segunda-feira 23 2012

CPI atingirá aliados e oposição, diz Cesar Maia

Política

Por Daiene Cardoso
São Paulo - Cesar Maia, ex-prefeito do Rio de Janeiro pelo DEM, disse nesta sexta que acredita que a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), criada para investigar a relação do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com políticos e parlamentares, atingirá a todos, sejam da base governista ou da oposição. "Acho que isso vai ser inevitável", avaliou o ex-prefeito durante seminário sobre a política externa brasileira promovido pela Fundação Liberdade e Cidadania, em São Paulo.
O ex-prefeito também aposta no desdobramento das investigações no Congresso Nacional para as Assembleias Legislativas. A primeira mobilização para uma investigação já ocorreu em Goiás. Apesar da relação do governador Marconi Perillo (PSDB) com Cachoeira ser levantada por escutas da Operação Monte Carlo, no Estado a base de Perillo vai focar suas atenções em contratos firmados entre a construtora Delta e prefeituras do Estado. "Em alguns casos vai para a esfera estadual, vai ter um desdobramento", apontou o ex-prefeito.
Na opinião de Maia, é preciso que haja uma investigação "Estado por Estado" sobre os contratos com a construtora Delta, mas é preciso avaliar como as obras serão concluídas caso a empreiteira seja classificada como "inidônea" pela Controladoria Geral da União (CGU). "Tudo tem de ser levantado para ver de que maneira se faz a transição. Se licitam novamente? Como se substitui a empreiteira?", ponderou.
Maia lembrou que a Delta passou a prestar serviços à Prefeitura do Rio a partir de 2002, durante sua gestão. "Eles entraram de forma muito agressiva, para ganhar o mercado. Para nós foi bom porque os preços baixaram", contou. O ex-prefeito levantou dúvidas sobre o grau de relacionamento entre o governador fluminense, Sérgio Cabral, e o dono da Delta, Fernando Cavendish. "Tenho dúvidas se não é um caso de cruzamento de interesses", questionou. "Que as relações deles iam além da mera amizade, não tenho dúvidas. A queda do helicóptero (em 17 de junho de 2011) mostrou, na tragédia, o nível de intimidade que se tinha", comentou.
Cassação obrigatória
O cacique do DEM também defendeu a cassação do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) por sua ligação com Cachoeira. "Não sei se o senador Demóstenes cometeu algum delito, mas que ele faltou com o decoro parlamentar, não há nenhuma dúvida. (A cassação dele) é obrigatória", afirmou. Demóstenes responde a processo de cassação no Conselho de Ética do Senado por quebra de decoro parlamentar.
No início do mês, Demóstenes anunciou sua desfiliação do DEM para escapar de uma provável expulsão. Nesta segunda, o senador José Agripino Maia (RN), presidente nacional da sigla, ressaltou que a cassação de Demóstenes será uma decisão colegiada e que, por essa razão, não emitiria sua opinião. "Não adianta manifestar minha posição individual", desconversou.
De acordo com Cesar Maia, nos bastidores já surgem novos personagens no escândalo envolvendo Cachoeira. "Há uma pressão para não se vazar os outros grampos", revelou. O ex-prefeito acredita que, com a mobilização da opinião pública e a cobrança por resultados, a CPMI conseguirá acesso a todo inquérito da Polícia Federal. "O caso Cachoeira é um caso mafioso, para usar essa expressão, e que é tupiniquim", resumiu.

Comissão aprova criminalização do enriquecimento ilícito

Política

Por Ricardo Brito
Brasília - A comissão de juristas do Senado, que discute mudanças no Código Penal, aprovou nesta segunda-feira uma proposta que cria o crime de enriquecimento ilícito. Pelo texto, servidores públicos e agentes políticos que não conseguirem comprovar a origem de determinado bem ou valor poderão responder a processo na Justiça.
Atualmente, não existe esse crime no código. Os integrantes decidiram que o novo tipo penal valeria para bens móveis (carros, títulos, entre outros) ou imóveis (terrenos, apartamentos, por exemplo) de origem não comprovada. Se for aprovado, o crime de enriquecimento ilícito teria pena de um a cinco anos de prisão.
Para o relator da comissão, o procurador regional da República Luiz Carlos Gonçalves, a proposta é um "momento histórico" na luta contra a corrupção no País. "Criminalizamos a conduta do funcionário público que enriquece sem que se saiba como", afirmou.
A comissão deve apresentar até maio um texto final ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Caberá a ele decidir se apresenta um único projeto ou se inclui as propostas em projetos já em tramitação na Casa.

O que move o Político Sincero de Marcelo Adnet

Humor

Na seção "Conversa' de VEJA desta semana, o humorista fala sobre o personagem que faz sucesso na MTV

Adnet: "Lutar contra a corrupção é como lutar contra o pôr do sol" Adnet: "Lutar contra a corrupção é como lutar contra o pôr do sol"  (Lailson Santos)
Qual é a ideia do personagem?
Ele é um político como outros, só que sincero.
O que o Político Sincero diria no palanque?
Diria: "Eu tenho um grande programa, que é enriquecer. Toda a minha ação política gira em torno dessa meta. Não importa se isso vem com o dinheiro, caixa de uísque ou jatinhos. É o que faz meu coração bater".
Ele tem alguma proposta mais, digamos, específica?
Legalizar a propina. Se o garçom cobra 10%, por que o político não pode ter sua cota de 15% ou 20%? Não dá para viver só com o salário de parlamentar.
Combater a corrupção, portanto, está fora da pauta dele?
Para o Político Sincero, é preciso mudar a forma como o brasileiro vê a corrupção. Por que lutar contra algo que é quase natural? Seria como lutar contra o pôr do sol. O Brasil é o país do futebol, do café e da corrupção também.
Ele não tem nenhuma proposta útil? Para a saúde, por exemplo?
Saúde? Só se for para a saúde dele e de sua família.
Um político assim nunca seria eleito...
Engano seu. Ele é eleito, sim. Em todos os estados. Só não escancara a verdade, como o personagem faz.
Os bons políticos não reclamam do personagem?
Não, porque sabem que essa caricatura não é deles, mas dos pilantras com quem convivem.
http://veja.abril.com.br/noticia/celebridades/sinceridade-na-politica 

House’ perto do fim



Faltam apenas cinco episódios para que House dê seu adeus ao público, nos EUA. Cancelada em fevereiro, em função da baixa audiência, a série encerrará no dia 21 de maio com oito temporadas e 177 episódios produzidos. O último recebeu o título de Everybody Dies (todo mundo morre), alusão à frase popularizada pela série e pelo personagem central, everybody lies (todo mundo mente), bem como o título do episódio que deu início à série.
Poucas informações foram divulgadas. Com roteiro de David Shore (criador e produtor), Peter Blake e Elie Attie, o episódio contará com o retorno de alguns personagens que passaram pela série. Até o momento, apenas Olivia Wilde (Treze/Thirteen), que estará nos dois últimos episódios, e Amber Tamblyn (Martha Masters) estão confirmadas. Kal Penn (Dr. Kutner) também estaria negociando seu retorno. Os fãs de Cuddy (Lisa Edelstein) não devem esperar que a personagem retorne para o último episódio. Pelo menos é o que garante a imprensa americana.
O final de House será definido nos quatro últimos episódios. Desta forma, o último terá o tempo de duração normal mas, segundo a revista EW, será precedido por um especial de uma hora que fará uma retrospectiva da série, nos EUA.
Clique na foto abaixo para ampliar. 
Elenco atual da série se reuniu no dia 20 de abril para a festa de despedida. (E-D) Peter Jacobson, Omar Epps, Jesse Spencer, Odette Annable, Hugh Laurie, David Shore, Charlyne Yi e Robert Sean Leonard (Foto: Kevin Winter/Getty)

Descoberta proteína envolvida com o vício em cocaína

Drogas

Pesquisa pode levar ao desenvolvimento de novas técnicas para tratar o vício em cocaína e crack

neurônios Proteína Rac1 age diretamente sobre os neurônio do núcleo accumbens, região cerebral responsável pelo sistema de recompensa.  (Thinkstock)
O uso repetido de cocaína diminui a quantidade de uma proteína necessária para o funcionamento normal do cérebro humano. O efeito atinge diretamente o centro de recompensa do cérebro, o que pode explicar por que a droga vicia tanto. Esse é o resultado de uma pesquisa feita com ratos no Centro Médico Monte Sinai, em Nova York. Segundo os cientistas, suas descobertas podem levar ao desenvolvimento de novas técnicas para tratar o vício em cocaína e crack. O estudo foi publicado neste domingo na revista Nature Neuroscience.

