quinta-feira 17 2013

Criança sem horário certo para dormir tem mais problemas de comportamento

Infância


Nova pesquisa mostrou que dormir em horários diferentes a cada dia prejudica o relógio biológico da criança, levando a problemas que vão desde envolvimento em brigas com colegas até ansiedade e hiperatividade

Resultado de imagem para Criança sem horário certo para dormir tem mais problemas de comportamento

De olho no relógio: definir horários para crianças irem para a cama previne surgimento de problemas emocionais(Thinkstock)
Uma criança que não tem horário certo para dormir pode apresentar um maior risco de problemas de comportamento e emocionais, como hiperatividade ou ansiedade. É o que indica um estudo britânico realizado com mais de 10.000 crianças e cujas conclusões foram publicadas nesta segunda-feira na revista Pediatrics.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Changes in Bedtime Schedules and Behavioral Difficulties in 7 Year Old Children

Onde foi divulgada: periódico Pediatrics

Quem fez: Yvonne Kelly, John Kelly e Amanda Sacker

Instituição: University College London, Grã-Bretanha

Dados de amostragem: 10.230 crianças

Resultado: A falta de horários regulares para dormir faz com que uma criança tenha mais problemas comportamentais e emocionais.
No artigo, os autores explicam que horários irregulares para dormir, assim como dormir pouco, afetam de forma negativa o ciclo circadiano, ou relógio biológico, da criança. Ou seja, prejudica o ciclo responsável por gerenciar o funcionamento do corpo e por regular, por exemplo, o apetite, os horários de sono e o humor. 
“Alterar constantemente a quantidade de horas em que você dorme por noite ou então ir para a cama em horários diferentes a cada dia é como bagunçar o seu relógio biológico. Isso impacta a forma como o seu corpo será capaz trabalhar no dia seguinte”, diz Yvonne Kelly, pesquisadora da University College London e coordenadora do estudo.
A nova pesquisa levou em consideração os dados de 10.230 crianças da Grã-Bretanha. Os hábitos relacionados ao sono dessas crianças — como o horário em que elas iam para a cama todos os dias ou quantas horas por noite elas dormiam — foram analisados quando elas tinham 3, 5 e 7 anos de idade. Os pesquisadores levaram em consideração apenas os hábitos cultivados de segunda a sexta-feira. Além disso, pais e professores dessas crianças responderam a questionários sobre o comportamento delas.
As conclusões do trabalho indicaram que as crianças que não tinham horário definido para dormir apresentavam mais chances de desenvolver problemas de comportamento ou emocionais do que aquelas que iam para a cama no mesmo horário todos os dias da semana. Esses problemas incluíam, por exemplo, tristeza, envolvimento em brigas com colegas e imprudência, além de hiperatividade e ansiedade.
Questão social — Além disso, o estudo mostrou que ter horários irregulares para dormir é mais comum entre crianças de famílias de baixa renda e cujos pais possuem níveis mais baixos de escolarização. Essas crianças também estão mais expostas do que as outras a outros hábitos prejudiciais, como pular o café da manhã e passar muito tempo na frente da televisão. 
Segundo os autores do estudo, os danos causados pela falta de sono adequado podem ser revertidos se os pais se esforçarem para criar uma rotina para os filhos. Por isso, os cientistas defendem a ideia de que os horários do sono das crianças devem ser levados em conta pelos profissionais de saúde e incorporados nos assuntos das consultas médicas. 

PPS critica baixo investimento contra o trabalho infantil

Trabalho infantil

Para 2014, os recursos devem ser ainda menores: o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) separou apenas 30 milhões de reais -- 7% do empenhado em 2013

Marcela Mattos, de Brasília
O deputado federal Rubens Bueno, do PPS
O deputado federal Rubens Bueno, do PPS (Brizza Cavalcante / Agência Câmara)
O líder do PPS, Rubens Bueno (PR), criticou neste sábado o baixo investimento do governo brasileiro no combate ao trabalho infantil. Como mostrou o site de VEJA, apenas 37% dos recursos previstos no Orçamento deste ano para ações contra a exploração de crianças e jovens, ou 155 milhões de reais de um total de 412 milhões de reais, foram liberados pela administração pública até o momento.

Se o ritmo de investimentos se mantiver nesta velocidade, o Brasil vai fechar o ano tendo apoiado, em políticas contra a exploração do trabalho infantil, menos da metade do previsto, algo que mancha os tão alardeados números lembrados pela presidente Dilma Rousseff durante a 3ª Conferência Global sobre Trabalho Infantil, realizada nesta semana, em Brasília. “Essa é mais uma das histórias da carochinha deste governo, que faz uso da falácia e da propaganda para exaltar seus feitos na área social”, declarou Bueno, em nota.

De acordo com pesquisa da Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgada em setembro, de 2000 a 2012 o Brasil reduziu em 67% o índice de crianças que trabalham. No cenário mundial, neste mesmo período, a queda foi de 37%. Apesar do resultado, ainda existem 3,7 milhões de brasileiros entre 5 e 17 anos sendo explorados. “Há recursos suficientes, mas o governo é incompetente para investir em áreas fundamentais para a população. As políticas públicas não passam de peças de marketing”, afirmou o parlamentar. Para 2014, os recursos devem ser ainda menores: o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) separou apenas 30 milhões de reais -- 7% do empenhado neste ano.

