domingo 03 2012

Caetano, musica "Lua de São Jorge". 1991.

Meu Caro Amigo - Chico Buarque e Francis Hime

Chico Buarque - Construção (Clipe ao Vivo) HD

Agenda ampla fragiliza Rio+20, diz físico da USP


Rio +20

Para Paulo Artaxo, um dos maiores especialistas do clima no Brasil, a conferência da ONU corre o risco de não chegar a resultados concretos

Marco Túlio Pires
Paulo Artaxo: "Não podemos esperar que uma reunião ou mesmo 10 ou 30 reuniões possam resolver uma questão que mexe totalmente na maneira como todos os países usam os recursos naturais do planeta"
Paulo Artaxo: "Não podemos esperar que uma reunião ou mesmo 10 ou 30 reuniões possam resolver uma questão que mexe totalmente na maneira como todos os países usam os recursos naturais do planeta" (Paulo Vitale)
"É até ingenuidade imaginar que um problema desta complexidade e magnitude possa ser resolvido em uma reunião de chefes de estado" — Paulo Artaxo, físico da USP
A conferência Rio+20 corre o risco de não chegar a lugar algum. Motivo: uma agenda muito ampla. Esta é a opinião de Paulo Artaxo, um dos maiores especialistas do clima do Brasil e membro do IPCC, o painel das Nações Unidas sobre mudanças climáticas.

Artaxo não acredita que a Rio+20 vai resolver os problemas ambientais do mundo, mesmo que haja um esforço nessa direção. "É até ingenuidade imaginar que um problema desta complexidade e magnitude possa ser resolvido em uma única reunião de chefes de estado", diz. Para ele, a questão levará algumas décadas para ser equacionada, por mexer totalmente na maneira como todos os países usam os recursos naturais do planeta.

Em entrevista ao site de VEJA, o físico afirma que a ciência é um dos instrumentos fortes que os países têm para a construção de um futuro sólido. "Não somente o relatório do IPCC (sobre as mudanças climáticas) precisa receber mais destaques nas discussões, mas também o trabalho de milhares de cientistas em áreas diversas”, diz. 