Saiba mais

NÚCLEO ACCUMBENS
Vício e prazer estão intimamente ligados no cérebro, pois estimulam a mesma parte do órgão, o núcleo accumbens. A ciência descobriu sua importância na década de 50, quando ratos de laboratório preferiam apertar uma alavanca que estimulava o local a comer ou beber. Os neurônios dos núcleos accumbens ficam mais ativos tanto por causa de vícios químicos, como o relacionado à cocaína, quanto por vícios físicos, como a compulsão por sexo. Em 2007, uma pesquisa mostrou que a região é fundamental para o fenômeno conhecido como efeito placebo. Pois seus circuitos neurais respondem à expectativa de benefícios diante de um tratamento.
Até agora, os cientistas sabiam que o consumo da droga aumentava a atividade no núcleo accumbens, região cerebral ligada ao prazer e à recompensa. No entanto o mecanismo pelo qual isso acontecia permanecia incerto. A nova pesquisa mostrou que a exposição repetida à cocaína diminui a atividade da proteína Rac1, o que parece promover as respostas comportamentais ao uso da substância. Essa proteína é encontrada em ratos, macacos e humanos, e regula o crescimento celular dos nervos.
Os cientistas mostraram que a inativação dessa proteína aumenta a atividade e a densidade dos neurônios no núcleo accumbens, induzindo ao vício. Já a ativação excessiva da Rac1 bloqueia o efeito da exposição repetida à droga. "Nossas pesquisas dão novas informações sobre como a cocaína afeta o sistema de recompensa do cérebro e como isso pode ser reparado", disse o neurocientista Eric Nestler, coordenador do estudo.
Os resultados ainda são iniciais, e os cientistas precisam fazer mais pesquisas antes que eles possam ser aplicados em humanos. No entanto, os pesquisadores estão esperançosos de que o estudo possa levar ao desenvolvimento de um novo tratamento para o vício em cocaína, que atue diretamente nessa proteína.
http://veja.abril.com.br/noticia/saude/descoberta-proteina-envolvida-com-o-vicio-em-cocaina

Insatisfação no trabalho pode desencadear dores nas costas permanentes

Dor nas costas

Qualidade do ambiente profissional é capaz de determinar se dores ocasionais se tornarão frequentes. Pesquisadores recomendam atitude positiva

Dor nas costas: condição casual pode se tornar permanente se ambiente de trabalho for insatisfatório Dor nas costas: condição casual pode se tornar permanente se ambiente de trabalho for insatisfatório (Thinkstock)
Os médicos ortopedistas e reumatologistas precisam prestar mais atenção ao grau de satisfação no trabalho de seus pacientes, segundo um estudo da Universidade da Austrália Ocidental. A pesquisa afirma que pessoas que se conformam em trabalhar em empregos insatisfatórios têm mais chances de sofrer de dores persistentes nas costas. Pessoas com uma atitude positiva, que buscam mudanças na carreira ou no local de trabalho sofrem menos com o problema. De acordo com o trabalho, que será apresentado nesta sexta-feira no encontro da Sociedade Australiana de Coluna, em Sydney, um terço dessas pessoas que já apresentam dores terão dores persistentes no futuro.
"Todo mundo tem dores nas costas ocasionais, mas nós estamos preocupados com essas pessoas quem têm dores não específicas que duram semanas e têm sérias consequências”, diz Markus Melloh, um dos autores do estudo. "É um círculo vicioso que precisa ser quebrado." Quando a dor aumenta e se torna persistente, o trabalho se torna ainda mais penoso.
Participaram da pesquisa 169 pessoas que haviam apresentado pela primeira vez um episódio de dor lombar não específica. Elas foram acompanhadas e avaliadas ao longo de seis meses. Segundo a equipe, o trabalho teve foco nesse tipo de dor, pois ela foi mais comumente relatada do que dores no pescoço, por exemplo. De todos os participantes, 64 foram classificados como portadores de dores nas costas permanentes.
Sentimentos negativos — Os pesquisadores observaram que os pacientes que estavam insatisfeitos com o trabalho e relatavam ter sentimentos negativos no ambiente profissional foram os mais propensos a desenvolver uma condição persistente de dor nas costas. De acordo com a equipe, a qualidade do local de trabalho e pensamentos positivos mostraram exercer grande impacto em relação ao problema. Esses resultados, para os autores do estudo, revelam que as terapias para pacientes com dores na lombar devem abordar também aspectos psicológicos e a condição da vida do indivíduo, como a de seu ambiente profissional, por exemplo.
http://veja.abril.com.br/noticia/saude/insatisfacao-no-trabalho-pode-desencadear-dores-nas-costas-permanentes 

CGU abre processo para investigar idoneidade da Delta

Corrupção

Construtora atuava em conjunto com grupo do contraventor Carlinhos Cachoeira. Obras em andamento podem continuar

Gabriel Castro
SOCIEDADE - A investigação sobre um esquema ilegal de jogos comandado por Cachoeira (à esq.) revelaram que a Delta, do empresário Fernando Cavendish (à dir.), usa políticos e dinheiro sujo para expandir seus negócios SOCIEDADE - A investigação sobre um esquema ilegal de jogos comandado por Cachoeira (à esq.) revelaram que a Delta, do empresário Fernando Cavendish (à dir.), usa políticos e dinheiro sujo para expandir seus negócios (Fotos Dida Sampaio/AE; Eduardo Knapp/Folhapress)
A Controladoria-Geral da União abrirá um processo que pode declarar inidônea a empresa Delta Construções, ligada à máfia do contraventor Carlinhos Cachoeira. A CGU formou uma comissão com três integrantes para analisar a empresa. A decisão deve ser publicada nesta terça-feira no Diário Oficial da União.
Se for confirmada a inidoneidade, a empresa ficará impedida de firmar novos contratos com a administração pública. Mas as obras em andamento podem continuar. Cada caso será analisado individualmente pelo órgão responsável pela licitação. A suspensão das obras é o último recurso adotado: segundo orientação da CGU, a prioridade deve ser o cidadão beneficiado pelo empreendimento.

De acordo com a CGU, a criação da comissão se deu por causa das recentes denúncias mostrando a atuação conjunta da construtora com a máfia de Cachoeira. Na investigação, também serão levados em conta episódios da operação Mão Dupla, da Polícia Federal, que flagrou em 2010 fraudes em licitações e desvios de recursos envolvendo a construtora no Ceará. Representantes da Delta chegaram a ser presos.

