sábado 16 2013

FHC: Lula precipitou a campanha de 2014 e prejudicou a governabilidade


FHC fala na 68º Assembleia Geral da SIP, em SP (Foto: Ernesto Rodrigues / AE)
FHC fala na 68º Assembleia Geral da SIP, em SP (Foto: Ernesto Rodrigues / AE)
Publicado na editoria Nacional do Estadão
Por Gabriel Manzano, enviado especial a Puebla, no México
No México, onde participa da Reunião de Meio de Ano da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso falou ao Estado sobre a antecipação da campanha presidencial. O PSDB, disse, não teve alternativa e lançou Aécio Neves.
Lula lançou Dilma à reeleição, o sr. lançou a de Aécio Neves. A campanha foi antecipada. Isso não tem um custo político?
Tem custo sim, político e administrativo. Lula precipitou o processo sucessório, aí os outros partidos não têm alternativa.
Nós não tínhamos intenção de precipitar uma candidatura. Estávamos prestigiando o nome do Aécio para um debate interno. Mas eu nunca vi quem está no governo precipitar uma eleição, já que atrapalha a governabilidade.
Tudo que a presidente Dilma fizer daqui por diante será atribuído a intenções eleitorais. Não sei o que levou o Lula a essa precipitação. Talvez seja porque ele gosta de campanha! A preocupação do governo não era com a oposição, era com a fragmentação das suas próprias forças.
Aécio abraçou a defesa de seu legado. Nem José Serra nem Geraldo Alckmin fizeram isso. O que mudou dentro do PSDB?
Talvez tenha chegado um momento em que seja mais fácil avaliar o que fizemos, não ter medo do que fizemos. Nós modernizamos a economia.
As privatizações vieram de uma maneira correta. Restabelecemos a competitividade das agências do governo, do Banco do Brasil, a Petrobras. Melhoramos muito a educação, organizamos o SUS, começamos a transferência de renda.
As pessoas esquecem que o programa do Lula não era transferência de renda, era o Fome Zero. Que foi engavetado! E aderiram ao que nos tínhamos começado.
Enfim, por que não defender o que nós fizemos? Agora, isso não pode ser a base de uma campanha eleitoral. Campanha tem de ser feita olhando pra frente, não pra trás. O programa do PSDB, então, deve ser: reconhecer o que fizemos, mas vamos adiante. Tem muita coisa que fazer.
Que coisas?
Quando fizemos nos anos 90 o que nós fizemos, o pessoal do PT, da esquerda, e também de outros partidos, não entendeu a globalização. Acharam que era outra vez o imperialismo, que era o neoliberalismo.
Confundiram um processo histórico com uma ideologia.
E me acusaram, quando eu estava ajustando o Brasil à nova condição histórica, como se fosse uma posição ideológica a favor do neoliberalismo, posição que eu nunca tive.
Agora, de novo, vamos sair dessa crise. É um novo momento, que precisa de ajustes. Primeiro, quem é que vai puxar a economia de novo? Parece que serão os EUA. O que o Brasil vai fazer com o pré-sal? Continuar marcando passo? Enfraqueceram a Petrobras e se embrulharam todos.
Pararam a infraestrutura, porque não fizeram o que tinham de fazer, que eram as concessões. Agora fazem envergonhadamente, mal feito. O PSDB tem de recomeçar dizendo: “Olha, eles estavam errados, nós sabemos fazer”. O fato é que fazem errado porque não acreditam no que estão fazendo. Nós acreditamos, deixe que a gente faça!
Macroeconomia não sensibiliza o eleitor. Embora o cenário seja delicado – inflação, PIB, ritmo lento do PAC -, qual discurso terá o PSDB para atrair votos?
O que sensibiliza o eleitor é quando mexem no bolso dele, coisas como emprego e renda. Esses fatores todos mencionados vão terminar tendo efeito sobre emprego e renda.
Na verdade, já estão tendo. A renda per capita em 2012 não subiu. E agora as famílias estão endividadas. O PSDB tem que dizer: “Você que está endividado, eu vou resolver esse problema”.
Lula e Dilma têm altos índices de aprovação. O PSDB será competitivo em 2014?
Lula e Dilma, em todas as disputas, foram para o 2.º turno.
O xadrez pode ter 4 peças, com Eduardo Campos e Marina.
Sendo quatro, o 2.º turno é uma grande probabilidade. Não sei qual será a capacidade do Eduardo de arrancar votos. O ponto de partida dele é Pernambuco. O do Aécio é Minas. A Marina tem uma presença forte e tem uma causa que, eu acho, vai continuar entusiasmando.
Desses três, no momento, eu aposto no Aécio. Mas o mais importante é que, havendo 2.º turno, as forcas políticas que estiverem no embate entendam que a alternância do poder é fundamental.
Acho que vinte anos de governo do PT bastam, não? Chegou a hora de mudar. Espero que tanto o PSDB, quanto Marina e Eduardo entendam isso.
Pode voltar mais tarde. Eu não sou raivoso de achar que o PT é o fim do mundo, não é. Mas tem de haver alternância.
Numa candidatura de Aécio, o sr. vai viajar, subir em palanque?
Não, não. Cada um tem seu estilo. Depois que deixei a Presidência não fui candidato a mais nada. E o Lula me dando conselhos sempre, que eu devia calar a boca (risos).
Nunca calei nem vou calar. Não me cabe estar no dia a dia da luta. Vou fazer o que eu faço. Discutir estratégia, dar minha opinião com clareza, mas não ir pra rua.
E sabe por quê? Porque não precisa. Às vezes a pessoa vai por vaidade.
Mas o sr. entrou no bate-boca, ora com Lula, ora com Dilma. Por que se chegou a isso?
Primeiro com a Dilma: pessoalmente sempre tive boas relações com ela, que sempre foi bastante correta comigo. Foi generosa no meu aniversário. Não tenho nenhuma restrição pessoal. Sabe como é a política, ora recua e é agressiva, eu também recuo. Pode ver que eu nunca tenho replicado a Dilma. Prefiro ter uma relação boa com ela, uma coisa pessoal.
Com o Lula é diferente… Nós nos conhecemos há tantos anos, já fica aquela picuinha, é sempre mais do mesmo. Ele gosta de fazer picuinha comigo.
A Dilma não tem essa picuinha. Não precisava nada disso. O Lula tinha que entender que nós dois somos dois personagens, que não estamos mais no principal….
Uma vez, o Chico Caruso me disse que as pessoas que estão no final ficam aflitas porque nao vão mais ser mais caricaturadas. O Lula quer ser caricaturado. Então ele me dá um beliscão, pra eu dar outro nele.

