quarta-feira 04 2012

O fim de um personagem que enganou a si próprio

Queda

Demóstenes Torres fez fama como perseguidor implacável de criminosos. Era um personagem. De tão bom ator, passou a acreditar na própria farsa

Gabriel Castro
O senador Demóstenes Torres em Brasília O senador Demóstenes Torres em Brasília (Lia de Paula/Agência Senado)
O senador Demóstenes Torres (GO) deixou o DEM nesta terça-feira. Ameaçado por um processo de expulsão, ele fez com que a carta de desfiliação (leia a íntegra abaixo) fosse entregue por sua assessoria por volta das 12h30 desta terça-feira ao presidente da legenda, José Agripino Maia. É o primeiro passo concreto daquilo que deve ser a morte política do parlamentar, atingido por denúncias de ligação com o contraventor Carlinhos Cachoeira.
"Embora discordando frontalmente da afirmação de que eu tenha desviado reiteradamente do programa partidário, mas diante do pré-julgamento político que o partido fez, comunico a minha desfiliação do Democratas", escreveu Demóstenes no terceiro parágrafo da carta. Na primeira parte do documento, o senador apenas informou que recebeu o comunicado de que o partido havia aberto o processo de expulsão, anunciado nesta segunda-feira pela cúpula do DEM.
Nesta segunda-feira, o partido abriria oficialmente o processo de expulsão de Demóstenes. O relator do caso já havia sido escolhido: o deputado federal Mendonça Prado (SE). José Agripino Maia negou, após ter recebido a carta, que a legenda tenha pré-julgado o senador goiano: "Em absoluto. Pelo contrário: nós demos clara oportunidade dele se defender". Ainda segundo o presidente da legenda, a decisão do partido mostra que o DEM não é conivente com desvios éticos.
A opção do senador Demóstenes evita o constrangimento da expulsão, mas pode dar brechas para que o parlamentar perca o mandato. Há precedentes: então governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda deixou o cargo, em 2009, por decisão da Justiça Eleitoral. A situação era idêntica. Por ora, o DEM não pretende cobrar na Justiça o posto de Demóstenes porque o senador não deixou a legenda para se filiar a outra sigla. Mas o Ministério Público também tem poder para pedir a perda do cargo do parlamentar, com base no entendimento de que o mandato pertence à legenda.
A saída do senador confirma o isolamento do parlamentar. A falta de sustentação partidária pode facilitar uma possível cassação de mandato, embora, com votação secreta, o resultado seja incerto. De qualquer forma, o escândalo envolvendo a ligação do senador com Carlinhos Cachoeira significa o ocaso do personagem que Demóstenes havia criado – e que funcionou muito bem até agora: parece ter enganado o próprio senador.
Hábil orador, Demóstenes passou de promotor de Justiça a secretário de Segurança Pública de Goiás, cargo que assumiu em 1999 e lhe conferiu a fama de combater com eficiência o crime. O salto seguinte, em 2002, foi para o Senado Federal. Em 2010, ele foi reeleito com folga: havia se tornado uma figura de destaque no único estado do país onde o governador e os três senadores são de oposição ao PT.
O criador e a criatura - Em algum momento da caminhada, Demóstenes parece ter passado a acreditar na personagem que encarnou: a do perseguidor implacável de bandidos. Pensando estar sob proteção por usarem aparelhos habilitados nos Estados Unidos, Demóstenes e o chefe de quadrilha Carlinhos Cachoeira não se preocupavam nem mesmo em escamotear o tema das conversas usando códigos, como normalmente fazem aqueles que têm algo a esconder. Nas conversas interceptadas pela operação Monte Carlo, apareceu o verdadeiro Demóstenes.
A fama de probo também acentou a queda do senador: todos os argumentos que o democrata havia usado contra corruptos se voltaram contra ele. Mas, em vez de se apressar e oferecer explicações céleres, ele preferiu o silêncio. O velho Demóstenes talvez considerasse isso uma confissão de culpa.
Dias antes, quando tudo o que havia contra o senador eram indícios de uma amizade incômoda mas dentro da lei, Demóstenes ainda jogou com a sorte: arriscou tudo ao subir na tribuna do Senado e garantir que foi pego de surpresa pela revelação das atividades criminosas do amigo. Disse que as quase 300 ligações telefônicas ocorreram por razões pessoais – sentimentais, até. Jurou inocência.
O efeito imediato foi positivo: mais de 40 senadores, muitos deles governistas, usaram os microfones do Senado para elogiar o discurso de Demóstenes. Mas a farsa não duraria muito. Assim que surgiram as primeiras revelações de que o senador, na melhor das hipóteses, traficava influência em favor de Cachoeira, já não restava defesa possível ao ex-inquisidor de corruptos. Sobrou o silêncio.
Demóstenes deixa no já combalido DEM um vácuo de figuras promissoras. Era ele, ainda que de forma incipiente, a maior aposta do partido para o possível projeto presidencial de 2014.
Acusações - O senador Demóstenes Torres foi atingido pela operação Monte Carlo, da Polícia Federal. As autoridades desmontaram uma extensa rede criminosa comandada por Carlinhos Cachoeira, empresário e controlador da máfia dos caça-níqueis no estado de Goiás. Foram presos policiais militares, civis e federais que tinham participação no esquema. Mas a maior surpresa veio de conversas entre Demóstenes Torres e Cachoeira, interceptadas pelos policiais. Além de ter recebido do criminoso um presente de casamento no valor de 30 000 dólares, o senador foi flagrado pedindo auxílio financeiro, fazendo lobby para o contraventor e negociando o uso de um jatinho de Cachoeira.
Conversas de Cachoeira reveladas pelo Jornal Nacional tornaram a situação do senador ainda mais complicada. O chefe da quadrilha aparece negociando recursos com comparsas e, em vários trechos, cita o nome do parlamentar. Carlinhos Cachoeira chega a falar em “um milhão do Demóstenes”. Na quinta-feira, o PSOL entregou ao Conselho de Ética do Senado um pedido de abertura de processo por quebra de decoro parlamentar. E o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de inquérito contra o parlamentar.
Leia a íntegra da carta de desfiliação de Demóstenes Torres:

