sexta-feira 22 2013

Onde se esconde o “eles” satanizado por Lula? Ou: O discurso da pilantragem política bem remunerada



Decidi manter este texto no alto na homepage por mais algum tempo.
Há muitos anos invoco com um certo sujeito frequentemente atacado nos discursos logorreicos de Lula. Trata-se de um sujeito simples, mas oculto; presente, mas indeterminado, reconhecível, mas ausente. Vindo do Apedeuta, haveria de ser uma revolução da sintaxe. Não tem nome, mas pronome: “Eles” — eventualmente, há a variante “as elites”, mas o Babalorixá de Banânia tem recorrido menos a essa palavra. Ele gosta mesmo é de atacar um certo “eles”, caso em que temos, então, o objeto oculto, o objeto indeterminado, o objeto reconhecível, mas ausente.
Esse “eles” é capaz das maiores maldades. O “eles” está sempre conspirando contra o Brasil. O “eles” tem sempre as piores intenções. O “eles” atua em nome de uma agenda secreta. O “eles” é contra os benefícios aos mais pobres…
Assim, ao longo desses anos, tenho indagado: “Mas, afinal de contas, quem forma esse ‘eles’?”. Quais são os nomes designados por esses pronomes? Onde estão os “quens” que lhe conferem substância política? Como transformar esse pronome do caso reto em pronome interrogativo, em pronome relativo? Impossível!
Já lhes falei aqui, em 2010, sobre um livrinho chamado “Mitos e Mitologias Políticas”, do francês Raoul Girardet. É de fácil leitura e não traz nada de especialmente fabuloso. Sua virtude principal é sistematizar com muita clareza as características do discurso da manipulação política autoritária. Leiam abaixo as suas características e depois me digam se vocês não reconhecem aí tipos como Chávez (agora Maduro), Cristina Kirchner, Rafael Correa, Evo Morales — e, é evidente, Lula! Notem como todos os tiranos do século passado também seguiram rigorosamente o roteiro. Segundo Girardet, os assassinos da razão política investem nos seguintes mitos:
– prometem a Idade de Ouro;
– apresentam-se como salvadores da pátria;
– apontam uma permanente conspiração de inimigos;
– sempre alertam para o risco representado pelos estrangeiros;
– demonstram que a luta contra os inimigos implica sacrifício pessoal;
– o que deu errado é sempre culpa desses inimigos.
Todos são assim?Aí dirá alguém: “Ah, Reinaldo, todos são assim! Isso é próprio da política!”. Bem, meus caros, o Brasil mesmo demonstra que isso não é verdade. Pegue-se o caso do político que chegou ao topo sem exercitar nenhuma dessas vigarices: FHC. Apontem uma só dessas pilantragens no discurso do ex-presidente, dentro ou fora do poder. Ao contrário até: o tucano é uma espécie de fanático da racionalidade, enxergando sempre conexões lógicas e necessárias entre passado, presente e futuro; entre o antes e o depois. Já ocorreu de ser generoso demais na leitura do tal “processo”, de sorte que já chegou a ver no próprio Lula o desdobramento da era tucana. Acho isso falso. Mas fica para outra hora.
Lula, ao contrário, cumpriu à risca o roteiro (os “estrangeiros” em sua fala, são os americanos; os “brancos de olhos azuis”), com ênfase na suposta e permanente conspiração dos inimigos — aquele “eles” sujeito, aquele “eles” objeto de demonização.
Quem paga a conta?Pois é… Nesta quarta, o Globo informou que três empreiteiras arcam com os custos da viagem de Lula à África. Reproduzo trecho de texto publicado nesta quinta na VEJA.com (em vermelho). Volto em seguida:
Três construtoras com histórico de doações eleitorais para as campanhas presidenciais petistas e de execução de obras do governo federal custearam a viagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a África, encerrada na terça-feira. Lula ficou seis dias no continente e passou por Gana, Benin, Guiné Equatorial e Nigéria.
Durante a viagem, fez duas palestras custeadas por empreiteiras. A primeira, em Gana, foi paga em conjunto pela Odebrecht e pela Queiroz Galvão, além de uma empresa de seguros local chamada SIC. A segunda foi bancada pela construtora Andrade Gutierrez, que doou mais de 2 milhões de reais a Lula quando ele concorreu à reeleição, em 2006. Naquele ano, a Odebrecht injetou cerca de 200 000 reais na campanha do petista. A Queiroz Galvão não fez doações.
Em 2010, a campanha da presidente Dilma Rousseff recebeu 9,38 milhões de reais da Queiroz Galvão, 15,7 milhões da Andrade Gutierrez e 2,4 milhões da Odebrecht. A informação de que a viagem fora paga pelas empreiteiras foi publicada nesta quarta-feira pelo jornal O Globo e confirmada pelo Instituto Lula, que, no entanto, não informou os valores pagos sob a alegação de que são dados “reservados”.
(…)
VolteiRefaço a pergunta: que nomes, afinal de contas, se escondem no pronome “eles”? Lula, por certo, não considera que os trabalhadores sejam os inimigos. Ao contrário: ele se quer seu porta-voz. As empreiteiras, ainda as maiores financiadoras de campanhas eleitorais, também são amigas de Lula. Os grandes industriais, hoje dependentes do BNDES e das bondades “desonerantes” de Guido Mantega, não perfilam com o tal “eles”. O setor financeiro… Bem, esse não mesmo! Quem é esse “eles”? Onde está esse “eles”?
A prática não é nova. No dia 30 de agosto de 2011, Sérgio Roxo, no mesmo Globo, informava (em vermelho):
Depois de uma semana dedicada a articulações políticas para a eleição do ano que vem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva retoma, a partir de hoje, a vida de palestrante internacional. Contratado pelas empreiteiras OAS e Queiroz Galvão, o petista irá à Bolívia, à Costa Rica e a El Salvador. Nos três países, o ex-presidente também terá atividades políticas e se encontrará com os presidentes locais.
O tema de todas as palestras será o mesmo: integração regional e o desenvolvimento social e econômico dos países da América Latina. Lula viaja em jatos particulares bancados pelas empreiteiras e acompanhado de assessores. Ele recebe cerca de US$ 300 mil por palestra no exterior.
O giro do ex-presidente começou ontem, em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, onde participaria à noite, com o presidente boliviano Evo Morales, de uma reunião com movimentos sociais no estádio da cidade. Hoje de manhã, pago pela OAS, Lula falará a empresários, industriais, produtores rurais e integrantes da Câmara Boliviana de Hidrocarbonetos. A empreiteira brasileira é responsável pela construção no país de uma estrada de US$ 415 milhões (cerca de R$ 660 milhões), que enfrenta protestos por cortar uma área indígena.
EncerroAs viagens de Lula e quem lhe paga as contas não teriam a menor importância se o PT não fizesse do estado uma extensão do partido (e também o contrário). Isso tudo seria irrelevante se ele não se colocasse — e não fosse de fato — um condestável da República. Que se virasse lá com seus financiadores! Seria mesmo irrelevante se o Apedeuta fosse hoje, com efeito, apenas um homem privado, que não se imiscui nos assuntos de estado nem dá as cartas no partido que está no poder; se não houvesse uma fatia enorme do governo que obedece mais a seu comando do que ao de Dilma.
Ocorre que nada disso é verdade. O Apedeuta se transformou num misto de chefe de estado informal e lobista — com a graça de que nem tem o ônus da governança.
Lula está no topo da cadeia alimentar da política. Não tem predadores naturais. Mesmo assim, vive apontando a conspiração dos gnus, das zebras, dos cervos… Sempre deixando claro que pode resolver tudo com uma patada na espinha ou uma mordida na jugular. E toda a savana lhe presta reverência.
Onde, afinal de contas, se esconde o tal “eles”?
Texto publicado originalmente às 20h39 desta quinta
Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/

