quinta-feira 05 2015

O medo à liberdade e a alma humana - Leandro Karnal (HD)



11 vezes Pearl Jam


ALEXANDRE FERRAZ BAZZAN

04 Novembro 2015 | 14:30

São dez anos desde a primeira turnê na América do Sul


Stone Gossard demorou tanto para trazer sua banda para o Brasil que quando ele desembarcou por aqui a primeira vez, em 2005, a banda já não era mais dele e sim de Eddie Vedder.
Parecia que nunca iria acontecer, até que um dia o site deles amanheceu tocandoGarota de Ipanema. Nunca fiquei tão feliz em ouvir essa música.
Foto: Wilton Júnior/Estadão
Foto: Wilton Júnior/Estadão
Agora, 10 anos mais tarde, eles estão diferentes. Pode ser pelo fato de os fãs terem modificado o significado das músicas cantas ao vivo, o fim da gestão George W. Bush ou simplesmente o tempo que passou. Relembro aqui minhas experiências no meio de tantos ‘moshs’ promovidos por eles.
02/12/2005 – São Paulo
Um amigo foi até a Fnac comprar o seu ingresso decidido a assistir apenas ao show do sábado, dia 03. A fila era grande e não demorou para que ambulantes vendessem cerveja. Cada um ia contando sua história sobre os discos que mais gostava ou qual música esperava ouvir. Quando chegou a vez dele no caixa, ele estava tão bêbado que acabou comprando entradas para os dois dias.
Eu não encontrei ele no dia 02 porque estava esperando uma ex-namorada. Ela tinha acabado de arrumar um emprego novo e, por causa disso, perdemos o Mudhoney(que abriu para eles na turnê de 2005).
Essa foi a primeira vez que algo muito esperado não me decepcionou. O primeiro encontro com Vedder e companhia foi tão bom que ao fim do dia minha ex não era mais ex. Eu tinha reservado um quarto para uma pessoa em um hotel ali no Pacaembu, mas ela entrou escondida comigo e no dia seguinte já éramos um casal novamente.
03/12/2005 – São Paulo
Eddie Vedder, assim como eu, dormiu pouco e, para conseguir tocar, ele teve que ingerir uma quantidade significativa de álcool. Isso fica claro na derrapada que ele dá tocando gaita em Hide Your Love Away, cover dos Beatles. Quando eles tocaram Do The Evolution, eu genuinamente pensei que fosse morrer.
Seguimos o vocalista na ingestão de birita e fomos parar na Fun House. De lá para o Sarajevo e fechamos a noite no antigo Milo Garage, na rua Minas Gerais. Saímos de lá depois das 6h da manhã com uma mistura de alegria e melancolia por aquilo tudo ter acabado. Eles prometeram voltar rápido, mas quem poderia acreditar?
14/06/2008 – Manchester – EUA
Essa foi a maior apresentação que eu vi deles. O My Morning Jacket  fez um show de 4 horas no festival Bonnaroo e eles estavam mordidos com isso. Eddie disse que tentaria condensar essa energia em duas horas, mas o negócio se estendeu para quase três horas de duração.
Vedder parava quase toda hora para criticar o governo Bush e foi nessa época que ele compôs e incluiu no set uma música anti-guerra chamada No More. Depois de tocar vários sucessos, eles ainda voltaram três vezes ao palco e encerraram com All Along the Watchtower do Bob Dylan.
30/06/2008 – Mansfield -EUA
Minhas férias chegavam ao fim e eu estava triste por ter que voltar ao trabalho. Um casal que eu nunca tinha visto na vida deve ter percebido isso e tentava me animar. “Você veio no dia certo, eles estão tocando músicas menos conhecidas hoje”, dizia a menina. De fato, eles abriram com Wash e executaram Garden e Bee Girl, que não costumam entrar nos sets com facilidade.
Essa é a coisa mais legal para quem gosta de Pearl Jam. O fã ocasional que compra ingresso porque ouviu Betterman ou Last Kiss e achou legal vai odiar, mas, para quem gosta de verdade da banda, cada show é uma nova experiência.
A apresentação foi menor que a do Bonnaroo. Vedder dizia que a cidade cobraria uma multa se eles continuassem fazendo barulho depois de determinado horário. “Talvez Mike McCready possa pagar, ele ganha por nota tocada e é o mais rico da banda”, brincou.
03/11/2011 – São Paulo
Depois de 6 anos eles cumpriram a promessa de voltar ao Brasil. Eu e um amigo fizemos quase a turnê da América do Sul completa. Nós dois estávamos desempregados e com algum dinheiro guardado para seguir os caras por aí.
O show já tinha algumas músicas novas, entre elas a homenagem Olé. Tudo ótimo, mas de tempos em tempos esse meu amigo dizia “porra, Vedder, toca uma das nossas.” E ele tocou.