A Sua Excelência o Senhor
Senador José Agripino Maia
Presidente Nacional do Democratas

Senhor Presidente,
Sirvo-me do presente para a cusar o recebimento do expediente a mim enviado por Vossa Excelência na noite de ontem (02/04/2012), dando-me conta de ter o Democratas decidido em relação a minha conduta que:

"Houve desvio reiterado do Programa Partidário, principalmente no que diz respeito à ética, na medida em que exsurge, do que veiculado, estreita relação de Vossa Excelência com o citado contraventor... É inevitável a instauração do pertinente processo ético disciplinar para o fim de promover a aplicação da sanção prevista no Estatuto, qual seja a expulsão do Partido."

Assim, embora discordando frontalmente da afirmação de que eu tenha me desviado reiteradamente do Programa Partidário, mas diante do pré-julgamento público que o Partido fez, comunico a minha desfiliação do Democratas, nos termos traçados pelo artigo 1º, § 1º, inciso III, última figura da Resolução nº 22.610, de 25 de outubro de 2007.

Atenciosamente,

Senador Demóstenes Torres

 http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/o-fim-de-um-personagem-que-enganou-a-si-proprio

Dirceu vai montar equipe de campanha de Haddad; agora falta chamar Delúbio Soares para ser do caixa! (Reinaldo Azevedo da VEJA)