Lula é mesmo o nosso Lincoln? Ou: A safadeza e a sem-vergonhice como atos heroicos


Luiz Inácio Lula da Silva, quem diria?, recorreu a Lincoln para justificar as safadezas e a sem-vergonhice do mensalão. O que há de mais interessante nisso? Trata-se, pela primeira vez, de uma confissão, ainda que feita de alusões e silêncios. Vamos lá.
O Apedeuta compareceu nesta quarta a um evento em comemoração aos 30 anos da CUT. E, como é de seu feitio, jogou palavras no ventilador. O homem que já se comparou a Jesus Cristo — a parte da cruz, é evidente, ele dispensa porque até greve de fome ele furava chupando escondido balas Juquinha — anda com inveja da notoriedade que Lincoln voltou a adquirir nos últimos tempos… Que coisa! Quando Barack Obama foi eleito presidente dos EUA, em 2008, o Babalorixá de Banânia torceu o nariz. Não viu nada de especial naquilo, não. Grande coisa um negro na Casa Branca! Ele queria era ver um operário sentar naquela cadeira. Não sei se vocês entenderam a sutileza do pensamento…
No discurso que fez no aniversário da central sindical que responde hoje por boa parte do que há de mais atrasado no Brasil em matéria de corporativismo, que infelicita a vida de milhões de brasileiros, abusando daquele estilo informal que alça a tolice à condição de categoria de pensamento, Lula afirmou:
“Nós sabemos o time que temos, sabemos o time dos adversários e sabemos o que eles estão querendo fazer conosco. Acho que a bronca que eles tinham de mim é o meu sucesso e agora é o sucesso da Dilma. Eles não admitem que uma mulher que veio de onde ela veio dê certo porque a onda pega. Daqui a pouco, qualquer um de vocês vai querer ser presidente da República. Essa gente nunca quis que eu ganhasse as eleições. Nunca quis que a Dilma ganhasse as eleições. Aliás, essa gente não gosta de gente progressista. Esses dias eu estava lendo, eu ando lendo muito agora, viu, Gilberto [referia-se a Gilberto Carvalho], o livro do Lincoln e fiquei impressionado como a imprensa batia no Lincoln em 1860. Igualzinho bate em mim. E o coitado não tinha computador. Ele ia para o telégrafo, esperando tic tic tic. Nós aqui podemos xingar o outro em tempo real. (…)”
Lula já declarou que detesta ler. Não conseguiu enfrentar sem dormir, segundo confessou, um romance curtinho de Chico Buarque. Faz sentido. Terá encarado a pedreira de “Lincoln”? Talvez tenha assistido ao filme de Steven Spielberg, de uma chatice que chega a ser comovente!!!, e olhem lá… O vocabulário a que recorreu me faz supor que andou mesmo é lendo briefing de assessoria. Há anos, muitos anos mesmo!, divirto-me identificando dedicação metódica nas bobagens que diz. Em muitos aspectos, Lula é a personagem mais “fake” da política brasileira. Todas as coisas estúpidas que solta ao vento nascem de um cálculo.
A facilidade com que as asneiras vão brotando de sua boca faz supor uma personagem algo ingênua, que conserva a autenticidade popular e o frescor natural do povo. Huuummm… Isso pode agradar a alguns subintelectuais do Complexo PUCUSP, que sonham com esse misto de torneiro mecânico e Tirano de Siracusa, uma coisa assim de “rei filósofo que veio da graxa”… Trata-se de uma fantasia! Lula é chefe de uma máquina que se apoderou do estado brasileiro — e parte considerável dessa máquina, a sua ala, digamos, heavy metal, é justamente a CUT. Ali se concentra, reitero, boa parte do atraso brasileiro. Mas retomo o fio.
O vocabulário a que Lula recorreu é coisa de assessoria mesmo, de briefing. Dinheiro não falta a seu instituto para contratar sabidos. O livro “Lincoln” a que ele se refere, base do filme de Spielberg, certamente é a biografia escrita por Doris Kearns Goodwin, cujo título em inglês é “Team of Rivals: The political Genius of Abraham Lincoln”. Agora voltemos lá à sua fala. O “team” do presidente americano era uma “equipe”, mas Lula preferiu a outra acepção, que também serve para uma disputa futebolística, jogo metafórico em que ele é mesmo imbatível. No fim das contas, faz tudo parecer uma pelada. Vejam lá: ele diz saber o que os adversários querem fazer com “eles”, os petistas… Muito provavelmente, querem ganhar o “jogo”, também entendido, em sua monomania metafórica, por “eleição”. O nosso “Lincoln” de Garanhuns transforma a pretensão legítima dos adversários numa espécie de conspiração e ato criminoso. Não por acaso, no dia anterior, recomendou a FHC que, “no mínimo”, ficasse quieto e colaborasse para que Dilma fizesse um bom governo. O nosso grande patriarca criminaliza a ação política de seus oponentes. Ela se confunde com sabotagem.
No discurso, também sobraram críticas à imprensa, como de hábito. Embora os petistas deem hoje as cartas em boa parte das redações do país — quando não estão no comando, compõem o caldo de cultura que transforma bandidos em heróis e, se preciso, heróis em bandidos —, o nosso o Lincoln de São Bernardo ainda não está contente com a sujeição. Quer mais. Enquanto restar um texto independente no país, ele continuará a vociferar contra a “mídia”. Adicionalmente, os petistas contam ainda com a súcia financiada por estatais que faz seu trabalho criminoso passar por jornalismo. Vamos ao ponto.
