terça-feira 03 2015

Projeto italiano propõe transformar cemitérios em florestas

Veja.Com

As cápsulas do projeto italiano Capsula Mundi, que visa transformar cemitérios em florestas
As cápsulas do projeto italiano Capsula Mundi, que visa transformar cemitérios em florestas
Os designers italianos Anna Citelli e Raoul Bretzel são os autores do Capsula Mundi, projeto apresentado como uma alternativa aos cemitérios tradicionais. A dupla criou uma cápsula biodegradável em forma de ovo para que ali sejam depositados restos mortais humanos. O toque final é que a cápsula será plantada no solo envolta nas raízes de uma muda de árvore, cuja espécie será selecionada por cada um ainda em vida. Depois que a pessoa se for, familiares e amigos assumirão os cuidados com a planta. Segundo os autores, o intuito é transformar cemitérios em florestas sagradas, onde cada árvore manterá viva a memória de alguém que se foi. Há alguns detalhes um tanto esquisitos, como a proposta de que o morto seja colocado dentro da cápsula em posição fetal e a expectativa de que a árvore se alimente dos corpos em decomposição. Tudo isso, somado a restrições legais e religiosas, faz com que o Capsula Mundi não passe de um protótipo. E provavelmente não passará disso, já que embute sérias questões práticas.
Em qualquer cemitério, a alta quantidade de carga biológica que penetra no subsolo contém altos índices de bactérias e vírus, o que facilmente pode se transformar em foco de transmissão de doenças e de contaminação de áreas próximas e até mesmo de lençóis freáticos. Para evitar que isso aconteça, é preciso controlar a qualidade do solo a partir de poços subterrâneos de monitoramento. Já na superfície, cemitérios tradicionais demandam serviços de zeladoria e segurança para impedir saques e depredações, além do surgimento de focos de dengue e outros problemas do tipo. O projeto Capsula Mundi não deixa claro quem arcará com a manutenção das árvores (podas, eventuais quedas, surgimento de doenças e parasitas) nem como será feito o controle ambiental. Delegar a familiares e amigos dos mortos pode parecer romântico na teoria, mas na prática garante que ao longo do tempo ninguém se responsabilize pela tarefa — além de dispendiosa, a manutenção de um cemitério é eterna.
Cemitério de San Cataldo, na Itália: arquitetura modernista a favor do formato vertical
Cemitério de San Cataldo, na Itália: arquitetura modernista a favor do formato vertical
Alternativas vêm sendo testadas com diferentes graus de sucesso por todo o mundo. Criados para estar nas bordas, os cemitérios mais antigos hoje ocupam as áreas centrais de várias cidades – não porque tenham mudado de lugar, mas porque as cidades crescem rapidamente. Tornam-se então pequenas ilhas cercadas de edificações por todos os lados, o que também os impede de ser ampliados e modernizados. E, quanto mais o tempo passa, maior o número de mortos que precisam ser acomodados. Estima-se que por ano 55 milhões de pessoas morram em todo o mundo, o equivalente a 0,8% do total ou a população da Inglaterra.
Países como Singapura, Alemanha e Bélgica oferecem jazigos gratuitos pelos primeiros vinte anos. Depois desse tempo, as famílias têm a opção de assumir uma espécie de aluguel ou então de autorizar a remoção dos corpos para vagas mais profundas ou mesmo comuns. Em outros países, esse tipo de mudança é interpretada como desrespeito a preceitos religiosos.
Já a cremação, inicialmente considerada a solução espacial e ambiental, tem apresentado problemas. Primeiro porque as urnas acabam sendo guardadas em cemitérios –embora, é verdade, ocupem bem menos espaço. Segundo porque o processo consome muita energia quando aplicado em larga escala, contribuindo também para as emissões de poluentes. No Reino Unido, onde as cremações correspondem a 70% dos funerais, 15% das emissões de mercúrio provêm da queima de obturações dentárias. Novos processos têm sido pesquisados para amenizar o problema.
Até agora, a opção considerada mais razoável em larga escala são os cemitérios verticais, categoria em que o Brasil se destaca. O mais alto do mundo é o Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos, com 14 andares e verbete garantido no livro dos recordes, o Guiness Book. Começou a ser construído em 1983 e hoje conta com 14.000 espaços. Em Modena, na Itália, há o San Cataldo, de arquitetura modernista, que prova ser possível haver beleza em edificações assim. Em Tóquio, está o Kouanji, um templo budista de seis andares. E, perto de Tel Aviv, em Israel, o Yarkon, é um exemplar kosher do gênero, considerado de acordo com as escrituras sagradas do judaísmo. A solução pode não ter o romantismo da floresta sagrada do Capsula Mundi, mas sua praticidade tem feito com que aos poucos se torne uma tendência mundial. Afinal, nas cidades, até a morte tem de ser bem planejada para não atrapalhar o resto.
Cemitério Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos: o mais alto do mundo
Cemitério Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos: o mais alto do mundo
Por Mariana Barros

STF rejeita pedido da OAS contra juiz Sérgio Moro

O juiz federal de Curitiba Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato, participa do Seminário Nacional sobre Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro, no Rio de Janeiro