BRAD PITT: O supergalã chega à maturidade — o doce abismo dos 50 anos


"Ser pai dr uma grande família amorosa é o ponto alto da minha vida" (Foto: Venturelli / WireImage)
"Ser pai dr uma grande família amorosa é o ponto alto da minha vida" (Foto: Venturelli / WireImage)
Texto de Harold von Kursk, publicada em edição impressa de Alfa

O DOCE ABISMO DOS 50
Brad Pitt, o menino de ouro de Hollywood, envelheceu, seguiu seus instintos e descobriu o óbvio: no final das contas seu grande apoio é a família
Ele foi o menino de ouro de Hollywood, abençoado por uma beleza apolínea e carregado daquele pragmatismo estoico do meio-oeste americano que definiu lendas do cinema como Gary Cooper e Robert Redford.
O problema é que, enquanto as mulheres o adulavam e os homens o invejavam, Brad Pitt parecia afundar em um mal-estar persistente sobre o estado das coisas. No auge da fama, confessou que sofria de depressão, acreditando que seus papéis de cinema ficavam aquém de suas expectativas. Além disso, achava que a bajulação era imerecida.
Talentoso e ambicioso, Pitt então tentou sacudir sua imagem escolhendo personagens peculiares em filmes corajosos. A impressionante lista incluiu alguns dos melhores lançamentos dos últimos anos: Clube da LutaSnatchBastardos InglóriosA Árvore da VidaMoneyballMas na hora em que a consagração como ator chegou, ele novamente já estava interessado em outra coisa.
"Johny Suede" (1991), "Nada é para Sempre" (1992), e "Lendas da Paixão" (1994)
Brad Pitt nos filmes "Johny Suede" (1991), "Nada é para Sempre" (1992), e "Lendas da Paixão" (1994)
À beira dos 50 anos, que ele completará em 2013, diz não ter a mínima dúvida de que seu grande feito foi formar uma bela e numerosa família multiétnica. “Encontrei uma mulher que amo, e as crianças expandiram meu mundo para muito além do que imaginava. Isso é muito gratificante, ainda que eu não consiga mais dormir”, afirma. “Ser pai de uma grande família amorosa é o ponto alto da minha vida.”
O que parece aflorar na maturidade de Pitt são os instintos naturais de um homem criado em uma pequena cidade do Missouri. Hoje ele trata de reorientar para o afeto a energia que antes direcionava para a competição e o trabalho. Ainda que tenha se rebelado contra a severa educação religiosa que teve dos pais, sabe que boa parte de sua força vem do carinho e do respeito que recebeu na infância. “O que mais quero é capacitar e guiar meus filhos para que eles tenham uma vida boa”, diz. “Sinceramente, tudo se resume à família, e acho que ela define o homem acima de tudo.”
É evidente que esse seu maior projeto começou quando ele conheceu e se apaixonou por Angelina, no set de filmagens de Sr. & Sra. Smith, em 2004. Ela estava à procura de um homem para ser pai de seus filhos adotivos. O casamento de Pitt com Jennifer Aniston entrava em colapso. E assim ele acabou cedendo aos encantos de sua sexy e turbulenta coestrela.
Angelina já havia adotado Maddox, e a perspectiva de ficar com ela e ainda se tornar pai instantaneamente cumpriu um sonho do ator. Na sequência, eles adotaram mais duas crianças, e Angelina finalmente decidiu ter seus próprios filhos biológicos, algo a que sempre tinha resistido. “Brad se sente tão perto de nossos filhos e é tão dedicado a ensinar-lhes o máximo que pode sobre a vida e o mundo que eu simplesmente me emociono”, ela diz.
O casal tem seis filhos – Maddox, 11 anos, Pax, 9, Zahara, 8, Shiloh, 6, e os gêmeos Vivienne e Knox, 4 – os três primeiros adotados e os três últimos biológicos.
Pitt admite que a paternidade é seu projeto mais demorado e decisivo. A ela credita, em grande parte, seu senso de maturidade e a definição dos propósitos de sua existência. “As crianças seguram um espelho para você”, ex­plica. “Não se pode dar desculpas.­ Você tem de se certificar se elas es­cova­ram os dentes e comeram o ca­fé­ da manhã. Precisa estar presente pa­ra acalmá-las se acordarem no meio de um pesadelo.” Ser pai, ele diz, o levou a ser mais reflexivo sobre a própria experiência. O tempo inteiro se questiona se está criando os filhos adequadamente e se o tipo de educação que dá os transformará em pessoas melhores.
"Jogo de Espiões" (2001), "Doze Homens e Outro Segredo" (2004), e "Babel" (2006)
"Jogo de Espiões" (2001), "Doze Homens e Outro Segredo" (2004), e "Babel" (2006)
O que Pitt concebe como família é um lugar seguro, onde você pode crescer, experimentar, cometer erros e aprender com eles sem muito risco. Seu ponto de vista é o de uma criança que não precisa sofrer para se preparar para os desafios da maioridade. A questão da proteção é fundamental, mas as condições seguras precisam ser dadas com o objetivo de lançar os filhos ao mundo.
Os pais, segundo ele, devem ser capazes de ajudá-los para que possam lidar com seus próprios problemas. Pitt tornou-se particularmente próximo do filho mais velho Maddox, com quem viaja regularmente e para quem dá lições de arquitetura e história em troca do prazer da convivência. Este é precisamente o tipo de ligação familiar que ele diz colocar acima de tudo e o faz pensar, inclusive, em quanto tempo ainda continuará atuando. Está convencido de que ser ator é tarefa para os mais jovens. “Sei que não vou fazer isso quando tiver 80″, ri.

