domingo 26 2014

Entenda o comportamento dos gatos

Veja.Com

Pedir carinho


A maioria dos gatos gosta de receber carinho na cabeça porque essa é a região em que frequentemente recebe as lambidas de amigos de sua espécie – esse é um ritual de amizade e confiança entre eles. Nos humanos, o ritual é substituído pelo cafuné. Pedir um chamego é uma maneira de estreitar a relação com o dono.

Ronronar

O ronronar do gato é um mistério no estudo dos felinos. O som é produzido por músculos que fazem vibrar as cordas vocais de uma maneira especial, por diversas razões. Quando pequenos, os gatos ronronam no momento em que mamam, e a mãe acompanha o ronronar, produzindo o mesmo som. Em adultos, é um sinal emitido para os humanos quando querem chamar a atenção. Tudo indica que o ronronar significa um pedido: para trazer comida, continuar passando a mão em sua cabeça ou afastar algo que o amedronta.

Brincar

As brincadeiras servem para os gatos aprenderem a caçar e também para se socializar com outros gatos. No caso dos animais domésticos, que caçam muito menos do que os selvagens, as brincadeiras entre eles se tornaram um modo de demonstrar amizade. Para parar de brincar, eles dão um sinal: curvam as costas, empinam o rabo e saem de cena.

Não gostar quando pegam em suas patas

O tato dos gatos, sentido que os ajuda em suas caçadas, é muito sensível. Por esse motivo, os animais detestam quando alguém toca em suas patas. As almofadinhas das patas possuem receptores que indicam o que está entre elas e as garras são equipadas com nervos que revelam o quanto foram esticadas e qual a resistência que suportam.

Miar

Gatos livres raramente miam uns para os outros – exceto quando estão brigando ou acasalando, atividades barulhentas. Os miados geralmente são direcionados às pessoas, para chamar sua atenção e conseguirem o que querem. Por isso, os gatos modulam seus miados de acordo com o "pedido" ou miam geralmente nos mesmos lugares da casa: em frente à porta quer dizer "me deixe sair"; no meio da cozinha, "me alimente". 

Ser dissimulado

Descendentes de uma espécie solitária e caçadora, o comportamento dos gatos é talhado para competir, não para colaborar. Com exceção de algumas semanas depois do nascimento, eles são autossuficientes e, assim, não têm necessidade de demonstrar emoções para se comunicar. Como bons caçadores, preferem dissimular suas emoções e manipular as atitudes do adversário. É por isso que, quando estão com medo, eles ou se encolhem, tentando parecer menores do que são e fogem sem serem notados, ou tentam parecer maiores, curvando as costas e levantando os pelos. É a tentativa felina de manipular as emoções do oponente.

Levantar a cauda

A cauda levantada na vertical parece ser um sinal que demonstra a boa intenção de um gato para o outro. Essa demonstração, comum nos filhotes quando se aproximam da mãe, evoluiu durante a domesticação e, hoje, quando um gato levanta sua cauda e outro gato corresponde com o mesmo sinal, os dois se aproximam e se esfregam uns nos outros, demonstrando que são amigos. A cauda levantada é o sinal mais claro da afeição de um gato por um humano.

Esfregar-se nas pernas do dono

Trata-se de um dos sinais táteis com o qual um gato comunica sua amizade. Quando um gato esfrega seu corpo em outro ele reafirma a confiança entre eles. Nas pernas do dono, ele declara sua afeição. Normalmente, primeiro ele levanta a cauda e depois fricciona seu corpo, seja em outro gato, seja nas pernas dos humanos.

Trazer animais mortos para casa

Depositar animais mortos no chão é uma atitude remanescente do instinto caçador felino. Depois de caçar, ele simplesmente traz a presa para casa. "Quando o gato chega em casa, no entanto, lembra-se de que os ratos não são tão gostosos quanto a comida que seu dono lhe dá – e abandona a presa, para a revolta do proprietário", afirma Bradshaw. O autor desmente a ideia de que os gatos trazem a presa para nos alimentar, como as mães-gatos fazem com os filhotes. Os gatos nos enxergam, provavelmente, como gatos grandes: um pouco como suas mães, um pouco como um gato superior.

Não se dar bem com outros gatos

Gatos são animais territoriais e solitários. Depois de adultos, eles geralmente se dão mal com outros gatos – exceto os membros de sua família, que conhecem quando filhotes. Por isso, quando dois adultos são colocados na mesma casa, separam suas áreas e costumam brigar. A melhor maneira é dividir os locais onde comem e dormem. Mesmo assim, se houver gatos mais velhos na vizinhança, os mais novos costumam ficar amedrontados e estressados – e isso pode fazê-los adoecer e morrer.