Especialista

Paulo Artaxo
O físico Paulo Artaxo é membro da equipe do IPCC, o painel de mudanças climáticas da ONU, que foi agraciada com o Prêmio Nobel da Paz de 2007, e de 7 outros painéis científicos internacionais.
É formado pela Universidade de São Paulo, com mestrado, doutorado e livre docência na mesma instituição. Trabalhou na NASA (Estados Unidos) e nas universidades de Antuérpia (Bélgica), Lund (Suécia) e Harvard (Estados Unidos). Atualmente é chefe do Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física da USP. Trabalha com física aplicada a problemas ambientais, principalmente mudanças climáticas globais, Amazônia, física de aerossóis atmosféricos e poluição urbana. 
De que modo, na sua opinião, a Rio+20 poderá ter sucesso? A Rio+20 será um sucesso se conseguir abrir caminho para acordos internacionais concretos sobre o desenvolvimento sustentável e estabelecer metas concretas de redução das emissões de gases que aceleram o efeito estufa. Isso poderá ser feito com o aumento da eficiência energética, com um uso mais racional dos recursos naturais do planeta e uma distribuição de riqueza mais justa.
Qual a importância do tema ‘mudanças climáticas’ em uma conferência sobre o desenvolvimento sustentável, como a Rio+20? O desenvolvimento sustentável não é possível sem o enfrentamento das mudanças climáticas. A economia verde que a conferência busca - ou seja, o desenvolvimento sustentável apoiado nos pilares ambiental, social e econômico - envolve a estabilização do clima global. Temos que aprender a usar os recursos naturais do planeta de modo mais inteligente.
Mesmo assim, o tema ‘mudança climática’ não receberá grande destaque na Rio+20. Isso será um problema? Acordos climáticos internacionais de reduções de emissões são discutidos no âmbito das COPs, as conferências da ONU específicas para o tema. Mas asCOPs não lidam com as questões sociais e econômicas que a Rio+20 vai lidar. Por isso elas são complementares. A Rio+20 amplia a agenda ambiental, enfocando o desenvolvimento econômico.
O senhor acredita que os relatórios do IPCC (compilações periódicas que organizam as principais publicações científicas sobre as mudanças climáticas) deveriam receber maior destaque durante a Rio+20? Não somente o relatório do IPCC  tem que ter mais destaque nas discussões, mas também o trabalho de milhares de cientistas em áreas diversas como a sustentabilidade urbana, a Amazônia, a perda da biodiversidade, saúde e muitos outros temas relevantes. Sem ciência sólida, não se pode construir um futuro sólido.
A Rio+20 acerta ao tratar de desenvolvimento sustentável a partir de três eixos (social, econômico e ambiental)? Hoje, esses pilares são indissociáveis. Entretanto, esta questão é uma das fragilidades da Rio+20: ao abarcar uma agenda tão ampla, corre-se o risco de não chegarmos a resultados concretos. Vejo a Rio+20 como um caminho que foi iniciado na Conferência de Estocolmo, em 1972, teve continuidade na Rio-92 e agora temos na Rio+20 mais um ponto desta trajetória de tornar o planeta sustentável do ponto de vista econômico, social e ambiental.
Faz sentido falar sobre desenvolvimento social e econômico sem antes resolver os problemas que afetam o ambiente? A solução dos problemas ambientais globais certamente vai tomar algumas décadas para ser equacionada. Não podemos esperar que uma reunião ou mesmo 10 ou 30 reuniões possam resolver uma questão que mexe totalmente na maneira como todos os países usam os recursos naturais do planeta. É até ingenuidade imaginar que um problema desta complexidade e magnitude possa ser resolvido em uma reunião de chefes de estado. Nós vamos ter que resolver as questões ambientais, sociais e econômicas em paralelo, e esta é uma tarefa hercúlea, que se bem encaminhada pode levar ao tão sonhado "desenvolvimento sustentável" — que poucos sabem exatamente do que se trata — e como chegar lá.
Como a ciência deveria atuar na transição de uma economia que degrada o meio ambiente para uma que se baseia no desenvolvimento sustentável? A ciência é fundamental na estruturação deste novo caminho de desenvolvimento. Nos últimos 50 anos, a ciência deu grandes passos no entendimento de processos chaves que regulam o funcionamento de nosso planeta. Mas ainda temos muito a descobrir. A exploração predatória dos recursos naturais, que caracteriza o nosso modelo econômico atual, vai ter que ser substituída por um novo modelo econômico que respeite os limites de nosso planeta e os indivíduos que aqui habitam. Este modelo já está ultrapassado, e terá que ser substituído por uma economia que seja minimamente sustentável do ponto de vista social e ambiental. 

Qual é a sua expectativa para o desfecho da Rio+20? Espero que a conferência aponte um caminho em que as desigualdades sociais possam ser reduzidas e não tenhamos uma postura de destruição de nossos recursos naturais. Isso requer uma mudança radical no atual modelo econômico, baseado exatamente na concentração de riqueza e na exploração predatória de recursos naturais. Estas questões certamente não serão resolvidas na Rio+20, mas a conferência deve indicar um caminho a ser pavimentado. Não houve grandes progressos nos últimos 20 anos desde a Rio-92, mas não temos muito tempo a perder. A sociedade já está cobrando uma mudança de modelo socioeconômico em várias áreas. Precisamos agir já na direção da sustentabilidade de nosso planeta.

Só 26% dos brasileiros têm o hábito de reciclar


Consumo

Pesquisa do Ibope mostra que é necessário avançar em políticas de conscientização ambiental. Apenas 20% das pessoas reutilizam itens como garrafas, tubos, caixas, envelope e papel

Ato de reciclar não foi incorporado aos costumes dos brasileiros
Ato de reciclar não foi incorporado aos costumes dos brasileiros (Lailson Santos)
Às vésperas da Rio+20, uma pesquisa do Ibope que ouviu 10.368 pessoas entre julho de 2011 e fevereiro de 2012 revela que a consciência do brasileiro passa ao largo de ações sustentáveis. Somente 26% dos entrevistados reciclam sempre ou com alguma frequência. O contrassenso, no entanto, fica a cargo dos 86% que concordam com o fato de a reciclagem ser um dever de todos. Outros percentuais enfatizam a pouca disposição às práticas verdes: apenas 20% das pessoas reutilizam itens como garrafas, tubos, caixas, envelope e papel. 