04/11/2011 – São Paulo
Existem algumas músicas que, com frequência encerram um show do Pearl Jam.Keep On Rockin’ e Baba O’Rilley estão entre elas. Nesse dia ele tocou o cover do The Who e nos ensinou que essa regra não é uma regra, que o negócio só pode chegar realmente ao fim se eles tocarem Yellow Ledbetter (Apesar de nem sempre eles tocarem essa).
Uma coisa legal dessa turnê era que quando os auto-falantes tocavamMetamorphosis Two, do Philip Glass, eles subiam ao palco.
06/11/2011 – Rio de Janeiro
Para alguém que odeia carnaval, eu nunca estive tão feliz por entrar em um sambódromo. Os cariocas têm uma mistura de marra e simpatia que deixa o show diferente. Enquanto uma mulher pedia que voltássemos para São Paulo, um grupo de caras perguntava como foi o show aqui e trocavam experiências. Guardamos o lugar para um deles que precisou ir ao banheiro e a rodinha “de amigos” logo se formou.
Um dos destaques foi com certeza a belíssima versão de Mother, do Pink Floyd. Algo de chorar. No hotel, uma menina que tinha vindo de Brasília conseguiu contratar um taxista gente boa para nos levar e buscar.
11/11/2011 – Porto Alegre
A data praticamente cabalística e o simpático estádio Zequinha já tornariam o dia especial, mas eles tocaram uma das músicas mais bonitas do catálogo, Light Years.
Não sei como, mas encontrei lá um amigo de Atibaia e o Pearl Jam quebrou a única regra deles que é terminar o show com Yellow Ledbetter(mais ou menos – Mike McCready incorporou Little Wing do Jimi Hendrix ao solo derradeiro).
Ao fim dessa turnê eu fiz um curta-metragem tosco.
13/11/2011 – Buenos Aires – Argentina
Não existe nesse mundo um público melhor que o argentino. Com todas as críticas que você pode ter a esse povo, uma coisa é certa, se você gosta de rock, você tem que assistir ao show da sua banda preferida em Buenos Aires. Eles cantam as letras, os riffs de guitarra e até o baixo e a bateria.
Eddie Vedder precisava esperar quase um minuto quando queria falar alguma coisa para a plateia.
Garden e Smile, que dificilmente entram em um set, foram tocadas e eles ainda fizeram um cover não usual de Ramones – I Wanna Be Your Boyfriend.
31/03/2013 – São Paulo
Esse foi o menor show que eu vi deles. Eles deram apenas um bis (mas mais longo que o normal) durante a apresentação do Lollapalooza. Esse foi o último ano em que o festival foi organizado no Jockey Club e também a última vez que eles investiram em uma banda verdadeiramente grande.
Olé, a pior homenagem que eles podiam ter feito, voltou a aparecer, mas pelo menos rolou Nothingman.
03/04/2013 – Buenos Aires
O Festival Más Grande tinha outras bandas como Black Keys e Hives, mas só o Alabama Shakes conseguiu emocionar de verdade. Em tempos de elogio vazio para a nova e chata canção de Adele, um quase plágio ruim do Tom Waits, eu peço que as pessoas escutem mais a Brittany Howard.
Os argentinos mais uma vez levaram o sentimento a outro nível. Uma inundação havia tirado muitas vidas e Eddie Vedder lembrou disso, que a perda faz parte da vida e do amadurecimento. Essa também foi a primeira vez que escutei In Hidingao vivo, uma das minhas preferidas.
Tem lembranças de shows passados? Comente aí.
Pela igualdade de gênero
Recentemente tivemos uma campanha que mostra como a violência contra as mulheres é algo constante. A hashtag #primeiroassedio trouxe relatos desconcertantes e assustadores. O pior disso tudo é que esses assédios não param no primeiro. É algo que se repete durante a vida dessas pessoas.
Todas as noites eu reviso a homepage do Estadão e me surpreendo na quantidade e diversidade dos tipos de violência. Do estupro e ameaças a assassinatos, passando pelo suicídio, muitas vezes causado por pressões impostas pelas funções que uma mulher se vê obrigada a desempenhar- mãe, trabalhadora, amante, dona de casa.
O Pearl Jam tem uma campanha pela igualdade de gênero que busca pressionar para que ocorra a equiparação salarial e o fim do assédio no trabalho e da violência cotidiana. Para fazer essa voz ressoar, eles estão sorteando ingressos aqui. É bem simples, basta preencher o cadastro e tweetar para que a campanha seja conhecida por mais pessoas.