O conservador corajoso
Embora seja um caminho aparentemente conservador, a guinada familiar de Pitt obedece a um impulso de mudança. A decisão de ficar com Angelina e criar um vasta prole foi uma transformação radical em sua vida. E não foi a primeira.
No final dos anos 1980, quando abandonou a faculdade de jornalismo, duas semanas antes de se formar, e dirigiu até Los Angeles com 300 dólares no bolso, movido por uma vaga epifania de virar ator, ele ainda acreditava em algum tipo de sonho americano e se comprometeu a levar uma vida inspirada. “Queria fazer algo diferente e tive a ideia de me tornar ator para ver até onde isso me levaria”, lembra. Foi a primeira vez que confiou realmente nos instintos.
Uma década depois, estava em uma crise brava, cansado de aduladores e incomodado com sua conversão em símbolo sexual. Sentia-se um ator qualquer, empacotado pela indústria. Chegava em casa à noite para se esconder. “Passei boa parte de meus 30 anos triste e perdido”, confessa. “Fiquei realmente doente nessa época, não sabia lidar com essa condição de celebridade. Fumava muita maconha e passava o tempo inteiro esticado no sofá.”
"O Curioso Caso de Benjamin Button" (2008), "Bastardos Inglórios" (2009), e "The Counselo" (2013)
"O Curioso Caso de Benjamin Button" (2008), "Bastardos Inglórios" (2009), e "The Counselo" (2013)
E esse sentimento de mal-estar só foi crescendo. Era pura depressão. Uma noite Pitt concluiu que estava desperdiçando seu tempo e que, mais uma vez, era hora de mudar: havia se tornado ator para fazer filmes sérios. “Percebi há alguns anos que o tempo é curto e passei a entrar só em projetos realmente importantes para mim e que resistirão ao teste da longevidade, que envelhecerão sem perder a força”, diz. “Há momentos na nossa vida em que precisamos seguir os instintos e tomar uma nova direção.”
O encontro com Angelina foi mais um desses momentos, talvez o mais intenso de todos. Pitt torna-se filosófico quando fala dessa mudança, que considera dramática. Não que muitos homens discordem de sua escolha, mas poucos estariam dispostos a se comprometer com a responsabilidade de criar uma grande família.
Desde o início, ele entendeu o que Angelina esperava dele. “Preferi não ter filhos tão cedo, mas chegou a hora da grande guinada”, explica. “As crianças são um valor dominante na minha vida agora, mas não eram antes.” Pitt sabia que precisaria esgotar todas as suas necessidades como ator e viver o máximo de experiências para poder ser um bom pai. Hoje, é sensível à forma como divide seu tempo entre cuidar da família e entregar-se à paixão pelo cinema. “Aprendi a gastar meu tempo com sabedoria”, afirma.
O ator admite que o envelhecimento é uma forma de alívio e até de libertação de seus dias antigos, quando era objeto de adoração irracional dos fãs e perdeu o rumo. “Ser mais velho é realmente doce e melhor em alguns aspectos”, diz. “Parei de ser agarrado nas ruas e vi que minha relação com o público se aprofundou e passou a ser orientada pela qualidade do meu trabalho.”
Com a idade avançando, diminuiu também a sensação de ser apenas uma mercadoria. Seus interesses e prazeres se multiplicaram, e a atuação deixou de ser o único deles. Hoje, sua prioridade é aproveitar o tempo livre e viajar com Angelina e a prole. Ao longo de um ano típico, a família mora em pelo menos três casas. A maior parte do tempo ficam em Los Angeles, numa mansão de três andares, cercada de árvores e relativamente discreta para os padrões hollywoodianos.
Quando tem oportunidade, a tropa se desloca para o castelo Miraval, uma propriedade de 40 milhões de dólares, 35 quartos e vinhedo particular localizada perto da aldeia de Correns, na Riviera Francesa. O casal também tem uma casa em Londres, onde costuma passar o verão com as crianças. O castelo da França, porém, é a residência preferida.
Brad e Angelina, com a enorme e multiétnica prole Maddox, Pax, Zahara, Shiloh, e os gêmeos Vivienne e Knox (Foto: Fame Pictures)
Brad e Angelina, com a enorme e multiétnica prole Maddox, Pax, Zahara, Shiloh, e os gêmeos Vivienne e Knox (Foto: Fame Pictures)
Não só oferece proteção adicional dos paparazzi, como permite que a família se sinta confortável para ir às compras na aldeia local ou caminhar tranquila pelas praias vizinhas. Pitt e Angelina casaram ali. “Ainda me sinto inquieto e gosto cada vez mais de viajar. Quero ver o mundo, ver tudo o que for possível”, declara.
Pitt não tem dúvidas de que sua atitude é moldada pela forma como seus pais criaram os três filhos – ele, seu irmão e sua irmã. Graças à educação e ao afeto que recebeu, foi capaz de crescer com uma perspectiva positiva e uma boa compreensão do senso comum. Diz querer ser capaz de transmitir seus valores aos filhos para que respeitem as outras pessoas e, apesar de serem crianças com um monte de privilégios, entendam que, às vezes, a vida pode ser muito difícil, tanto no sentido físico, por causa de uma doença ou um acidente, como econômico.
“O foco em fazer minha família feliz e segura me tornou mais generoso e amoroso”, afirma. “Tenho a vida que sempre quis.” Ainda que Pitt, a caminho dos 50 anos, não admita isso, por modéstia ou por qualquer outro motivo, hoje ele é provavelmente mais feliz do que jamais foi em qualquer outro momento da sua trajetória.

O Ministério de Dilma: um monstrengo gigantesco, impossível de ser pilotado com eficiência — e que ela não pode enxugar


