamente em funcionamento nunca foi maior que 1 000. Por lei, as equipes, que ficam sem médicos, deixam de ser consideradas como parte do Programa. Os dados dos DAB mostram que este não existia esse número de vagas que o Ministério da Saúde afirma de preenchido.
Os dados oficiais podem se acessados da seguinte forma:
1°) Acesse a página do Departamento de Atenção Básica (DAB)
2°) Selecione na função “Opção de consulta”: competência por unidade geográfica. Em segunda, na função “unidade geográfica”, marque Brasil
3°) Escolha o período
4°) Ao final da página clique em enviar

Marina na linha, 'cola' e Dilma agitada: o debate que você não viu

Maquiavel

Felipe Frazão, Bruna Fasano e Talita Fernandes
Debate SBT
Postura – A presidente-candidata Dilma Rousseff, que disse ter sofrido uma queda de pressão no final do debate do SBT, deu vários sinais de que não se sentiu confortável com seu assento na bancada. Ela foi a primeira a se sentar e pediu duas vezes que a cadeira fosse ajustada. O mediador do debate, Carlos Nascimento, explicou: "Ela quer que a cadeira se mexa". Ao final do debate, Dilma confirmou que não estava à vontade: "Eu gosto mais do debate em pé. Não estava muito confortável, a cadeira estava muito baixa".

Ansiedade – Trinta segundos antes de começar o debate, Dilma tamborilava agitadamente os dedos na bancada.

Escolta – Dilma chegou ao SBT às 17h45, de helicóptero. Desceram da aeronave presidencial os ministros da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e a ministra do Planejamento, Miriam Belchior.
Homem do baú – Tanto Aécio Neves (PSDB) quanto Dilma foram recebidos, separadamente, pelo apresentador Silvio Santos antes do debate. As duas filhas de Silvio Santos sentaram na primeira fila da plateia. 
Tensão – Dilma e Aécio Neves não se cumprimentaram. Dilma foi a primeira a chegar à emissora. Depois que seu adversário se sentou, ela desviou o olhar para a plateia, justamente onde estavam sentados os convidados do tucano. Ao contrário do que aconteceu no primeiro debate do segundo turno, na TV Bandeirantes, não houve também cumprimento final entre eles.
Tempo! – Enquanto se preparava para o início do debate, Aécio perguntou para os organizadores onde estava localizado o cronômetro e a água. O mediador apontou o copo embaixo da bancada.
Na linha? – No final do debate, o candidato tucano, Aécio Neves, recebeu um telefonema da ex-senadora Marina Silva, candidata derrotada do PSB que declarou apoio a ele. Marina telefonou para o celular de Walter Feldman, ex-deputado e um dos principais aliados dela, para cumprimentá-lo pelo desempenho. Os dois vão se encontrar publicamente, pela primeira vez como aliados, na manhã de sexta-feira, em São Paulo.
Prescrição – O médico Walter Feldman arrisca um diagnóstico sobre o que chamou de "doença do PT": "O desejo do poder é uma doença social no PT e ai eles perdem os parâmetros. Vocês já viram alguém usando crack? É lamentável. Eu passei um tempo na cracolândia, o indivíduo perde a a capacidade de raciocínio. Acho que o PT perdeu, o PT está intoxicado".
Família – A citação ao irmão de Dilma, Igor Rousseff, empregado na prefeitura de Belo Horizonte pelo aliado Fernando Pimentel, causou alvoroço entre os petistas na plateia. "O Aécio está nervoso, não tem argumentos para responder ao nepotismo", reagiu o secretário nacional de Comunicação do PT, deputado estadual eleito José Américo.
Despedida – Dando adeus a Câmara Municipal de São Paulo, os vereadores Floriano Pesaro (PSDB), eleito deputado federal, e José Américo chegaram quase juntos ao debate e trocaram abraços e conversas ao pé do ouvido na entrada. "Eles (vereadores) andaram falando que se livraram da gente", brincou o petista.
Prudência – Coordenador da campanha tucana em São Paulo, o vereador Andrea Matarazzo cobra pés no chão de aliados: "Tudo pode acontecer. Tem que trabalhar até o último dia, sem salto alto".
Semana de prova – Os filhos do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, João e Pedro tiveram de recusar o convite de Aécio para participar do debate. "Os dois tinham prova", respondeu Antônio Campos, tio dos dois. O irmão do ex-governador acompanhou o debate ao lado de Paulo Câmara, governador eleito de Pernambuco, e Bruno Araújo, presidente estadual do PSB em Pernambuco.
Território – O grupo do pernambucanos de PSB e PSDB que acompanhou Aécio no SBT montou uma operação de guerra no Estado. Segundo Bruno Araújo, o prefeito de Recife, Geraldo Júlio (PSB), e Paulo Câmara comandarão 216 caminhadas até a semana que vem na Região Metropolitana. Na terça-feira, Dilma e Lula farão um comício na cidade pernambucana de Goiana .
Colinha – Ao contrário dos debates anteriores, Aécio Neves recorreu a anotações dois minutos antes de o debate começar e em algumas respostas. Dilma consultou inúmeras vezes seu calhamaço de papéis que costuma levar aos debates – dividido por temas e com palavras-chaves sublinhadas – e fez anotações.
WiFi – A mulher do senador Aloysio Nunes, Gisele, passou o debate registrando cenas no celular e no iPad. As imagens foram enviadas para a equipe que produz o site do senador, que é vice de Aécio.

Olho no lance – O marqueteiro petista João Santana acompanhou o debate com os olhos colados em um monitor que mostrava Dilma em tempo integral. Do lado tucano, três assessores de Aécio se dividiam entre o monitor e os olhares da plateia adversária.

Tema incômodo – Aloizio Mercadante, que acompanhou o debate de forma serena, mostrou-se visivelmente transtornado quando Aécio listou os petistas presos no escândalo do mensalão.

Munição – O presidente nacional do PT, Rui Falcão, revelou qual o próximo tiro do partido contra Aécio em São Paulo: o partido mandou imprimir panfletos com a foto do governador Geraldo Alckmin e os dizeres: "O PSDB tentou fazer você de bobo na eleição para governador. De o troco na eleição para presidente. Não vote no Aécio."
Alvo – Questionado, Alckmin reagiu: "Não vi. É baixaria".