Escrevi ontem um texto sobre a reunião que Luiz Inácio Apedeuta da Silva manteve com José Dirceu e Rui Falcão na segunda para tratar da candidatura de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo. Apontei a imoralidade intrínseca daquele encontro no ano em que — espera-se, não é, ministro Ricardo Lewandowski? — o caso do mensalão vai ser julgado. Conta-se com um mínimo de compostura de um ex-presidente da República. É claro que pode conversar com o seu colega de partido. Discutir, no entanto, eleições com alguém acusado de ser chefe de quadrilha e que teve o mandato cassado por corrupção vai muito além das longas franjas éticas da política brasileira. É falta de vergonha na cara mesmo. Mas, como se escreveu aqui, ser petista é jamais ter de pedir perdão… Pois é! Ocorre que a informação de que dispunha ali não estava completa, não! A coisa é bem pior!
Na Folha desta quarta, Catia Seabra informa que o “chefe de quadrilha” (segundo a PGR) vai ser uma das pessoas encarregadas de montar a equipe de campanha de Haddad. Ora, onde quer que o Zé esteja — e isso não deixa de ser um elogio, né? —, ele nunca é “um dos”; ele sempre é “o”!!! Assim, tem-se que Haddad, que já é uma invenção eleitoral de Lula, será agora também um comandado de Dirceu. A sua equipe de campanha obedecerá as ordens do Zé e certamente se pautará pelas balizas éticas desse grande patriota e desse exemplo de ilibada reputação política. Uma coisa é certa: Haddad contará com o apoio entusiasmado daquela turma que digere bobó de camarão com caipirinha.
No momento em que o país é sacudido pela Operação Monte Carlo, que destruiu uma das figuras mais reluzentes do Senado — por conta de escolhas que ele fez, é bom que se destaque! — e que ameaça arrastar outros tantos (ver posts abaixo), também do PT, a principal personagem daquele que é ainda o pai de todos os escândalos assume o papel de protagonista na disputa pelo comando da principal cidade do país. Ora, deem uma boa razão para que Delúbio Soares não seja convidado para ser o caixa de campanha.
Se o chefe pode assumir tal papel de destaque, por que não o subordinado? A dupla já é colega de colunismo político. O tesoureiro da campanha de Lula de 2002 foi reintegrado ao partido e recuperou seu antigo prestígio da sigla. Se os petistas já decretaram a inocência de Dirceu, não têm por que não fazer o mesmo com Delúbio. É isto: em nome da justiça e da isonomia, vamos dar início a uma campanha: “Delúbio para caixa de campanha de Haddad”. Se o mensalão levou Dirceu a criar aquela frase de ecos hamletianos —  “Estou cada vez mais convencido da minha inocência” —, a Delúbio a gente deve o eufemismo de inflexão burocratizante para a pilantragem do caixa dois: “recursos não-contabilizados”.
A certeza da impunidade é de tal sorte; é tão ousada a aposta na memória curta do eleitorado, que o Zé é alçado ao posto de homem mais importante da campanha de Haddad, mesmo com o currículo que exibe — melhor ainda: POR CAUSA DO CURRÍCULO QUE EXIBE. Se fosse dado ao PT escolher entre a vitória em São Paulo e, sei lá, em 200 outros municípios, incluindo muitas capitais, a legenda não hesitaria um segundo: quer a maior cidade do país porque isso é considerado um passo importante para acabar com o PSDB. Os petistas consideram uma pena que não possam lograr esse intento usando a Polícia Federal — se é que vocês me entendem.
O Zé na área também é a certeza de que vem truculência por aí. O PSDB pode ir se preparando. Não será um jogo de salão. O mensalão, como sabem, foi a escolha de um método. E o homem que comandou aquele bordel político, segundo a Procuradoria Geral da República, foi Dirceu. Ele não mudou. A história demonstra que o tempo tem ressaltado e extremado os aspectos viciosos de sua ação — na hipótese, sou generoso, de que possa haver os virtuosos — um que seja…
Três semanas de noticiário bastaram para tirar Demóstenes do DEM e para liquidar com sua reputação política. Passados sete anos do mensalão, o Zé continua tão poderoso quanto antes e certamente muito mais rico, dado o dinheiro que ganhou como “consultor de empresas privadas”… Como ele mesmo disse numa entrevista, um telefonema seu para o Palácio do Planalto, afinal,  ”é um telefonema…”
Eis aí! Haddad é um títere criado por Lula e agora manipulado por Dirceu.
Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/dirceu-vai-montar-equipe-de-campanha-de-haddad-agora-falta-chamar-delubio-soares-para-ser-do-caixa/

Lula e Falcão debatem eleições com ex-deputado, cassado por corrupção e acusado pela PGR de ser “chefe de quadrilha”. Como diria Ideli, faz sentido, “meu amor”!