Dormir tanto

Os gatos têm um estilo de caçada que leva sua capacidade física ao limite. Costumam esperar pela presa e, quando ela aparece, atacam com ímpeto, usando todo o potencial de sua visão, audição, olfato e músculos. Depois de tanto esforço, precisam de um longo período de descanso. Gatos dormem em média 18 horas por dia: é o tempo necessário para recarregar todas as energias.

A convivência entre gatos e humanos na história

Um bom caçador


Há 10 000 anos, quando surgiu a agricultura, os humanos que começaram a armazenar grãos, que atraíram ratos. Predadores naturais dos roedores, os gatos selvagens se aproximaram dos acampamentos e foram a melhor forma de controlar a praga. A primeira evidência da relação mais próxima entre homens e gatos veio em 2001, quando uma equipe de arqueólogos do Museu de História Natural de Paris descobriu no Chipre um esqueleto de gato (semelhante ao gato selvagem africano, à dir.), enterrado há 9 500 anos em um túmulo perto ao de um humano. O enterro em locais próximos sugere que a relação entre os dois era estreita. Ainda levaria milênios, no entanto, para os gatos serem considerados animais de estimação.

Primeiros gatos de estimação

Gatos se tornaram animais de estimação provavelmente no Egito, há cerca de 4 000 anos. Nessa época, pinturas e uma série de hieróglifos – chamados "Miw" – foram criadas para representar gatos domésticos. Pouco depois, "Miw" foi adotado como nome para mulheres, indicando que o gato estava integrado à sociedade egípcia. Enterros de gatos com seus donos começaram a ser frequentes, no Egito, há cerca de 3 000 anos.

Gatos divinos

Os nobres egípcios tinham muito apreço por seus bichanos. Quando a gata Osiris, do filho mais velho do faraó Amenhotep III, morreu, seu dono mandou embalsamá-la e ordenou que fosse feito um sarcófago especial para ela. Múmias de gatos eram frequentes, não só como maneira de assegurar a vida após a morte de bichanos especiais, mas também como oferendas a deuses-gato, como a divindade Bastet, que tem a cabeça de um gato e é associada à fertilidade e à sexualidade feminina. A produção dessas múmias sagradas transformou-se uma indústria no Egito Antigo há 2 400 anos e algumas das técnicas de mumificação eram as mesmas utilizadas em corpos humanos. 

Adoração felina

Por serem associados a deuses, os gatos se tornaram sagrados no Egito Antigo, homenageados com estátuas e sarcófagos. O grego Heródoto conta em seu livro "Histórias" que, há cerca de 2 600 anos, quando um gato morria de morte natural, todos os membros da casa raspavam suas sobrancelhas em sinal de respeito. Os relatos do romano Diodorus Siculus mostram que, quando o Egito passou a ser parte do Império Romano, a população era capaz de linchar qualquer pessoa que tivesse matado um gato – acidentalmente ou não. 


Gatos em rituais pagãos

A adoração a divindades como a egípcia Bastet (em escultura, na foto) ou a romana Diana, ligadas a gatos, eram rituais pagãos populares no sul da Europa entre os séculos II a VI. Na cidade de Ypres, na Bélgica, as cerimônias dedicadas aos gatos foram banidas apenas no ano de 962 e, em algumas cidades italianas o culto à deusa Diana perdurou até o século XVI. Identificados a essas cerimônias, os gatos logo se tornaram símbolo de superstição. Uma tradição celta mandava enterrar gatos em casas ou campos de cereais para trazer boa sorte. Algumas cidades europeias tinham o costume de colocar vários gatos em uma cesta e suspendê-los sobre uma fogueira: os miados serviriam para espantar maus espíritos. 

Gatos pretos banidos da Europa

Em 391, o imperador Teodósio I baniu na Europa todos os rituais pagãos e, em 13 de junho de 1233, o papa Gregório IX publicou uma bula papal em que relacionava os gatos pretos ao demônio. Pelos próximos 300 anos, milhares de gatos foram torturados e mortos – junto a suas proprietárias, acusadas de bruxaria.

Peste negra, culpa dos bichanos?