Assumindo o mensalãoO Babalorixá de Banânia comparou-se a Lincoln —  a exemplo do que se deu com Cristo, ele também dispensa a parte sacrificial… — no suposto tratamento que a imprensa dispensaria a ambos. Besteira! Parte da imprensa americana apoiava Lincoln, parte não. A geografia da guerra civil, é evidente, pautava em boa medida críticas e elogios. Uma coisa é certa: jamais ocorreu ao presidente americano tentar censurá-la, como fez Lula no Brasil mais de uma vez. Até porque não conseguiria. Estava empenhado na aprovação da 13ª Emenda, a que proíbe a escravidão nos EUA, mas subordinado à Primeira Emenda, a que impede a censura do Estado. O Congresso não pode nem mesmo legislar a respeito de limites à liberdade de expressão.
A alusão a Lincoln, de fato, remete a outra coisa, bem mais dolosa do ponto de vista intelectual, ético, moral, político e histórico. A relação de Lula e dos petistas com o mensalão passou por diversas fases. Houve a primeira, a da admissão do erro, com pedido de desculpas. Durou pouco. Veio em seguida a acusação de “golpe das elites”, forjada por um oximoro reluzente: “intelectuais petistas”. Depois, chegou a da negação: “O mensalão nunca existiu”. E agora estamos diante da quarta, e é neste ponto que Lula decidiu pegar carona na vida de Lincoln: os crimes dos mensaleiros teriam sido atos heroicos.
Como assim?
O republicano Lincoln, e o filme dá grande destaque a essa passagem, retardou o fim da guerra civil para poder aprovar a 13ª emenda, que proibiu a escravidão no país, e, sim, literalmente comprou o apoio de alguns democratas, especialmente de congressistas que não tinham sido reeleitos. A moeda principal foram cargos no governo federal, mas também houve dinheiro. Eis aí: é precisamente nesse ponto que Lula pretende, no que me parece uma forma de confissão, colar a sua biografia à do presidente americano.
Eis um debate interessante, que remete a fundamentos da moral individual e da ética pública: a transgressão de um princípio para pôr fim a uma ignomínia, como a escravidão, é aceitável? Ao comprar o voto daqueles parlamentares com um propósito específico, de que outros males — imaginem aí — Lincoln estava livrando os EUA? No mínimo, pode-se supor que o fim do conflito poria termo apenas ao primeiro ciclo da guerra civil, porque outro estaria sendo contratado. Um fundamento ético ou moral, que é sempre abstrato, revela a sua força quando aplicado. Vamos ao exemplo mais elementar: todos sabemos que é errado matar como princípio geral, mas nem por isso cabe hesitação quando há apenas duas alternativas: matar ou morrer. Se não matar vira sinônimo de morrer, matar, então, é a única alternativa de que dispõe a vida. Nesse caso, anula-se a diferença moral entre não matar e matar. É por isso que a ética da guerra — e ela existe —, por mais que pareça funesta (e, em certa medida, é mesmo), modula os modos da morte.
A política não é, e nunca foi, um exercício de santos. Com frequência, governantes os mais virtuosos tiveram de recorrer a expedientes que nem sempre foram de seu agrado para realizar tarefas necessárias que, de outra sorte, não se realizariam. No mundo da ética e da moral aplicadas, muitas vezes somos obrigados — e o governante mais do que do que qualquer um de nós — a escolher o mal menor porque o nosso princípio abstrato já não encontra lugar na realidade corrompida. Apelando a uma dicotomia conhecida, de Max Weber, nem sempre a ética da responsabilidade, que é a do homem público, atende a todas as exigências da ética da convicção, que é a do indivíduo.
Voltemos a Lula. Por que mesmo o seu partido fez o mensalão? Com que propósito? Se o ato de Lincoln não era, em si (e não era!), um exemplo de pureza e não poderia, pois, aspirar à condição de uma norma abstrata (“compre parlamentares sempre que precisar”), seu desdobramento prático livrou os EUA de diabólicos azares — além, evidentemente, de conferir mais dignidade a milhões de pessoas submetidas à ignomínia da escravidão. O peculatário que enfiou a mão em quase R$ 80 milhões do Banco do Brasil pretendia o que mesmo? Aquela súcia de vagabundos que roubou dinheiro público estava a serviço de que causa?
Lincoln tinha em mente um país, e não foi sem grande sofrimento pessoal — até o sacrifício final — que levou adiante o seu intento. Estava, efetivamente, consolidando uma república federativa. O mensalão, ao contrário, os fatos falam de forma eloquente, foi uma tentativa de golpear as instituições e de transformar a compra de votos numa rotina. Estava em curso a formação de um Congresso paralelo e de uma República das sombras.
Não deixa de ser interessante que Lula tenha feito esse discurso asqueroso na CUT. Não se esqueçam de que, nas lambanças do mensalão, ficamos sabendo que a turma queria usar a central sindical para criar um… banco dos companheiros! Eis o nosso Lincoln! Aquele atuou para pôr fim à vergonha da escravidão. O nosso, para criar um modelo que eternizasse o seu partido no poder.
Lula deveria, no mínimo, ficar de boca fechada.
Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/lula-e-mesmo-o-nosso-lincoln-ou-a-safadeza-e-a-sem-vergonhice-como-atos-heroicos/