Poluição do trânsito eleva risco de hiperatividade infantil

Comportamento

Segundo estudo, crianças mais expostas à poluição causada pelo tráfego de veículos são também mais propensas a apresentar risco de hiperatividade

Poluição
Poluição do ar causada pelos veículos pode provocar problemas neurocomportamentais em crianças, diz estudo(Thinkstock)
A exposição de crianças muito pequenas à poluição do ar provocada pelo tráfego de veículos pode estar relacionada a um maior risco de elas apresentarem hiperatividade durante a infância. Foi o que concluiu um novo estudo feito na Universidade de Cincinnati, no estado americano de Ohio, e publicado nesta terça-feira no Environmental Health Perspectives, uma publicação do Instituto Nacional de Saúde (NIH, sigla em inglês) dos Estados Unidos. “Até onde sabemos, esse é o maior trabalho sobre exposição precoce à poluição e seus efeitos neurocomportamentais em crianças em idade escolar”, diz Nocholas Newman, que coordenou a pesquisa.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Traffic-Related Air Pollution Exposure in the First Year of Life and Behavioral Scores at Seven Years of Age

Onde foi divulgada: periódico Environmental Health Perspectives

Quem fez: Nicholas Newman, Patrick Ryan, Grace LeMasters, Linda Levin, David Bernstein e equipe

Instituição: Universidade de Cincinnati, EUA

Dados de amostragem: 576 crianças

Resultado: Crianças expostas à maior quantidade de poluição relacionada ao trânsito são as mais propensas a apresentar, aos sete anos, risco de hiperatividade.
Os pesquisadores utilizaram dados do Estudo de Alergia Infantil e Poluição Atmosférica de Cincinnati, um levantamento epidemiológico que analisou os efeitos da poluição sobre o risco de alergia infantil. Eles acompanharam 576 crianças desde o nascimento até elas completarem sete anos, idade em que passaram por uma avaliação comportamental.
Poluição de risco — Os resultados mostraram que as crianças expostas a maior quantidade de poluição atmosférica provocada pelo trânsito nos primeiros sete anos de vida foram aquelas que tiveram um maior risco de apresentar uma ‘situação de risco’ para hiperatividade. Ou seja, precisam ser monitoradas com frequência para que não desenvolvam sintomas do transtorno. “Vários mecanismos biológicos podem explicar essa relação netre doença e poluição, entre eles o estreitamento dos vasos sanguíneos e a toxidade presente no córtex pré-frontal do cérebro (área relacionada ao pensamento, raciocínio e planejamento), problemas provocados por poluentes”, diz Newman. “A poluição pode causar problemas do neurodesenvolvimento, mas é um fator de risco modificável.”

Cientista descobre bactéria que pode substituir fertilizantes

Agricultura

Encontrada na cana-de-açúcar, ela permite que a planta absorva o nitrogênio diretamente do ar, evitando a poluição causada por fertilizantes artificiais

Apesar de ser essencial para o desenvolvimento das plantas, poucas espécies conseguem absorver o nitrogênio diretamente do ar
Edward Cocking, criador da tecnologia. Apesar de ser essencial para o desenvolvimento das plantas, poucas espécies conseguem absorver o nitrogênio diretamente do ar (Universidade de Nottingham)
Apesar de serem grandes poluentes, os fertilizantes artificiais são necessários para o crescimento da maior parte das plantas, especialmente plantações comerciais. Uma das principais razões para isso é o nitrogênio. As plantas precisam dele para sobreviver, mas apenas algumas, como as leguminosas (ervilha, feijão, lentilha) conseguem obtê-lo diretamente do ar.
Porém, uma descoberta feita por pesquisadores da Universidade de Nottingham, na Inglaterra, pode ajudar a solucionar o problema dos fertilizantes. Edward Cocking, diretor do Centro de Fixação de Nitrogênio em Plantações, desenvolveu um método que permite as plantas retirem o nitrogênio que precisam diretamente do ar, utilizando bactérias capazes de absorvê-lo – denominadas fixadoras de nitrogênio.
Cocking teve essa ideia quando se deparou com um tipo dessa bactéria na cana-de-açúcar, denominada Gluconacetobacter diazotrophicus, capaz de colonizar de forma intracelular os principais tipos de plantações, dando a todas as células da planta o potencial para retirar o nitrogênio diretamente do ar. "O mundo precisa se libertar de sua crescente dependência de fertilizantes sintéticos de nitrogênio produzidos a partir de combustíveis fósseis e com alto custo econômico, poluição do meio ambiente e grande gasto de energia", afirma Cocking.
Segundo o pesquisador, a tecnologia, conhecida como N-Fix, não se trata de manipulação genética ou bioengenharia. A bactéria é inserida na planta através da semente, e cria-se um processo simbiótico (relação mutuamente vantajosa para dois organismos diferentes) entre a planta e a bactéria.  Na última década, esse processo foi testado em laboratório e em estufas, mas ainda não foram feitos testes de campo.
Comercialização – O N-Fix foi licenciado para a empresa Azotic Technologies Ltd, para ser desenvolvido comercialmente. Segundo a empresa, os primeiros locais em que vão buscar aprovação do produto são Europa, Estados Unidos, Canadá e Brasil. Eles estimam que o produto deve estar disponível no mercado em dois ou três anos.

Poluição do ar pode aumentar risco de autismo

Autismo

Crianças expostas a níveis elevados de poluentes durante a gestação e o primeiro ano de vida tiveram um risco de duas a três vezes maior de desenvolver autismo

Poluição
A poluição do ar é um dos fatores ambientais relacionados ao autismo, que está associado principalmente a causas genéticas (Thinkstock)
Estudos apontam um aumento significativo nos casos de autismo no mundo. Entre 2002 e 2008, o órgão americano Centers for Disease Control and Prevention (Centros de Prevenção e Controle de Doenças  — CDC) identificou um aumento de 100% no número de casos de Transtornos do Espectro do Autismo (ASD) diagnosticados nos EUA, de seis para 12 casos a cada 1.000 pessoas. No entanto, esse aumento não reflete necessariamente uma maior incidência da doença. O avanço pode estar relacionado aos avanços no diagnóstico.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Traffic-Related Air Pollution, Particulate Matter, and Autism

Onde foi divulgada: periódico Archives of General Psychiatry

Quem fez: Heather E. Volk, Fred Lurmann, Bryan Penfold, Irva Hertz-Picciotto e Rob McConnell