A perseguição dos gatos na Europa pode ser relacionada à peste negra que matou um terço da população europeia entre 1340 e 1350. A doença, transmitida pelas pulgas dos ratos, também matou um número considerável de gatos. O último surto da peste aconteceu em Londres, entre os anos de 1665 e 1666 e, dessa vez, os gatos foram culpados. O governo britânico mandou matar 200 000 animais.

O melhor amigo das mulheres

Na metade do século XVIII, os gatos voltam a ser considerados bons animais de estimação. Luís XV permitia gatos na corte e os animais começaram a aparecer em pinturas, ao lado das nobres francesas. Na Inglaterra, no fim do século XIX, a rainha Vitória mantinha seus gatos sempre próximos a ela e o escritor americano Mark Twain adorava o bichano, afirmando que "se um homem ama gatos, sou seu amigo e camarada, sem precisar de nenhuma outra informação". 

O animal do século XXI

O gato é o animal de estimação mais numeroso em países ricos como Estados Unidos, França e Alemanha. No Brasil, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), há 21 milhões de gatos, 16,3% a mais que em 2010, quando o número era de 18 milhões. No mesmo período, a população de cães cresceu 8,1% – passou de 34 milhões para 37 milhões. A associação estima que, em dez anos, a população de gatos seja maior do que a de cães. 

Gato: o animal ideal do século XXI

Comportamento animal

Sagrado no Egito Antigo e perseguido na Idade Média, o gato deve assumir o posto de bicho mais popular do mundo neste século. A chave para compreender suas múltiplas faces é a ciência, afirma o biólogo britânico John Bradshaw

Rita Loiola
Gato com novelo
No livro 'Cat Sense', o biólogo John Bradshaw revela o significado do comportamento felino e mostra como foi sua evolução ao longo da história (Thinkstock)
"Gatos e cachorros apelam a diferentes partes da natureza humana. Os gatos oferecem um vislumbre da vida selvagem, enquanto os cachorros oferecem lealdade e submissão" John Bradshaw, biólogo
Em 13 de junho de 1233, o papa Gregório IX definiu o que era um gato. No documento oficial Vox in Rama, o gato preto foi descrito como "encarnação do demônio". Antes disso, no Egito Antigo, o animal tinha status de sagrado. Em um passado ainda mais longínquo, o gato foi domesticado com uma única função, caçar ratos – e esse era o motivo de mantê-lo em casa até poucas décadas atrás. Como um bicho com tantas "encarnações" na história transformou-se naquele que deve se tornar o mais popular do século XXI? "Gatos intrigam a humanidade desde que passaram a viver entre nós. A chave para compreendê-los está na ciência", afirma o biólogo John Bradshaw, pesquisador da Universidade de Bristol, na Inglaterra.

Em seu livro Cat Sense (Sentido do gato), lançado em setembro de 2013 nos Estados Unidos e inédito no Brasil, Bradshaw usa as últimas pesquisas científicas para explicar o comportamento dos bichanos e defender a tese de que eles são os companheiros ideais para o homem da atualidade.