No que se refere às compras, 14% dos entrevistados disseram levar suas próprias sacolas ou bolsas. A pesquisa ressalta que as novas leis de distribuição de sacolas plásticas ainda não surtiram o efeito desejado. “Porém o hábito de levar bolsas e sacolas próprias quando se vai às compras já está começando a ser incorporado na rotina dos brasileiros”, destaca o estudo. Em Belo Horizonte, por exemplo, onde a lei vigora desde 2011, 48% da população disseram usar sempre ou frequentemente bolsas para fazer compras. Em São Paulo, no entanto, somente 19% têm esse hábito.

O número é ainda mais expressivo quando se analisa quantos deixam de comprar alguma coisa porque a embalagem é grande, 5%. Somente 1% dos moradores de Brasília e Recife afirmou que não consumiu algum produto por causa do excesso de embalagem. O maior índice foi registrado em São Paulo, onde 7% responderam que não comprariam nessas circunstâncias. 

A pesquisa mostra que grande parte dos brasileiros, 71%, disse ter interesse pela natureza. No entanto, quando perguntados diretamente sobre temas ligados ao meio ambiente, pouco se sabe. O assunto aquecimento global ou mudança no clima é pouco conhecido por 32% das pessoas. Outros 27% somente ouviram falar e 6% nem conhecem a expressão. Na outra ponta, 12% responderam conhecer muito bem sobre o tema e 24% afirmaram conhecer. 

No caso das questões sobre crédito de carbono, apenas 13% dos brasileiros investigados dizem conhecer ou conhecer muito sobre a temática. Quando a pergunta foi sobre a pegada de carbono, 15% da população disse ter informações a respeito. 

O lado positivo da pesquisa ficou com os 70% dos entrevistados que disseram estar dispostos a pagar mais por um produto saudável para o meio ambiente. Outro dado positivo do estudo é a disposição de 61% das pessoas paraz mudar o estilo de vida e beneficiar o meio ambiente. Apenas 8% deixam a torneira aberta enquanto escovam os dentes, 73% mantêm esforços para a redução no consumo de água e 72% se preocupam em economizar gás e eletricidade em casa. Quanto aos equipamentos de TV e computador, 44% dos entrevistados disseram mantê-los em standy by.

Chico Buarque - Mulheres de Atenas

As 'cobaias'


Entre Bíblias e pesquisas


Quem é: Arnold Stephen Jacobs Jr, mais conhecido como AJ Jacobs, 44 anos. Escritor americano e editor especial da revista Esquire.
O que fez: Jacobs é autor dos best-sellers Drop Dead Healthy (Caia Morto Saudavelmente, em tradução livre), My life as an Experiment (Minha vida como um experimento, em tradução livre), Um Ano Bíblico e The Know-it-all (O sabe tudo, em tradução livre). Para escrever sua obra mais famosa, Um Ano Bíblico, Jacobs passou um ano vivendo sob os preceitos e mandamentos da Bíblia. Seu objetivo era descobrir o que poderia ser realmente relevante – e bom –, e o que não teria mais utilidade no século XXI. Jacobs passou, então, a seguir uma maratona de regras: era proibido de usar roupas feitas de fibras mistas, de se sentar em lugares onde mulheres menstruadas haviam sentado, de mentir, fazer fofoca ou cobiçar. Ele estava autorizado ainda a apedrejar adúlteros – o que fez apenas uma vez (com pedregulhos, sem ferir o adúltero).
Em Drop Dead Healthy, livro recém-publicado nos Estados Unidos, Jacobs passou dois anos testando as pesquisas que, em teoria, deveriam deixá-lo mais saudável. “Foram mais de 100 estudos testados, talvez até 200”, diz. Na lista estão: andar de capacete para evitar traumatismos causados por tombos rotineiros, usar fone de ouvido para abafar o barulho externo e evitar os danos que o barulho causa à saúde e uma rotina de exercícios físicos na academia. Entre as dietas testadas estão a dos sucos e a dos alimentos crus.
Resultados: Após o fim do projeto Drop Dead Healthy, Jacobs chegou à conclusão de que seguir ao pé da letra toda pesquisa científica pode fazer mal à saúde. "Existe muito estudo ridículo, muita ciência ruim. Você pode, por exemplo, encontrar pesquisas que dizem que o bacon é saudável. Bem que eu gostaria...". Além do problema na seleção do estudo a ser seguido, Jacobs afirma que há outro problema. "É impossível seguir absolutamente tudo, isso seria esmagador e estressante, tudo menos saudável. O que eu descobri é que você pode se tornar doentiamente obcecado por saúde."