Empreiteiras bancam viagem de Lula à África


Política

Empresas com histórico de doações para as campanhas presidenciais petistas custearam a viagem; Instituto Lula disse que valores são "reservados"

Lula e Roger Agnelli, ex-presidente da Vale
No mercado, estima-se que um evento com o ex-presidente custe cerca de 200 000 reais (Ricardo Stuckert/PR)
Três construtoras com histórico de doações eleitorais para as campanhas presidenciais petistas e de execução de obras do governo federal custearam a viagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a África, encerrada na terça-feira. Lula ficou seis dias no continente e passou por Gana, Benin, Guiné Equatorial e Nigéria.
Durante a viagem, fez duas palestras custeadas por empreiteiras. A primeira, em Gana, foi paga em conjunto pela Odebrecht e pela Queiroz Galvão, além de uma empresa de seguros local chamada SIC. A segunda foi bancada pela construtora Andrade Gutierrez, que doou mais de 2 milhões de reais a Lula quando ele concorreu à reeleição, em 2006. Naquele ano, a Odebrecht injetou cerca de 200 000 reais na campanha do petista. A Queiroz Galvão não fez doações.
Em 2010, a campanha da presidente Dilma Rousseff recebeu 9,38 milhões de reais da Queiroz Galvão, 15,7 milhões da Andrade Gutierrez e 2,4 milhões da Odebrecht. A informação de que a viagem fora paga pelas empreiteiras foi publicada nesta quarta-feira pelo jornal O Globo e confirmada pelo Instituto Lula, que, no entanto, não informou os valores pagos sob a alegação de que são dados "reservados".
Segundo a assessoria do instituto, as palestras foram para convidados das empresas. O transporte e a hospedagem também foram custeados por elas. Os pagamentos são feitos à LILS, empresa aberta pelo ex-presidente justamente para receber pelas palestras.
Mercado – As palestras são a principal fonte de renda de Lula desde que ele deixou a Presidência. Em 2011, ele proferiu diversas, entre elas à Microsoft, à Tetra Pak e à LG. Em 2012, por causa do câncer que o acometeu e das eleições municipais, não realizou quase nenhuma palestra. No mercado, estima-se que um evento com o ex-presidente custe cerca de 200 000 reais.
Na África, Lula falou sobre como a experiência do Brasil no combate à pobreza ajudou a desenvolver a economia e da relação do Brasil com o continente africano. Lula fez ainda uma terceira palestra organizada pela revista The Economist, na Nigéria, que também teve a participação do presidente nigeriano, Goodluck Jonathan.
(Com Estadão Conteúdo)