Ainda existem mais cachorros do que gatos no mundo: são 335 e 260 milhões, respectivamente, segundo a consultoria de mercado internacional Euromonitor, em uma estatística de 53 países. Mas a população felina cresce mais do que a canina e, em nações como Estados Unidos, França e Alemanha, já é maioria. No Brasil, de acordo com a Associação Brasileira de Indústria de Produtos para Animais (Abinpet), vivem 37 milhões de cachorros e 21 milhões de gatos. Na proporção em que aumentam nos últimos anos – duas vezes mais do que os cães – os bichanos devem assumir a dianteira do ranking daqui a dez anos, segundo a Abinpet.
Popular, mas selvagem – Cada vez mais numerosos como bichos de estimação, os gatos permanecem essencialmente selvagens. Estão dentro de nossas casas, mas continuam com as quatro patas fincadas nas florestas onde seu ancestral, o Felix silvestris, caçava – e ainda caça – pequenos animais, sozinho e livremente. ​ 
O motivo pelo qual gatos não são leais e obedientes como os cachorros é evolutivo. Domesticados há cerca de 11 000 anos, na Europa, os cães foram sendo moldados pelos homem. Aqueles que exibiam características mais úteis ao convívio humano — capacidade de caçar, pastorear rebanhos, defender territórios, fazer companhia — foram acolhidos, passaram sua herança genética adiante e são os ancestrais dos que conhecemos atualmente. Já os gatos começaram a morar dentro de casa há cerca de 4 000 anos, no Egito – embora convivam com o homem há aproximadamente 10 000 anos.
Bradshaw diferencia gatos totalmente domesticados – aqueles que têm a reprodução controlada pelos humanos, como os com pedigree, minoritários – dos de rua, que se reproduzem sozinhos e têm o comportamento semelhante aos selvagens. Nas próximas décadas, com a intervenção humana na criação de novas raças adaptadas à vida doméstica contemporânea, os gatos provavelmente abandonarão algumas de seus traços selvagens. "Os gatos foram domesticados pela única razão de controlar o número de ratos. Interessava manter o seu comportamento selvagem", disse Bradshaw ao site de VEJA. "Hoje eles são principalmente um animal de estimação, e acredito que ainda neste século seu processo de domesticação será completado."  
É desejo recente querer que eles sejam apenas companhia e não matem os animais que entram pela janela. Até os anos 1980, muitos gatos domésticos ainda precisavam caçar para manter a dieta balanceada. Somente nessa época pesquisas científicas revelaram que gatos têm imperativos nutricionais diferentes dos cães – enquanto os cachorros são onívoros (consomem animais e vegetais), os felinos são exclusivamente carnívoros. Hoje, a indústria oferece alimentos que os deixam realmente satisfeitos —  um passo essencial para que o impulso de caçar, que supre com a carne fresca de passarinhos ou roedores necessidades alimentares, possa ser controlado.
Paixão por felinos – A explicação para o amor crescente dos homens pelos gatos pode estar em uma característica inerente à espécie. "Eles despertam em nosso cérebro um instinto de cuidado. Os traços mais óbvios que provocam esse fenômeno são o rosto redondo, a testa larga e os grandes olhos, que nos recordam um bebê humano", afirma Bradshaw.

Talvez seja por isso que, historicamente, gatos estão relacionados a mulheres e homens, a cães. Pinturas egípcias feitas há 3 300 anos mostram gatos sentados embaixo da cadeira de suas donas, enquanto cachorros estão sob o assento do homem da casa. Em Roma, a preferência era a mesma e, por séculos, os animais foram relacionados a divindades como as deusas Bastet, no Egito, Artemis, na Grécia e Diana, em Roma. Na Idade Média, especialmente depois da bula papal de 1233, a associação com gatos deixou de ser positiva: foram muitas as donas de gatos queimadas como bruxas.
Essa adoração e perseguição ao longo dos séculos moldaram o comportamento e a biologia do animal, até chegar aos bichanos que hoje se enroscam nas pernas de seu dono quando estão felizes. "Os gatos são mais bem ajustados à vida moderna do que os cães. Eles não precisam ser levados para passear, podem ser deixados sozinhos por longos períodos e precisam de menos espaço", diz o biólogo.
Mitos derrubados – Com o histórico de três décadas de pesquisas sobre comportamento animal (é também autor de Cão Senso, publicado em 2012 pela editora Record) e o apoio de cientistas que estudam biologia e DNA felino, Bradshaw aborda lugares comuns como o de que cães e gatos se detestam ou de que o gato não gosta do dono, mas da casa. "Gatos e cães eram inimigos naturais quando vagavam pelas ruas. Na condição de animais de estimação, podem ser amigos", afirma. A relação harmoniosa acontece se os animais se conhecerem ainda filhotes: o gato com até oito meses de vida e o cachorro com até três meses.
A ciência também confirmou que os bichanos se vinculam primeiro aos lugares e depois às pessoas. Esse é um legado do animal selvagem do qual descendem, uma espécie fortemente territorialista. "Um gato precisa saber que está em um lugar seguro antes de poder expressar afeição por seu dono, mas isso não significa que ele não goste do proprietário. Sabemos disso porque eles se comportam com seus donos exatamente como com outros gatos dos quais gostam – cumprimentam levantando seus rabos e esfregam suas bochechas e costas um no outro."

Para o biólogo, a palavra certa para descrever a emoção que o gato experimenta em relação a seu dono é "amor". As mesmas alterações hormonais que indicam que humanos sentem emoções se manifestam em bichos. "O senso comum diz que, se um animal que tem a estrutura básica cerebral e o sistema hormonal igual ao nosso parece amedrontado, ele deve estar experimentando algo muito parecido com medo – provavelmente não o mesmo medo que nós sentimos, mas medo de qualquer forma", escreve em seu livro. Assim, Bradshaw se posiciona nos círculos científicos que afirmam que animais experimentam sentimentos como amor, medo, tristeza, alegria ou prazer.