Reunião ministerial da presidente Dilma Rousseff (Foto: ABr)
Reunião ministerial da presidente Dilma Rousseff: nem nossos dois imperadores, D. Pedro I e D. Pedro II, dispuseram de tamanho séquito administrativo (Foto: Agência Brasil)
Com a habitual franqueza, o empresário Jorge Gerdau — exemplo de empreendedor bem-sucedido, cujo império siderúrgico embasado no Brasil já se estende por vários Estados americanos — decretou: o país, disse em entrevista à Folha de S. Paulo e ao UOL, precisa apenas de “meia dúzia de ministérios”, e não dos 39 que respondem à presidente Dilma Rousseff.
Mais contundente, continuou ele, com a autoridade de quem está à frente, voluntariamente, da Câmara de Políticas de Gestão da presidente:
– Quando a burrice, ou a loucura, ou a irresponsabilidade vai muito longe, de repente, sai um saneamento. Provavelmente estamos no limite desse período. (…) Eu já dei um toque na presidenta”.
Pois aí estamos. Com a recente criação da Secretaria da Micro e da Pequena Empresa, cujo futuro titular terá status de ministro, a presidente dispõe de um Ministério colossal, absurdo, gigantesco, talvez o maior Ministério de qualquer país do planeta, excetuadas eventualmente repúblicas corruptas da África, e com certeza o mais numeroso da história “deztepaiz”.
Mostrengo disforme e disfuncional
Não se trata apenas de um Ministério imenso. Pior que isso, a menos que ocorra o que prevê Gerdau, ele parece “imexível”, como diria um ex-ministro de triste memória: o ex-presidento Lula engordou enormemente a cúpula do governo em Brasília para melhor aquinhoar os chamados “partidos da base aliada” no Congresso — a conhecida salada que vai do PC do B ao malufismo, passando por fisiológicos do PMDB e siglas controladas por igrejas evangélicas –, Dilma seguiu adiante e agora é um problemaço político mexer nesse monstrengo disforme e disfuncional.
O Ministério de Dilma, como o do ex-presidento (que tinha 37 ministros), lembra a Hidra de Lerna da mitologia grega. A Hidra aparece no âmbito dos 12 trabalhos de Hércules, o semideus filho (adulterino) de Zeus, o rei dos deuses do Olimpo, com a mulher do rei de Tebas.
Não cabe neste espaço recordar relembrar a complicada história que levou Hércules, em busca de expiação e da imortalidade, a haver-se com uma dúzia de tarefas impossíveis. O fato é que já o segundo trabalho hercúleo consistia em enfrentar a Hidra, monstro aquático de nove cabeças, uma delas imortal.
O desafio era realmente para semideuses: para cada cabeça que o herói conseguia cortar, nasciam mais tantas quantas faltavam para decepar. Hércules, naturalmente, triunfou. Nem a cabeça imortal sobrou.
Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek: presidente realizadores que chegaram a governar com um máximo de 11 ministros
Se fosse uma empresa, o dono ficaria louco
Não é que a presidente não saiba do problema. E não foi preciso o “toque” de Gerdau. Ela conhece perfeitamente o tamanho da encrenca.
Nos cinco anos em que pilotou a Casa Civil e nos quase quatro em que coordenou o tão falado Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a hoje presidente manteve incontáveis encontros e reuniões de trabalho com empresários e executivos de grandes empresas, em vários casos de empresas multinacionais de dimensões gigantescas.
Portanto, a presidente, que é economista, nem precisaria perguntar a um desses seus freqüentes interlocutores se existiria, em suas companhias, alguma chance de dar certo o trato direto com 39 diretores.
Com certeza ouviria, como resposta, que lidar com 39 direct reports é um absurdo que fatalmente conduz a empresa a se tornar empresa burocratizada, hipopotâmica, aparvalhada – sem contar que o CEO, presidente ou dono provavelmente ficaria louco.
Pois um dos segredos do que hoje se considera uma boa governança empresarial consiste, justamente, por meio da delegação e outras formas de gestão, em diminuir o quanto possível o número de interlocutores obrigatórios de cada gestor em seu respectivo nível.
No 1º ano de mandato de Lula, a ministra só despachou uma vez com o presidento
O então presidento Lula acotovelou o máximo de partidos políticos possível no Ministério, em nome da “governabilidade”. Com isso, deixou inteiramente de lado qualquer busca de eficiência da máquina – no caso, a mais numerosa desde a Independência, em 1822. Nem nossos dois imperadores, D. Pedro I e D. Pedro II, dispuseram de tamanho séquito administrativo.
Reunião ministerial do presidente Barack Obama (Foto: Saul Loeb / AFP / Getty Images)
Reunião do presidente Barack Obama: equipe enxuta tocando o país mais rico e poderoso do mundo (Foto: Saul Loeb / AFP / Getty Images)
A multidão de gente elevada à categoria de ministros é tal que alguns raramente despacharam a sós com o presidento. Basta fazer as contas: levando-se em consideração as numerosas viagens ao exterior e os muitíssimos périplos pelo país, Lula, durante seus 8 anos de mandato, passou cerca de um terço de cada ano, ou pouco mais que isso, em Brasília.
Digamos que tenham sido 100, ou até 120 dias úteis por ano. Mesmo que despachasse diariamente com um ministro diferente — o que não ocorreu com Lula –, eles passariam mais de três meses sem contato com o ou a presidente. Não foi por outra razão que, no primeiro ano do primeiro lulalato, 2003, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, mesmo sendo na época politicamente muito próxima a Lula, só despachou com ele uma única vez.
Dilma viaja menos. Ainda assim, é impossível avistar-se com os ministrostête-à-tête com uma frequência minimamente desejável.
Como todos sabemos, Lula sempre gostou de se comparar a presidentes com marca de realizadores, como Getúlio Vargas ou Juscelino Kubitschek. Nunca mencionou, contudo, nem de longe, comparações com o tamanho dos respectivos times.
Getúlio e JK tiveram um máximo de 11 ministros
Não obstante os tempos obviamente sejam outros, e mais complexos, Getúlio, em seus quatro diferentes períodos de governo e 18 anos de poder (de 1930 a 1945 e, depois, de 1951 a 1954), governou com um mínimo de 7 e um máximo de 11 ministros.
JK (1956-1961) contou com 11 ministros, e 5 titulares do que então se chamavam “órgãos de assessoramento”, como os gabinetes Civil e Militar.
E vamos evitar falar de nomes, pelo amor de Deus. Ministros de Getúlio, JK e outros presidentes foram não raro gigantes políticos, que o país conhecia e respeitava.
Quem é capaz de citar o nome de cinco dos 39 ministros atuais?
Praticamente todos os países sérios e maduros são governados por times enxutos. Os presidentes americanos, por exemplo, conseguem tocar adiante a superpotência de 315 milhões de habitantes e uma economia colossal de mais de 15 trilhões de dólares com 15 ministros. A chanceler Angela Merkel conduz a Alemanha, quarta maior economia do planeta e país mais rico e importante da Europa, com 17 ministros — em sua primeira gestão, eram 15.
É claro que a eficiência de uma máquina pública não se mede apenas pelas dimensões do Ministério. Entretanto, o primeiro e grande empecilho para que ela ande a contento é o tamanho exagerado — que Lula não levou em conta durante o primeiro mandato, continuou a fazê-lo no segundo e que a “gerentona” Dilma ainda conseguiu engordar mais.

Quatro xícaras de café ao dia evitam insuficiência cardíaca


Saúde do coração

E Viva o CAFÉ!!

Segundo estudo, hábito pode ajudar a diminuir risco do problema em até 11%

Estudo: café não aumenta risco cardiovascular
Estudo: insuficiência cardíaca pode ser evitada com quatro xícaras de café ao dia (Thinkstock)
Mais um benefício à saúde foi atribuído ao café. Dessa vez, pesquisadores do Centro Médico Beth Israel, hospital ligado à Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, concluíram que quem consome moderadamente a bebida — ou seja, quatro xícaras ao dia — pode apresentar até 11% menos chances de ter insuficiência cardíaca. O estudo foi publicado nesta terça-feira no periódico Circulation: Heart Failure, uma publicação da Associação Americana do Coração.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Habitual Coffee Consumption and Risk of Heart Failure: A Dose-Response Meta-Analysis

Onde foi divulgada: revista Circulation: Heart Failure

Quem fez: Elizabeth Mostofsky, Megan S. Rice, Emily B. Levitan e Murray A. Mittleman

Instituição: Centro Médico Beth Israel, hospital ligado à Universidade de Harvard

Dados de amostragem: análise de outras quatro pesquisas sobre o consumo de café que, ao todo, envolveram 140.220 participantes e registraram 6.522 casos de insuficiência cardíaca, de janeiro de 1966 a dezembro de 2011.