Justiça determina perda de bens da quadrilha de Cachoeira


Monte Carlo

Decisão complementa sentença de dezembro; Ministério Público diz que propriedades foram acumuladas por meio de práticas criminosas

Jean-Philip Struck
Carlinhos Cachoeira, esteve no prédio da Justiça Federal em Goiânia, Goiás, nesta quinta-feira (10)
O bicheiro Carlinhos Cachoeira. Justiça determinou perda de bens (Cristiano Borges/O Popular/Futura Press)
A Justiça Federal de Goiás determinou a perda de mais de 100 milhões de reais em bens do bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e integrantes de sua quadrilha investigados na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal. A lista de bens inclui terrenos, apartamentos, carros e até um avião, a maioria em nome de laranjas. Os bens deverão ser leiloados e o dinheiro obtido será repassado à União para cobrir prejuízos causados pela quadrilha e compensar os custos da operação policial.
O Ministério Público Federal de Goiás, responsável pela avaliação dos bens, sustenta que eles foram adquiridos por meio de práticas criminosas. Cabe recurso à defesa.
A decisão é um complemento a uma sentença de dezembro, que condenou Cachoeira a 39 anos e oito meses de prisão por crimes de corrupção ativa, formação de quadrilha e peculato (desvio feito por servidor público). O contraventor recorre da sentença em liberdade.
Na época da condenação, outros membros da quadrilha foram sentenciados a penas de prisão: José Olímpio Queiroga foi condenado a 23 anos e quatro meses de prisão; Lenine Araújo foi sentenciado a 24 anos e quatro meses de prisão; e Idalberto Araújo, a dezenove anos e três meses de prisão.
Os bens dos envolvidos já estavam bloqueados desde o ano passado. Na relação divulgada pela Procuradoria, Cachoeira aparece como proprietário de apenas um terreno em Goiânia, avaliado em 1,5 milhão de reais. Ao todo, sete pessoas aparecem na relação de perda de bens. José Olímpio de Queiroga Neto, apontado  como responsável pelo controle dos jogos ilegais no entorno do Distrito Federal, deve perder cinco apartamentos (avaliados em 2,3 milhões de reais), um prédio comercial (avaliado em 8 milhões de reais), duas fazendas em Goiás (avaliadas em 450 000 reais)  e um posto de lavagem e lubrificação.
Já Lenine Araújo de Souza, primo de Cachoeira e apontado como o contador da quadrilha, deve entregar dois carros, dois imóveis e três terrenos em Goiás. O sargento da Aeronáutica Idalberto Matias, o Dadá, citado como o araponga do grupo, foi condenado a perder dois carros e um apartamento em Brasília (avaliado em 600 000 reais). O juiz também fixou multa de 156 000 em favor da União para cobrir os gastos da Operação Monte Carlo - como diárias, locomoção e alimentação de agentes.
Defesa - A defesa de Carlinhos Cachoeira afirmou que ainda não foi notificada da decisão e que ainda não teve acesso ao seu teor. O advogado do bicheiro, Nabor Bulhões, disse que se a sentença for mesmo pela perda de bens, ele deve recorrer da decisão ao Tribunal Regional Federal.  “Não foi produzida nenhuma prova de que os bens tenham sido obtidos como produto do crime”, disse Bulhões. Ainda de acordo com o advogado, Cachoeira está concentrado em recorrer da pena de 39 de prisão. “Ele está totalmente voltado para a defesa dele e para sua família”, disse Bulhões.

Dormir mal pode elevar risco de diabetes e obesidade


Sono

Estudo observou que falta de sono adequado desacelera o ritmo do metabolismo e leva ao ganho de peso

Falta de sono
Dormir mal desacelera metabolismo, podendo levar ao ganho de peso e dabetes (Stockbyte/Thinkstock)
Uma pesquisa publicada nesta quarta-feira no periódico Science Translational Medicine reforça a constatação de que dormir pouco ou de maneira inconstante é prejudicial à saúde. Segundo os pesquisadores, que são do Hospital Brigham and Women, instituição afiliada à Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, quantidade e qualidade do sono podem elevar o risco de uma pessoa desenvolver diabetes e obesidade.
CONHEÇA A PESQUISA

Onde foi divulgada: revista Science Translational Medicine

Quem fez: Orfeu Buxton e equipe

Instituição: Brigham and Women's Hospital (BWH)