"Houve algo semelhante a uma revolução na ciência do bem-estar animal, que admite que todos os mamíferos, provavelmente todos os vertebrados, têm vidas emocionais complexas. Não só podemos usar esse conhecimento para evitar sofrimento, mas também para assegurar que todos os bichos, de estimação ou de laboratório, vivam mais felizes", afirma.
O gato do futuro – Nos próximos anos, os humanos devem conviver com gatos mais sociáveis, menos ansiosos e mais carinhosos. Eles, provavelmente, serão mais caseiros do que os gatos de hoje, pois cada vez menos terão a necessidade de caçar.

A ciência que estuda o comportamento animal fará do gato um animal melhor adaptado à sociedade contemporânea com a ajuda de uma técnica que, até hoje, é dificilmente adaptada aos gatos: o adestramento, tema do próximo livro de Bradshaw. Ele pretende ensinar, por exemplo, como persuadir um gato a ser amigo de outro ou fazer um animal arisco aceitar pessoas que não conhece.

Para o biólogo, apesar de tudo, o gato do futuro não será uma criatura tão dócil e mansa como o cão. "Gatos e cachorros apelam a diferentes partes da natureza humana. Os gatos oferecem um vislumbre da vida selvagem, enquanto os cachorros oferecem lealdade e submissão", afirma. 

Boate Kiss: 242 mortos, um ano, nenhum condenado

Tragédia

Delegada que investiga o caso conclui que casa noturna nunca funcionou com todas as licenças. Empresários adulteraram endereço para obter alvará

Alexandra Zanela e Carlos Guilherme Ferreira
A fachada da boate Kiss
A fachada da boate Kiss (Nabor Goulart)
Em algumas horas, os escombros e os relatos dos sobreviventes da boate Kiss conduziam a uma constatação inevitável: a morte de uma centena de jovens durante a madrugada – e as que, lamentavelmente, viriam em seguida – não foi uma fatalidade. Erros em sequência, negligência e omissão do poder público convergiram para que uma casa noturna de grande movimento operasse por tanto tempo com superlotação, sem área de escape, com materiais inadequados e uma atividade de alto risco, como é o uso de fogos de artifício em ambientes fechados. Os sinais de que a catástrofe foi construída pela mão do homem se confirmaram, e ganharam tons dramáticos, quando foi comprovada a causa da morte de grande parte das vítimas, o envenenamento por gás cianídrico – o cianeto, o mesmo usado nas câmaras de gás nazistas.
As provas e os pormenores do incêndio que matou 242 pessoas e traumatizou o Brasil estão reunidos em 13.000 páginas de um inquérito policial. Os efeitos práticos da investigação, no entanto, ainda não vieram: dos 32 indiciados, nenhum está preso, e ninguém recebeu indenizações pelas perdas causadas pelo desastre.
Donos da casa noturna, bombeiros e integrantes da banda Gurizada Fandangueira estão em liberdade, à espera da definição de seus destinos pela Justiça - o que, por enquanto, sequer tem data para acontecer. Trata-se de um processo longo, e o Brasil não está sozinho nesse caso: nos Estados Unidos, onde em 2003 houve tragédia semelhante à da Kiss, as prisões levaram pelo menos três anos. Apesar do alto poder de letalidade de se manter centenas de pessoas em um local que pode ser incinerado em questão de minutos, comprovar responsabilidades nesse caso é algo mais complexo e demorado, admitem especialistas.
Em Santa Maria, o prefeito Cezar Schirmer e outros servidores municipais inicialmente citados pela Polícia Civil acabaram excluídos da lista – segundo o entendimento do Ministério Público, eles não tiveram responsabilidade direta na tragédia. Mas a conduta do poder público em relação às atividades de licenciamento e fiscalização ainda alimentam dúvidas. Os policiais trabalham em duas investigações, ambas com foco em acontecimentos anteriores ao incêndio.