Na edição desta semana, VEJA mostra como a construtora Delta ascendeu rapidamente graças aos contratos com o governo federal, do qual é a maior fornecedora de serviços. Em uma década, o salto nas verbas que a empresa recebeu da União foi de 1.653%.
 http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/cgu-abre-processo-para-investigar-idoneidade-da-delta

São Jorge da Capadócia



São Jorge nasceu na Capadócia no ano de 280. No final do século III, o cristão Jorge trocou a Capadócia, na Turquia, pela Palestina, vindo a ingressar no exército de Diocleciano. Jorge logo se destacou, sendo elevado a conde e depois a tribuno militar. Tudo ia bem, até que as perseguições aos seguidores de Cristo reiniciaram. O rapaz não quis negar sua fé, fazendo com que Diocleciano se sentisse traído. O imperador, então, condenou-o às mais terríveis torturas. E Jorge consegiu vencer a todas elas. Suportando uma dor atrás da outra, o filho da Capadócia suportou as lanças dos soldados, permaneceu firme sob o peso de uma imensa pedra, obteve a cicatrização imediata das navalhadas que recebeu e resistiu ao calor de uma fornalha de cal. A cada vitória sobre as torturas, Jorge ia convertendo mais e mais soldados. O imperador, contrariado, chamou um mago para acabar com a força de Jorge. O santo tomou duas poções e, mesmo assim, manteve-se firme e vivo. O feiticeiro juntou-se à lista dos convertidos, assim como a própria esposa do imperador. Estas duas últimas "traições" levaram Diocleciano a mandar degolar o ex-soldado em 23 de abril de 303. Conta-se ainda que o bravo militar matou um dragão para salvar a filha do rei de Selena e todos os habitantes desta cidade Líbia. Lenda ou realidade, o fato é que São Jorge nos lembra que todos nós temos algum desafio a vencer nesta vida, seja o nosso orgulho, o nosso egoísmo ou mesmo problemas que nos afetam no dia-a-dia. Como ele, devemos permanecer fortes e corajosos, independentes dos desafios que a vida nos traga. Assim, como Jorge, havemos de vencer.
 http://www.comamor.com.br/jorge.htm

Por que as pessoas altas são mais saudavéis

Especial

Pessoas com maior altura também tendem a ser mais bem-sucedidas. Pesquisas mostram que o brasileiro cresceu nos últimos 30 anos

O brasileiro cresceu 7 centímetros nos últimos trinta anos. Dados do Exército mostram que entre 1980 e 2010 a média de altura dos jovens que se alistaram saltou de 1,67 metro para 1,74 metro de altura. A altura é um indicador de saúde confiável, capaz de traduzir as mudanças econômicas e sociais pelas quais o país passou ao longo das últimas décadas. O investimento na vacinação em massa, melhores condições sanitárias, o controle de doenças infecciosas, como a diarreia, e um cardápio mais completo desde a primeira infância são os principais fatores que resultaram em uma população com centímetros a mais. "O estímulo aos exames pré-natais, o incentivo ao aleitamento materno e uma alimentação rica produziram crianças mais bem nutridas", diz Daniel Magnoni, nutrólogo e cardiologista do Hospital do Coração, em São Paulo. "O brasileiro só era mais baixo porque se alimentava mal." De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, atualmente somente 7,2% das crianças entre 5 e 9 anos têm déficit de altura. Em 1974 (quando o primeiro indicador foi publicado), 29,3% das crianças apresentavam o problema.
Aos olhos da evolução, a altura pode traduzir o efeito de uma boa nutrição desde a infância. Além disso, os mais baixos e com índice de massa corporal (IMC) menor têm mais doenças. Um trabalho realizado com 22 000 pessoas e publicado no periódico científico American Journal of Cardiology mostrou que homens mais altos tinham 24% menos risco de sofrer de insuficiência cardíaca. "A evolução nos moldes de Darwin e a migração dos povos provavelmente não tiveram muito a ver com o aumento da altura da população nos últimos dois séculos", afirma o economista americano John Strauss, professor da Universidade do Sul da Califórnia. "Já a melhora na nutrição e as revoluções agrícolas aperfeiçoaram as condições de saúde pública e os conhecimentos médicos." A altura está associada também à produtividade, ao poder e ao sucesso. Pessoas mais altas são consideradas mais inteligentes e conseguem aumento de salário com mais facilidade do que as mais baixas. Medir 5 centímetros a mais do que os colegas de trabalho garante um salário 1,5% maior, ou 950 dólares suplementares no fim do ano (veja o quadro). A altura é um quesito crucial até para a liderança. Entre 1789 e 2008, 58% dos candidatos mais altos à Presidência dos Estados Unidos ganharam as eleições. Barack Obama tem 1,85 metro. O republicano Mitt Romney, 1,88 metro.

A janela dos 2 anos

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OPORTUNIDADES - Do ponto de vista fisiológico, o início da infância é o período de ouro no desenvolvimento do ser humano
A boa nutrição e a prevenção de doenças são definidoras para a longevidade de uma geração. A fase fundamental nesse processo é a que vai do nascimento aos 2 anos de idade. A chamada janela dos 2 anos é o período em que a criança, do ponto de vista fisiológico, tem suas maiores oportunidades. É um tempo crucial, mas também muito delicado. Um quadro de infecção grave ou desnutrição, por exemplo, pode determinar um crescimento abaixo do potencial máximo permitido, é claro, por suas características genéticas. Segundo especialistas, nos primeiros 24 meses de vida a criança está em franca formação de sua estatura e de suas funções neurológicas e psicomotoras. "Durante o primeiro ano de vida, a criança tem um ganho de pelo menos 50% na estatura. Do primeiro para o segundo ano, o crescimento é de 15% a 25%", diz o pediatra Marcelo Reibscheid, do Hospital São Luiz, de São Paulo. "Durante o estirão pré-puberal, que acontece geralmente aos 12 anos e é o maior dessa fase, a criança cresce de 8% a 12% em relação a sua altura. Ou seja, a parte mais significativa da aquisição da altura acontece até os 2 anos de idade." No livro The Changing Body (O Corpo em Transformação), coordenado pelo prêmio Nobel Robert Fogel, são apresentadas as conse­quên­cias de uma severa desnutrição: "Crianças desnutridas pontuam menos em testes de função cognitiva, têm o desenvolvimento psicomotor e de coordenação prejudicado, apresentam menores níveis de atividade e de interação com o ambiente que as cerca". Além disso, ao nascer, o bebê ainda não está com o seu sistema imunológico totalmente formado.
Até os 9 meses de idade, a criança está protegida de algumas infecções virais, como o sarampo e a rubéola, pelos anticorpos transmitidos pela mãe durante a gravidez e o aleitamento. A imunização nessa fase é tão importante que, até os 24 meses de vida, uma criança recebe mais de uma dezena de vacinas, se for seguido o calendário básico de vacinação. "Toda doença infecciosa, bacteriana ou viral gera uma grande liberação de radicais livres, alterando o bom funcionamento do organismo", diz o infectologista Paulo Olzon, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). "Quando essa infecção ocorre durante a infância, há o risco de diminuição tanto da qualidade quanto da expectativa de vida." Em seu livro, Fogel cita um estudo sueco no qual é relacionada a quantidade de infecções às quais um indivíduo é exposto quando criança com sua longevidade. "Viver mais não depende apenas do acesso a nutrientes (tanto no útero quanto durante a infância), mas (também) da exposição a infecções", afirma Fogel.

Por que alguns centímetros a mais fazem diferença

Como a estatura influencia no sucesso da vida pessoal e profissional
Os adolescentes mais baixos participam menos de atividades sociais e têm pouca autoestima, o que impacta o futuro profissional
Cinco centímetros a mais na altura equivalem a um salário 1,5% maior, ou a 950 dólares a mais no fim do ano
Entre 25 e 34 anos, 10 centímetros de diferença na altura entre uma pessoa e outra podem ser traduzidos em 1,5 ano a mais de escolaridade
Pessoas mais altas são consideradas mais inteligentes e ganham aumento de salário com mais facilidade
Quanto maior a altura de um homem, mais feliz ele é
http://veja.abril.com.br/noticia/saude/altura

Supremo barraco

Justiça

Animosidade entre ministros do STF chega a um nível jamais visto, e ameaça arranhar a imagem da mais alta corte de Justiça do país - o que só interessa aos mensaleiros às vésperas do julgamento mais emblemático do tribunal

Mirella D'Elia
Os ministros do STF Joaquim Barbosa e Cezar Peluso Os ministros do STF Joaquim Barbosa e Cezar Peluso: em pé de guerra (AE e STF)
O cenário era de pompa. Em um dos mais luxuosos espaços para eventos da capital federal, a nata do Judiciário se reuniu até a madrugada desta sexta-feira para homenagear  o novo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), o sergipano Carlos Ayres Britto, de 69 anos, empossado horas antes para um mandato de apenas sete meses, uma vez que a aposentadoria é compulsória para os magistrados aos 70 anos. À primeira vista, o clima era de celebração. Ao espectador mais atento, no entanto, ficou evidente que não era bem assim.
 