Dados de amostragem: 21 participantes

Resultado: Quando os participantes tiveram a rotina de sono prolongado interrompida e, consequentemente, o relógio biológico alterado, houve uma diminuição do ritmo metabólico em repouso dessas pessoas. De acordo com os autores do estudo, essa redução pode desencadear um ganho de peso de até 4,5 quilos ao ano.
Embora outros trabalhos já tenham estabelecido essa relação, eles foram feitos a curto prazo ou com base em estudos epidemiológicos. Essa nova pesquisa, no entanto, examinou diretamente os participantes em um ambiente controlado e durante um extenso período de tempo.
Para isso, os 21 participantes do estudo, todos saudáveis, ficaram hospedados durante seis semanas em um ambiente completamente controlado. Os pesquisadores controlaram a quantidade de horas e em que momento esses indivíduos dormiam, além de outros fatores como hábitos alimentares e atividades físicas.
No início da pesquisa, os participantes obtiveram a quantidade de sono considerada ideal, ou seja, de cerca de dez horas por noite. Depois, e ao longo de três semanas, eles passaram a dormir durante 5,6 horas ao dia, sendo que podiam dormir em qualquer horário, tanto de dia quanto de noite, e mais de uma vez ao dia. Com isso, eles simulavam a rotina de uma pessoa que trabalha em diferentes turnos. Nessa etapa do estudo, por muitas vezes os participantes tentaram dormir em horários incomuns para seu relógio biológico. Na última fase da pesquisa, os indivíduos tiveram nove noites de sono para conseguirem recuperar seus horários habituais de sono.
Resultados — Os pesquisadores observaram que quando os participantes tiveram a rotina de sono prolongado interrompida e, consequentemente, o relógio biológico alterado, houve uma diminuição do ritmo metabólico em repouso dessas pessoas. De acordo com os autores do estudo, essa redução pode desencadear um ganho de peso de até 4,5 quilos ao ano sem a alteração da prática de atividade física ou dos hábitos alimentares. Com isso, há o risco do aumento de glicose e resistência à insulina no organismo, fatores que podem levar ao diabetes.
"Esses resultados sugerem que pessoas que trabalham durante a noite e que têm alterado seu relógio biológico, por exemplo, são muito mais propensas a progredir para o diabetes do que as que trabalham de dia", diz Orfeu Buxton, um dos autores do estudo. Buxton explica que, muitas vezes, os trabalhadores noturnos têm dificuldade em dormir durante o dia, podendo enfrentar problemas de sono reduzido. “É clara a evidência de que dormir o suficiente e, de preferência, à noite é importante para a saúde".

Estudo mostra de que forma dormir pouco engorda


Sono

Nova pesquisa observou que cinco dias de sono restrito pode engordar um quilo. Isso porque o hábito leva uma pessoa a comer mais do que necessita, especialmente nos horários em que deveria estar dormindo

Balança: Quilos a mais, mas não o suficiente para tornarem uma pessoa obesa, podem reduzir o risco de morte por qualquer causa
Balança: Estudo observa de que maneira pessoas que dormem pouco acabam engordando em apenas alguns dias(Thinkstock)
Passar cinco dias dormindo pouco – menos do que cinco horas por noite — pode ser o suficiente para fazer com que uma pessoa engorde cerca de um quilo, concluiu um novo estudo da Universidade do Colorado em Boulder, nos Estados Unidos. De acordo com a pesquisa, quem passa mais horas acordado, embora gaste mais energia, come mais do que precisa e, assim, ingere uma quantidade de calorias maior do que gasta, especialmente à noite, o que acaba promovendo o ganho de peso.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Impact of insufficient sleep on total daily energy expenditure, food intake, and weight gain

Onde foi divulgada: periódico PNAS

Quem fez: Rachel Markwalda, Edward Melansonb, Mark Smitha, Janine Higginsd, Leigh Perreaultb, Robert H. Eckelb e Kenneth Wright

Instituição: Universidade do Colorado em Boulder, EUA

Dados de amostragem: 16 pessoas com uma média de 24 anos

Resultado: Dormir menos do que cinco horas por noite, durante cinco dias, pode engordar, em média, um quilo. Em comparação com pessoas que dormem nove horas por noite, quem tem um sono de apenas cinco horas gasta mais energia, mas consome mais calorias, especialmente após o jantar
Essas conclusões foram publicadas nesta segunda-feira no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). Segundo escreveram os autores do estudo no artigo, diversos estudos já relacionaram o hábito de dormir pouco a uma maior propensão à obesidade, mas poucos conseguiram encontrar uma explicação para tal associação.
A pesquisa começou quando a equipe selecionou 16 pessoas saudáveis com uma idade média de 24 anos. Os participantes apresentavam um peso normal, com um índice de massa corporal (IMC) de, em média, 22,9 (o IMC ideal é de 18,5 a 25. Acima disso, o indivíduo é considerado com sobrepeso ou obesidade). Além disso, nenhum deles apresentava problemas em relação à duração do sono: eles dormiam, normalmente, cerca de oito horas por noite.
Ambiente controlado — Durante duas semanas, essas 16 pessoas viveram no Hospital da Universidade do Colorado e dormiram em um dos "quartos do sono" da unidade, onde os pesquisadores são capazes de controlar e monitorar o sono dos pacientes. Nos primeiros três dias, a duração do sono e a quantidade de calorias ingeridas pelos voluntários foram controlados – os participantes dormiam cerca de nove horas por noite e consumiam a energia necessária para manter seu peso.
Depois disso, os participantes foram divididos em dois grupos: um deles passou os cinco dias seguintes dormindo apenas cinco horas por noite, e o restante dos voluntários continuou dormindo nove horas por noite. Após esse período, os participantes trocaram de grupo. Nessa etapa da pesquisa, a equipe ofereceu a ambos os grupos refeições fartas e livre acesso a lanches durante o dia, que incluíam alimentos como frutas, iogurte, sorvete e salgadinhos.
Segundo os resultados, o grupo que passou os cinco dias dormindo menos tempo gastou, em média, 5% a mais de energia do que os voluntários que descansaram por nove horas. No entanto, eles consumiram cerca de 6% a mais de calorias. Além disso, quem teve menos horas de sono apresentou uma maior tendência a comer menos no café-da-manhã, mas a exagerar nos lanches feitos durante a noite e após o jantar, que correspondiam, no geral, à refeição mais calórica do dia.
“Nossos achados mostram que, quando as pessoas têm o sono restrito, elas se alimentam durante seus horários biológicos noturnos, quando o organismo não está preparado para receber comida”, disse Kenneth Wright, diretor do Laboratório do Sono e Cronobiologia da Universidade do Colorado e coordenador do estudo.
Questão de gênero — Os autores do estudo também descobriram que, embora tanto homens quanto mulheres tenham ganhado peso com a restrição do sono, os participantes do sexo masculino também engordaram quando tiveram acesso irrestrito aos alimentos, mesmo dormindo nove horas por noite. As voluntárias, por outro lado, mantiveram seu peso com o sono suficiente, independentemente da quantidade de comida à disposição delas.

