terça-feira 31 2015

Dirceu omitiu pagamentos em contratos enviados à Justiça


Ministério Público identificou 'inconsistências' entre contratos apresentados pelo petista e recursos repassados em transferências bancárias ao ex-ministro

Por: Daniel Haidar e Alexandre Hisayasu - Atualizado em 
José Dirceu
José Dirceu(Rocha Lobo/Futura Press)
O ex-ministro José Dirceu omitiu pagamentos de clientes de sua consultoria nos documentos que entregou à Justiça Federal. O Ministério Público Federal destacou em parecer protocolado na 13ª Vara Federal do Paraná nesta terça-feira que, "pela análise dos documentos juntados, é possível verificar supostas inconsistências entre as condições contratuais de prazo, pagamento e dados bancários".
Na manifestação ao juiz Sérgio Moro, os procuradores da República destacaram as divergências entre o que passou pelas contas bancárias da consultoria de Dirceu, a JD Assessoria, e os contratos entregues pelo ex-ministro à Justiça Federal. Foi examinada superficialmente a situação das empreiteiras acusadas de pagar propina por contratos da Petrobras. Pela análise, os contratos previam pagamentos bem inferiores ao que foi efetivamente desembolsado para o ex-ministro.
Dirceu é investigado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal pela suspeita de ter recebido parte da propina distribuída por empreiteiras em troca de facilidades em contratos com a Petrobras. Como mostrou reportagem do site de VEJA, o petista faturou pelo menos 8 milhões de reais por serviços de consultoria prestados a empresas do clube do bilhão.
A defesa de Dirceu apresentou contrato com a Galvão Engenharia para prestação de serviços de "consultoria e assessoramento comercial", assinado em 25 de junho de 2009, segundo o qual ele teria faturamento bruto de 300.000 reais. Mas, de acordo com a análise da movimentação bancária da empresa do ex-ministro, foram pagos 703.875 reais. O contrato com Dirceu foi assinado exatamente uma semana depois de a Petrobras iniciar licitação de obra da Refinaria de Paulínea (Replan), pela qual a Galvão Engenharia foi contratada por 568 milhões de reais e fez o pagamento de propina equivalente a, no mínimo, 1% do valor do contrato, como já denunciado em ação penal contra executivos da empresa.
Também houve divergência entre a movimentação bancária e o valor previsto no contrato apresentado por Dirceu sobre serviços de "assessoria jurídica internacional" para a Engevix Engenharia. O documento entregue à Justiça previa o pagamento total de 300.000 reais. Mas a análise dos dados bancários mostra que a Engevix pagou 900.960 reais para a empresa do ex-ministro.

Doleiro diz que propina foi entregue na porta do PT


Alberto Youssef afirmou em novo depoimento à Justiça Federal que propina distribuída pela Odebrecht foi repassada pela construtora Del Sur

Por: Daniel Haidar - Atualizado em 
O doleiro Alberto Youssef, preso da Operação Lava Jato detido na sede da Policia Federal em Curitiba, PR, sai para depor na sede da Justiça Federal - 04/02/2015
O doleiro Alberto Youssef(Vagner Rosario/Futura Press)
O doleiro Alberto Youssef afirmou em depoimento à Justiça Federal do Paraná nesta terça-feira que providenciou o pagamento de 800.000 reais de propina para o PT. Segundo ele, metade do dinheiro foi entregue na porta do Diretório Nacional do partido, na rua Silveira Martins, na Sé, região central de São Paulo. A outra metade foi retirada no escritório de Youssef por Marice Corrêa de Lima, cunhada do tesoureiro nacional da sigla, João Vaccari Neto. O dinheiro foi repassado pelo favorecimento à empresa Toshiba em contrato do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), da Petrobras, afirmou o doleiro.
O pagamento para o PT foi feito em dois momentos, afirmou o doleiro: "O primeiro valor foi retirado no meu escritório pela cunhada dele. Entreguei pessoalmente. O segundo valor foi entregue na porta do Diretório Nacional do PT pelo funcionário Rafael Ângulo, para que um funcionário da Toshiba pudesse entregar ao Vaccari".
Além de ser o principal operador do PP no esquema de corrupção da Petrobras, Youssef revelou que, pelo menos nessa operação, providenciou também o pagamento de propina para o PT. Sobre o caso relatado no depoimento anterior à Justiça, Youssef tinha explicado anteriormente em acordo de delação premiada que houve pagamento de propina equivalente a 1% do valor do contrato da Toshiba com a Petrobras para o PP e de proporção equivalente ao PT.
Os pagamentos de propina da Toshiba são investigados em inquérito da Polícia Federal. Os investigadores já tiveram a confirmação de que a Toshiba fez pagamentos de pelo menos um milhão de reais para a empreiteira Rigidez, uma das empresas de fechada controladas por Youssef. O doleiro admitiu em depoimento que o depósito foi feito para que ele repasse propina, em espécie, para políticos e outros beneficiados no esquema de corrupção.
As transferências para Youssef e os pagamentos na porta do PT não são as únicas operações atribuídas à Toshiba em investigação. Um ex-funcionário do doleiro, Carlos Alberto Pereira da Costa, também ajudou a polícia nas investigações e apresentou comprovantes bancários de uma transferência de 400.000 reais de uma empresa do operador Cláudio Mente, que também recebeu recursos da Toshiba.
Em nota, o PT negou que tenha recebido propina. "O secretário Nacional de Finanças do PT, João Vaccari Neto, nega veementemente que tenha recebido qualquer quantia em dinheiro por parte do senhor Alberto Youssef ou de seus representantes", disse.
Youssef foi ouvido novamente, por requisição de seus advogados, na ação penal em que é acusado de lavagem de dinheiro e evasão de divisas por remessas ilegais ao exterior feitas pelo laboratório Labogen.
Odebercht e Andrade Gutierrez - Youssef afirmou em depoimento que recebeu pagamentos em espécie e em contas no exterior das empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez, feitos para operar o pagamento de propina a políticos e ex-diretores da estatal. A construtora Braskem, controlada pela Odebrecht em sociedade com a Petrobras, também transferiu dinheiro com a mesma finalidade, afirmou o doleiro.
De acordo com o doleiro, os recursos das empreiteiras eram destinados ao pagamento de políticos beneficiados pelo esquema de corrupção da Petrobras. No caso da Odebrecht, o dinheiro foi repassado a Youssef em uma operação triangulada. O depósito na conta administrada pelo doleiro foi feito pela construtora Del Sur, domiciliada no exterior. Depois de receber o pagamento, ele diz que checou com um representante da Odebrecht se a Del Sur foi a responsável por enviar o dinheiro da construtora.
"Para que eu pudesse obter crédito, tive que checar com quem mandou o valor", afirmou o doleiro em depoimento na 13ª Vara Federal do Paraná.
Odebrecht e Andrade Gutierrez são investigadas pela Polícia Federal pela suspeita de que pagaram propina a ex-diretores da Petrobras e a políticos por facilidades na petrolífera. Youssef afirmou que combinava o pagamento de propina pelos recursos desviados da Petrobras com os executivos "Márcio Faria" e "Cesar Rocha", da Odebrecht.
Em um dos depoimentos prestados em acordo de delação premiada no ano passado, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras tinha afirmado que recebeu mais de 20 milhões de dólares da Odebrecht em contas na Suíça, como recompensa por facilidades à empreiteira. Ele disse ainda que foi um representante da construtora quem orientou que ele procurasse o operador Bernardo Freiburghaus. A Odebrecht tenta atrasar o envio de dados bancários da Suíça, enquanto o Ministério Público Federal ainda rastreia o dinheiro internacional para confirmar a revelação do ex-diretor.

