segunda-feira 22 2015

Delatores confirmam à PF que Braskem pagou propina



Youssef cita pagamentos de 5 milhões de dólares em troca de favorecimento na compra de nafta. Paulo Roberto Costa acusa de novo caixa paralelo para campanha de Roseana Sarney




O ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e o doleiro Alberto Youssef
O ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e o doleiro Alberto Youssef(Lucio Bernardo Jr/ Vagner Rosario/VEJA)
O doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa confirmaram nesta segunda-feira, em acareação na Polícia Federal em Curitiba (PR), que a Braskem, petroquímica ligada à Odebrecht, pagou de 1% a 3% em propina, em dinheiro vivo, tanto para Costa quanto para políticos filiados ao Partido Progressista (PP) entre 2006 e 2012.
Entre os parlamentares citados estão os deputados e ex-deputados Pedro Henry e Pedro Corrêa, ambos já condenados no julgamento do mensalão, Nelson Meurer, João Pizzolati, Mario Negromonte, Luiz Fernando Sobrinho, José Otávio, Arthur de Lira, Dudu da Fonte e Aguinaldo Ribeiro e os senadores Ciro Nogueira e Benedito de Lira. No esquema de pagamento de propina, o dinheiro era desembolsado para acelerar a compra de nafta, composto proveniente do petróleo utilizado como matéria-prima do setor. De acordo com a delação premiada de Alberto Youssef, em troca do favorecimento para a compra do insumo, a Braskem pagou em média 5 milhões de dólares em propina por ano.
"As versões foram coincidentes. A Braskem anualmente fazia compra de nafta, com pagamento de propina para acelerar procedimento de compra de nafta", disse o advogado de Youssef, Tracy Reinaldet. As negociações para pagamento de propina na Braskem eram feitas, segundo os delatores, na sede da petroquímica em São Paulo ou em hotéis.
Os acordos para acertar o valor das vantagens indevidas, também segundo depoimentos já prestados anteriormente pelos delatores, eram feitos entre o ex-deputado federal José Janene, morto em 2010, e Alexandrino de Alencar, executivo que era da Braskem e que hoje está no grupo Odebrecht. Alexandrino foi preso na 14ª fase da Operação Lava Jato. Ele é citado por delatores do petrolão como operador de propina na empreiteira e como companhia frequente do ex-presidente Lula em viagens para lobby internacional. E entre 2008 e 2012, Alencar encontrou-se diversas vezes com Rafael Angulo Lopez, auxiliar do doleiro Alberto Youssef que, além de distribuir a propina do petrolão para políticos, também fazia depósitos em contas no exterior para beneficiários do esquema criminoso.
Em nota, a Braskem informou que "reafirma que todos os contratos com a Petrobras seguiram os preceitos legais e foram aprovados de forma transparente de acordo com as regras de governança da Companhia". "É importante lembrar que os preços praticados pela Petrobras na venda de nafta sempre estiveram atrelados às mais altas referências internacionais de todo o setor, prejudicando a competitividade da indústria petroquímica brasileira", disse a empresa.
Maranhão - Durante o confronto de versões com Youssef, Costa manteve a acusação de que a ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney (PMDB) recebeu 2 milhões de reais propina para a campanha eleitoral de 2010. Ao contrário do que aponta o ex-diretor da Petrobras, Youssef nega que tenha intermediado o pagamento, embora não conteste o fato de ter havido a envio da vantagem indevida para a peemedebista.
Costa e Youssef foram questionados por procuradores e delegados da Polícia Federal por quase nove horas na superintendência da PF em Curitiba para esclarecer contradições nas delações premiadas de ambos. Ao final do interrogatório, porém, as versões de Paulo Roberto e Youssef continuaram conflitantes. Nos depoimentos de delação premiada, o ex-dirigente da Petrobras diz que "reuniu-se pessoalmente com Roseana em 2010 para tratar de propina". De acordo com Paulo Roberto Costa, o pedido de propina para a campanha ao governo maranhense partiu do então ministro de Minas e Energia e atual senador Edison Lobão (PMDB).
Indicado para a diretoria da Área Internacional da petroleira pelo Partido Progressista, Costa afirma ter retirado do habitual caixa de propina do PP na empresa a parcela enviada à ex-governadora. "O que Alberto [Youssef] contesta não é a existência da operação [de pagamento de propina], mas quem realizou a operação em si, quem efetivou a entrega do dinheiro. Paulo Roberto atribuiu a ele a entrega deste dinheiro, e Youssef diz que não foi ele quem efetivou o pagamento", alega o advogado de defesa de Youssef. Para ele, apesar do conflito sobre quem efetivamente pagou a propina a Roseana, "a divergência mostra que não houve combinação de versões" e não compromete a validade das delações premiadas.