O juiz federal de Curitiba Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato, participa do Seminário Nacional sobre Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro, no Rio de Janeiro(Ricardo Borges/Folhapress)
Por unanimidade, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou nesta terça-feira a legalidade dos atos do juiz Sergio Moro, que conduz as investigações da Operação Lava Jato na 1ª instância. Os ministros analisaram um pedido dos executivos da empreiteira OAS, que alegavam que a Polícia Federal tinha conhecimento, desde 2013, de que os então deputados André Vargas (ex-PT) e Luiz Argôlo (SD-BA) apareciam em conversas com o doleiro Alberto Youssef e poderiam estar envolvidos com o escândalo do petrolão. Embora os dois não sejam mais parlamentares, a presença deles nos grampos telefônicos levaria o trecho da investigação ao STF, já que ambos tinham foro privilegiado na época. Em resposta ao ministro Teori Zavascki, Moro já havia negado ter investigado irregularmente os dois ex-deputados, mas a defesa da OAS insiste em tentar comprovar que as apurações contra os então congressistas eram feitas desde 201. (Laryssa Borges, de Brasília)​

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Petrobras deve cortar até R$ 30 bi em investimentos em 2015

Petrolão

Empresa deveria investir 80 bilhões de reais este ano, mas reduzirá investimentos e deve vender mais de 13,7 bilhões de dólares em ativos

Fachada do edifício da Petrobras no Rio de Janeiro - 12/12/2014
Fachada do edifício da Petrobras no Rio de Janeiro - 12/12/2014 (Vanderlei Almeida/AFP)
Atropelado pelo rebaixamento de rating pela agência classificadora Moody's, o novo comando da Petrobras trabalha numa "reconstrução" da imagem da companhia para os investidores que deve ser calcada, este ano, em drástica redução de investimentos e venda de ativos. O corte de investimentos em 2015 pode ficar entre 20 bilhões e 30 bilhões de reais. A redução representa algo entre 25% e 35% do que havia sido planejado – em torno de 80 bilhões de reais.
Além disso, a companhia decidiu acelerar a venda de ativos para conseguir reforçar seu caixa nesse momento de crise. O novo plano de desinvestimentos anunciado nesta segunda-feira eleva para 13,7 bilhões de dólares (R$ 39 bilhões) o saldo previsto com venda de ativos em 2015 e 2016. Até então, a meta era arrecadar de 5 bilhões a 11 bilhões de dólares em um período mais longo, de 2014 a 2018. Com isso, o novo presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, prevê vender em média 150% mais ativos a cada ano do que previa a presidente anterior, Graça Foster.
Segundo fontes, a empresa estuda quais ativos poderiam ser vendidos este ano sem uma redução de preços provocada pelo impacto da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, e também pela queda do valor do petróleo no mercado internacional. Por enquanto, a empresa divulga apenas que a maior parte dos ativos que serão vendidos será da área de gás e energia, 40% do total. Mas não foram excluídos do corte os negócios de exploração e produção de petróleo e gás, no Brasil e no exterior, que responderão por 30% das vendas. O reflexo será a redução da reserva de petróleo da empresa.
Já o corte na área de abastecimento, que inclui refinarias e infraestrutura de transporte, responderá por 30% do total e poderá implicar uma redução da capacidade da Petrobras de produzir combustíveis e se tornar independente da gasolina e do óleo diesel importados para complementar as necessidades do mercado interno.
Ao vender ativos e restringir investimentos, a Petrobras encolhe, ao mesmo tempo em que concentra sua atividade em negócios considerados estratégicos - projetos de baixo risco, que vão ajudar a fortalecer o caixa, como o pré-sal. Assim, espera sanear a posição financeira neste momento de crise, em que tem dificuldade de financiar investimentos. A medida foi bem recebida pelo mercado, que vê o enxugamento da petroleira como prudente e necessário diante da dificuldade de recorrer ao mercado por crédito.
Uma outra alternativa seria o governo injetar dinheiro na companhia por meio de uma capitalização, solução tida por muitos analistas como necessária. Mas essa hipótese, por enquanto, está fora de cogitação. Pelo menos em 2015, a empresa não tem problema de caixa. O pagamento a credores está em dia e a diretoria da Petrobras trabalha desde o ano passado para evitar a antecipação de dívidas, decorrente do atraso na divulgação do balanço financeiro de 2014.
O desafio é conseguir dinheiro para levar adiante principalmente os investimentos no pré-sal, que exigirão a aquisição de equipamentos a partir de 2016. A empresa não pode adiar as compras, porque tem pressa em iniciar a produção em grandes reservas, como no campo de Libra. Além disso, nessas áreas atua em parceria com grandes petroleiras internacionais, com as quais está comprometida.
Para dar conta dos desafios, o atual diretor Financeiro e de Relacionamento com Investidores, Ivan de Souza Monteiro, está conduzindo dois tipos de mudanças na governança da Petrobras. Ele implementou na petroleira a figura dos comitês intermediários. Na prática, esses órgãos de decisão criam uma cadeia de responsabilidade, o que evita uma concentração de poder no diretor. Na gestão anterior, o diretor Financeiro, Almir Guilherme Barbassa, respondia por todas as áreas e a ex-presidente Graça Foster mantinha uma linha direta de decisão nas questões financeiras.


(Com Estadão Conteúdo)