Argentina enfrenta greve nos transportes nesta terça-feira


Sindicatos do setor prometem paralisar o país em protesto contra o governo de Cristina Kirchner e contra imposto que afeta salário dos trabalhadores; Gol e TAM cancelaram voos

 - Atualizado em 
Presidente argentina Cristina Kirchner faz primeiro pronunciamento após um mês sem aparições públicas, na Casa Rosada, em Buenos Aires
A presidente argentina Cristina Kirchner(Enrique Marcarian/Reuters/VEJA)
Começou na madrugada desta terça-feira na Argentina a greve geral convocada por sindicatos do setor de transportes contra o governo Cristina Kirchner e contra o aumento de impostos. A paralisação, que deve durar todo o dia, pede a redução ou a eliminação de uma taxa que incide sobre os salários dos trabalhadores. Esta é a quarta greve geral convocada contra o governo de Cristina.
O protesto deve paralisar parcial ou totalmente os serviços de ônibus, metrô, trens, abastecimento de combustíveis, transporte aéreo comercial e portos. Os setores médico, bancário, de alimentação e de coleta de lixo também devem ser afetados. Na manhã desta terça-feira, os efeitos da greve já eram sentidos em Buenos Aires. Segundo o jornal La Nación, o transporte público está "completamente parado" e apenas táxis circulam pelas ruas da capital argentina. Em seu site, o jornal comunicava que, devido à paralisação, a edição desta terça foi publicada com "menos páginas e uma distribuição restrita". As companhias aéreas brasileiras TAM e Gol anunciaram o cancelamento de voos para a Argentina nesta terça por causa da greve.
Governo - Na segunda, o chefe de Gabinete, Aníbal Fernández, criticou os grevistas em uma coletiva de imprensa. "Que país lindo seria se não houvesse nenhum imposto! Mas isso é impensável", atacou. Fernández também ameaçou: "Aqueles que cometerem excessos serão presos". O governo se reuniu nesta segunda-feira com empresários do transporte para obter a garantia de um serviço mínimo, sob a ameaça de sanções. Os sindicatos responderam com dureza contra o que entenderam como uma provocação e anunciaram que, se suas demandas não forem atendidas, será feita uma nova greve, desta vez por 36 horas.
"Precisamos de um espaço para o diálogo. E se continuarem com as provocações e sem dar respostas às reclamações, as medidas de força vão aumentar", afirmou o líder do sindicato de caminhoneiros e membro de uma central trabalhista opositora, Hugo Moyano, um ex-aliado de Cristina. Segundo o ministro da Economia, Axel Kicillof, o imposto não será modificado porque "afeta uma minoria que ganha mais", cerca de 850 mil trabalhadores sobre uma força de 11 milhões de assalariados, segundo estimativas oficiais.
O imposto é aplicado progressivamente sobre os salários superiores a 15.000 pesos (1.700 dólares) até uma alíquota máxima de 35%. No fim do ano passado, o governo conseguiu que os sindicatos suspendessem uma greve parecida, ao anunciar que o rendimento médio de dezembro seria isento de imposto de renda.
(Da redação)