A Bíblia é um livro político? ● Leandro Karnal





Senado aprova direito de resposta – ou censura à imprensa


Políticos que se sentirem ofendidos por denúncias poderão requerer espaço para resposta, independentemente da veracidade da reportagem

Senador Roberto Requião
Senador Roberto Requião(Geraldo Magela/Agência Senado/VEJA)
O Plenário do Senado Federal impôs nesta quarta-feira um constrangimento ao livre exercício da imprensa ao aprovar, em votação simbólica, o direito de resposta a pessoas que se sentirem "ofendidas" por publicações. A proposta, encampada pelo senador Roberto Requião (PMDB-PR), um conhecido adversário da imprensa livre, se excede na interpretação do texto constitucional sobre o direito de resposta, que prevê que "ao ofendido em matéria divulgada, publicada ou transmitida por veículo de comunicação social é assegurado o direito de resposta ou retificação, gratuito e proporcional ao agravo".
Com a votação consolidada hoje, tanto deputados quanto senadores acabaram por vincular o direito de resposta ao critério subjetivo da "ofensa" sentida pela autoridade, afastando, com isso, a exigência de que a reportagem seja inverídica. A Constituição, mais prudente, estabelecia apenas que "é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem". Mesmo a controversa Lei de Imprensa, editada na ditadura militar, era prudente ao ressalvar que não constitui abuso "no exercício da liberdade de manifestação do pensamento e de informação a opinião desfavorável da crítica, literária, artística, científica ou desportiva, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar".
Sob a alegação de que o direito de resposta precisaria ser regulamentado, o projeto aprovado nesta quarta-feira prevê que as pessoas que se sentirem ofendidas por uma reportagem - ainda que verdadeira - poderão procurar diretamente o veículo responsável pela matéria e exigir um espaço para apresentar sua versão dos fatos. Os senadores, em votação hoje, estabeleceram até o direito de o ofendido gravar um vídeo ou áudio a ser exibido no veículo que publicou originalmente a reportagem desabonadora.
Depois da apreciação do texto, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) informou que vai apresentar um projeto de lei para acabar com o sentimento de "ofensa" como critério para o direito de resposta. "Se uma reportagem diz que Eduardo Cunha tem dinheiro na Suíça e aqui estão os documentos, isso dá direito de resposta? No meu entendimento, não", disse ele.
Prazos - O texto sobre o direito de resposta, que segue agora para sanção da presidente Dilma Rousseff, determina que o ofendido por uma publicação tenha 60 dias para pedir a um jornal, revista, blog ou órgão de imprensa que publique seu direito de resposta. Jornais, revistas, sites noticiosos, rádios e emissoras de televisão terão de publicar o direito de resposta até sete dias depois de comunicados da queixa, sob pena de o ofendido acionar a justiça para garantir uma resposta nos mesmos padrões, tamanho e horário da suposta matéria ofensiva ou incômoda.
Os maiores beneficiários da proposta avalizada nesta quarta pelo Senado deverão ser os políticos, alvos frequentes de denúncias. Os mesmos políticos aprovaram, sob o pretexto de regulamentar o direito de resposta, uma espécie de rito especial para a tramitação de ações desta natureza. Caberá ao juiz responsável pelo caso, por exemplo, notificar o órgão de imprensa da existência do processo em até 24 horas. A contestação das alegações deverá ser apresentada em até três dias.