Resultado:  quem consome a bebida moderadamente tem menos riscos de sofrer insuficiência cardíaca.
Esse resultado foi baseado na análise de outras quatro pesquisas sobre o consumo de café que, ao todo, envolveram 140.220 participantes e registraram 6.522 casos de insuficiência cardíaca, de janeiro de 1966 a dezembro de 2011. De acordo com os autores do trabalho, a relação entre o café e a proteção ao coração segue o padrão da ‘curva em J’. Ou seja, quem consome a bebida moderadamente tem menos riscos de sofrer o problema cardíaco do que os abstêmios; mas quem bebe muito café, além de não se beneficiar, pode até prejudicar a saúde.
Os pesquisadores não conseguiram, porém, explicar de que maneira o café age sobre o organismo, reduzindo o risco de insuficiência cardíaca. No entanto, eles lembram que outros trabalhos relacionaram o consumo de cafeína à proteção contra diabetes e hipertensão — dois fatores associados à doença. Evitando esses dois problemas, portanto, já seria um modo eficaz de diminuir as chances de insuficiência cardíaca.

Saiba mais

INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
Acontece quando, em decorrência de uma determinada doença, o coração bombeia o sangue de maneira ineficaz, não conseguindo satisfazer a necessidade do organismo, reduzindo o fluxo sanguíneo. Embora possa acometer pessoas de todas as idades, é mais comum em idosos. Pessoas com insuficiência cardíaca grave devem utilizar dispositivos mecânicos ou receber um transplante.

Café e chá verde reduzem o risco de AVC, conclui estudo


Saúde do coração 

Após avaliar 82.000 pessoas por mais de uma década, pesquisa observou que consumo diário de uma das bebidas diminui essa chance em até 20%

Prevenção natural: café e chá quente reduzem as chances de se carregar a bactéria MRSA no nariz
Protegem o coração: Estudo observa benefícios do consumo diário - e não exagerado - de chá verde e café (Thinkstock)
Café e chá verde podem ajudar a reduzir o risco de uma pessoa sofrer um acidente vascular cerebral (AVC), especialmente se essas bebidas são consumidas regularmente, concluiu um novo estudo feito no Japão. Essa pesquisa mostrou, por exemplo, que beber uma xícara de café por dia já é suficiente para diminuir em 20% a chance de derrame cerebral. O trabalho completo foi publicado nesta quinta-feira no periódico Stroke, da Associação Americana do Coração.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: The Impact of Green Tea and Coffee Consumption on the Reduced Risk of Stroke Incidence in Japanese Population

Onde foi divulgada: periódico Stroke

Quem fez: Yoshihiro Kokubo, Hiroyasu Iso, Isao Saito, Kazumasa Yamagishi, Hiroshi Yatsuya, Junko Ishihara, Manami Inoue e Shoichiro Tsugane,

Instituição: Universidade da Osaka, Japão

Dados de amostragem: 82.369 pessoas de 45 a 74 anos de idade

Resultado: Beber uma xícara de café por dia reduz em 20% o risco de AVC; e consumir duas ou três xícaras de chá verde diariamente diminui essas chances em 14%. As bebidas também reduzem a probabilidade de haver hemorragia cerebral, responsável por 13% dos casos de derrame.
A pesquisa analisou os hábitos alimentares de mais de 82.000 pessoas entre 45 e 74 anos de idade ao longo de 13 anos. De acordo com os resultados, o risco de derrame cerebral é 14% menor para quem bebe de duas a três xícaras de chá verdade diariamente em comparação com quem não consome a bebida. Além disso, a análise, que foi desenvolvida na Universidade de Osaka, concluiu que beber uma xícara de café ou duas de chá verde por dia pode diminuir em 32% o risco de hemorragia cerebral. Segundo os autores do estudo, 13% dos casos de AVC ocorrem em decorrência de hemorragia no cérebro.
As conclusões apresentadas pela pesquisa foram obtidas após os dados serem ajustados de acordo com fatores como idade, sexo, tabagismo, consumo de bebida alcoólica, peso, alimentação e níveis de atividade física. Embora o estudo tenha sido feito com um grande número de pessoas, os pesquisadores não conseguiram explicar os mecanismos biológicos pelos quais o chá verde e o café atuam no organismo, mas acreditam que as substancias antioxidantes presentes nas bebidas ajudam a provocar esse benefício observado.

Argentina quer política de cotas para carros do México


Setor automotivo

Assim como o Brasil, o país vizinho havia suspendido o acordo de livre comércio com o México – agora, Cristina Kirchner volta atrás e avalia cotas de importação para automóveis mexicanos

a presidente da Argentina, Cristina Kirchner
Cristina Kirchner quer criar cotas para importação de carros mexicanos (Marcos Brindicci/Reuters)
O comércio de veículos sem tarifa de importação entre Argentina e México, paralisado desde junho, pode ser retomado depois de dezembro, mas sob um sistema de cotas, disse um funcionário do governo argentino nesta quinta-feira.
O Acordo de Complementação Econômica com o México, em vigor desde 2003, e que permitia o livre intercâmbio bilateral de veículos, foi suspenso pelo país vizinho por um período de três anos – e Buenos Aires fixou alíquota de 35% sobre os veículos mexicanos.
O governo argentino afirmou que a medida foi necessária devido ao grande déficit comercial do setor em favor do México, que chegou a quase 1 bilhão de dólares em 2011. A argumentação foi a mesma utilizada pelo Brasil em março deste ano, quando o Palácio do Planalto também decidiu rever o acordo automotivo com o país latino-americano.
O governo mexicano reagiu retirando preferências comerciais para os veículos importados da Argentina, que tem adotado medidas protecionistas para blindar seu superávit comercial – uma das poucas fontes de divisas do país.
Na quarta-feira, a associação mexicana da indústria automobilística chegou a um acordo preliminar com sua equivalente argentina para retomar o comércio bilateral sem encargos. As entidades solicitaram um diálogo formal entre os dois governos com base nessa proposta – documento que elas não divulgaram.
Um funcionário argentino declarou que os governos iniciarão um diálogo formal sobre as novas regras depois de 1º de dezembro, quando toma posse o novo presidente mexicano, Enrique Peña Nieto. "Um novo convênio irá apontar para um intercâmbio mais equilibrado, com um comércio administrado pelo estabelecimento de quotas", disse o funcionário, sem entrar em detalhes.
O Brasil também estabeleceu uma política de cotas para importações mexicanas – e que consta no texto do Novo Regime Automotivo, cujo decreto foi assinado pela presidente Dilma Rousseff em meados de outubro. As empresas instaladas na Argentina que mais importam do México são Volkswagen, Renault, Nissan, Honda e Chrysler.