Instituição: Universidade do Sul da Califórnia

Resultado: Crianças que viviam em locais com maiores níveis de poluição relacionada ao tráfego de veículos apresentaram três vezes mais riscos  de desenvolver autismo, em comparação com as crianças que viviam em regiões com os níveis de poluição mais baixos. Quanto aos níveis regionais de poluição do ar, que se referem às medições de material particulado e dióxido de nitrogênio, as crianças com maior exposição eram duas vezes mais propensas a desenvolver a doença.
A principal dificuldade relacionada ao diagnóstico do autismo é o fato de que suas causas ainda não foram totalmente identificadas pelos pesquisadores. O que se sabe atualmente é que existem fatores genéticos e ambientais envolvidos, e estudos apontam diferentes situações ou comportamentos que estabelecem relação com a doença, mas ainda são necessários mais estudos até que as causas possam ser identificadas com precisão.
Um fator ambiental que tem sido frequentemente relacionado ao desenvolvimento do autismo é a poluição do ar. Um estudo de 2010 realizado por pesquisadores da Califórnia evidenciou a relação entre viver em locais próximos a estradas e rodovias de grande movimentação e o autismo. Crianças que viviam em residências a menos de 300 metros das rodovias apresentaram o dobro se risco de serem autistas, em relação àquelas que viviam em locais mais afastados. 














O mesmo grupo de pesquisadores publicou nesta segunda-feira, no periódico Archives of General Psychiatry, um estudo que relaciona a poluição vinda de automóveis à incidência de autismo. A diferença é que, no estudo mais recente, foram medidos os níveis de poluentes no ar próximo às residências, não apenas a distância das rodovias.
Guilherme Polanczyk, psiquiatra infantil do Departamento de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, explica que é consenso entre os pesquisadores que os fatores genéticos não são suficientes para explicar as causas da doença. A principal evidência disso é o fato de que nem todos os gêmeos homozigóticos (que têm carga genética idêntica) apresentam a doença. "Isso mostra que há espaço para os fatores ambientais", afirma.
O médico também explica que, apesar da ampla gama de fatores ambientais relacionados ao autismo atualmente, isso não significa que todos os casos vão necessariamente se encaixar em todos os fatores, ou ainda que apenas um desses fatores será suficiente para causar o desenvolvimento da doença. "Um caso pode estar relacionado a fatores genéticos e processos infecciosos da mãe durante a gravidez, e não ter nada a ver com exposição a poluição do ar, mas um outro caso pode ter essa relação", afirma Guilherme.
Poluição — Participaram do estudo 279 crianças diagnosticadas com autismo e outras 245 que não apresentavam a doença, compondo o grupo de controle. As mães dessas crianças informaram todas as residências em que viveram durante a gravidez e o primeiro ano de vida do filho. Os pesquisadores analisaram diversas estatísticas, como o volume de tráfego na região, a direção do vento e estimativas regionais de poluição para medir a exposição das crianças a poluentes como material particulado e dióxido de nitrogênio.
O estudo mostra que as crianças que viviam em locais com maiores níveis de poluição relacionada ao tráfego de veículos tinham três vezes mais riscos de desenvolver autismo, em comparação com as crianças que viviam em regiões com os níveis de poluição mais baixos. Quanto aos níveis regionais de poluição do ar, que se referem às medições de material particulado e dióxido de nitrogênio, as crianças com maior exposição eram duas vezes mais propensas a desenvolver a doença.
De acordo com os pesquisadores, essa associação é mais evidente no final da gravidez e início da vida. Isso não significa, porém, que a poluição seja considerada uma causa do autismo, mas indica que ela parece ser um fator de risco.

Poluição do ar pode aumentar risco de insuficiência cardíaca e câncer de pulmão

Poluição

Novos estudos mostram que pequenos aumentos nos níveis de poluentes podem elevar as chances de desenvolvimento dessas doenças

Poluição: o material particulado (MP), um dos principais poluentes atmosféricos, consiste conjunto de poluentes provenientes da poeira, fumaça e materiais que se mantêm em suspensão na atmosfera devido a seu tamanho reduzido
Poluição: o material particulado (MP), um dos principais poluentes atmosféricos, consiste em um conjunto de poluentes provenientes da poeira, fumaça e materiais que se mantêm em suspensão na atmosfera devido a seu tamanho reduzido(Thinkstock)
Dois amplos estudos publicados nesta quarta-feira analisam os danos à saúde provocados pela poluição do ar. O primeiro trabalho, divulgado no periódico The Lancet, mostra que a exposição a curto prazo a poluentes do ar aumenta o risco de hospitalização e morte por insuficiência cardíaca, enquanto a segunda pesquisa, que saiu na revista The Lancet Oncology, alerta para a relação entre material particulado (MP – partículas de poluentes encontradas em suspensão no ar) no ar e o aumento do risco de câncer de pulmão, mesmo em níveis abaixo dos limites impostos pela União Europeia.
O primeiro estudo combinou dados de 35 pesquisas de 12 países que medem o impacto do aumento de poluentes do ar em mortes ou hospitalizações por insuficiência cardíaca. As substâncias analisadas foram monóxido de carbono, dióxido de enxofre, dióxido de nitrogênio, ozônio e material particulado fino (MP2,5 – com diâmetro de até 2,5 micrômetros) e grosso (MP10 – com até 10 micrômetros). Com exceção do ozônio, todas as demais substâncias apresentaram relação com o problema cardíaco estudado.
Os autores estimam que uma pequena redução nos níveis de apenas um dos maiores poluentes atmosféricos, como o material particulado, poderia evitar cerca de 8.000 internações por insuficiência cardíaca e evitar o gasto de mais de 300 milhões de dólares por ano, só nos Estados Unidos.
Eles calcularam também os riscos para cada poluente. Segundo a pesquisa, as chances de ser internado ou morrer de insuficiência cardíaca cresce 3,52% a cada aumento de uma parte por milhão de monóxido de carbono na atmosfera, 2,36% para 10 partes por bilhão de dióxido de enxofre, 1,70% para 10 partes por bilhão de dióxido de nitrogênio e 2% para cada aumento de 10 microgramas de material particulado por metro cúbico de ar. A elevação dos riscos se mostrou mais forte no dia em que ocorre a exposição aos poluentes.
De acordo com Nicholas Mills, pesquisador da Universidade de Edimburgo e um dos autores do estudo, a insuficiência cardíaca afeta mais de 20 milhões de pessoas em todo o mundo, e é uma das causas mais comuns de internação hospitalar. “A poluição do ar é um fator de risco conhecido para infartos, mas sua relação com outras doenças cardiovasculares, como insuficiência cardíaca, é menos clara. Como toda a população está exposta à poluição do ar, mesmo uma pequena redução pode provocar grandes benefícios para a saúde cardiovascular e reduzir gastos com assistência médica”, afirma.
Câncer de pulmão – No segundo estudo, uma equipe de pesquisadores de diversos países europeus analisou o impacto da exposição prolongada ao material particulado (com até 2,5 micrômetros de diâmetro e com até 10 micrômetros) em relação ao risco de desenvolvimento de câncer de pulmão.  A pesquisa incluiu dados de 17 estudos em nove países da Europa, totalizando dados de cerca de 313.000 pessoas. Dentre os participantes, 2.095 desenvolveram câncer de pulmão ao longo dos 13 anos em que foram acompanhados pela pesquisa.
Os resultados da análise mostraram que cada aumento de 5 microgramas de PM2,5 por metro cúbico de ar causa um aumento de 18% no risco de desenvolvimento de câncer de pulmão. Já um aumento de 10 microgramas de PM10 por metro cúbico causou um aumento de 22% no risco de desenvolvimento da doença, principalmente o adenocarcinoma, tipo que afeta mais não fumantes.
Segundo os autores do estudo, a relação entre o material particulado e o câncer de pulmão se manteve mesmo em concentrações abaixo do limite recomendado pela União Europeia, que é de 25 micrômetros por metro cúbico para PM2,5 e 40 micrômetros por metro cúbico para PM10.

