sexta-feira 13 2014

Demonstração do exoesqueleto decepciona na cerimônia de abertura

Neurociência

Em 3 segundos, o projeto de 156 cientistas de 25 países comandados pelo brasileiro Miguel Nicolelis mostrou seus resultados. Leia a repercussão entre cadeirantes e a comunidade científica mundial

Rita Loiola

Em um flash de 3 segundos, o paraplégico Juliano Pinto, de 29 anos, usando uma veste robótica que seria comandada pelo cérebro, moveu seu pé direito e deu um pequeno chute em uma bola de futebol durante a cerimônia de abertura da Copa do Mundo, nesta quinta-feira. Antes do espetáculo musical que apresentou a faixa-título da Copa, a demonstração esperada desde 2011 por paraplégicos de todo o mundo e que consumiu 33 milhões de reais, boa parte vinda do governo federal, foi vista apenas de relance. Em pé, Juliano, vestindo a estrutura metálica que pesa 70 quilos e apoiado por duas pessoas, mostrou o resultado do trabalho de 156 cientistas de 25 países que, liderados pelo neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, viabilizaram a demonstração no início do campeonato.
O esperado era que um paraplégico, usando o exoesqueleto, levantasse de sua cadeira de rodas, desse alguns passos no gramado e então chutasse a bola para dar início aos jogos. Nicolelis, cientista da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, lançou o projeto Andar de Novo para fazer uma veste robótica de metal leve que leria os sinais elétricos emitidos pelo cérebro de um paraplégico e faria com que ele andasse. Por meio de um sistema chamado interface cérebro-máquina (ICM), os sinais enviados pelo cérebro seriam captados por uma touca repleta de eletrodos de eletroencefalograma (EEG) e enviados a um computador em uma mochila, nas costas do robô. Ali, eles seriam traduzidos e transformados em comandos de movimento. Giroscópios acoplados às costas do robô garantiriam o equilíbrio do exoesqueleto.
Oito pessoas teriam participado dos testes, que teriam se iniciado em novembro e foram divulgados em uma página do Facebook e no Portal da Copa. Uma das novidades anunciadas pelos cientistas que projetaram a estrutura é que ela faria os jovens sentirem a sensação de contato com o solo, como se ele fosse percebido pelos pés. Sensores acoplados aos pés do robô enganariam a mente, passando a informação da proximidade do chão como se ela viesse do corpo. Com isso, a ideia da equipe responsável pelo projeto é que o exoesqueleto fosse compreendido pelo cérebro e controlado como mais um membro do organismo.
"Foi um grande trabalho de equipe e destaco, especialmente, os oito pacientes, que se dedicaram intensamente para este dia. Coube a Juliano usar o exoesqueleto, mas o chute foi de todos. Foi um grande gol dessas pessoas e da nossa ciência", celebrou Nicolelis, coordenador científico do projeto, em um comunicado à imprensa.
Confira a repercussão entre cadeirantes e a comunidade científica mundial:
"Somos a favor de avanços tecnológicos e pesquisas científicas, mas não podemos concordar com a 'espetacularização' de uma tecnologia incipiente e que não está madura para produção em massa. A exposição causará falsas expectativas nas pessoas com deficiência e reforçará estigmas negativos e preconceitos. Não me parece promissor, não ajudará pessoas com deficiência a voltarem a andar e não será utilizado no dia a dia (tanto pelo custo impraticável como pela falta de autonomia). Finalmente, parece-me absurdo investir mais de 33 milhões de reais (boa parte de recursos públicos) em algo que não trará benefícios ou soluções. Agrego a tudo isso profunda decepção com a participação do exoesqueleto na cerimônia de abertura, que acabo de assistir. Sem dúvida, a demonstração evidenciou que o experimento não funciona e não atendeu sequer as promessas divulgadas. Decepcionante!"
Luiz Portinho, advogado gaúcho e presidente da Rio Grande do Sul Paradesporto
"Vi algumas demonstrações do exoesqueleto nos Estados Unidos, em versões preliminares. No entanto, é muito grande e não serve para todos. Acho que ele deve ser combinado com estímulos elétricos para promover movimentos mais ativos, em vez dos completamente passivos. É um bom começo e beneficiará várias pessoas com deficiência."
Paul Lu, cientista americano paraplégico que pesquisa o uso de células-tronco para lesões de medula na Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD), nos Estados Unidos
"O que foi exibido ao mundo, infelizmente, é tudo o que já se sabia do exoesqueleto: uma dúvida profunda a respeito de todos os seus potenciais, desdobramentos e capacidades. A questão, agora, não é mais ser cético em relação a um avanço científico que pode revolucionar vidas, é cobrar vigorosamente seriedade e luminosidade com promessas que envolvam dinheiro público, almas angustiadas e anseios de milhões de pessoas."
Jairo Marques, jornalista, cadeirante paulistano e colunista do jornal Folha de S.Paulo
"Esse pequeno chute é um grande passo para a ciência, que mostra que o homem é capaz de sonhar e de tentar colocar em prática seus sonhos. No entanto, acredito que pesquisas como a estimulação elétrica, feita por pesquisadores brasileiros, é uma maneira bem mais inteligente de recuperar os movimentos dos paraplégicos. São duas frentes de estudos que podem fazer com que pessoas com lesões medulares possam realizar o sonho de voltar a andar."
Benny Schimidt, chefe do laboratório de patologia neuromuscular da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
"A demonstração é um ato simbólico do esforço para usar a ciência e a robótica moderna no lugar da tecnologia centenária das cadeiras de rodas. Podemos e devemos superar essa era antiga e fazer algo melhor. Nicolelis e seus colegas estão, claramente, dando um passo nessa direção. O mais importante é que essa tecnologia possa se tornar prática e útil para pessoas com lesões e que ela seja tão confiável e efetiva quanto uma cadeira de rodas. Veremos no futuro se esse será ou não o caso.” 
Mark Tuszynski, neurocientista americano e diretor do Center for Neural Repair da Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD), nos Estados Unidos
"A demonstração é positiva, pois chama a atenção para os paraplégicos. No entanto, é um show para abertura da Copa, sem mostrar grandes avanços científicos. Em 2012, uma paraplégica correu uma maratona com um exoesqueleto e essa não é uma tecnologia nova. Além disso, a estrutura é muito pesada, de 70 quilos e, se houver uma queda, isso pode levar a graves lesões — pessoas com lesões medulares costumam ter osteoporose e qualquer queda é perigosa. O exoesqueleto não vai resolver o problema de quem tem lesões medulares."
Alberto Cliquet Júnior, professor titular do departamento de Ortopedia e Traumatologia da Unicamp e de Engenharia Elétrica na Universidade de São Paulo (USP) 
"Mesmo depois da demonstração não fica muito claro se isso será um avanço. A ciência, tradicionalmente, é movida por cientistas que publicam suas descobertas em revistas científicas rigorosas que promovem uma análise justa dos feitos dos cientistas. Isso ainda não foi feito com o projeto Andar de Novo. Estou curioso para o momento em que isso seja feito e então cientistas e engenheiros poderão avaliar os progressos que esse time fez."
Daniel Ferris, neurocientista e professor da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos

Morre Marlene, eterna rainha do rádio

Memória

A cantora Marlene que ficou conhecida como a 'Rainha do Rádio'
A cantora Marlene que ficou conhecida como a 'Rainha do Rádio' (Marcos D' Paula/Estadão Conteúdo)
Morreu nesta sexta-feira a cantora Marlene, eterna rainha da era de ouro do rádio (anos 50) - ao lado de Emilinha Borba, apontada por muitos anos como sua adversária. Ela estava internada há alguns dias no hospital Casa de Portugal, no Centro do Rio de Janeiro, devido a uma queda, e sofreu falência múltipla de órgãos.
Batizada Victória Delfino dos Santos, tinha 91 anos, completados em fevereiro. Adotou o nome artístico para despistar a mãe, evangélica, durante suas participações em programas de rádio. "Eu tentava decorar as letras bem baixinho para ninguém perceber e depois anotava em um papel", contou ela, em entrevista recente à TV.


Take That - Back for good (The Circus tour Wembley 6part) HD





PF detecta dinheiro desviado da Petrobras na Suíça

Operação Lava-Jato

Montante foi depositado por empresas ligadas a desvios na estatal - inclusive na refinaria Abreu e Lima - nas contas de Alberto Youssef no país europeu

O doleiro Alberto Youssef
O doleiro Alberto Youssef (Folhapress)
A Polícia Federal detectou em contas atribuídas ao doleiro Alberto Youssef, principal alvo da operação Lava-Jato, na Suíça depósitos de empresas sob investigação por desvio de recursos em obras da Petrobras. As informações foram divulgadas nesta sexta-feira pelo site do jornal O Estado de S. Paulo. De acordo com a publicação, os depósitos foram efetuados por uma das subcontratadas para construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e por empreiteiras.
A construção da refinaria Abreu e Lima começou com um custo de 2,5 bilhões de dólares e deverá sair por 20 bilhões de dólares. O Tribunal de Contas da União (TCU) apontou indícios de superfaturamento na obra. De acordo com a Polícia Federal, Youssef e Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, participaram de um esquema de desvio de dinheiro público envolvendo a refinaria.
Costa utilizava políticos e prestadores de serviços da Petrobras em um consórcio criminoso montado para fraudar contratos na estatal, ampliar sua fortuna e financiar políticos e partidos. Ele se aproveitava do cargo, que incluía entre as responsabilidades aprovar projetos técnicos para construção de refinarias e fiscalizar sua execução, para conduzir o esquema de desvio de recursos. Ele está preso no Paraná.
As autoridades suíças bloquearam 23 milhões de dólares distribuídos em contas do ex-diretor da Petrobras. A Procuradoria do país também reteve cerca de 5 milhões de dólares depositados em contas atribuídas a parentes do ex-diretor. As duas filhas de Costa, Arianna e Shanni Bachmann, e os genros Márcio Lewkowicz e Humberto Mesquita seriam os donos dos recursos. Um dos comparsas do doleiro Alberto Youssef, João Procópio Junqueira Pacheco de Almeida Prado, também foi identificado como um dos beneficiários de contas na Suíça.
Costa responde na Justiça do Paraná ao lado de Youssef e outros oito pessoas pelo crime de lavagem de dinheiro e indícios de um amplo esquema de desvio de recursos envolvendo a Refinaria Abreu e Lima, entre os anos de 2009 a 2014. Além disso, a Polícia Federal investiga uma série de negócios de Costa em parceria com o doleiro Youssef, apontado como mentor do esquema criminoso. Nesta semana, Costa foi recebido com tapete vermelho por senadores da base governista em depoimento à CPI da Petrobras.
De acordo com O Estado de S. Paulo, os agentes da PF acreditam que Costa mantenha ativos em bancos de outros países além da Suíça. A Justiça Federal crê que as contas localizadas até aqui indiquem um padrão de conduta “não se excluindo de antemão a possibilidade da existência de outras contas em outros países, eventualmente de difícil acesso pelas autoridades brasileiras”. Agora, as autoridades brasileiras vão solicitar à Suíça os extratos das contas de Youssef e Costa. A partir daí pretendem revelar a origem e o destino de todos os depósitos em favor do doleiro e do ex-diretor da estatal. Para repatriar os valores, contudo, será preciso uma condenação definitiva na Justiça brasileira.

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