De um lado, Ayres Britto, em êxtase, recebia os cumprimentos dos convidados e mal conseguia circular no salão lotado. De outro, ministros desabafavam, criticavam os colegas e lavavam roupa suja. Uma entrevista publicada nesta sexta-feira pelo jornal O Globo, em que Joaquim Barbosa chama o colega Cezar Peluso, que acaba de encerrar o seu mandato como presidente do STF, de "ridículo", "brega", "caipira", "corporativista", "desleal", "tirano" e "pequeno", escancarou o que já estava patente na noite de ontem: a animosidade entre os ministros do STF chegou a um nível jamais visto, e ameaça arranhar a imagem da mais alta corte de Justiça do país.
 
Gota-d'água - A fala de Barbosa foi resposta a uma outra entrevista, concedida por Peluso ao site Consultor Jurídico, em que ele tachou o colega de inseguro e dono de temperamento difícil. Barbosa já tinha dado uma mostra de que aumentaria o tom e responderia sem dó às declarações de Peluso na noite de quarta-feira. "O Peluso se acha. Ele não sabe perder", disse, na ocasião, a um pequeno grupo de jornalistas, nitidamente abatido e muito irritado.
 
Barbosa parecia muito cansado e, por vezes, até mesmo constrangido na solenidade de posse, na noite de quinta-feira, no edifício-sede do STF. O ministro, que operou o quadril e tem um crônico problema de coluna, não conseguiu ficar de pé até o fim para receber os cumprimentos dos cerca de 2 000 convidados. Teve passagem discreta pela recepção que se seguiu. Ele assumirá o comando do Supremo em novembro, com a aposentadoria de Ayres Britto. "Aí vocês verão o tamanho da incompetência dele", disse um dos magistrados. Já o ministro Cezar Peluso fugiu da imprensa após as bombásticas declarações, em que apontou a metralhadora também para outros alvos, como a presidente Dilma Rousseff e a corregedora nacional de Justiça Eliana Calmon.
 
O clima está tão pesado que surpreende até mesmo quem já comandou o Supremo. "É inconcebível que a mais alta corte tenha membros se digladiando quando, afinal de contas, todos estão ali para servir a uma causa, a da Justiça", diz o ex-presidente do STF Carlos Velloso, que presidiu a corte entre 1999 e 2001. "Isso nunca existiu no Supremo Tribunal Federal. É claro que num tribunal com homens de personalidade, todos com alto saber jurídico, surgiam divergências e muitas vezes as discussões se tornavam ásperas, mas ficavam sempre no campo das ideias". 
 
O novo chefe do STF, Ayres Britto, não pretende intervir - pelo menos por enquanto. "Vou esperar a poeira baixar", disse a interlocutores. Para Velloso, ele pode atuar como "bombeiro" em sua gestão. Divergências à parte, o fato é que o Supremo precisa arrumar a casa e se preparar para analisar o maior escândalo do governo Lula. O julgamento vai durar semanas - só para a sustentação oral dos acusados, por exemplo, serão necessárias cerca de 40 horas. Enfraquecer a imagem da corte com picuinhas entre seus integrantes, em momento tão crucial para a democracia brasileira, só interessa a quem está no banco dos réus.

Jô Soares entrevista Fernanda Abreu

Fernanda Abreu - Jorge da Capadócia (Oração a São Jorge).

Oração a São Jorge "Por Pedro Bial"

Segundo PF, Senador negociou dívida pela Delta com prefeito do PT, que teria pedido propina

Em 22/04/2012
às 7:07
Por Fernando Mello e Leandro Colon, na Folha:
Três diálogos captados pela Polícia Federal indicam que o senador Demóstenes Torres (ex-DEM) negociou para que a Prefeitura de Anápolis (GO) pagasse R$ 20 milhões à empreiteira Delta. Tratava-se de dívida que, anteriormente, pertencia à Queiroz Galvão e que, segundo os áudios, foi “comprada” pela Delta por R$ 4,5 milhões. A prefeitura confirma a negociação, mas diz que a dívida ainda não foi paga.O dinheiro se referia ao contrato de recolhimento do lixo, que já foi feito pela Queiroz Galvão e hoje está sob responsabilidade da Delta. As conversas são usadas pela Procuradoria-Geral da República para apontar indícios de que Demóstenes seria “sócio oculto” da Delta.
Em diálogo gravado em 9 de julho de 2011, Demóstenes relatou a Cachoeira detalhes da reunião prefeito de Anápolis, Antonio Gomide (PT).Demóstenes disse a Cachoeira que o prefeito concordava em pagar 50% por meio de precatórios e negociar os outros 50% da dívida.O senador afirmou que, em contrapartida, Gomide disse que queria “por mês tanto, que eu tô no fim da minha gestão e preciso ganhar a eleição”. Cachoeira responde: “Ele só quer graça”. Na mesma conversa, Demóstenes diz a Cachoeira que o prefeito havia marcado um encontro com Claudio Abreu, então diretor da Delta no Centro-Oeste. “Ele pediu pro Claudio voltar a falar com ele de novo”, disse Demóstenes.
PROPINA
Em outro diálogo, gravado três dias depois, Claudio Abreu conversou com Cachoeira e deu a entender que o prefeito pediu propina.Abreu relatou a Cachoeira ter dito a Antonio Gomide: “Não dou conta de dar 10 mil procê, Antônio”. O prefeito diz que os “10 mil” referiam-se a “asfalto” e que nunca falou sobre o assunto da dívida com Demóstenes.
(…)
Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/segundo-pf-senador-negociou-divida-pela-delta-com-prefeito-do-pt-que-teria-pedido-propina/ 

às 7:09 Datafolha e fator escândalo: cresce popularidade de Dilma. E duas perguntas absurdas do Datafolha



Em 22/04/2012
O Datafolha fez uma nova pesquisa sobre a popularidade de Dilma Rousseff. Voltou a subir. O governo é considerado “ótimo ou bom” por 64% dos brasileiros — 59% em janeiro. Para 29%, é regular, e apenas 5% o consideram ruim ou péssimo. O resultado, extremamente favorável à presidente, não tem nada de surpreendente. Os fatores que mantinham já elevada sua avaliação não se alteraram de janeiro para cá. Assim, não havia razões para queda.
Eu já havia escrito aqui, vocês acham em arquivo, que o escândalo Cachoeira, que colheu o senador Demóstenes Torres (GO) em cheio (num primeiro momento; agora a coisa se ampliou), tenderia a elevar a popularidade da presidente: sempre que o Congresso se dana, a reputação do Executivo tende a crescer. Isso, então, é ainda mais verdadeiro no que diz respeito a Dilma. Sua marquetagem pessoal tem sido bem-sucedida em fazer dela uma não-política, uma espécie de bedel austera, que lamenta os maus hábitos alheios. Afinal, foi assim que ela demitiu sob suspeita de corrupção seis ministros que ela mesma nomeou e ainda faturou com isso: “Essa é danada! Corrupto com ela não tem vez!!!” Até parecia que tinham sido nomeados pela oposição…
Perguntas absurdas
Tivesse parado por aí, o Datafolha teria ido bem. Mas resolveu fazer duas perguntas absolutamente despropositadas. Se houver justificativa técnica para elas, publicarei com o maior prazer. Segundo o jornal, o instituto quis saber “quem deveria ser o candidato do PT em 2014: Dilma ou Lula”. Ai escreve: “Ele é o predileto de 57% dos brasileiros para disputar novamente o Planalto daqui a dois anos e meio. Outros 32% citam Dilma. Para 6%, nenhum dos dois deve concorrer. E 5% não souberam responder”.
Não dá! É o tipo de especulação que ao eleitor que não vota no PT diz pouca coisa. Sabedor de que Lula é quem manda no partido — e será ele o candidato se quiser ser e se a saúde permitir —, pode entender esse “deveria” como a possibilidade mais plausível, não como expressão de uma vontade ou de um desejo. Outros tantos, mesmo petistas e igualmente sabedores do poder do ex-presidente na legenda, podem citar seu nome apenas porque consideram essa hipótese mais plausível. Assim, ainda que essa indagação fosse feita apenas aos eleitores do PT, o resultado já seria duvidoso — ao menos com a pergunta feita desse modo.
Uma outra questão consegue ser ainda mais aloprada e parece caracterizar mera pegação no pé do tucano José Serra, especialmente quando ele disputa uma nova eleição. Se o segundo turno fosse hoje, como votaria o eleitor? Dilma ficou com 69% dos votos contra 21% do tucano. Se o Datafolha já fez antes tal exercício, não sei. Se fez, trata-se de uma besteira que se repete. A presidente está na TV todos os dias; Serra não! Ela conta com uma máquina de propaganda gigantesca; ele não! Pode-se dizer que está em permanente campanha; o tucano não!
Se ela fizesse um governo considerado desastroso, é evidente que não colheria resultado tão bom! Mas já se sabe que não é assim. Uma pergunta como essa mede, na verdade, a aprovação pessoal da presidente. Tanto é verdade que, nesse quesito, ela alcança 68%. Se o Datafolha quiser fazer a coisa certa, embora me pareça um pouco cedo, então que projete a coisa para o futuro e teste cenários eleitorais para 2014 — e não para 2010!!! Aí, sim, simule o confronto de Dilma com Serra e com outros nomes da oposição.
Por Reinaldo Azevedo
 http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/datafolha-e-fator-escandalo-cresce-popularidade-de-dilma-e-duas-perguntas-absurdas-do-datafolha/