Juíza que ordenou buscas em empresa do filho de Lula deixa de conduzir a Zelotes


Célia Regina Ody Bernardes retoma seu cargo de origem com o retorno do titular da 10ª Vara da Justiça Federal; STJ cita "motivos particulares" para a saída

Polícia Federal do Paraná em Curitiba
Luis Cláudio Lula da Silva prestou depoimento à Polícia Federal nesta quarta-feira em Brasília(Vagner Rosário/VEJA.com)
A juíza substituta da 10ª Vara da Justiça Federal, Célia Regina Ody Bernardes, deixou nesta quarta-feira de conduzir a Operação Zelotes. A mudança no comando do caso ocorre menos de duas semanas após ela ordenar a prisão de seis suspeitos de comprar medidas provisórias no governo federal e de expedir mandado de busca e apreensão na sede de empresas de Luis Cláudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A magistrada foi dispensada com o retorno do titular da 10ª Vara, Vallisney de Souza Oliveira, ao seu cargo de origem. Ele reassumirá todo o seu acervo de processos e procedimentos, incluindo a investigação da Zelotes.
Investigadores responsáveis pelo caso veem a saída de Célia Regina com preocupação, já que ela adotou uma linha distinta da usada pelos juízes que a antecederam no caso ao deferir medidas mais duras contra os suspeitos. Por isso, teria imprimido um "padrão Moro" na investigação, uma referência ao juiz Sérgio Moro, que conduz a Operação Lava Jato.
Desde o ano passado, Vallisney atuava como auxiliar convocado no gabinete do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Napoleão Nunes Filho. A permanência na função, que acabou nesta quarta-feira, poderia se renovada por mais dois semestres consecutivos, mas, em nota à reportagem, o STJ justificou que "juiz pediu para sair por motivos particulares". O tribunal acrescentou que o magistrado não continuou no gabinete porque "fez outra escolha".
Vallisney não explicou oficialmente os motivos do retorno. Com o término da convocação, Célia Regina voltou a despachar nesta quarta-feira na 21ª Vara da Justiça Federal. A transferência, determinada pela presidência do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, deve ser publicada nos próximos dias.
A magistrada assumiu os procedimentos da Zelotes em setembro. Mesmo com pouco tempo à frente do caso, foi tida como a responsável por mudar o curso da investigação criminal ao aceitar as primeiras prisões de investigados e a ação no escritório de Luís Cláudio. As buscas foram duramente criticadas pelo PT.
A juíza concordou com os argumentos de dois procuradores da República, que consideraram "muito suspeito" o fato de uma empresa de Luís Cláudio, a LFT Marketing Esportivo, ter recebido, em 2014, pagamentos vultosos de uma consultoria investigada por "comprar" medidas provisórias nos governos de Lula e de Dilma Rousseff.
Luis Cláudio depõe à PF - Luís Cláudio Lula da Silva prestou esclarecimentos à Polícia Federal em Brasília nesta quinta-feira. Segundo nota distribuída por seu advogado, Luis Cláudio explicou que a LFT prestou serviços à Marcondes e Mautoni nos anos de 2014 e 2015 e por isso recebeu desta última empresa os valores que foram contratados.
No depoimento, ele "reafirmou seu know how na área esportiva", diz a nota, "fruto da passagem por quatro clubes de futebol de São Paulo (São Paulo, Palmeiras, Santos e Corinthians), da prestação de serviços de marketing esportivo ao Corinthians e, ainda, por ser há quatro anos o organizador de um campeonato nacional de futebol americano."
(Com Estadão Conteúdo)