Segundo a delegada Luiza Santos Souza, responsável pelos inquéritos da Kiss, os policiais verificam suspeitas de crime ambiental e de problemas na documentação da boate. “Constatamos que, em nenhum momento, a boate Kiss funcionou com todas as licenças necessárias”, informa a delegada. “A boate nunca parou de funcionar. Nenhum dia. Nunca teve os documentos necessários. Sofreu 11 notificações do município”, critica Luiz Fernando Smaniotto, um dos advogados da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM).
As licenças pesquisadas pela delegada incluem: Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV), laudo técnico de isolamento acústico, licenciamento ambiental, alvará sanitário e, por fim, alvará dos bombeiros. Todos os itens, afirma, têm suspeitas de irregularidades.
Os pontos são comuns às duas linhas de investigação. Uma delas apura fraude no EIV: os primeiros donos da Kiss teriam forjado uma consulta aos vizinhos do estabelecimento para atestar a ausência de problemas de poluição sonora. À época da inauguração da casa noturna, em julho de 2009, houve queixas de barulho excessivo – independentemente de qualquer medição, os vizinhos da casa noturna relatam que não conseguiam dormir nas noites de funcionamento da boate.
Então proprietário da Kiss, o engenheiro Tiago Flores Mutti e seu pai, Santiago, colheram 60 assinaturas para refutar as reclamações de ruídos e assegurar a manutenção das atividades. A iniciativa funcionou, mas agora a polícia aponta supostas irregularidades como assinaturas duplicadas, não-identificadas, originárias de lojas e supermercados que não funcionam à noite e, ainda, de pessoas estabelecidas longe da boate. Mutti, porém, nega qualquer fraude.
A partir destes indícios, a polícia iniciou outra investigação: a documentação da Kiss. Vieram à tona procedimentos como a troca de endereço da boate na documentação protocolada na prefeitura, no início de 2010. Como havia problemas com o número 1.935 da Rua dos Andradas, os proprietários trocaram a numeração para 1.925. “A partir daí, a boate ganhou alvará de localização, sem todos os documentos prévios”, lembra o advogado Smaniotto.
A prefeitura, no entanto, diz desconhecer qualquer irregularidade. “Não vi o inquérito, só sei o que vejo nos jornais. Não tem nada oficial de investigação contra o prefeito. Não posso responder o que é boato, hipótese. Recebi mais de 30 ofícios da polícia com mais de 2.000 perguntas, especialmente sobre datas e horários, e respondemos tudo”, assegura Schirmer.
Luiza explica que as apurações mais recentes começaram em maio, de forma reservada, e vão se estender até fevereiro. Esta parte do trabalho policial acumula 4 mil páginas, divididas em 14 volumes, fruto de mais de 150 testemunhos.
Quando a polícia encerrar o trabalho em andamento, caberá ao Ministério Público (MP) decidir se abre processo. O órgão, aliás, é criticado nos bastidores, já que permitiu um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para a colocação de espuma de isolamento acústico na boate - material que, na madrugada do incêndio, liberou o gás considerado pela perícia como responsável pelas mortes.
O TAC, aliás, está na origem de umas das poucas mudanças de regras e legislação obtidas a partir da tragédia de Santa Maria. A nova lei de prevenção a incêndios do Rio Grande do Sul prevê que este tipo de acordo só pode ser firmado com o aval e o acompanhamento do Corpo de Bombeiros – a quem compete fiscalizar a adequação de edificações e instalações.
Até agora, correm processos nas esferas militar (bombeiros) e criminal (donos da boate e outros réus). Mas a falta de uma punição prolonga a sensação de injustiça entre as vítimas e pessoas de alguma forma afetadas pela tragédia. “Esperamos novos indiciamentos em relação a estas possíveis omissões que serão apontadas”, diz o advogado Smaniotto, que expressa um sentimento comum aos integrantes da associação de vítimas. A delegada Luiza admite sua frustração e mantém reservas sobre os desdobramentos das investigações em andamento. “Tem de comprovar dolo (culpa). É complicado”, admite.
A demora, algo previsto para casos de incêndio como o da boate Kiss, ocorre em casos semelhantes em outros países. Em Rhode Island, nos Estados Unidos, cem pessoas morreram na boate The Station, em 2003, em incêndio com características parecidas com o de Santa Maria – lá, o fogo também começou com o manuseio de um artefato pirotécnico. Foram necessários sete anos para que a Justiça determinasse o pagamento de indenizações. A soma alcançou 176 milhões de dólares, paga por 65 réus. Receberam dinheiro 329 pessoas - o maior valor alcançou 7,7 milhões de dólares. Coube a uma emissora de TV local a tarefa de assinar o cheque mais polpudo, de cerca de 30 milhões. Conforme as investigações, o trabalho de um repórter cinematográfico atrapalhou a evacuação da boate.
Na esfera criminal, só três pessoas pararam atrás das grades: os irmãos Michael e Jeffrey Derderian, donos da casa noturna, e Daniel Biechele, vocalista da banda Great White. Eles acabaram condenados três anos após o incêndio, mas não ficaram mais de três anos na cadeia