O PT inaugurou no Brasil os “movimentos sociais” em defesa da corrupção! Não chega a ser inédito no mundo! O fascismo já havia chegado lá

Em 22/04/2012
às 7:11
Milhares de pessoas, não muitos milhares, saíram às ruas ontem em 80 cidades brasileiras cobrando celeridade do STF no julgamento do mensalão e protestando contra a corrupção. “Celeridade” nem é uma palavra tão boa assim. No dia 6 de junho, a entrevista que Roberto Jefferson concedeu à Folha denunciando o mensalão — à boca pequena, a suspeita estava em todos os cantos e era amplamente comentada por políticos e jornalistas — completa sete anos. Larápios que deveriam estar na cadeia só engordaram, nesse tempo, a sua conta bancária e conspiraram em quartos de hotel, explorando uma espécie de lenocínio contra as instituições e o estado de direito.
Publiquei algumas fotos das manifestações. Numa delas — e a imagem é recorrente em várias cidades —, uma jovem aparece com o rosto pintado de verde e amarelo, remetendo aos caras-pintadas de 1992, que concorreram para a queda de Fernando Collor. O mesmo Collor que agora integrará a CPI do Cachoeira como força auxiliar do PT.
Não, senhores! O PT e os ditos movimentos sociais não participaram do protesto, é claro! Eles agora são poder. Em 1992, estavam na oposição. Para petistas e assemelhados, denunciar corruptos quando se está na oposição é mister; protegê-los, quando se está no governo, é um dever. Para os petistas, o mal não está na corrupção em si, mas em quem a pratica. No adversário, é uma falha grave; nos companheiros, é apenas uma ação tática — ou estratégica, a depender do teórico — para combater “a direita” e “os conservadores”.
Aquela moça de cara pintada nos lembra que Lindberg Farias, por exemplo, presidente da UNE em 1992, passados 20 anos, é senador do Rio pelo PT. Por que ele engrossaria agora uma passeata em favor da punição dos mensaleiros? José Dirceu, um dos mais buliçosos articuladores dos movimentos — JUSTIFICADOS, É BOM QUE FIQUE CLARO! — em favor do impeachment de Collor, está empenhado agora em revistar a história e negar o óbvio: os crimes cometidos pelos mensaleiros e pelo chefe da quadrilha.
Por isso, os petistas e os movimentos sociais que eles controlam não vão às praças. Ao contrário. Quando Dirceu é chamado a falar em fóruns de esquerdistas, alguns deles promovidos, direta ou indiretamente, com dinheiro público, a saudação é outra: “José Dirceu guerreiro/ herói do povo brasileiro”. O PT tenta deixar um legado na política brasileira: a corrupção praticada por esquerdistas é apenas um ato de resistência. Antes que avance, uma consideração importante: não pensem que o partido inova ao fazer tal avaliação. Essa amoralidade constitui a essência do próprio pensamento de esquerda, revelada, já comentei aqui, de forma cristalina por Sartre na peça “As Mãos Sujas”. Tentem encontrar num sebo e leiam (depois ele virou um comunista cretino). Ali está a essência de como as esquerdas, mesmo a “melhor” esquerda, lidam com o crime. Para elas, o que determina se uma ação é criminosa ou não são os seus objetivos. Se servirem ao que chamam “libertação dos oprimidos”, tudo é permitido — e, pior do que isso, tudo passa a ser necessário, desde que assim decida o partido. Não é diferente do fascismo — só que este fala em nome do “estado”. Igualam-se no ódio à democracia e ao liberalismo.
Um pouco de história
Não sei para onde caminha a sociedade brasileira — não tenho bola de cristal. Os que me leem desde a revista República (e o PT ainda era oposição) ou, um pouco mais tarde, desde Primeira Leitura, sabem que nunca fui exatamente otimista. Há muitos anos me incomoda a agressão sistemática promovida por forças do establishment (e o PT já era establishment quando oposição) contra as instituições. Em 2003, fui convidado a falar num seminário promovido pelo PSDB. Discutia-se qualquer coisa como “os caminhos da oposição”. Cheguei a escrever um artigo para a revista da Fundação Teotônio Vilela. Afirmei então, para espanto (e discordância) de muitos tucanos presentes — nunca fui ligado ao PSDB, como sabe ao partido, porque repudio sua esquerdofilia —, que os petistas tendiam a fagocitar (um neologismo derivado do substantivo “fagocitose”) instituições, partidos conservadores, movimentos sociais, entidades de classe trabalhadoras e patronais… Lembro-me de certo espanto dos presentes. Alguns me olhavam indagando: “Quem é esse paranoico aí?’ Pois é…
O meu antípoda da tarde foi o sociólogo Sérgio Abranches, que tranquilizou a todos afirmando que as virtudes do “presidencialismo de coalizão” impediriam aventuras autoritárias do PT. A minha tese não era — e nunca foi a de que o petistas tentariam um golpe bolchevista (sempre achei isso uma grossa bobagem), mas a de que eles dariam um jeito de tornar irrelevantes os controles e filtros democráticos, alterando-lhes os códigos. E falei bastante sobre Antonio Gramsci. A maioria dos tucanos preferiu, visivelmente, a mirada otimista de Abranches. Talvez ela lhes parecesse menos trabalhosa do que anunciava a minha análise. Lembro-me da satisfação de alguns ali quando diziam: “Mas os petistas estão governando com o nosso programa, com os nossos marcos econômicos!”. E eu tentei: “Sei disso! Por isso mesmo, a coisa é mais séria do que parece! Eles estão sequestrando os seu valores e suas conquistas”. Em vão!
O responsável mais direto por eu ter sido convidado para aquele seminário e única liderança que concordou comigo era o então deputado federal tucano (e depois secretário-geral do partido por um tempo) Eduardo Paes, atual prefeito do Rio pelo PMDB. Paes, reitero, endossou a minha constatação de que o petismo estava se articulando como força hegemônica para fagocitar inclusive lideranças da oposição!!! O prefeito poderia dar seu testemunho se fosse o caso. Sabe que falo a verdade. Paes fez depois as suas escolhas, e eu continuei com as minhas. Ambos sabíamos, e louvo-lhe a perspicácia, para onde as coisas estavam caminhando, não é mesmo?
CPI do Cachoeira, mensalão etc
Os primeiros dados que vazaram da investigação da PF dão conta de que o bicheiro Carlinhos Cachoeira está muito mais enfronhado no estado brasileiro do que se supunha. Sozinha, a Construtora Delta pode fazer tremer a República. A CPI seria, sim, um bom momento e um bom lugar para desbaratar o esquema criminoso. Mas já dá para saber que isso não vai acontecer. Ao contrário: os que se moveram, inicialmente, em favor da comissão de inquérito não querem fulminar o esquema criminoso. Ao contrário: usuários e usurários da sem-vergonhice, pretendem apenas fazer valer a maioria de votos de que dispõem na comissão (25 a 6) para intimidar a oposição e para demonstrar que a política brasileira é mesmo essencialmente suja — logo, os crimes do mensalão, que hoje eles negam (contra todas as evidências), ainda que tenham existido, não teriam sido excepcionais.
Vocês são testemunhas de que este blog foi pioneiro em chamar a atenção para essa pilantragem, ainda no dia 1º de abril.  Aí Lula (por intermédio de Paulo Okamoto), Rui Falcão e o próprio Dirceu anunciaram a intenção de usar a CPI do Cachoeira para tentar desmoralizar a peça acusatória do mensalão. Como a coisa pegou mal, tentaram recuar. Mas, vocês sabem, eu não sou petista nem gosto do PT. Assim, é razoável que alguns duvidem do que escrevo a respeito das intenções desses patriotas. Então por que não acreditar no que escreve Kennedy Alencar, insuspeito de antipetismo ou de isenção no que diz respeito ao partido? Leiam:
“Quem conversou recentemente com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o ex-ministro José Dirceu e com cardeais petistas obteve algumas pistas que ajudam a explicar a origem dessa CPI. Em resumo, Lula e Dirceu não pretendem aceitar que o mensalão passe para a história como o escândalo de corrupção mais grave dos 512 anos de existência do Brasil.
Lula e Dirceu estariam dispostos “a dividir o país”, nas palavras de um cardeal petista, para evitar que o mensalão seja catalogado como o maior caso de corrupção da história. Isso significa mobilizar os setores mais organizados da sociedade que defendem o PT para uma batalha nas ruas, nas redes sociais e nas articulações em Brasília.”
Huuummm… Quem terá conversado com toda essa gente, hein? Kennedy certamente tem menos dificuldades para falar hoje com Lula do que quando era, oficialmente, seu assessor de imprensa. Se ele diz que o objetivo desses fidalgos da República é só livrar a cara dos mensaleiros, então convém acreditar. As afirmações que fiz no dia 1º de abril não eram só um delírio de um notório crítico do PT. Elas expressavam os delírios daqueles petistas. Não precisei falar com Lula, Dirceu e os cardeais para concluir isso precocemente. A lógica continua a ser uma boa fonte do analista. Com frequência, é melhor do que os políticos, que sempre tentam engabelar jornalistas. A lógica não engabela ninguém.
Fascistoides
O fascismo tem características múltiplas, muitas faces e cor local. O italiano foi diferente do alemão, que foi diferente do português, que foi diferente do espanhol, que foi diferente do da República de Vichy… Com um núcleo comum de valores, cada qual teve as suas especificidades. Uma das características comuns foi o estado de permanente mobilização da sociedade contra “eles”, os “inimigos” — fossem chamados de “judeus”, “comunistas”, “imorais”, “liberais”… Essa sociedade permanentemente crispada pelo estado, estimulada a reivindicar seus direitos contra “eles” — nunca contra o estado —, costumava ir às ruas fazer protestos, exigindo reparações. Vale dizer: uma das características essenciais de qualquer fascismo se revela quando movimentos oficialistas pretendem tomar o espaço da contestação. Ou por outra: você está num regime fascista ou fascistóide quando forças da ordem tomam o lugar das forças de repúdio à ordem.
Não é isso o que vemos hoje? A canalha pode não estar nas ruas, mas se organiza na Internet, aparelhando sites dos grandes veículos de comunicação, as redes sociais, os ditos “movimentos sociais”… Incluem-se no grupo, é evidente os subjornalistas de aluguel, sustentados pelo governo ou pelas estatais. Esses vagabundos fazem o protesto a favor do establishment, a favor do poder, ainda que contra a noção mais comezinha de moralidade. E daí?
“O mensalão nunca existiu”, eles sustentam; tudo invenção da imprensa em conluio com Carlinhos Cachoeira. Muito bem… Mas o que o bicheiro tem a ver com a dinheirama movimentada por Marcos Valério ou com o pagamento a Duda Mendonça feito no exterior? Nada! Kennedy nos ensina:
“Quando fala em ‘farsa do mensalão’, o ex-presidente busca relativizar o que ele mesmo sabe ser um desvio de conduta grave de uma legenda que nasceu se dizendo defensora da ética na política. Lula já disse que o PT errou, mas tenta minimizar o episódio, dando a ele ar de financiamento eleitoral e partidário ilegal.”
Eu diria que o próprio Lula consegue ser mais severo com o PT do que o autor do texto. Eu diria que a expressão “financiamento eleitoral e partidário ilegal” consegue ser mais grave do as palavras cândidas escolhidas pelo articulista para definir o mensalão: “desvio de conduta grave”. Imaginem! Se você cruzar com um mensaleiro na rua ou no aeroporto, não hesite em ser duro com ele: “Você não passa de um sujeito com a conduta desviada!” No caso de ser um estuprador compulsivo, seja fulminante: “Sua conduta desvia da norma culta!” Seja implacável!!
A propósito: se Lula sabe que o mensalão foi um “desvio de conduta grave”, o que isso tem a ver com as outras picaretagens de Cachoeira? Em que estas minimizariam aquelas? A pergunta não tem resposta.
Essa movimentação a soldo na Internet, especialmente aquela que se faz contra a imprensa — como se as comprovadas malandragens de petistas fossem uma invenção do jornalismo em associação com Cachoeira —, é só uma das faces dos fascistóides. Sua expressão mais visível é a mobilização a favor da corrupção e de corruptos.
Os protestos de ontem em favor do julgamento do mensalão mostram que a sociedade ainda respira.
Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/o-pt-inaugurou-no-brasil-os-%E2%80%9Cmovimentos-sociais%E2%80%9D-em-defesa-da-corrupcao-nao-chega-a-ser-inedito-no-mundo-o-fascismo-ja-havia-chegado-la/ 