Argentina faz Brasil provar veneno protecionista


Setor automotivo

Governo Cristina recorre à velha cartilha petista para revisar regras de acordo comercial entre os países e, assim, beneficiar indústria local. Ponto central das discussões é o comércio de autopeças

Naiara Infante Bertão
As presidentes da Argentina, Cristina Kirchner, e do Brasil, Dilma Rousseff, se abraçam durante cúpula do Mercosul
Cristina Kirchner e Dilma Rousseff: parceria comercial entre Brasil e Argentina está em perigo (Leo La Valle/EFE)
A poucos meses do vencimento da primeira fase do acordo automotivo estabelecido em 2008 entre Brasil e Argentina, o país vizinho quer rever as regras. O governo Kirchner lançou mão da cartilha protecionista do PT para reproduzir o que as autoridades brasileiras fizeram no ano passado em relação ao México, quando a presidente Dilma Rousseff determinou a criação decotas de importação de carros mexicanos, num momento em que os países discutiam umtratado de livre-comércio. O plano argentino ampliou a tensão comercial entre os dois países, cujas relações, pelo menos no âmbito do comércio exterior, não têm sido das mais amigáveis.
No acordo vigente ainda hoje, assinado nos termos da Associação Latino-americana de Integração (Aladi) em 2006 - e não do Mercosul -, consta um dispositivo que tornaria o acordo bilateral neste setor livre de qualquer barreira tarifária a partir de 1º de julho de 2013, como são os outros contratos estabelecidos no âmbito do Mercosul.
Contudo, na avaliação argentina, a perda de validade de tal documento poderia implicar numa queda de arrecadação que o país não está disposto a aceitar. O acordo atual prevê que o comércio de veículos entre os vizinhos se baseie no chamado índice flex: um coeficiente de proporção das exportações e importações que significa que, para cada 100 dólares importados, cada país tem direito de exportar 195 dólares sem qualquer imposto. Com o livre-comércio, a Argentina teme acabar importando muito mais do Brasil do que o contrário.
Assim, o governo Kirchner decidiu fazer mais uma de suas usuais intervenções: acionou o brasileiro, dizendo que vai apresentar uma nova proposta que não prejudique tanto sua balança comercial. Novamente, o kirchnerismo utiliza uma ferramenta da qual o governo brasileiro tem se valido muito para proteger a indústria nacional e encarecer as importações.
A história se repete - O Brasil pediu a revisão do acordo automotivo com o México depois que a importação de carros fabricados em território do parceiro latino subiu 70% em 2011. A alegação, à época, foi de que os fabricantes brasileiros eram prejudicados pelo câmbio (o real é mais valorizado que o peso mexicano em relação ao dólar), o Custo Brasil e os salários mais altos que no México. Depois de discussões, o acordo foi revisado e novas cotas de volume comercializado foram estabelecidas até janeiro de 2015. O Brasil também impôs um aumento no índice de conteúdo nacional nos carros que o México produz até 2016.
Procurado, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) respondeu apenas que as negociações com a Argentina já foram abertas e que o Brasil aguarda o país vizinho apresentar uma nova proposta a ser avaliada. “O Brasil deve ceder à Argentina nessa questão porque nosso vizinho é o principal comprador da indústria automobilística brasileira. O fim do acordo não é interessante nem para o governo nem para os empresários”, diz Mauro Laviola, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
O setor automotivo (veículos, autopeças, máquinas agrícolas e chassis) representa aproximadamente metade da corrente de comércio entre os dois países, o que dimensiona a importância de se manter um bom relacionamento bilateral. Em 2012, a Argentina acumulou déficit de 1 bilhão de dólares com o Brasil no que se refere ao setor automotivo. Os brasileiros venderam 9,1 bilhões de dólares e compraram 8,1 bilhões de dólares do país vizinho.
Segundo Laviola, esse desequilíbrio já foi pior: em 2011, o déficit argentino foi de 3,075 bilhões de dólares. Ele lembra, ainda, que a responsável por essa conta negativa é a cadeia de suprimentos de componentes para as fábricas de veículos instaladas na Argentina, que produzem modelos com grande quantidade de itens importados do Brasil. Em 2011, fabricantes brasileiros venderam 4,64 bilhões de dólares neste segmento para os portenhos. As compras, contudo, ficaram em 1,37 bilhão de dólares.
Diante desse desequilíbrio, que está longe de ser mortal para a indústria portenha, o governo de Cristina Kirchner quer resolvê-lo de forma tão célere quanto os passos de uma milonga. A ideia da governante é fazer com que o Brasil compre mais peças fabricadas na Argentina para serem usadas na produção dos veículos locais. A importação de autopeças argentinas representou, em 2011, apenas 8,14% das compras totais do Brasil neste segmento, enquanto em autoveículos essa participação subiu para 41,75%. “A Argentina reclama porque, hoje, o Brasil prefere comprar peças da Índia, China e Leste Europeu, que têm não só preços melhores como qualidade superior, com maior nível tecnológico de produção”, diz a professora da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP) Adriana Marotti de Melo.
Fora do tom - O comitê de monitoramento do acordo que avaliará a nova proposta argentina é formado por pessoas do Mdic, da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças). Segundo uma fonte que acompanha as negociações, as autoridades brasileiras surpreenderam-se com o tom usado pelo governo argentino para pedir a mudança dos termos do acordo. “Foi um tom exagerado, como se fosse uma imposição. A tendência é que o Brasil faça uma contraproposta e ceda em partes”, diz a fonte, que preferiu não ter seu nome revelado.
O protecionismo do qual o Brasil será vítima, caso a decisão argentina se concretize, tem se tornado lugar-comum entre governantes da América Latina, na avaliação de Eduardo Correia de Souza, professor de economia do Insper. “O problema é que eles tendem a mudar as regras do jogo para atender, de maneira populista, essas reclamações pontuais. Ou seja, têm dificuldades em fazer acordos de longo prazo prosperarem”, diz Souza. Ele lembra que esta não é a primeira vez que o Brasil e a Argentina se estranham nas relações comerciais: houve a questão da salvaguarda dos vinhos; a implementação de licenças não automáticas para a importação de produtos; e as barreiras à importação de geladeiras fabricadas no Brasil. “A Cristina (Kirchner) ainda é mais sensível a reivindicações sociais do que a Dilma”, observa o professor. Recentemente, a Argentina estabeleceu a política do ‘uno por uno’: a empresa que quer importar, tem de exportar o mesmo montante em dólar.