Em 03/04/2012
às 18:55 Reinaldo Azevedo escreveu:
O senador Demóstenes Torres (GO) já está fora do DEM e é grande a chance de que perca o mandato. Mesmo que não aconteça, é evidente que sua reputação desmoronou. Já escrevi algumas vezes o quanto isso é ruim para a oposição e também para o país. Os valores que ele encarnava e a parte visível de sua atuação eram impecáveis. Detestável é o que foi revelado pelos grampos da Polícia Federal. Grampos que — sempre é preciso dizer tudo — são empregados com diligência contra políticos da oposição, mas nunca do petismo. Nesse caso, mesmo quando flagrados carregando uma mala de dinheiro, como aconteceu com Hamilton Lacerda, o aloprado que era assessor de Aloizio Mercadante, nada acontece. O inquérito, se bem se lembram, não chegou a lugar nenhum. Mas vamos seguir.
Tenho apontado aqui a frenética movimentação das franjas daquele troço que pretende se confundir com jornalismo — os blogueiros financiados por administrações petistas (das três esferas) e pelas estatais — para tentar provar que o mensalão nunca existiu. Como a compras da consciência inclui a vergonha na cara, a tese do momento é a de que o mensalão, vejam só!, foi uma invenção de Carlinhos Cachoeira e até de Demóstenes!!! E como isso teria acontecido? Como uma coisa implicaria outra? Bem, para isso, a canalha ainda não tem uma explicação verossímil. Mas nem é necessário. Quem cai nessa conversa não precisa de evidências, só da crença. É como esses malucos que acreditam que ETs visitam a terra e implantam chips no cérebro dos terráqueos: a prova de que é verdade é a ausência de provas, entenderam? Sigamos.
Demóstenes está fora do DEM e, tudo indica, da política — por muito tempo, se não for para sempre. As pessoas que ele conquistou com o seu discurso e com a sua prática conhecida não aceitam o que ouviram; não sabem explicar aquilo; não admitem aquelas atitudes. Já aquelas que José Dirceu conquistou admiram no seu líder justamente seus métodos! Ele foi cassado pela Câmara, sim, num primeiro momento de indignação da sociedade, mas continuou no PT. Mesmo formalmente fora da direção, é um chefão do partido. Na semana passada, dividiu bobó de camarão e caipirinha (existe Engov para enjoos morais?) com “blogueiros progressistas”. Ontem, informa o Globo, o Zé manteve um encontro mais maiúsculo. Segue informação do Globo. Volto em seguida:
Lula discute eleições de SP com ex-ministro José Dirceu e Rui Falcão
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu-se nesta segunda-feira com o ex-ministro e deputado cassado José Dirceu e com o presidente nacional do PT, deputado Rui Falcão. Discreto, o encontro ocorreu na sede do Instituto Lula, no bairro do Ipiranga, no início da tarde. Na pauta, os petistas discutiram o rumo das eleições municipais deste ano. Lula, que ainda faz tratamento de fonoterapia para melhorar a voz e a deglutição depois de um câncer na laringe, deve começar uma agenda de viagens por todo o país nas próximas semanas, depois de tirar alguns dias de férias com a família.
Apesar de não ter nenhum cargo na executiva petista desde que se envolveu no escândalo do mensalão, em 2005, Dirceu não deixou de ser um dos principais articuladores políticos do PT, tanto interna quanto externamente. O encontro com o ex-presidente reforça essa imagem, uma vez que Lula tem procurado os dirigentes petistas para se inteirar sobre o quadro eleitoral. Na semana passada, conversou por telefone com o presidente estadual da legenda, o deputado Edinho Silva, para conhecer a situação dos principais municípios paulistas.
Lula deverá agir para acertar as alianças nos principais municípios do país, mas deve também buscar a pacificação em cidades onde o PT está dividido, como em Recife e Belo Horizonte.
Voltei
Parabéns aos eleitores e ex-admiradores do senador Demóstenes Torres (GO), que não engolem as conversas que ele manteve com Carlinhos Cachoeira. Já os que debatem eleições com aquele que a Procuradoria Geral da Repúbica chama “chefe de quadrilha” se autodefinem, não é mesmo?
Uma coisa é certa: Demóstenes não terá uma rede de “blogueiros progressistas” para defendê-lo. Nem de “blogueiros reacionários”. Nem de “blogueiros”, como é mesmo?, “livres como um táxi”. Tampouco haverá estatais para pagar o salário de uma súcia encarregada de fazer a sua defesa. “Ah, então impunidade para todo mundo, Reinaldo?” Uma ova! Punição para todo mundo! Inaceitável é que o dinheiro público patrocine páginas que fazem a defesa aberta de alguém acusado pela PGR de ser “chefe de quadrilha”. Indefensável é que um ex-presidente da República se dê a tal desfrute.
Mas, como diria Ideli Salvatti (ver posts abaixo), faz sentido, “meu amor”!!!
Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/lula-e-falcao-debatem-eleicoes-com-ex-deputado-cassado-por-corrupcao-e-acusado-pela-pgr-de-ser-%E2%80%9Cchefe-de-quadrilha%E2%80%9D-como-diria-ideli-faz-sentido-%E2%80%9Cmeu-amor%E2%80%9D/