OMS classifica poluição do ar como fator cancerígeno

Câncer

Segundo a organização, além de doenças como as cardíacas e respiratórias, a exposição ao ar poluído aumenta o risco de câncer de pulmão e de bexiga

Poluição do ar na capital chinesa está muito acima do aceitável segundo a Organização Mundial da Saúde
Imagem mostra poluição do ar na capital chinesa, que está muito acima do aceitável segundo a Organização Mundial da Saúde (Jason Lee/Reuters)
A poluição do ar passou a ser classificada como fator cancerígeno pela Organização Mundial da Saúde (OMS), informou a entidade nesta quinta-feira. Segundo a organização, a poluição está relacionada principalmente ao câncer de pulmão, mas também há provas de que eleva o risco de câncer na bexiga. “O ar que respiramos se tornou poluído pela mistura de substâncias causadores de câncer. Nós sabemos que a poluição do ar não somente é um grande fator de risco para a saúde em geral, mas também a principal causa ambiental de mortes por câncer”, disse Kurt Straif, chefe da seção da OMS responsável pela classificação dos cancerígenos.
A OMS rotulou a poluição atmosférica como um dos cancerígenos do grupo 1, que engloba as principais substâncias que representam um risco para a doença, como fumaça do tabaco e radiação ultravioleta. Embora os níveis de poluição possam variar de um país para o outro, a OMS considera que a nova classificação vale para todas as regiões do mundo. 
Avaliação — A decisão da OMS de classificar a poluição como fator cancerígeno foi tomada após a revisão de uma série de dados sobre o assunto. “Nossa tarefa foi avaliar o ar que todo mundo respira, e não focar somente em poluentes específicos. Os resultados dos estudos revisados apontam para a mesma direção: o risco de desenvolver câncer de pulmão é significativamente aumentado com a exposição à poluição”, disse Dana Loomis, vice-chefe da seção.
De acordo com a Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (IARC, sigla em inglês), que faz parte da OMS, a poluição causou 223.000 mortes por câncer de pulmão em todo o mundo em 2010. “Há maneiras eficazes de reduzir a poluição do ar, e esse relatório deve enviar um forte sinal à comunidade internacional para que medidas sejam tomadas”, diz Christopher Wild, diretor da IARC.

Pesquisadores descobrem marcas de DNA polinésio em índios botocudos

Genética

veja.com

Trechos do DNA de populações polinésias foram encontrados no genoma preservado no crânio de índios brasileiros do século 19. Descoberta pode ajudar a compreender as ondas migratórias que povoaram a América

Guilherme Rosa
Índios Botocudos
Pesquisas anteriores haviam mostrado que os índios botocudos poderiam ser descendentes de uma população diferente da maioria dos outros povos americanos (Walter Garber)
Dois crânios preservados no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro guardam um segredo que pode ajudar a explicar o povoamento de todo o continente americano. Os crânios pertenceram a índios botocudos que habitaram o Brasil durante o século XIX, mas pesquisadores encontraram, no meio do seu genoma, trechos de DNA pertencentes a populações polinésias, que habitam o sudoeste asiático. O estudo, publicado na revista PNASnesta segunda-feira, propõe alguns cenários para explicar a presença desse 'DNA estrangeiro' em índios que habitavam o interior do Brasil, o que pode ajudar a reescrever a história do continente.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Identification of Polynesian mtDNA haplogroups in remains of Botocudo Amerindians from Brazil

Onde foi divulgada: periódico PNAS

Quem fez: Vanessa Faria Gonçalves, Jesper Stenderup, Cláudia Rodrigues-Carvalho, Hilton P. Silva, Higgor Gonçalves-Dornelas, Andersen Líryo, Toomas Kivisild, Anna-Sapfo Malaspinas, Paula F. Campos, Morten Rasmussen, Eske Willerslev e Sérgio Danilo J. Pena

Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais

Dados de amostragem: Dois crânios de índios botocudos mortos no século XIX

Resultado: Os pesquisadores descobriram no genoma preservado nesses crânios alguns trechos de DNA pertencentes a populações que habitam a Polinésia, nos sudeste asiático. Os testes genéticos foram realizados em dois laboratórios diferentes, no Brasil e na Dinamarca, para garantir a confirmação dos dados.
Desde o início do século 19, os cientistas se dividem na hora de explicar o povoamento da América. Existe um relativo consenso de que os primeiros habitantes chegaram ao continente entre 15.000 e 20.000 anos atrás, provavelmente pelo Estreito de Bering, entre o Alasca e a Sibéria. Os pesquisadores não concordam, no entanto, sobre o que aconteceu após essa primeira onda migratória. Uma hipótese, feita a partir de análises genéticas das populações indígenas do continente, defende que todos os habitantes são descendentes de uma única população vinda da Sibéria, responsável por povoar todo o continente.
Uma outra hipótese, desenvolvida por meio da análise dos crânios de populações atuais e antigas, afirma que o continente foi povoado a partir de duas populações diferentes. Uma delas possuía características mongoloides, mais semelhantes aos habitantes de nordeste asiático, com crânios largos e achatados. A outra população, chamada de paleoíndia, apresentava crânios estreitos e alongados, semelhantes aos de alguns povos africanos, australianos e melanésios. "A morfologia mongoloide é vista na grande maioria dos ameríndios atuais, enquanto os representantes mais famosos da morfologia paleoíndia são os esqueletos muito antigos encontrados na região de Lagoa Santa, em Minas Gerais", diz Sérgio Pena, geneticista da Universidade Federal de Minas Gerais responsável pela pesquisa.
Não existia, no entanto, nenhuma evidência genética de que a América teria sido povoada por duas populações diferentes. Nesse contexto, os índios botocudos se tornam importantes. Pesquisas conduzidas pelo biólogo e arqueólogo Walter Neves, da Universidade de São Paulo, mostram que o crânio desses índios possuíam um formato intermediário entre a morfologia paleoíndia e mongoloide. "Com base nisso, alguns pesquisadores chegaram a propor que os botocudos seriam descendentes dos paleoíndios de Lagoa Santa, mas isso não é aceito por todos", diz Sérgio Pena. Uma análise genética dessa população poderia ajudar a pôr um ponto final nessas questões. No entanto, os botocudos foram praticamente eliminados e quase não são mais encontrados no país.
Extinção — Também conhecidos como aimorés, os índios botocudos habitaram os estados de Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia até a chegada dos portugueses. Caçadores-coletores, eles eram conhecidos por serem mais violentos que os tupis — viviam em guerra com outras tribos e entre si. Usavam ornamentos redondos em seus lábios e orelhas, chamados de botoques pelos colonizadores portugueses.
A partir de 1808, Portugal declarou guerra aos índios que não aceitassem suas leis. Os botocudos, mais arredios e agressivos, foram vítimas preferenciais desse tipo de ataque. O massacre foi imenso e, em menos de um século, eles foram praticamente extintos de todo o território brasileiro. O fio genético que poderia ligar as populações polinésias aos habitantes americanos poderia estar perdido para sempre, não fosse uma coleção de crânios de índios botocudos mantida pelo Museu Nacional desde o século XIX.
Ao analisar o genoma preservado em 14 desses crânios, pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais encontraram, em dois deles, trechos de DNA polinésio. Os trechos estavam em meio ao DNA mitocondrial, que é transmitido de mãe para filhos, e indicavam que, em algum momento no passado, populações estrangeiras haviam cruzado com os antecedentes desses índios. A descoberta, no entanto, está longe de dar qualquer resposta sobre a origem americana.

Saiba mais

DNA MITOCONDRIAL
O DNA mitondrial não se encontra no núcleo da célula, mas dentro da mitocôndria. Segundo Sérgio Pena, ele é ideal para o estudo de arqueologia molecular, especialmente por ser naturalmente amplificado, ou seja, apresentar centenas ou milhares de cópias em uma única célula. "O DNA mitocondrial é sempre materno. Se você tem uma população que é conquistada à força por outra, parece ser um padrão constante que os homens invasores se reproduzem com as mulheres invadidas e assimilam as crianças em seu grupo. Assim, há sempre uma transferência de DNA mitocondrial da população dominada para a dominante. Por exemplo, mostramos há alguns anos que na população brasileira autodenominada branca, a maioria do DNA mitocondrial é de origem ameríndia e africana, enquanto a vasta maioria do DNA de cromossomos Y é de origem europeia", diz Pena.
Mais trabalho - Para explicar a presença desse DNA estrangeiro, os pesquisadores traçaram quatro cenários. Um deles é justamente a hipótese que levou ao estudo, que afirma que os índios botocudos seriam descendentes das populações de Lagoa Santa. Para esse cenário ser aceito, no entanto, ele precisaria estar de acordo com o que se conhece da cronologia de povoação da Polinésia, o que não é o caso. "As populações polinésias são muito jovens — têm de 3.000 a 5.000 anos —, enquanto os ameríndios chegaram às Américas de 15.000 a 20.000 anos atrás. O nosso cenário propõe que é possível, embora não provável, que ancestrais dos atuais polinésios possam ter tido contato com ancestrais dos botocudos ainda na Ásia", diz Sérgio Pena.
Outra hipótese levantada pelos pesquisadores afirma que os polinésios poderiam ter chegado à América mais recentemente, mas ainda antes dos europeus. Nesse caso, os pesquisadores dizem que esses povoadores teriam pouco tempo para atravessar a Cordilheira dos Andes, que separa a o Oceano Pacífico do interior do Brasil e, por isso, afirmam que o cenário é pouco provável.
As outras duas possibilidades desenhadas pelos pesquisadores já teriam acontecido após a chegadas dos colonizadores europeus. Em 1860, cerca de 2.000 polinésios foram transportados como escravos até o Peru. Cerca de 36 anos depois, após o fim da escravidão no país, os 300 escravos que ainda estavam vivos foram enviados de volta à sua terra. A hipótese, pouco provável, é que algum deles tenha se refugiado no Brasil. Não existem, no entanto, evidências de que isso tenha acontecido.
O último cenário, considerado o mais provável pelos pesquisadores, descreve o transporte desse DNA até o interior do Brasil por escravos africanos ainda no século XIX. Durante boa parte desse século, a Inglaterra havia proibido a venda de escravos, impedindo seus navios de participar desse tipo de comércio e capturando embarcações alheias que o fizessem. Para driblar a patrulha inglesa, os navios brasileiros passaram a trocar os escravos no oeste africano, que podia ser atingido ao se navegar pelo sul do Atlântico. Assim, Moçambique se tornou um entreposto importante para esse tipo de comércio, e os escravos passaram a vir de suas vizinhanças. "Cerca de 20% dos nativos de Madagascar, uma ilha próxima a Moçambique, apresentam DNA mitocondrial com as características dos polinésios. Essa hipótese é testável experimentalmente e será a primeira a ter nossa atenção", diz Sérgio Pena.
A descoberta de trechos de DNA polinésio no genoma de índios brasileiros não respondeu a muitas perguntas, mas levantou uma série de novas questões. Agora, os pesquisadores pretendem continuar as pesquisas para descobrir qual dos cenários é o verdadeiro. Assim, poderão responder se esses trechos de DNA só chegaram ao Brasil recentemente ou se são uma herança ancestral, dos primeiros dias de habitação do continente.