Regime nerd


Quem é: Craig Engler, 45 anos. Executivo sênior da TV Digital Syfy, canal a cabo americano voltado para séries e filmes de ficção científica, criador do primeiro site profissional sobre ficção científica, oScience Fiction Weekly, e jogador profissional da Nintendo. Escreve esporadicamente sobre tecnologia e ficção científica para BoingBoing, Mashable e Wired.
O que ele fez: Depois de perder um amigo vítima de ataque cardíaco, Engler fez um check up e acabou descobrindo que sua saúde ia de mal a pior. Abalado, começou a testar algumas pesquisas que poderiam ser adequadas ao estilo de vida de um nerd - 'sempre na frente do computador ou do videogame'. "A melhor coisa que fiz foi adaptar o computador a uma esteira'’, disse. Foi a forma que ele encontrou para continuar na internet e caminhar ao mesmo tempo.
Outra dica testada por Engler é a de delimitar a quantidade de alimento levada para frente do computador. "Ninguém presta atenção no que está comendo quando está na internet, e sempre come mais." Assim, a sugestão é servir-se de parcelas fixas. Em vez de levar o pacote de salgadinhos para a mesa, leve apenas uma pequena porção. "E beba muita água. Além de diminuir a quantidade de açúcar ingerida, você ainda vai ser obrigado a se levantar mais vezes para ir ao banheiro."

Resultado: Engler, que chegou a pesar 102 quilos, conseguiu emagrecer 30 quilos. Hoje, a balança do executivo marca 72 quilos. O conteúdo do blog Weighthacker.com, onde ensina geeks a emagrecer, será transformado no livro Weight Hacking: A Guide For Geeks Who Want To Lose Weight And Get Fit(Hackeando o peso: um guia para geeks que desejam perder peso e ficar em forma, em tradução literal). A publicação será financiada pelo modelo crowdfunding e deve ser lançada em setembro deste ano.

Guru da boa forma


Quem é: Timothy Ferriss, 34 anos. Escritor americano, palestrante e empresário.
Feito: Tim Ferriss se submete há 16 anos a uma série de experiências para aprimorar seu corpo. Ele já chegou a implantar um chip com sensor no tórax, para checar em tempo real o nível de glicose no sangue. Seus principais experimentos envolvem a ingestão de substâncias em doses diferentes das prescritas e de alimentos em grandes quantidades. Em um deles, passou três semanas comendo apenas nozes, castanhas e carne. Diz ter derrubado seu colesterol e triplicado a testosterona.
Resultado: As investidas de Ferriss resultaram em dois best-sellers, The 4-Hour Workweek e The 4-Hour Body. Com um de seus experimentos, ganhou, em 28 dias, impressionantes 15 quilos de músculos e perdeu 1,3 quilo de gordura — um resultado quase impossível sem o uso de esteroides. Outro experimento, com o objetivo de "restaurar seu corpo ao que era aos 20 anos", o levou a injetar seu próprio sangue depois de 'refinado', células-tronco e hormônio. Ferris precisou de uma cirurgia por causa de uma infecção causada pelo teste, mas afirmou que, após seis meses, seu corpo obteve os resultados esperados.


Meu corpo é um laboratório


Cobaias humanas

Para provar pesquisas divulgadas pela ciência, um grupo de pesquisadores amadores usa o próprio corpo para fazer testes e experimentos