Gravação traz conversa de homem da cúpula da Delta com Cachoeira

Em 23/04/2012
às 6:29
Por Natuza Neryu, Andreza Matais e Catia Seabra, na Folha:
O diretor-executivo da empreiteira Delta, Carlos Pacheco, é citado em ao menos sete conversas do empresário Carlinhos Cachoeira -preso na Operação Monte Carlo- nas quais são discutidos negócios e marcados encontros. Diálogos interceptados pela Polícia Federal, aos quais a Folha teve acesso, põem em xeque a versão da empresa. A Delta afirma que as eventuais relações da construtora com Cachoeira se referem apenas ao ex-diretor da empresa para a região Centro-Oeste, Claudio Abreu, já afastado, e não à sua cúpula. Maior recebedora de recursos federais desde 2007, a Delta deve ser investigada na CPI do Cachoeira, a ser instalada nesta semana no Congresso.
“TAMO JUNTO”
Um diálogo entre Cachoeira e Abreu, gravado em 12 de julho de 2011, foi acompanhado por Pacheco pelo viva voz, segundo dizem os dois. Abreu relata que outras empreiteiras estavam interessadas na parte de Cachoeira em um negócio não especificado na conversa. “Os cara tava [sic] querendo dividir os 25% seu em participação, e nós íamos consultar você pra saber, você quer ficar é com a gente, né? Os 25% seu com a gente, não é isso?”, pergunta Abreu. “Exatamente, você lembra que o Pacheco falou que ainda ia vender pra eles lá parte do projeto, da entrada, né? Vamo fazer isso, é com vocês aí, nós tamo junto”, responde Cachoeira. “Fala pro Pacheco que ele não pode sumir de Goiânia senão acaba tendo uma bola nas costas”, continua Cachoeira. “Eu botei no viva voz de novo. Repete aí [Cachoeira]. Aí cara, nós tamos rindo aqui”, responde Abreu.
Em outro diálogo, no mesmo dia 12 de julho, Cachoeira e Abreu discutem como reunir “1,5 milhão” em espécie, sem especificar a moeda nem para qual objetivo. “Eu programei com o Pacheco aqui os outros em euro. Eu sei que até dia 31 o Pacheco vai me mandar 2 milhões bruto”, diz Abreu. Em 16 de junho de 2011, Abreu diz a Cachoeira que está com Pacheco no carro. “Ele [Pacheco] quer trancar numa sala com você pra gente definir aqueles ‘trem’ lá.” “Estarei lá”, diz Cachoeira.
(…)
Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/gravacao-traz-conversa-de-homem-da-cupula-da-delta-com-cachoeira/ 