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Lava Jato terá ajuda dos EUA para investigar Odebrecht


Órgãos americanos atuarão na triagem de depósitos de propina feitos em contas do ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa

Marcelo Odebrecht da construtora Odebrecht é encaminhado para o IML de Curitiba (PR), na manhã deste sábado (20)
Marcelo Odebrecht, presidente da construtora: preso na Lava Jato(Rodolfo Burher/Reuters)
A força-tarefa do Ministério Público Federal terá ajuda de autoridades dos Estados Unidos - onde está a mais estruturada e eficiente rede de combate à corrupção do mundo - para tentar desmontar a engrenagem usada pela Odebrecht para o que seriam pagamentos de propinas no esquema de desvios que atuou na Petrobras. O sistema teria usado empresas offshore em nome de terceiros e contas secretas no exterior.
A empreiteira é um dos alvos da 14ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Erga Omnes, que prendeu na sexta-feira o presidente do grupo, Marcelo Odebrecht, e o da Andrade Gutierrez, Otávio Marques Azevedo, além de dez executivos das duas companhias.
Órgãos de investigação dos Estados Unidos atuarão, a pedido dos nove procuradores da República da Lava Jato, na triagem de depósitos de propina feitos em contas do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. Primeiro delator da Lava Jato, ele devolveu 23 milhões de dólares apreendidos na Suíça e que são uma das provas materiais do Ministério Público de que a Odebrecht estaria envolvida no esquema. Em setembro, Costa confessou que o dinheiro era propina paga pela empreiteira, que nega a acusação.
Operador - Apontado como operador de propinas da Odebrecht, o doleiro Bernardo Freiburghaus está na lista vermelha de procurados da Interpol e é tratado como figura central para as investigações da Lava Jato em parceria com os EUA.
Por meio de um novo pedido de cooperação internacional, a força-tarefa requisitará a autoridades norte-americanas a ampliação do rastreio de dados bancários, agora envolvendo o suposto operador de propinas da Odebrecht, referentes a transações bancarias que passaram pelos Estados Unidos. Um pedido anterior mirava os depósitos recebidos por Costa.
Uma offshore aberta no Panamá em 2006, a Constructora Internacional Del Sur, e contas indicadas por Costa que seriam dele, mas controladas por Freiburghaus, são o ponto de partida para essa apuração em cooperação com os Estados Unidos.
Documentos em poder da Lava Jato indicam que a Constructora Del Sur foi a origem de pelo menos cinco depósitos feitos em contas secretas do ex-diretor operadas por Freiburghaus, em nome das offshores Sygnus Assets S.A., Quinus Services S.A. e Sagor Holding S.A.
Outro delator, o ex-gerente de Engenharia da Petrobras Pedro Barusco, também apontou a Del Sur como origem de suposta propina paga pela Odebrecht. Documentos obtidos em outro acordo de cooperação internacional, com Mônaco, revelaram depósitos provenientes de conta da Del Sur mantida no Credicorp Bank S.A destinados a uma conta no Banco Julius Baer que seria do ex-diretor de Serviços Renato Duque, preso desde março.
O Ministério Público brasileiro espera que a eventual prisão de Freiburghaus traga novas informações sobre as propinas pagas no esquema de desvios na Petrobras e provas materiais contra a Odebrecht e seus executivos.
(Com Estadão Conteúdo)