Aretha Yarak*
Na ânsia de provar por conta própria o que a ciência não pode - ou não faz - um grupo de quase cobaias humanas coloca o corpo à mercê de experimentos científicos
Na ânsia de provar por conta própria o que a ciência não pode - ou não faz - um grupo de quase cobaias humanas coloca o corpo à mercê de experimentos científicos (Reprodução)
Eles levam ao extremo a curiosidade científica. Para provar pesquisas, teorias e crenças, pesquisadores amadores fazem do próprio corpo um laboratório – e, às vezes, sofrem os revezes de um teste mal sucedido. Na maior parte dos casos, essas cobaias humanas tentam verificar resultados já observados em pesquisas científicas (se um estudo diz que comer alimentos crus é saudável, por que não testar?), utilizar recursos tecnológicos para alcançar resultados práticos (é possível emagrecer com auxílio de aplicativos para telefones e videogames?), ou mesmo pular etapas e experimentar em si mesmos substâncias que ainda não passaram pelo crivo da ciência.
Um dos maiores expoentes dessa turma é o escritor americano A. J. Jacobs. Em seu recém-lançado livro Drop Dead Healthy (Caia morto com saúde, Ed. Simon & Schuster, sem edição em português), Jacobs testa dezenas de teorias científicas que dizem garantir uma vida mais saudável. O autor tentou de tudo: juntou-se a um grupo que praticava exercícios como homens da caverna, usou fones de ouvido para abafar ruídos do ambiente (uma forma de evitar os efeitos deletérios da poluição sonora), perambulou usando capacete (para evitar traumas na cabeça), fez dieta à base de alimentos crus e começou a trabalhar em um computador adaptado à uma esteira em movimento para evitar o sedentarismo. “O treino do homem das cavernas não era fácil. Tive de ir ao parque descalço e com o peito nu, atirar pedras e subir em árvores”, disse em entrevista ao site de VEJA.
A imersão nesse palheiro de pesquisas científicas não é novidade para o autor. Para o livro Um Ano Bíblico (Editora Agir, 400 págs., R$ 49,90), best-seller que o alçou à fama, em 2007, Jacobs passou um ano cumprindo nada mais do que todos os mandamentos da Bíblia. A lista de obrigações incluia desde viver de acordo com os Dez Mandamentos até cumprir questões mais complicadas nos dias atuais, como não vestir roupas de fibras mistas e apedrejar adúlteros. Jacobs acabou por apedrejar um senhor de 70 anos que assumiu o adultério, atirou-lhe pedregulhos. O velhinho encarou o gesto com bom humor e ambos saíram ilesos do episódio. 
Experimento geek - Jacobs, porém, não está sozinho. Craig Engler, um geek que é executivo do SyFy, canal a cabo americano voltado para séries e filmes de ficção científica, perdeu 30 quilos usando aparatos tecnológicos, como aplicativos, sites e videogames. Todos os detalhes da experiência foram parar no blog Weighthacker.com, que rapidamente transformou-se em um sucesso na internet — em apenas um dia recebeu mais de 40.000 pageviews.  O página é uma espécie de diário em que Engler registra todas as descobertas feitas durante o processo de emagrecimento. “Entendi, por exemplo, que quando como ovos no café-da-manhã me sinto satisfeito por muito mais tempo e acabo comendo menos no resto do dia”, contou ao site de VEJA.
Agora, Engler está reunindo suas experiências no livro Weight Hacking: A Guide For Geeks Who Want To Lose Weight And Get Fit (Hackeando o peso: um guia para geeks que desejam perder peso e ficar em forma, em tradução literal), que será financiado pelo modelo crowdfunding e deve ser publicado em setembro deste ano. “Tenho trabalhado junto a diversos profissionais para me assegurar de que tudo o que está no livro esteja correto”, diz.
No mesmo grupo de cobaias está o empresário Tim Ferriss, que testa em seu próprio corpo substâncias ainda em fase inicial de testes clínicos. Como não tem receio dos efeitos, Ferriss às vezes se vê em maus bocados. Em um dos seus experimentos, ele injetou no corpo um coquetel que continha o próprio sangue, um tipo de hormônio ligado ao crescimento e células-tronco. O resultado: uma grave infecção no cotovelo que o obrigou a passar por uma cirurgia de emergência. As experiências de Ferriss lhe renderam dois livros: o best-seller The 4-Hour Workweek e The 4-Hour Body.
Cobais versus academia - Embora suas experiências sejam vistas com desprezo pela academia, Ferriss defende seus métodos. Segundo ele, testes realizados por apenas uma pessoa têm várias vantagens sobre as pesquisas científicas tradicionais, como custo e tempo. "Se eu quiser descobrir como dormir melhor, posso testar em mim mesmo por semanas, e de graça. Experimentos convencionais levam um ano ou mais e custam milhares de dólares", escreveu em seu livro The 4-Hour Body.
Esse raciocínio, na verdade, tem uma falha lógica. Resultados obtidos com um único indivíduo não podem ser nunca universalizados. Só testes realizados com grupos grandes e diversificados garantem, estatisticamente, a eficácia de um novo tratamento. Assim, não é tanto por suas conclusões que um explorador como Ferriss merece atenção, mas pela qualidade que exibe: uma incansável curiosidade intelectual.