Após constatação de fraudes, Delta celebrou 31 novos contratos com o governo federal, no valor de R$ 758 milhões



Em 23/04/2012
às 6:35
Por André de Souza, no Globo:
Após ser apontada como líder de um esquema de corrupção que desviou milhões de reais dos cofres da União e veio a público em agosto de 2010 - na Operação Mão Dupla, feita pela Controladoria-Geral da União (CGU) com a Polícia Federal (PF) - a construtora Delta continuou assinando contratos de alto valor com órgãos federais. Desde que o governo tomou conhecimento das graves irregularidades cometidas pela empreiteira em obras de rodovias no Ceará, foram assinados 31 novos contratos com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), no valor total de R$ 758 milhões.
A Operação Mão Dupla identificou fraudes em licitações, superfaturamento, desvio de verbas, pagamentos de propina, pagamentos indevidos e uso de material de qualidade inferior ao contratado em obras de infraestrutura rodoviária sob o comando do Dnit feitas pela Delta e outras 11 empreiteiras. A investigação resultou na prisão do então superintendente do Dnit no Ceará, Joaquim Guedes Martins Neto, que, segundo a CGU, tinha, em 2008, “rendimento incompatível com a renda auferida pelo agente público”, e do diretor da Delta Aluízio Alves de Souza.
Na época, a CGU informou que detectara “um prejuízo estimado em R$ 5 milhões aos cofres públicos da União, afora o risco social decorrente da execução de obras de infraestrutura rodoviária fora das devidas especificações técnicas”. No sábado, o ministro da CGU, Jorge Hage, reconheceu que as irregularidades apontadas pela Mão Dupla são graves. Mas isso não impediu que o Dnit celebrasse novos contratos com a Delta, sendo três deles (no valor total de R$ 9,6 milhões) no Ceará, onde foram detectadas as irregularidades em 2010. Trata-se da conservação e da recuperação de trechos das BRs 116, 437 e 230.
Os contratos firmados desde agosto de 2010 são para construção, duplicação, adequação ou manutenção de 19 rodovias em 17 estados. Além disso, em setembro de 2010, através de consórcio com outras duas empresas, a Delta conseguiu fechar com a estatal Valec um contrato de R$ 574,5 milhões para tocar as obras do lote um da Ferrovia Oeste-Leste, na Bahia. O Dnit e a Valec são ligados ao Ministério dos Transportes.
A empreiteira ganhou destaque recentemente no noticiário por suas ligações com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, preso pela PF em fevereiro na Operação Monte Carlo. Hoje, a CGU promete abrir processo administrativo contra a Delta. O resultado dessa investigação poderá tornar a empresa inidônea, o que implica a proibição para firmar novos contratos com o governo federal. Além do Ceará, foram assinados contratos entre o Dnit e a Delta para obras em Alagoas, Amazonas, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rondônia, Sergipe e Tocantins. Dos 31 contratos, apenas um, de R$ 115 milhões, em Goiás, foi paralisado. Desse valor, o Dnit já pagou R$ 8,8 milhões à Delta.
Vinte e cinco contratos, no valor de R$ 611,7 milhões, constam como ativos. Outros três foram cadastrados no início de 2012 e totalizam R$ 13,6 milhões, mas as obras ainda não começaram. Dois contratos, no valor de R$ 17,8 milhões, já foram concluídos. Desse montante, R$ 15,6 milhões foram pagos à construtora, segundo o próprio Dnit. Em agosto de 2010, na Operação Mão Dupla, a PF cumpriu 52 mandados de busca e apreensão, 23 de prisão temporária e um de prisão preventiva. Houve ainda o afastamento cautelar de oito servidores públicos e sequestro de bens em Fortaleza e no interior do Ceará. A CGU analisou oito contratos e detectou irregularidades em sete, referentes a quatro obras, dentre as quais duas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Uma delas é a duplicação de uma ponte na BR-304, sobre o Rio Jaguaribe, no município de Aracati, orçada em R$ 30 milhões. A obra foi iniciada pela Delta em 2002 e, por sete anos, as fundações permaneceram de molho nas águas do rio, enquanto a travessia era feita pela ponte velha. A Delta, que desistiu de construir a ponte, alegou “elevação dos custos que dificultaram a realização do projeto inicial previsto no edital”. Segundo Hage, o processo admistrativo disciplinar contra o então superintendente regional do Dnit no Ceará e outros seis servidores pode resultar em demissão. Na última sexta-feira, o Ministério Público Federal propôs ação penal contra os servidores do Dnit no Ceará e contra a Delta por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, corrupção passiva e ativa com base nos resultados da Operação Mão Dupla. Procurado para manifestar-se sobre a assinatura dos contratos, o Dnit informou, por meio da assessoria, que vai esperar a decisão da Justiça e da CGU para tomar medidas em relação à Delta. “A empresa não é considerada inidônea ainda”, destacou a assessoria.
O grande número de contratos com órgãos públicos obtidos pela Delta se refletem em seu faturamento. Dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) mostram que até 100% dos ganhos da construtora vêm de contratos com o setor público. Entre as seis maiores empreiteiras do Brasil, a Delta é a única que se dedica quase exclusivamente à construção de pontes, viadutos, estradas, túneis, aeroportos e projetos de saneamento. A construtora teria realizado obras para a iniciativa privada nos anos de 2007, 2008 e 2011, mas manteve um percentual acima de 97% de projetos destinados a prefeituras, estados e União. Os maiores percentuais de crescimento da Delta ocorreram em 2006/2007 (67%) e em 2009/2010 (51%).
Por Reinaldo Azevedo
 http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/apos-constatacao-de-fraudes-delta-celebrou-31-novos-contratos-com-o-governo-federal-no-valor-de-r-758-milhoes/

O STF, a voz rouca, a voz louca, a lei, os quilombolas, os índios, as minorias barulhentas, a maioria silenciosa… Ou: Sem o STF, só resta o golpe de estado, excelências!