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Para ajudar consumidores, Procons deveriam ter mais poder, diz autor do CDC


Direito do consumidor

No Dia Internacional do Consumidor, o advogado José Geraldo Filomeno, um dos autores do Código de Defesa do Consumidor, fala sobre as conquistas que o documento trouxe e da ineficiência ainda vigente nos órgãos reguladores

Ligia Tuon
Carrinho de compras em supermercado
Até 1990, ano em que o Código de Defesa do Consumidor foi criado, consumidor estava legalmente desamparado (Tuca Vieira/Folha Imagem)
É difícil imaginar como o mercado funcionava antes da criação do Código de Defesa do Consumidor (CDC), ocorrida há pouco mais de 22 anos. À época, qualquer pessoa que tivesse problemas com plano de saúde, fatura bancária ou conta de telefone não tinha qualquer amparo legal para reclamar ou buscar ressarcimento. “Tentávamos resolver as questões com bom senso, em primeiro lugar, com leis adaptadas, em segundo, e, por último, com a boa vontade de terceiros”, disse em entrevista ao site de VEJA o advogado José Geraldo Brito Filomeno, um dos autores do CDC.
José Geraldo Brito Filomeno, autor do Código de Defesa do Consumidor
Filomeno: autor do Código de Defesa do Consumidor
Além de ter sido vice-presidente da comissão especial de juristas que elaborou o anteprojeto do CDC, Filomeno foi procurador-geral de Justiça do estado de São Paulo entre 2000 e 2002. Também foi o primeiro promotor de Justiça do país a atuar como curador de proteção e defesa do consumidor, em 1983, e instituidor das promotorias de justiça do consumidor do estado, que coordenou por 13 anos. Atualmente, ele é professor e consultor jurídico, e tem plena consciência de que, não fosse pelo código que ajudou a criar, o consumidor não seria o que é hoje: em muitos casos, o dono do negócio.
O que motivou a elaboração do CDC à época?Antes do Código, a defesa do consumidor era feita de maneira aleatória e empírica, já que não havia uma lei específica. O que o Procon fazia era receber a reclamação e verificar se havia algo do Código de Processo Civil ou mesmo no Direito Penal que tinha relação com o assunto. Sem falar nas questões pelas quais não podíamos fazer nada. Exemplo disso foi um caso que aconteceu no começo dos anos 80. O Brasil importou carne do Uruguai, mas o termostato (que mantinha o contêiner refrigerado) queimou no caminho e parte do produto estragou. Por causa disso, houve um conflito para ver de quem era a responsabilidade pela carne. O estado de São Paulo começou a ser pressionado pelas pessoas para que tomasse uma atitude, mas o Ministério da Agricultura não queria deixar os fiscais do estado entrarem, já que, quando algum produto ainda está no porto, a competência pela fiscalização é federal. Eu, que trabalhava no Procon na época, tive de mandar um telex para o ministro da Agricultura para que ele liberasse a entrada dos fiscais do estado. Não que os fiscais federais teriam deixado a população consumir carne estragada, mas nós agimos pensando exclusivamente no consumidor, que poderia ficar desamparado se chegasse a consumir o produto. 
Como foi o início da elaboração do CDC?Em junho de 88, o ministro da Justiça chamou um grupo de pessoas, entre professores, advogados e desembargadores e formou uma comissão para elaborar uma lei específica do consumidor. Selecionamos o que a legislação de catorze países tinha de melhor e formamos o CDC brasileiro.

A falta de autonomia do Procon dificultava a defesa do consumidor? Mais ou menos na mesma época (início dos anos 80), alguns médicos descobriram que dois remédios usados para tratar casos de reumatismo e artrite estavam fazendo mal para os pacientes. Como representante do Procon, enviei um telex para o ministro da saúde. Depois disso, um dos remédios foi proibido. O outro continuou sendo comercializado, mas com a supervisão de médicos. O problema é que não havia um instrumento processual para que as empresas fossem punidas por fabricar ou vender esses remédios. Hoje, muitos órgãos de defesa do consumidor, que incluem os civis, como Idec ou Proteste, podem entrar com uma ação coletiva nesses casos para evitar que esse tipo de coisa aconteça. O Procon sentia, sim, a necessidade de se regulamentar. Isso melhorou um pouco em 1985, com a Lei da Ação Civil Pública, que veio dar legitimação a entidades como o Ministério Público, Estado, União, Municípios e às entidades civis de defesa do consumidor, para entrarem com ações coletivas. Essa lei foi fundamental, por exemplo, para que pudéssemos mover uma ação com relação ao leite contaminado pela radioatividade na explosão do reator de Chernobyl, em 1986 - o Brasil havia importado, na época, uma grande quantidades de leite em pó da região.
Há de se comemorar um dia como o do Consumidor no Brasil?Me lembro de um artigo que citava uma pesquisa na qual brasileiros falavam sobre a lei que mais chamava a sua atenção. Dos entrevistados, 63% responderam que era o CDC. Embora o conhecimento do consumidor brasileiro em relação ao Código seja meio vago, as pessoas entendem que existe uma lei específica que as protege. Mas é claro que ainda temos muito a fazer.
Quais são os desafios que ainda existem?O maior problema está nas agências reguladoras, como a Anac, Aneel, Anatel e Anvisa, que devem funcionar como xerifes do sistema de serviços essenciais, e punir as empresas que não atendem de forma correta o consumidor. Em primeiro lugar, essas agências devem ser mais eficientes. Elas têm o poder, por exemplo, de multar e encerrar atividades de empresas, como medida punitiva, mas não exercem como deveriam. O governo, como “dono das agências”, também tem sua parcela de responsabilidade. Nesse sentido, os Procons poderiam ter mais poder e força de polícia administrativa. Além disso, a Justiça tem que ser mais rápida. O Juizado Especial Cível, que foi criado para cuidar de causas mais simples e, assim, desafogar a Justiça comum, acabou virando juízo ordinário. Ou seja, um processo lá tem demorado, muitas vezes, um ano para ser encerrado. É importante dizer que 80% das causas julgadas pelo JEC envolvem relações de consumo.

O Procon também pode multar ou interromper as atividades de uma empresa?Sim, mas as empresas contestam a decisão. No caso de haver multa, leva anos até que possa ser cobrada e paga. O que está se propondo atualmente, inclusive, é que a empresa pague uma multa diária até que resolva o problema.

Quais são os principais instrumentos que amparam o consumidor atualmente?Primeiro, o próprio Código, que é um dos melhores do mundo, na minha opinião, por ser completo e ainda muito atual. Hoje em dia, muito por causa dessas leis, os bons empresários entenderam que a galinha dos ovos de ouro é o próprio consumidor. É preciso, porém, que tanto os cidadãos como as empresas o entendam melhor. Ferramentas como a portabilidade, por exemplo, também são excelentes reguladores de mercado, já que permitem que os clientes simplesmente troquem de operadora ou de plano de saúde se não estiverem satisfeitos com o serviço. Além disso, os Procons fazem anualmente a lista negra dos fornecedores, com o ranking das empresas mais reclamadas.

A internet também pode entrar nessa lista com as ferramentas mais importantes?Antigamente, dizia-se que um consumidor insatisfeito com uma empresa, e que transmitia isso, fazia nove outras pessoas descontentes pelo mesmo motivo. Hoje, ele faz milhões de cabeças descontentes. Isso é tão real que as empresas têm contratado pessoas só para monitorar os comentários que os internautas fazem sobre elas nas redes sociais e outros fóruns informais. 