Cientistas decodificam o genoma do tomate


Genética

Com a descoberta, os pesquisadores esperam trazer melhorias em termos de qualidade e durabilidade para um dos frutos mais cultivados do planeta

Tomates na feira de agricultura em Berlim, na Alemanha
Com a descoberta, cientistas esperam trazer melhorias para o tomate em termos de sabor, resistência a doenças ou adaptação a diferentes solos e climas (Odd Andersen/AFP)
Uma equipe internacional de cientistas decodificou o genoma do tomate, abrindo possibilidades de melhoria no sabor e propriedades nutritivas do alimento. Os resultados foram publicados na edição desta semana da revista Nature.

Saiba mais

HIBRIDIZAÇÃO
Cruzamento genético de indivíduos com características diferentes. Esse processo ficou bastante conhecido em estudo feito por Gregor Mendel (1822-1884), o pai da genética. O botânico explicou de que forma características são herdadas ao cruzar diversos tipos de ervilhas e verificar de que forma características distintas se manifestavam nas gerações descendentes.
ENGENHARIA GENÉTICA
Termo usado para definir o processo de manipulação dos genes em um organismo, geralmente fora de seu processo natural reprodutivo. O objetivo é introduzir novas características em um ser vivo, geralmente que tragam melhorias em relação a sua produtividade.
O Consórcio do Genoma do Tomate, que reúne mais de 300 pesquisadores em 14 países, comparou o fruto doméstico atual com seu parente sul-americano, o Solanum pimpinellifolium. Os cientistas revelaram que o tomate tem 35.000 genes e que a variação genética entre a o fruto selvagem e o encontrado atualmente no supermercado é de 0,6%.
O tomate faz parte da família Solanaceae, que inclui outros cultivos importantes: a batata, a pimenta, a berinjela e temperos e ervas de uso medicinal. Em termos de comparação genética, o estudo revelou que o tomate é apenas 8% diferente da batata.
Modificações genéticas — Pesquisadores têm se dedicado à decodificação de produtos amplamente cultivados, como o tomate, para identificar os genes que afetam o sabor, a resistência a doenças ou a habilidade de crescimento em diferentes solos e climas. O tomate está entre os produtos mais cultivados do planeta. Sua produção global em 2010 foi de 146 milhões de toneladas.
Os resultados do estudo possibilitam aos cientistas produzir tomates com características melhores através de alterações genéticas. Esse processo poderia ser feito através daengenharia genética ou através de hibridização tradicional. Estudos anteriores já decodificaram o DNA do milho, trigo, arroz, soja, maçã e morango.
"O tomate é uma das espécies mais comuns e exploradas", afirmou Francisco Camara, do Centro de Regulação de Genoma da Espanha. "Conhecer seu genoma em detalhes nos permite, por um lado, ter uma compreensão maior da evolução de plantas vasculares (com raiz, caule e folhas) e também fornece novas ferramentas para a agricultura do futuro", acrescentou.
Os membros do consórcio são originários de Argentina, Bélgica, Grã-Bretanha, China, França, Alemanha, Índia, Israel, Itália, Japão, Coreia do Sul, Holanda, Espanha e Estados Unidos.
(Com Agência France-Presse)

STF monta blindagem para evitar atrasos do mensalão


Justiça

Presidente do Supremo pediu à Defensoria Pública que preparasse de cinco a sete defensores para que fiquem de prontidão. Grupo será acionado se algum advogado dos réus pedir o adiamento da sessão

O ministro Carlos Ayres Britto
O ministro Carlos Ayres Britto (Gustavo Miranda/Agência O Globo )
O surgimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no radar do julgamento do mensalão alertou para um movimento subterrâneo detectado pelo Supremo Tribunal Federal (STF): manobras projetadas para embaraçar o processo e jogar a sentença final para depois das eleições. Diante disso, o presidente da Corte, Carlos Ayres Britto, prepara em conjunto com os colegas alguns antídotos para anular possíveis estratégias usadas pelos advogados dos réus do mensalão para retardar o julgamento do processo. 

Com 38 réus a serem julgados e número ainda maior de advogados envolvidos com o caso, os ministros sabem que todos os subterfúgios legais e chicanas poderão ser usados nas sessões de julgamento. Britto pediu à Defensoria Pública que preparasse de cinco a sete defensores para que fiquem de sobreaviso. Eles serão sacados para atuar no julgamento caso algum dos advogados peça adiamento da sessão por estar doente ou se algum dos réus convenientemente destituir seu advogado e pedir prazo para contratar um novo defensor. 