Árvore genealógica revela novas idades para 'Adão' e 'Eva'

Genética

Pesquisadores descobrem que os mais recentes ancestrais comuns a todos os homens e mulheres do planeta podem ter vivido na mesma época: ele, entre 120.000 e 156.000 anos atrás, e ela, entre 99.000 e 148.000 anos

Adão e Eva
Todos os seres humanos carregam em seu genoma parte do DNA de um homem e uma uma mulher que viveram há dezenas de milhares de anos, na África. Ao contrário dos casal bíblico, no entanto, o Adão e a Eva genéticos provavelmente nunca se conheceram (Thinkstock)
Em genética, chamam-se Adão e Eva os mais recentes ancestrais comuns a toda humanidade. Ele é o pai do pai do pai... de todos os homens e mulheres vivos. Do mesmo modo, ela é a mãe da mãe da mãe... Não foram os primeiros exemplares da espécie humana, ao contrário do casal bíblico, nem necessariamente se conheceram. Foram, na verdade, os últimos ancestrais a partir dos quais se pode traçar uma linha direta de descendência paterna ou materna até os dias de hoje. Uma nova pesquisa publicada nesta quinta-feira na revista Science joga um pouco de luz sobre a época em que o Adão e a Eva da genética viveram. Os pesquisadores descobriram que, ao contrário do que mostravam estimativas anteriores, o ancestral comum paterno e o materno podem ter vivido em momentos próximos ou até idênticos: o homem teria vivido entre 120.000 e 156.000 anos atrás, e a mulher, entre 99.000 e 148.000 anos.
Para estudar os ancestrais masculino e feminino, os cientistas examinam o material genético que homens e mulheres passam, exclusivamente, para seus filhos e filhas. Durante o momento da concepção, os genomas do pai e da mãe se misturam. Por isso, é muito difícil saber qual dos dois transmitiu qual gene. Mas uma parte do DNA é transmitida exclusivamente pelo pai: o cromossomo Y, que determina o sexo masculino. É ele que contém as informações sobre o ancestral paterno comum, chamado Adão cromossomial-Y. Também existe um trecho do DNA que é transmitido exclusivamente pela mãe: o DNA mitocondrial, um pedaço do genoma que não está localizado no núcleo, mas na mitocôndria da célula. Por isso a ancestral comum a todas as mulheres é conhecida como Eva mitocondrial.
O Adão cromossomial-Y e a Eva mitocondrial, obviamente, não foram os únicos humanos de seu tempo. Outros homens e mulheres podem até ter deixado descendentes até os dias de hoje, mas não tiveram sucesso em deixar uma linhagem inteiramente patrilinear ou matrilinear intacta — em algum momento seus descendentes tiveram uma prole do sexo oposto, interrompendo a transmissão do cromossomo Y ou do DNA mitocondrial.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Sequencing Y Chromosomes Resolves Discrepancy in Time to Common Ancestor of Males Versus Females

Onde foi divulgada: periódico Science

Quem fez: David Poznik, entre outros

Instituição: Universidade de Stanford, EUA; entre outras

Dados de amostragem: Análises genéticas dos cromossomos Y de 69 homens vindos de 9 regiões diferentes do globo

Resultado:  Os pesquisadores encontraram 11.640 variações genéticas entre os cromossomos. A partir disso, construíram uma árvore genealógica a partir do primeiro ancestral comum paterno, com origem entre 120.000 e 156.000 anos atrás