Refrigerante aumenta acúmulo de gordura em torno dos órgãos


Nutrição

Esse tipo de bebida não só aumenta gordura no organismo, mas também a concentra em lugares como o fígado, elevando risco de diversos problemas

Efeito inverso: a bebida, usada normalmente para evitar o ganho de peso, está relacionada ao aumento no acúmulo de gordura na cintura
Refrigerantes com açúcar: consumo de bebida acumula gordura em lugares como fígado e músculos, oferecendo riscos para diabetes e problemas cardíacos (Thinkstock)
Os efeitos negativos do consumo de refrigerantes comuns, com açúcar, vão além do ganho de peso e de gordura. Um estudo feito no Hospital Universitário de Aarhus, na Dinamarca, concluiu que quem consome pelo menos um litro desse tipo de bebida todos os dias acumula maior quantidade de gordura em lugares perigosos, como no fígado, nos músculos e em órgãos localizados no abdome. E, consequentemente, corre maior risco de desenvolver diabetes e doenças cardíacas. A pesquisa foi publicada no periódico American Journal of Clinical Nutrition.
CONHEÇA A PESQUISA
Título: Sucrose-sweetened beverages increase fat storage in the liver, muscle, and visceral fat depot: a 6-mo randomized intervention study

Onde foi divulgada: periódico American Journal of Clinical Nutrition

Quem fez: Maria Maersk, Anita Belza, Hans Stødkilde-Jørgensen, Steffen Ringgaard, Elizaveta Chabanova, Henrik Thomsen, Steen B Pedersen, Arne Astrup, and Bjørn Richelsen

Instituição: Hospital Universitário de Aarhus, Dinamarca

Dados de amostragem: 47 pessos obesas ou com sobrepeso

Resultado: Pessoas que consumiram diariamente, por seis meses, um litro de refrigerante açucarado aumentaram em 25% a gordura em torno dos órgãos e dobraram a gordura acumulada no fígado e nos músculos.
Os pesquisadores acompanharam 47 pessoas que beberam todos os dias, durante seis meses, um litro da bebida de sua escolha: água, leite, refrigerante normal ou refrigerante diet. Todos os participantes escolhidos eram obesos ou tinham sobrepeso, já que, segundo os pesquisadores, pessoas com esse perfil são mais sensíveis a mudanças de dieta do que aquelas que têm peso normal.
Após os seis meses, os participantes que consumiram refrigerante normal foram os que mais acumularam gordura. Ao final do estudo, eles tinham 25% a mais de gordura em torno dos órgãos e cerca de duas vezes mais gordura acumulada no fígado e nos músculos do que quando a pesquisa começou.
A gordura acumulada em regiões onde não deveriam, como no fígado, por exemplo, é chamada de gordura ectópica. Segundo um dos autores do estudo, Bjorn Richelsen, essa gordura é mais perigosa para a saúde de uma pessoa do que a gordura subcutânea, que é aquela que fica sob a pele. A gordura ectópica induz a uma disfunção dos órgãos e pode representar um fator de risco para problemas como diabetes, doenças cardíacas, derrames e problemas no fígado.




De acordo com os pesquisadores, esse estudo fornece informações importantes que podem apoiar recomendações para redução do consumo de bebidas açucaradas.