Eddie Vedder do Pearl Salta Sobre o Público

Link permanente da imagem incorporada

Eddie Vedder do Pearl Jam salta sobre o público; Durante o Festival Lollapalooza Los Angeles: DEZEMBRO de 1992

Eddie Vedder - Guaranteed legendado (pt-br)





Reynaldo-BH: A mulher que insiste nos erros só porque odeia ser contrariada


REYNALDO ROCHA
Ninguém gosta de ser contrariado. É da natureza humana. Mas é também humano reconhecer que a contrariedade pode servir de alerta e, mesmo indesejada, oferece uma chance de repensar a própria vida.
Dilma odeia ser contrariada. A psicanálise explica. O sentimento de menos valia (neste caso não é só sentimento) transforma em ofensa uma opinião contrária, mesmo que baseada em fatos.
Quem admite ser marionete de um presidente que não desencarna sabe que é uma figura menor. Isso talvez explique a reação de Dilma a qualquer discordância.
Exemplos? É por isso que Dilma mantém Guido Mantega no posto de czar da economia do Brasil. O ministro sem nenhuma credibilidade, indispensável a quem exerce tais funções o de quem ocupa a função, erra 10 em 10 previsões. E erra 11 em 10 decisões. Mas permanece no cargo.
Mantega é ministro da revista inglesa The Economist. Não de Dilma, que se recusa a demiti-lo para mostrar que tem força e não se dobra a uma publicação estrangeira. Mantega só continua ministro porque Dilma odeia ser contrariada.
O que a ministra Maria do Rosário faz no governo, além de envolver-se em episódios que causam desconforto até à presidente? Uma fábrica de asneiras e provas de incompetência expostas diariamente. Não se conhece uma única ação (nem mesmo uma declaração) da senhora Rosário que tenha alguma relevância. É provável que até companheiros de partido pensem assim da boquirrota que não mede o que diz por não ter neurônios para pensar no que dizer. É movida pelo desejo ardente de ser caninamente fiel à presidente, embora exponha o governo ao ridículo toda vez que abre a boca.
Como cada ação de Maria do Rosário corresponde a uma onda de contrariedade, Dilma não a afasta do emprego. A gerentona não admite interferência. Só de Lula. Nesse caso, são ordens.
Não haveria mudanças notáveis se o ministério que cuida dos Direitos Humanos fosse transferido das mãos de uma desequilibrada para o deputado Marcos Feliciano, que preside a comissão parlamentar encarregada do mesmo assunto porque o PT apoiou a indicação do pastor.
Um movido pelo fundamentalismo pseudo-religioso, outra pela subserviência xiita que a tornou uma ministra-bomba, ambos se igualam em irresponsabilidade e incompetência.
Dilma precisa entender que, se ninguém gosta de ser contrariado, ninguém suporta ser ofendido. A permanência de Maria do Rosário é uma ofensa a todos nós.

Lei que pune com multa empresa que pagar propina entra em vigor nesta quarta-feira

Corrupção

A partir de agora, subornar funcionários públicos para obter contratos pode ficar caro para empresas como a Alston, que, investigada desde 2008, continua a receber dinheiro de governos, inclusive o federal