Saiba mais

CROMOSSOMO
É uma sequencia de DNA que contém os genes que determinam as características dos organismos. Tem dois braços, chamados cromatídeos, que se unem formando um X com a parte de cima mais alongada. O ser humano tem 46 cromossomos em cada célula.
MITOCÔNDRIAS
As mitocôndrias são estruturas responsáveis por fornecer energia, a partir da quebra de nutrientes, para as células. Esse processo é conhecido como respiração celular. O número de mitocôndrias por célula varia muito, de milhares a poucas. A quantidade depende da função da célula. Células musculares, que necessitam de muita energia para funcionar, têm mais mitocôndrias que células nervosas, por exemplo.
DNA MITOCONDRIAL
O DNA mitocondrial não se encontra no núcleo da célula, mas dentro da mitocôndria. Como é transmitido exclusivamente da mãe para os filhos, ele é ideal para o estudo de arqueologia molecular. Além disso, ele é naturalmente amplificado, ou seja, apresenta centenas ou milhares de cópias em uma única célula.
Em estudos anteriores, os cientistas estimavam que a ancestral materna devia ser até três vezes mais antiga que o paterno. “As pesquisa anteriores indicavam que o ancestral comum masculino teria vivido muito mais recentemente que o feminino. Nossa pesquisa mostra, no entanto, que essa discrepância não existe”, diz Carlos Bustamante, professor de genética na Universidade de Stanford, um dos autores do estudo publicado na Science.
No novo estudo, os pesquisadores sequenciaram completamente os cromossomos Y de 69 homens vindos de 9 regiões diferentes do globo: Namíbia, República Democrática do Congo, Gabão, Argélia, Paquistão, Camboja, Sibéria e México. As modernas tecnologias de análise genética permitiram que os pesquisadores encontrassem, pela primeira vez, 11.640 pequenas diferenças entre esses cromossomos.
Como os cromossomos Y foram todos herdados da mesma pessoa — o ancestral paterno comum —, essa variação genética só poderia ter surgido a partir de mutações aleatórias, que se acumularam com o passar das gerações. Ao estudar como as pequenas variações no cromossomo Y se espalharam pelo globo e são compartilhadas pelas diversas populações mundiais, os pesquisadores conseguiram traçar uma árvore genealógica da humanidade como um todo.
No topo da árvore, está o Adão cromossomial-Y. Abaixo dele, cada nova mutação no cromossomo representa um novo ramo da árvore genealógica e o surgimento de uma nova linhagem. Segundo os pesquisadores, a configuração dos ramos ao longo do tempo se mostrou semelhante à distribuição das populações humanas conforme saíam da África para habitar a Ásia e a Europa. “Essencialmente, nós construímos a árvore genealógica do cromossomo Y”, diz David Poznik, pesquisador da Universidade de Stanford e autor principal do estudo.
O passo seguinte dos pesquisadores foi estimar a época em que o ancestral comum paterno viveu. Para isso, eles estudaram o cromossomo Y de indígenas americanos. Os cientistas sabiam que os habitantes originais da América só chegaram ao continente há 15.000 anos. Por isso, todas as mutações compartilhadas por todos os indígenas deveriam ter acontecido antes — ou pouco tempo depois — desse período. Já as mutações que variavam entre as populações devem ter surgido pouco tempo depois, quando eles começaram a se espalhar pelo continente.
Após analisar as variações genéticas, os pesquisadores conseguiram calcular a taxa com que o cromossomo Y sofre mutação ao longo do tempo. Ao aplicar essa taxa de mutação na árvore genealógica que haviam descrito, eles foram capazes de estimar a época em que o ancestral comum viveu: entre 120.000 e 156.000 anos atrás. Os cientistas fizeram o mesmo tipo de estudo com o DNA mitocondrial dos 69 homens e outras 25 mulheres. Assim, desenharam uma árvore genealógica semelhante para a ancestral comum materna e traçaram uma data para sua origem: entre 99.000 e 148.000 anos atrás.
Os pesquisadores não sabem dizer o que a sobreposição dos períodos estimados para a vida dos ancestrais comuns masculinos e femininos significa. Segundo o estudo, a coincidência de datas pode não ter nenhuma razão histórica — ser um simples fruto do acaso. Mas também é possível que ela represente um período quando a população humana sofreu um grande corte populacional, ao qual poucos indivíduos sobreviveram para transmitir seus genes. “Algumas linhagens morrem, e outras têm sucesso. Na maior parte, esse processo é aleatório. Mas também é possível que existam elementos da história humana que predispõe as linhagens a se sobreporem em determinados períodos”, diz Poznik.

Descoberta de novo crânio pode reescrever história da espécie humana

Arqueologia

Fósseis de 1,8 milhão de anos encontrados na Geórgia sugerem que a aparência dos ancestrais humanos era muito variada; e que os 'Homo habilis', 'Homo rudolfensis' e 'Homo erectus' poderiam ser uma mesma espécie

Crânio 5
Segundo os pesquisadores, o Crânio 5 pertenceu a um indivíduo da espécie Homo erectus. Ele, no entanto, era diferente de outros fósseis encontrados anteriormente, o que sugere que a espécie era mais variada do que se pensava (Museu Nacional da Geórgia)
Um crânio descoberto em 2005 na região de Dmanisi, na Geórgia, pode obrigar os cientistas a reescreverem toda a história de evolução da espécie humana. O fóssil possui aproximadamente 1,8 milhão de anos e é o mais antigo crânio completo já encontrado por pesquisadores. Suas características físicas — a caixa craniana pequena e o grande maxilar — nunca haviam sido encontradas em conjunto antes, desafiando as divisões traçadas pelos cientistas para separar as espécies de ancestrais humanos. Segundo um estudo publicado nesta quinta-feira na revistaScience, a descoberta sugere que os primeiros membros do gênero Homo, aqueles classificados como Homo habilisHomo rudolfensis e Homo erectus, faziam parte, na verdade, da mesma espécie — seus esqueletos simplesmente pertenceriam a indivíduos de aparência diferente.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: A Complete Skull from Dmanisi, Georgia, and the Evolutionary Biology of Early Homo

Onde foi divulgada: periódico Science

Quem fez: Christoph P. E. Zollikofer, entre outros pesquisadores

Instituição: Museu Nacional da Geórgia, entre outras

Dados de amostragem: Análises de cinco crânios encontrados na região de Dmanisi, na Geórgia

Resultado: Os pesquisadores concluíram que, apesar das diferenças entre si, os crânios pertenceram à mesma espécie de ancestral humano, que viveu na região há 1,8 milhão de anos
Essas espécies foram todas encontradas na África, em períodos que vão até 2,4 milhões de anos atrás. Os pesquisadores usaram a variação no formato de seus crânios para classificá-las como espécies diferentes, porém aparentadas. No entanto, desde a descoberta dos primeiros fósseis, os cientistas têm enfrentado dificuldades para traçar uma linha evolutiva entre elas, sem conseguir apontar de maneira definitiva qual deu origem às outras e aos Homo sapiens.
O novo crânio descoberto na Geórgia — que ganhou o nome de Crânio 5 — combina entre suas características uma caixa craniana pequena, um rosto excepcionalmente comprido e dentes grandes. Até agora, o sítio arqueológico só foi parcialmente escavado, mas se revelou um dos mais importantes já descobertos. O fóssil foi encontrado ao lado dos restos mortais de outros quatro ancestrais humanos primitivos, um grande número de ossos de animais e algumas ferramentas de pedra.
Segundo os cientistas, os fósseis estão associados ao mesmo local e período histórico, sugerindo que as ossadas pertenceram todas à mesma espécie de ancestral humano. Isso forneceu aos pesquisadores uma oportunidade única para comparar os traços físicos de indivíduos de uma mesma espécie e o que descobriram foi uma grande variedade de tamanhos e formas, mas nada diferente da variação encontrada entre os humanos modernos. "Graças à amostra relativamente grande de Dmanisi, pudemos ver a grande diferença que existia entre os indivíduos. Essa variação, porém, não é superior à encontrada entre populações modernas de nossa própria espécie, dos chimpanzés ou bonobos", diz Christoph Zollikofer, pesquisador do Instituto e Museu de Antropologia, na Suíça, e um dos autores do estudo.