Dilma a empresários: 'A relação do prende e arrebenta acabou'


Desonerações

Presidente diz que não punirá empresas que não reduzirem preços - mas reitera que é fundamental que reduzam

Marcela Mattos, de Brasília
A Presidente Dilma Rousseff, discursa durante cerimônia de anúncio de medidas de proteção ao consumidor, em Brasília
Dilma Rousseff discursa durante cerimônia de anúncio de medidas de proteção ao consumidor (Roberto Stuckert Filho/PR)
A presidente Dilma Rousseff pediu que os empresários tenham “consciência” para que "todo mundo ganhe" com a redução do valor da cesta básica. Na última semana, a presidente zerou a alíquota do PIS/Cofins em 16 itens da cesta e reiterou que espera o repasse dessa medida para o preço dos produtos. Segundo ela, a diferença ainda não chegou ao bolso do consumidor. “Nosso país tem de ter uma relação de respeito entre governo e sociedade. O governo desonerou a cesta básica e acho fundamental reduzir o preço”, afirmou a presidente, durante o anúncio do pacote de medidas para fazer valer os direitos do consumidor.
A presidente ressaltou que tem feito diversas reuniões com o empresariado para tratar da desoneração e que busca o convencimento pelo diálogo, descartando qualquer medida punitiva aos que não reduzirem os preços. “A relação do 'prende e arrebenta' acabou. O governo não faz isso. O governo dialoga, persuade”, disse. Dilma quer provar aos empresários que eles também terão benefícios com a desoneração, ao conseguirem captar mais renda. “É muito mais pelo lado da persuasão, e não da ameaça.”
Dilma pediu que os empresários respeitem a iniciativa. “Nós precisamos que essa consciência também seja dos empresários, dos senhores donos dos supermercados e dos produtores”, disse, ao reforçar que somente com esse apoio a desoneração vai trazer benefícios para a sociedade. 
Questionada sobre o fato de a desoneração não ter sido estendida às embalagens, a presidente deu uma resposta curta: “O conteúdo foi. Então, retirem o custo do conteúdo e mantenham o da embalagem. O que não é possível é aumentar os dois", afirmou.

Dilma defende política de coalizão em posse de ministros


Política

De olho em 2014, presidente diz que os brasileiros entendem a importância da costura de uma ampla aliança de partidos

Laryssa Borges, de Brasília
Os novos ministros Moreira Franco, Antônio Andrade e Manoel Dias durante a cerimônia de posse, em Brasília
Os novos ministros Moreira Franco, Antônio Andrade e Manoel Dias durante a cerimônia de posse, em Brasília (Valter Campanato/ABr)
Depois de promover o primeiro capítulo da minirreforma ministerial e aplacar descontentes do PMDB e do PDT, a presidente Dilma Rousseff defendeu neste sábado a importância de uma política de coalizão e de o governante ter “clareza” em suas prioridades. De olho nas eleições presidenciais de 2014, Dilma deu posse aos novos ministros Antonio Andrade (Agricultura) e Wellington Moreira Franco (Secretaria de Aviação Civil), ambos filiados ao PMDB, aliado preferencial no pleito do próximo ano. E ainda tentou estancar a troca de farpas entre os pedetistas, nomeando Manoel Dias, braço direito do ex-ministro Carlos Lupi, no lugar de Brizola Neto no Ministério do Trabalho e Emprego.
“Temos que fortalecer as forças que sustentam o governo de coalizão. Muitas vezes algumas pessoas acreditam que a coalizão é, do ponto de vista político, algo incorreto”, disse ela, afirmando, em seguida, que o povo brasileiro agora entende a importância da costura de um ampla aliança de partidos. “Acho que o Brasil avançou muito nesse caminho da compreensão da coalizão”, declarou. Para a presidente, a falta de um governo de coalizão é responsável hoje, por exemplo, pelo processo de deterioração da governabilidade na Itália e de embates nos Estados Unidos envolvendo a questão fiscal.

A reforma ministerial iniciada por PMDB e PDT tem claro objetivo eleitoral. Com a indicação de Antonio Andrade, a presidente tenta minar a aproximação do PMDB mineiro com o senador tucano Aécio Neves, possível candidato nas eleições presidenciais de 2014, e garantir apoio para a provável candidatura do atual ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, ao governo do estado. Com Moreira Franco, que já era ministro da inexpressiva Secretaria de Assuntos Estratégicos, e agora muda de pasta, Dilma pretende satisfazer o partido aliado com um ministério de maior expressão e com claros dividendos eleitorais. A Secretaria de Aviação Civil era desejada também pelo PSD, partido do ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, por ser a responsável por acompanhar o processo de concessão dos aeroportos de Guarulhos, Campinas e Brasília.

A troca de comando no Ministério do Trabalho entre os pedetistas Brizola Neto e Manoel Dias, por sua vez, tem o objetivo de tentar unificar a bancada do partido na Câmara dos Deputados, infiel contumaz em votações, apesar de oficialmente integrar a base aliada. Tenta também garantir apoio do partido ao projeto de reeleição em 2014, uam vez que a legenda já vinha sendo assediado por PSB e PSDB, que têm em Eduardo Campos e Aécio Neves seus prováveis candidatos ao Palácio do Planalto no próximo ano.

Citando o ex-presidente Lula, a presidente Dilma Rousseff não citou, na solenidade de posse dos novos ministros, o processo eleitoral, mas disse ter aprendido com seu padrinho político a importância de definir prioridades. “O exercício do governo é uma fonte de aprendizado e, como ministra do presidente Lula nesses dez anos e agora nos últimos dois anos como presidente da República, a gente aprende sobre o valor que é necessário para que se tenha firmeza nas decisões e para que se tenha clareza das prioridades”, declarou ela.

Com a reforma, Brizola Neto (Trabalho) e Mendes Ribeiro (Agricultura) retomam os mandatos como deputados federais, enquanto Wagner Bittencourt (Aviação Civil) volta à vice-presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Apesar do claro objetivo de redesenhar a engenharia política e fortalecer pontes para as eleições de 2014, a presidente ainda defendeu paradoxalmente na solenidade de posse que os ministérios sejam ocupados com base no profissionalismo e na meritocracia, e não apenas em interesses político-partidários.

Despedida – Ao se dirigir os ministros que deixam o cargo, Dilma Rousseff agradeceu o trabalho de Wagner Bittencourt, responsável por estruturar a ainda novata Secretaria de Aviação Civil e construir os pilares para que o setor de aviação seja prioritário na administração pública. Disse ter “orgulho” de Brizola Neto por ele ter atuado no governo e também na defesa de sua candidatura à presidência em 2010 e afirmou ao “amigo” Mendes Ribeiro Filho que conta com sua “grande lealdade política e pessoal”. O ministro chorou copiosamente após a presidente ainda pedir que ele tenha “força” para enfrentar as diversidades. “Resista às dificuldade porque nós, do Brasil, precisamos de você. Espero que você cuide de sua recuperação. Tem que cuidar da sua saúde e parar de andar de baixo para cima”, disse ela. Mendes Ribeiro luta contra um câncer no cérebro.