Problemas como esses poderiam provocar o adiamento da sessão por semanas. Esses defensores públicos estudam o caso desde abril e estarão, de acordo com integrantes do tribunal, prontos para defender os réus de imediato, sem permitir atrasos no julgamento do processo, que deve se alongar por dois meses. 

Os ministros antecipam também estratégias para garantir a execução das penas daqueles que forem condenados. Terminado o julgamento, o tribunal precisa publicar o acórdão - com a íntegra do relatório do caso, os votos de cada ministro e os debates travados na sessão, e a ementa do julgamento. 

Nessa etapa do processo, o Supremo costuma perder meses. Cada um dos ministros revê seus votos, lê os apartes que fez aos colegas durante a sessão, retira partes que considerar impróprias - caso haja, por exemplo, alguma discussão mais áspera em plenário - e só então o documento é publicado. 

CPI do Cachoeira- Reportagem de VEJA desta semana revela a existência de um documento preparado por petistas para guiar as ações dos companheiros que integram a CPI do Cachoeira. Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), e Roberto Gurgel, procurador-geral da República estão na lista dos alvos preferenciais. Os alvos são oposicionistas, a imprensa e membros do Judiciário que, de alguma forma, contribuíram ou ainda podem contribuir para que o mensalão seja julgado e passe, portanto, a existir oficialmente como um dos grandes eventos de corrupção da história brasileira – e, sem dúvida, o maior da República.

O documento foca em especial Gilmar Mendes, que Lula tentou constranger, sem sucesso, em sua cruzada para adiar o julgamento do mensalão, conforme mostrou reportagem de VEJA da semana passada. São dedicados a Mendes quatro tópicos: 'O processo da Celg no STF', 'Satiagraha, Fundos de Pensão, Protógenes', 'Filha de Gilmar Mendes' e 'Viagem a Berlim'. São todas questões já levantadas pelos mensaleiros e seus defensores e que, uma vez esclarecidas, se mostraram fruto apenas do desejo de desqualificar um integrante do STFque os petistas consideram um possível voto contra os réus do mensalão.

(Com Agência Estado)

Dados do Coaf revelam o laranjal da construtora Delta


CPI do Cachoeira

Empreiteira pagou mais de 100 milhões de reais a empresas de fachada que repassavam o dinheiro a políticos e funcionários públicos

Fernando Cavendish, dono da DELTA
Fernando Cavendish, dono da DELTA (Oscar Cabral)
A devassa nas contas da construtora Delta, aprovada pela CPI do Cachoeira, é uma medida que pode mexer profundamente com o meio político brasileiro. Como mostra a edição de VEJAque chega às bancas neste sábado, ela põe a CPI na trilha de um dinheiro clandestino que abasteceu campanhas políticas e pagou propinas a servidores públicos. O montante das transações secretas? Mais de 100 milhões de reais.
VEJA revela dados de um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão do governo federal encarregado de monitorar transações financeiras suspeitas de constituir lavagem de dinheiro. Nele, a Delta aparece relacionada a movimentações atípicas entre 2006 e o ano passado.
Numa delas, uma empresa chamada GM Comércio de Pneus e Peças Ltda., com sede num pequeno escritório de contabilidade em Goiânia, recebeu entre novembro de 2009 e maio de 2010 depósitos bancários realizados pela Delta em valores superiores a 6 milhões de reais. A GM está registrada no nome do policial civil aposentado Alcino de Souza.
Localizado por VEJA, Alcino admitiu receber 1.500 reais mensais para emprestar o nome à firma e para prestar um único serviço: sacar os valores que entravam na conta da empresa, acondicionar os maços em sacolas e entregar ao seu patrão. O homem que recebia o dinheiro é o empresário Fabio Passaglia, que mantém estreitas ligações com a política de Goiás – foi auxiliar dos ex-governadores Iris Resende e Maguito Vilela, as duas maiores lideranças do PMDB no estado.
Como investigador que foi, Alcino sabe que atuou como parte de um esquema criminoso. “Tem gente grande envolvida nisso, mas não posso falar porque tenho medo de morrer”, disse ele.
O caso da loja-fantasma de pneus ilustra bem o motivo da preocupação de muitos políticos com a iminente devassa nas contas da empreiteira. As “operações atípicas” indicam que os saques de dinheiro feitos pela matriz da empreiteira sempre aumentavam nos períodos eleitorais.
Em se tratando de CPI, o que era cachoeira virou tsunami.