A partir dessa conclusão, os cientistas sugerem que os fósseis mais antigos do gênero Homo, com origem na África, também representavam a variação entre os membros de uma única linhagem evolutiva: o Homo erectus. "Uma vez que vemos um padrão semelhante de variação no registro fóssil africano, é sensato assumir que também houve uma única espécie Homonaquela época", concluiu. "E, uma vez que os hominídeos de Dmanisi são tão parecidos com os africanos, assumimos que todos representam a mesma espécie."
Crédito: Guram Bumbiashvili
A pequena caixa craniana e o grande maxilar do hominídio surpreenderam os cientistas e pode levar a uma mudança no modo como se escreve a evolução do gênero Homo
Duas espécies em um mesmo crânio – O Crânio 5 foi escavado em duas etapas pelos pesquisadores. Primeiro, eles descobriram a pequena caixa craniana, no ano 2000. Seu tamanho diminuto — ela media apenas 546 centímetros cúbicos, em comparação aos 1350 centímetros cúbicos dos humanos modernos — sugeria a existência de um cérebro pequeno. Durante os anos seguintes, continuaram escavando a região, em busca do maxilar que iria completar a figura.
Em 2005, finalmente encontraram os ossos que faltavam, mas, ao contrário do esperado, o maxilar era enorme, com dentes grandes. “Se a caixa craniana e o resto do Crânio 5 fossem encontrados como fósseis separados, em lugares diferentes da África, eles seriam atribuídos a espécies diferentes", diz Christoph Zollikofer.
Durante os oito anos seguintes, os pesquisadores realizaram estudos comparativos dos cinco crânios encontrados no local. Como resultado, concluíram que eles pertenceram à mesma espécie de ancestrais humanos, surgidos pouco tempo depois de o gêneroHomo divergir do Australopithecus e se dispersar da África. "Os fósseis de Dmanisi parecem muito diferentes uns dos outros, e seria tentador classificá-los como espécies diferentes", diz Zollikofer. "No entanto, sabemos que esses indivíduos vieram do mesmo local e tempo geológico, então eles devem, em princípio, representar uma única população de uma única espécie.” Segundo os cientistas, diferenças de idade e sexo devem ser responsáveis pelas principais diferenças morfológicas.
Modelos dos cinco crânios encontrados na Geórgia. Eles estão colocados em ordem, do 1 ao 5, demonstrando a diferença que existia entre os indivíduos
Assim, os pesquisadores sugerem que a ideia da existência de várias espécies Homo — cada uma especializada para um ambiente do Terra — seja derrubada. Ao contrário, eles defendem a existência de uma única espécie Homo erectus, surgida no continente africano, capaz de se adaptar aos diferentes ecossistemas e que viria dar origem aos seres humanos modernos. A hipótese não deve ser aceita de imediato pela comunidade científica, mas dar origem a discussões acadêmicas e mais estudos que podem, eles sim, mudar o modo com a história evolutiva da espécie humana é narrada.

Comissão de Direitos Humanos aprova projeto que autoriza igrejas a vetar gays

Por Eduardo Bresciani, estadao.com.br
Proposta será avaliada pela Comissão de Constituição e Justiça; se aprovado, religiosos poderão se recusar a fazer cerimônias em desacordo com suas crenças



BRASÍLIA - A Comissão de Direitos Humanos e Minorias, comandada pelo pastor Marco Feliciano (PSC-SP), aprovou nesta quarta-feira, 16, projeto de lei que permite a organizações religiosas expulsarem de seus templos pessoas que "violem seus valores, doutrinas, crenças e liturgias". A proposta ainda desobriga igrejas a celebrar casamentos em "desacordo com suas crenças".
O objetivo é evitar que decisões judiciais obriguem a celebração de uniões entre homossexuais, além de permitir a retirada de manifestantes que fizerem protestos dentro de templos, como duas garotas que chegaram a ser presas no mês passado por se beijarem durante culto comandado por Feliciano.
Autor do projeto, o deputado Washington Reis (PMDB-RJ), deixou claro tal intenção na justificativa da proposta. "Deve-se a devida atenção ao fato da prática homossexual ser descrita em muitas doutrinas religiosas como uma conduta em desacordo com suas crenças. Em razão disso, pelos fundamentos anteriormente expostos, deve-se assistir a tais organizações religiosas o direito de liberdade de manifestação".
Designado por Feliciano como relator, o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) foi o responsável pelo parecer favorável. Ele argumentou que as organizações têm o direito de definir suas próprias regras de funcionamento e que a participação nelas deve ser limitada a quem concorda com suas doutrinas. "Do contrário pode-se entender como verdadeira imposição de valores que não são próprios das igrejas, sendo que, aqueles que não concordarem com seus preceitos, basta eximir-se voluntariamente da participação em seus cultos". O projeto seguirá agora para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
A aprovação gera nova polêmica em relação ao comando do pastor na comissão. Feliciano assumiu sob acusação de homofobia e racismo por declarações feitas em redes sociais. Apesar dos protestos, permaneceu no cargo e conduziu a votação do projeto apelidada de "cura gay", que revogava resolução do Conselho Federal de Psicologia que proíbe os profissionais da área de colaborar com eventos e serviços que ofereçam tratamento e cura de homossexualidade, além de vedar manifestação que reforce preconceitos sociais em relação aos homossexuais. A proposta foi levada ao plenário e derrubada.