Refrigerantes estão ligados a 180.000 mortes por ano


Alimentação

Estudo de Harvard relacionou consumo de bebidas açucaradas a mortes causadas por doenças cardiovasculares, diabetes e câncer

Efeito inverso: a bebida, usada normalmente para evitar o ganho de peso, está relacionada ao aumento no acúmulo de gordura na cintura
Risco: Estudo liga 180.000 mortes que ocorreram em 2010 ao consumo de bebidas açucaradas, como refrigerante, chá e suco (Thinkstock)
Pesquisadores da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, concluíram que o consumo de refrigerantes e outras bebidas industrializadas que contêm adição de açúcar está ligado a 180.000 mortes no mundo em 2010, sendo que a maior parte desses óbitos aconteceu em países de baixa ou média renda. Esses achados foram apresentados nesta terça-feira em Nova Orleans, durante um encontro da Associação Americana do Coração.
Segundo Gitanjali Singh, coordenadora do estudo que levou a essas conclusões, esses dados são surpreendentes, já que “muitas vezes nós associamos o problema do consumo exagerado de refrigerantes somente a países mais ricos”, disse. Para ela, sua pesquisa reforça a necessidade de políticas públicas que busquem reduzir o consumo de bebidas industrializadas açucaradas.
Justiça - Em Nova York, por exemplo, foi aprovada uma medida que proibiria a venda de bebidas como refrigerantes, chás e energéticos em embalagens acima de 470 mililitros em lojas, bares, cinemas e casas de shows. Porém, antes de entrar em vigor, a decisão foi derrubada por um juiz da Suprema Corte, que considerou a lei arbitrária, já que a proibição valeria apenas para algumas bebidas.
Durante a apresentação de seu estudo, Singh afirmou, porém, que o fato de milhares de mortes estarem associadas ao consumo de bebidas industrializadas açucaradas não significa que os produtos provoquem diretamente esses óbitos. O que existe é uma relação entre o hábito e uma maior prevalência de mortes causadas por doenças como as cardíacas, o diabetes e alguns tipos de câncer. Ou seja, o consumo desses produtos pode vir junto com outros fatores que elevam o risco desses problemas. Mesmo assim, Singh acredita que é possível estimar o número de mortes ligadas às bebidas.
A pesquisa da Harvard levou em consideração levantamentos nutricionais feitos ao redor do mundo e também as características de consumo de refrigerantes e outras bebidas açucaradas em vários países. Os autores concluíram que, em 2010, 180.000 mortes no mundo são atribuíveis ao consumo dessas bebidas, sendo que 130.000 foram causadas pelo diabetes, 45.000 por doenças cardíacas e 4.600 por diferentes tipos de câncer.
Outro lado — Em nota, a Associação Americana de Bebidas (ABA, sigla em inglês) considerou que o estudo "é mais sensacionalista do que científico". "De maneira alguma a pesquisa mostra que consumir bebidas açucaradas provoca doenças como as cardiovasculares, diabetes ou câncer, que foram as verdadeiras causas das mortes dos participantes do estudo. Os pesquisadores deram um grande salto quando eles fizeram, de forma errada e ilógica, esse cálculo."

É possível conseguir uma barriga negativa malhando?


Emagrecimento


Abdome magro, com ossos do quadril salientes: a 'barriga negativa' não é para todas (Foto: Thinkstock)
A agora famosa foto em que a modelo sul-africana Candice Swanepoel exibe sua barriga negativa provocou uma onda de reações na internet e o assunto já chegou às academias na forma de uma pergunta muito frequente: qualquer um pode obter esse resultado com um programa de treinos e alimentação controlada?
A resposta é um sonoro não! Nem todas as mulheres possuem a constituição física e o histórico adequado para um abdome extremamente magro. E, ainda que tenham, é preciso alertar que, talvez, a chamada barriga negativa não seja exatamente saudável, já que implica em perda de massa magra.
A barriga negativa de Swanepoel (Foto: Reprodução)
Para quem não acompanhou a controvérsia desde o início, vale explicar: a barriga negativa é formada por um abdome tão magro que deixa os ossos do quadril mais evidentes. Ao lado, reproduzo a foto publicada pela modelo sul-africana.
Por que nem todos podem conseguir esse efeito? Alguns indivíduos apresentam maior predisposição ao acúmulo de gordura no abdome, inclusive com aumento da adiposidade visceral. Diversos estudos1 apontam que parte dessa predisposição vem da infância. Crianças mais magras tendem a apresentar menor percentual de gordura na fase adulta e vice-versa.
Um estudo recente2 demonstrou que há de fato relação inversa entre a condição física e a quantidade de gordura abdominal e visceral. Ou seja, quanto melhor a forma física de um indivíduo, menor é o acúmulo de gordura na região. Os percentuais de redução de gordura abdominal entre homens e mulheres submetidos a um programa de atividade física, porém, variaram de 3% a 7%. Um número bom, mas insuficiente para a tal barriga negativa. Não existem garantias, portanto, de que séries de treinos possam proporcionar o tal efeito.
Os treinos são muito eficientes para criar os chamados “tanquinhos”, aqueles gominhos que se formam em abdomes esculpidos com musculação e alimentação balanceada. O tanquinho é resultado de ganho de massa muscular e redução da gordura corporal. Já a barriga negativa depende em grande medida da constituição física longilínea da pessoa e de um histórico de infância magra.
Fontes:
1- Adriana Andrade Noia de Miranda, Francisco Navarro. Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, São Paulo v.2, n.10, p.313-323, Jul/Ago. 2008.
2- Ian Janssen, Peter T. Katzmarzyk, Robert Ross, Arthur S. Leon, James S. Skinner, D.C. Rao, Jack H. Wilmore, Tuomo Rankinen, Claude Bouchard. Fitness Alters the Associations of BMI and Waist Circumference with Total and Abdominal Fat.
Por Renato Dutra
http://veja.abril.com.br/blog/saude-chegada/nutricao/e-possivel-conseguir-uma-barriga-negativa-malhando/