Atividade física e cafeína podem alterar DNA de células musculares

Genética

Pesquisa observou que as mudanças ocorrem nas moléculas, e não no código genético, e são importantes para o músculo obter força e elasticidade

Exercício físico e cafeína podem alterar molécula de DNA do músculo e facilitar o ganho de força e flexibilidade Exercício físico e cafeína podem alterar molécula de DNA do músculo e facilitar o ganho de força e flexibilidade (Jupiterimages / Thinkstock)
A prática de exercícios físicos pode alterar a estrutura e a composição química das moléculas de DNA das células musculares de uma pessoa. Esse, então, seria o primeiro passo para a reprogramação do músculo para obter a força e, consequentemente, os benefícios proporcionados pelas atividades. Essa é a conclusão de um novo estudo publicado na edição de março do periódico Cell Metabolism. A pesquisa, desenvolvida no Instituto Karolinska, na Suécia, observou que a cafeína também é capaz de surtir os mesmos efeitos.


Saiba mais

EPIGENÉTICA
É o nome que se dá para as mudanças que acontecem nos genes sem, no entanto, alterar o código genético de um indivíduo. É diferente de uma mutação. Enquanto em uma mutação o código genético é alterado, a epigenética só muda como um gene funciona ou não. Essa mudança pode ser causada por fatores ambientais, como poluição ou mesmo pela prática de exercícios, e pode ser passada para as gerações seguintes.
“Nossos músculos são realmente adaptáveis”, afirma Juleen Zierath, uma das autoras do estudo. "Eles se modificam conforme o que fazemos. Se não usarmos os músculos, os perdemos. Um dos mecanismos que permitem que isso aconteça foi identificado pela nossa pesquisa." Embora os pesquisadores tenham evidenciado mudanças nas moléculas de DNA dos músculos, o código genético não foi alterado. Ou seja, trata-se das modificações epigenéticas, que são caracterizadas pelo ganho ou perda de marcas químicas no DNA sem envolver mudanças na sequência genética.
De acordo com o que demonstrou a nova pesquisa, após a prática de exercícios físicos intensos, o DNA das células do músculo é alterado em trechos que estão diretamente envolvidos no processo de adaptação muscular ao exercício. Ou seja, o processo auxilia o músculo a ganhar mais força e flexibilidade. Os pesquisadores observaram os mesmos efeitos após um indivíduo se expor à cafeína, que é capaz de 'imitar' o que ocorre com a contração muscular que acompanha as atividades físicas. Entretanto, eles não recomendam que as pessoas bebam café no lugar de praticarem exercícios, mas sim que elas apenas enxerguem a bebida como uma aliada à prática.
Para os autores do estudo, os resultados oferecem mais uma evidência de que nosso genoma é muito mais dinâmico do que consideramos. Essas modificações epigenéticas podem, de acordo com os especialistas, ser extremamente flexíveis, permitindo que o DNA nas células se ajuste conforme as mudanças de ambiente e estilo de vida.
 http://veja.abril.com.br/noticia/saude/atividade-fisica-e-cafeina-podem-alterar-dna-de-celulas-musculares