Pieter Zalis e Hugo Marques
Metrô
(Fernando Cavalcanti)
A empresa francesa Alstom sempre negou que tivesse cometido irregularidades para conseguir contratos no Brasil. Agora, um documento a desmente. Em um processo na França, um ex-diretor da companhia afirmou que ela pagou 15% de “comissão” (o eufemismo mundial para propina) a representantes do governo paulista para conseguir um suplemento de 45,7 milhões de dólares sobre um contrato firmado quinze anos antes. O depoimento do ex-diretor, André Botto, foi revelado pelo jornal Folha de S.Paulo. Ele ocorreu em 2008, o mesmo ano em que começou a investigação dos cartéis em São Paulo (veja o quadro). O fato de há tempos existirem indícios de que a Alstom subornou autoridades no Brasil não impediu, porém, que a empresa continuasse a receber dinheiro dos cofres públicos.
O caso Alstom/Siemens, como é praxe na política, virou dinamite na guerra eleitoral entre os partidos. Por meios explícitos, e também tortuosos, o PT e alguns de seus representantes no governo vêm se empenhando para que a bomba exploda em colo tucano no momento mais adequado. Difícil, no entanto, será explicar ao eleitorado o motivo pelo qual, mesmo diante de suspeitas tão antigas, o governo federal manteve os contratos com a Alstom, à qual entregou 183 milhões de reais nos últimos dez anos.
Há exemplos piores. Entre 2003 e 2010, durante os governos Lula, a Delta, empreiteira do empresário Fernando Cavendish, atingiu a incrível marca de uma licitação ganha por semana. Somados, os 430 contratos da empresa com o governo totalizavam 5 bilhões de reais. Vasculhando a contabilidade da empreiteira, uma CPI aberta em 2012 descobriu que o sucesso da Delta nas licitações aumentava na mesma medida das contribuições que ela fazia para campanhas de políticos do governo.
Situações como essa proliferaram no país em parte porque, até agora, não havia leis específicas para punir empresas corruptas. Na esfera administrativa, a pena máxima era a entrada dessas empresas numa lista negra. Quem estivesse nela não mais teria direito a contratos no serviço público. Mas o procedimento está repleto de brechas, como bem sabe a Delta. Incluída na lista de companhias inidôneas em junho de 2012, ela ainda recebeu 423 milhões de reais do governo naquele ano e outros 210 milhões em 2013. E agora criou outra empresa, a Técnica Construção, que está pronta para abocanhar licitações quentinhas.
Isso está para mudar. Nesta semana, começa a valer a Lei de Combate à Corrupção. Ela prevê que empresas flagradas pagando propina poderão ser multadas em até 20% do seu faturamento ou, em casos extremos, ser fechadas. Leis como essa já vigoram desde 1977 nos Estados Unidos e desde 1998 na Alemanha. “É a primeira vez que teremos no Brasil penalidades que atingem a conta bancária das companhias”, diz o ministro da Controladoria-Geral da União, Jorge Hage. Afugentar as empresas corruptas sangrando seus cofres, afinal, pode ser bem mais eficiente do que esperar que os governos se preocupem em ficar longe delas.
Com reportagem de Alexandre Aragão

Eagles - Hotel California Live at 1998





Atos contra a Copa

Por Redação

Manifestantes e Polícia Militar entram em confronto em São Paulo


Manifestantes e Polícia Militar entram em confronto em São Paulo - 1 (© Daniel Teixeira Estadão)

Os protestos contra a realização da Copa do Mundo, que tiveram início de forma pacífica, acabaram em confusão no sábado, 25. Em São Paulo, os manifestantes e a Polícia Militar entraram em confronto na Rua Barão de Itapetininga, na região central. Os manifestantes começaram a depredar estabelecimentos comerciais no centro de São Paulo, por volta das 20h.

Manifestantes e Polícia Militar entram em confronto em São Paulo - 1 (© Daniel Teixeira Estadão)

A primeira loja a ser atacada foi um McDonald's. Os policiais fizeram uma barreira para tentar proteger o restaurante, e os manifestantes começaram a correr e destruir agências bancárias pelo caminho.

Manifestantes e Polícia Militar entram em confronto em São Paulo - 1 (© Daniel Teixeira Estadão)

Somente na Rua 7 de Abril, a reportagem presenciou ataque a três agências. Os manifestantes colocaram fogo em terminais de atendimento dentro das agências, como Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Bradesco. Houve início de incêndio.

Manifestantes e Polícia Militar entram em confronto em São Paulo - 1 (© Daniel Teixeira Estadão)

A PM fez um cordão de isolamento para impedir que os manifestantes fossem para a Praça da República, onde acontecia o principal show da comemoração dos 460 anos da cidade de São Paulo.

Manifestantes e Polícia Militar entram em confronto em São Paulo - 1 (© Daniel Teixeira Estadão)

Atos de vandalismo também ocorreram nas imediações da Praça Roosevelt. Um Fusca com pessoas dentro pegou fogo depois de passar sobre um colchão em chamas na Rua Xavier de Toledo. Alguns manifestantes subiram a Rua Augusta e, encurralados pela polícia, entraram em dois hotéis: Linson e Bristol. O tropa de choque foi ao local com um ônibus para prendê-los.

Manifestantes e Polícia Militar entram em confronto em São Paulo - 1 (© Daniel Teixeira Estadão)

No Rio de Janeiro, manifestantes foram até a frente do Shopping Leblon, na zona sul da cidade.

Manifestantes e Polícia Militar entram em confronto em São Paulo - 1 (© Daniel Teixeira Estadão)

A caminhada teve início em frente ao Hotel Copacabana Palace, na praia de Copacabana, e um princípio de tumulto foi registrado quando manifestantes e policiais militares começaram a se enfrentar ao final da praia, próximo do bairro de Ipanema.