Em 23/04/2012
às 6:37
O novo presidente do Supremo Tribunal Federal, Ayres Britto, quer realizar, no máximo até amanhã, uma reunião interna com seus pares para tentar pacificar o tribunal. A crise se instalou em razão de uma entrevista em que Cezar Peluso afirmou que Joaquim Barbosa é inseguro, tecendo algumas considerações um tanto irônicas sobre problemas de saúde do outro, que o levaram a faltar bastante. Em resposta, Barbosa desqualificou seu crítico com uma saraivada impressionante de adjetivos — entre os quais “brega e caipira”. Mas isso ainda parecia coisa de normalistas. Ultrapassou a linha do tolerável ao acusar Peluso de manipular decisões tomadas pela corte quando estava na Presidência. Aí a coisa é pesada institucionalmente!
Fosse isso verdade — felizmente, não é!!! —, as decisões a que ele se refere seriam ilegítimas. Barbosa, que vai presidir o Supremo daqui a oito meses, tem de saber que o tribunal é o remédio que remedeia os remédios, como dizia Padre Vieira. Entendeu, ministro? Depois de vocês, não há mais nada. Só o golpe de estado… Se o país não pode confiar na sua corte suprema, apelará a quem? Deus, a gente já viu, anda em baixa no Supremo, não é mesmo? Depois das lições todas que tivemos de laicismo pedestre na votação sobre o aborto de anencéfalos, acredito que há ministro achando que é Deus…
Ideologia
O tribunal tem decisões difíceis pela frente, que mexem com valores, grupos organizados de pressão, ideologias. Os debates podem ser acalorados. Qual vai ser o padrão dos ministros? O da ofensa, do xingamento, do dedo no olho? Com alguma frequência, e notei isso mais de uma vez nas considerações sobre aborto, há ministros julgando mais os valores de seus pares do que propriamente as causas. Ouvem-se, se não com estas palavras, mas com este sentido, a censura aos “conservadores”, como se “ser progressista” fossem um dever. Pior ainda: como se “conservadorismo” e “progressismo” fossem conteúdos fechados e estanques, que herdamos do Mundo das Ideias. Querem um exemplo? A expulsão dos arrozeiros da Reserva Raposa Serra do Sol foi “progressista” ou “conservadora”? Presumo a resposta que seria dada por muita gente. Pois bem: o que há de progressista em dar um tombo da produção agrícola de um estado e enviar brancos e índios expulsos da reserva para favelas em Boa Vista? A poesia indianista de Ayres Britto, no entanto — aquele que se diz pirilampo, não camaleão — foi preservada…
Na quarta-feira, DEPOIS DE MAIS DE 11 ANOS!!!, o tribunal começou a julgar uma Ação Direta de Inconstitucionalidade movida em 2003 pelo então PFL, hoje DEM, contra o decreto nº 4.887, que trata da demarcação de terras de comunidades quilombolas. O decreto regulamenta o Artigo 68 do Ato das Disposições Transitórias da Constituição. Muito bem! Um decreto pode disciplinar uma lei, mas não um artigo da Constituição, o que é matéria para o Congresso. Foi o que apontou, com correção, o partido. Mais: aquele texto do primeiro ano do governo do Apedeuta, vejam que mimo, estabelece como critério eficiente para que se defina a legitimidade do pleito a simples autodeclaração. O que está na Constituição? Que seriam reconhecidas como áreas dos quilombolas aquelas que, na data da promulgação, estivessem ocupadas por eles. Muito bem!
Mas como resolver a questão no caso de haver conflito de propriedade e dúvida sobre a legitimidade do pleito? Ora, basta a declaração dos… interessados, com o endosso de entidades militantes ligadas à causa! Não é fenomenal? Com base nesse critério, mais de 100 títulos de propriedade já foram emitidos. E, obviamente, explodiram as reivindicações para a solicitação de reconhecimento de novas áreas. E quem é quilombola? Segundo o decreto, é quilombola quem se diz quilombola!!! Não se exige nem mesmo um laudo antropológico. Reproduzo trecho do decreto (íntegra aqui):
Art. 2o  Consideram-se remanescentes das comunidades dos quilombos, para os fins deste Decreto, os grupos étnico-raciais, segundo critérios de autoatribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida.
§ 1o  Para os fins deste Decreto, a caracterização dos remanescentes das comunidades dos quilombos será atestada mediante autodefinição da própria comunidade.
§ 2o  São terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos as utilizadas para a garantia de sua reprodução física, social, econômica e cultural.
§ 3o  Para a medição e demarcação das terras, serão levados em consideração critérios de territorialidade indicados pelos remanescentes das comunidades dos quilombos, sendo facultado à comunidade interessada apresentar as peças técnicas para a instrução procedimental.
Art. 3o  Compete ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, por meio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA, a identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas pelos remanescentes das comunidades dos quilombos, sem prejuízo da competência concorrente dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
Voltei
Muito bem… O relator do caso foi o ministro Cezar Peluso, que acolheu os argumentos do DEM — à luz da lei, como rejeitá-los? —, deixando claro, no entanto, que os títulos já emitidos não podem ser contestados. O voto seguinte era da ministra Rosa Weber, a mais nova integrante do tribunal, que pediu vista. Pois é… Apesar do conteúdo verdadeiramente escandaloso do decreto, que faz do beneficiário da demanda o seu próprio juiz, sinto certo cheiro de populismo no ar. Temo que alguns ministros, como diria Britto, tentem julgar mais com o “sentimento” do que com o “pensamento” — ou não foi exatamente isso o que se fez em Raposa Serra do Sol?
Em breve, o caso da área dos pataxós, na Bahia — eles já invadiram 68 fazendas —, será julgado. Farei ainda um texto específico a respeito. A chance de que os produtores rurais (essa gente tão detestada pelos “progressistas”) levem a pior é enorme! Afinal, eles têm de pagar um preço por formarem a categoria responsável pela estabilidade da economia brasileira, não é? E olhem que nem contam com os incentivos protecionistas que a dupla Mantega-Dilma dá à indústria… No caso da demarcação das terras indígenas — que já ocupam 14% do território brasileiro! —, fazem-se laudos antropológicos, sim. Costumam ser mais falsos do que notas de R$ 3. Estamos lidando com militância política, não com fatos.
Sim, eu temo por esse Supremo excessivamente sensível não, ATENÇÃO PARA ISTO!!!, exatamente à tal voz rouca das ruas, mas à voz daquela parcela das ruas que tem um determinado viés ideológico. INSISTO: O PROBLEMA DO SUPREMO NÃO É SE VERGAR AO QUE PENSA A MAIORIA. Se assim fosse, já seria ruim no caso de não se estar cumprindo o que está escrito. O busílis é outro: o tribunal está se mostrando excessivamente contaminado POR IDEOLOGIA. De esquerda, sim, senhores! Fosse só ecoar o que quer a maioria dos brasileiros, seria, por exemplo, hostil ao aborto. E não é, certo? O voto de boa parte dos ministros no caso dos ditos anencéfalos serve para aborto qualquer, sem especificação.
E isso é, sim, eco de algo que vem de fora — da minoria organizada. E o mesmo se diga destas outras causas em trânsito: quilombolas, terras indígenas, cotas raciais nas universidades… Temos ouvido, não raro, a defesa de que os ministros têm de ser sensíveis para às demandas da sociedade. Chama-se, então, “sociedade” a expressão das vozes das minorias barulhentas, nunca da maioria silenciosa. Mas vá lá: não contrariassem certas decisões a letra explícita da lei, tudo iria bem! Ocorre que, não raro, avalio, e não sou o único, que a tal letra tem sido desrespeitada.
Caminhando para o encerramento
Os ministros têm de se reunir, sim! O espetáculo protagonizado é deprimente. Mas não sou muito otimista, não! O clima meio conflagrado no Supremo reflete, já escrevi aqui, certo rebaixamento institucional a que tudo está submetido. É claro que os ministros não são robôs, programados para recitar a lei. Mas entendo que a um juiz do Supremo não cabe, sob nenhuma hipótese, tornar ambíguo o que é claro, incerto o que é certo, relativo o que é absoluto. Ao contrário, há de achar, quando é o caso, o claro no ambíguo, o certo no incerto, o absoluto no relativo — afinal, a sociedade é dinâmica e é confrontada, permanentemente, com realidades não contempladas nas leis. Nesse caso, resta o caminho da interpretação, da analogia, da semelhança — até, ao menos, que o Congresso se encarregue de votar uma lei específica.
Os conflitos hoje em curso nascem de certa disposição justiceira de alguns; de certa compulsão por “fazer justiça com a própria toga”, como costumo dizer — “já que o Congresso não age”, sustentam alguns. Ainda que assim fosse, ninguém conferiu a ministros do Supremo o papel de legisladores ou de reformadores do Código Penal, por exemplo. Como não conferiu aos policiais o papel de juízes — e, por isso, eles não devem decidir a sorte de um preso argumentando que “a Justiça não age”…
Vou dizer algo que dará pano pra manga, sei disso, e certamente demandará outras tertúlias.  Mas vamos lá. A composição do Supremo conta muito para sua maior ou  menos qualidade. Mas há também fatores circunstancias. Depois que as sessões começaram a ser televisionadas — tudo em nome da transparência —, exacerbou-se certo vedetismo. Temo que algumas pessoas atuem para as câmeras, mais ou menos como aqueles rapazes e aquelas moças do Big Brother. O binômio “representação-trasparência” é necessariamente antitético.
E agora para encerrar mesmo
Se os dois ministros que se ofenderam vão ou não pedir desculpas publicamente, eis um problema deles. Meu ponto é outro: é imperioso que Joaquim Barbosa retire o que disse sobre a manipulação de resultados. Enquanto persistir sem reparo a acusação do homem que vai presidir o tribunal daqui a oito meses, quem está em risco é a segurança jurídica do país.
Reitero: o STF é o remédio que remedeia os remédios. Depois dele, ministro Barbosa, só o golpe de estado!
E aí?
Por Reinaldo Azevedo
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