STF: 35 mil pedem julgamento do mensalão


Contas Abertas

Manifestantes entregam abaixo-assinado a ministros exigindo decisão sobre réus do maior escândalo do governo Lula ainda neste semestre

Fachada do STF: pressão por julgamento do mensalão
Fachada do STF: pressão por julgamento do mensalão (Dorivan Marinho/Fotoarena)
Representantes de movimentos de combate à corrupção devem entregar aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), nesta quarta-feira, um abaixo-assinado com mais de 35 000 assinaturas pedindo que o julgamento do mensalão seja realizado ainda no primeiro semestre. A previsão é que os integrantes do movimento “SOS STF – Julgamento do Mensalão Já” estejam no STF às 14 horas. Fazem parte do grupo o Movimento 31 de Julho, a organização não-governamental Transparência Brasil, a ONG Contas Abertas e o Movimento “Queremos Ética na Política”.
O principal objetivo do protesto é alertar para a possibilidade da prescrição de alguns crimes. "O nosso objetivo é fortalecer as instituições. Esse é um gesto de solidariedade aos ministros do STF. Nós acreditamos que o próprio [presidente do STF] Carlos Ayres Britto tem a intenção de julgar o processo rapidamente. Então isso é um apoio a essa intenção”, afirmou Ana Luiza Archer, do Movimento 31 de Julho.
Apesar de a maioria das assinaturas ter sido colhida de forma eletrônica (cerca de 24 000), os organizadores da petição dizem estar satisfeitos com apoio físico. “A adesão na rua foi muito grande. No Rio, fizemos eventos na orla, em Copacabana, Ipanema, Leblon. Os movimentos duravam apenas duas horas, mas a adesão era total”, afirma Marcelo Medeiros, também do 31 de Julho. “O corpo a corpo na rua foi muito interessante. Grande parte das pessoas aderiu, fez fila e elogiou muito”, completa Ana Luiza.
A campanha das entidades ocorre após a ação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem se lançado numa ofensiva sobre o STF para protelar o julgamento, como reveloureportagem da edição de VEJA desta semana.
Lula encontrou o ministro do STF Gilmar Mendes no dia 26 de abril no escritório do ex-ministro Nelson Jobim. Em troca da lealdade do integrante do Supremo, ofereceu uma blindagem na CPI do Cachoeira – na leitura do ex-presidente, Mendes poderia se tornar alvo da investigação por ter se encontrado com Demóstenes Torres em Berlim. Lula também planejava ter conversas semelhantes com outros ministros. Ou fazer chegar a eles suas intenções.
Central de mentiras - Diante da revelação de Mendes, o ex-presidente insinuou, em nota oficial divulgada na segunda-feira, que o ministro mentira. Em resposta, na terça, Mendes subiu o tom. Disse que é vítima de uma tentativa de desmoralização do tribunal por causa do julgamento do mensalão. Por várias vezes repetiu: "Isso é coisa de bandido", referindo-se a informações que, segundo ele, estão sendo "plantadas" para prejudicá-lo.
O ministro negou que tenha voado em um avião de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. "Não viajei em jatinho coisa nenhuma. Até trouxe para vocês (documentos) para encerrar esse negócio. Vamos parar com fofoca. A gente está lidando com gângsters. Bandidos que ficam plantando essas informações", afirmou o ministro a um grupo de jornalistas.
Mendes afirmou que por duas vezes viajou em aeronaves cedidas pelo senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). As duas viagens, segundo ele, foram de Brasília para Goiânia e realizadas em aviões de empresas de táxi aéreo. O magistrado disse que soube, ainda, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava envolvido na divulgação dessas "mentiras".
"As notícias que me chegaram era que sim. De que ele era a central de divulgação disso", disse. As declarações foram dadas nesta terça, no momento que Mendes chegava à sala onde são realizadas sessões de julgamento do STF. Parte do áudio foi divulgada pelo Jornal Nacional da TV Globo.  
Para o ministro, há uma tentativa de coagir o Supremo. "O objetivo era melar o julgamento do mensalão. Dizer que o Judiciário está envolvido em uma rede de corrupção".

Gota d'água - Chico Buarque (ao vivo)

CHICO BUARQUE - DESENCONTRO