Exercício físico e cafeína reduzem risco de câncer de pele por exposição ao sol

Câncer de pele

Experiência feita em camundongos revelou que combinação chega a diminuir as chances do tumor em até 62%

Atividade física: ratos que se exercitaram mostraram ter 35% menos riscos de terem câncer de pele após exposição à radiação ultravioleta Atividade física: ratos que se exercitaram mostraram ter 35% menos riscos de terem câncer de pele após exposição à radiação ultravioleta (Thinkstock)
Pesquisadores da Universidade Estadual de Rutgers, nos Estados Unidos, descobriram que combinar cafeína com atividade física pode proteger as pessoas contra o câncer de pele provocado pela exposição ao sol. O estudo da equipe, apresentado no encontro anual da Associação Americana para a Pesquisa do Câncer, que vai até esta quarta-feira, em Chicago, ainda sugeriu que essa associação também é capaz reduzir os níveis de gordura no corpo e prevenir inflamações relacionadas a certos tipos de cânceres ligados à obesidade.
Os autores do estudo analisaram camundongos que foram expostos à radiação ultravioleta e, portanto, tinham alto risco de desenvolver câncer de pele. Eles observaram que os animais que ingeriram doses líquidas de cafeína e correram em uma roda de corrida durante 14 semanas apresentaram um risco 62% menor de ter câncer de pele comparados àqueles que consumiram água e que não se exercitaram. Além disso, mesmo quando esses camundongos desenvolveram a doença, o tamanho de seus tumores foi, em média, 85% menor.
Embora mais reduzidos, os efeitos da cafeína e dos exercícios físicos individualmente também foram positivos. Os pesquisadores descobriram que os camundongos que somente receberam doses de cafeína tiveram 27% menos chances de desenvolver câncer de pele e tumores 61% menores do que os animais que beberam somente água. Por outro lado, o risco de desenvolver esse tipo de câncer foi 35% menor em camundongos que somente se exercitaram em relação aos que não praticaram nenhuma atividade, e o tamanho de seus tumores foi em média 70% menor.

Outros benefícios — A equipe de pesquisadores também observou que a combinação de exercício físico e cafeína reduziu o peso e quadros de inflamação dos animais. Para chegarem a esses resultados, os cientistas deram aos mesmos camundongos, durante duas semanas, uma dieta rica em gordura. Alguns animais também receberam doses de cafeína, outros fizeram atividade física e outros ingeriram o composto e também se exercitaram. Após esse período, foram calculados os níveis de gordura no tecido adiposo dos animais.
Em comparação com camundongos que beberam água e não se exercitaram, aqueles que consumiram cafeína e fizeram atividades físicas tiveram uma redução de 63% nos níveis de gordura nas células. A cafeína individualmente reduziu essa taxa em 30% e os exercícios, isoladamente, em 56%. Além disso, segundo o estudo, a combinação diminuiu em até 92% os quadros de inflamação no organismo, assim como a quantidade de citocina, molécula que age como um mensageiro que desencadeia uma inflamação no corpo.
O coordenador do estudo, Yao-Ping Lu, acredita que esses resultados podem ser extrapolados para humanos, contribuindo para novas abordagens de prevenção e tratamento para determinados tipos de câncer.
http://veja.abril.com.br/noticia/saude/exercicio-fisico-e-cafeina-reduzem-risco-de-cancer-de-pele-por-exposicao-ao-sol