sexta-feira 31 2014

Sanar rombo fiscal exigirá de Dilma os ajustes que tanto criticou na era FHC

Contas públicas

"Quem tem telhado de vidro, não deve jogar pedras"  E "Telhado" fruto de seu desgoverno!

Após déficit fiscal histórico, presidente se encontra em encruzilhada: ou adota políticas antiinflacionárias, ou país poderá assistir a fuga de investidores

Luís Lima e Ana Clara Costa
A presidente da República e candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT), durante coletiva onde explica os planos do governo para a melhoria no serviço de internet banda larga no Brasil. A entrevista é realizada no hotel Renaissance, em São Paulo (SP), nesta segunda-feira (20)
Dilma Rousseff 2.0: reformas terão de vir a galope (Adriano Vizoni/Folhapress)
Em sua campanha para a reeleição, a presidente Dilma fez uso de inúmeras armas de propaganda contra o candidato tucano Aécio Neves. Um dos temas preferidos da presidente era a comparação com os anos do governo Fernando Henrique Cardoso. Em debates e vídeos veiculados na TV e na internet, Dilma pintava que a gestão do ex-presidente havia sido marcada por desemprego, juros altos e arrocho salarial, além de ajustes econômicos que nada faziam além de prejudicar o consumo. Menos de uma semana depois de ser reeleita, a situação que se desenha na economia brasileira mostra números piores que os previstos. Diante deles, o governo não terá alternativa além de fazer aquilo que tanto criticou no adversário: subir juros e colocar em prática políticas de ajuste fiscal.
aumento dos juros foi anunciado pelo Banco Central na quarta-feira, apenas três dias depois das eleições. Já o resultado das contas públicas de setembro dá conta da gravidade da situação: a diferença entre os gastos e a arrecadação federal ficou negativa em 20,4 bilhões de reais. No acumulado do ano, está 15,7 bilhões de reais no vermelho — o pior rombo da história. Isso significa que, no apagar das luzes de 2014, nada sobrará para o pagamento dos juros da dívida pública. A Fundação Getulio Vargas prevê que o resultado fiscal fique negativo em 0,5% do Produto Interno Bruto. Ou seja, o país terá de aumentar seu endividamento para conseguir honrar o pagamento dos juros. "Chegamos a um ponto lastimável. Isso é ruim do ponto de vista de controle de inflação, de credibilidade de política econômica e de sustentabilidade de dívida pública", afirma Silvia Matos, economista do Ibre, da FGV.
Para financiar o déficit, o governo pode lançar mão de recursos de mercado, como a caderneta de poupança, que tecnicamente deveriam ser direcionados ao setor produtivo. Ao obter financiamento via poupança interna, o governo reduz o capital disponível para investimentos, por exemplo. "Se a dívida aumenta, também sobe a necessidade de o governo se financiar. Em uma situação dessa natureza, aumenta a dependência do país em relação ao capital estrangeiro", afirma o professor de Economia do Insper (Instituto de Estudos e Pesquisas), Otto Nogami. O problema mora justamente aí. Tivesse o Brasil uma poupança interna infindável, como ocorre de certa forma na China, o governo da presidente Dilma até poderia continuar abusando da irresponsabilidade fiscal, praticando desonerações mal planejadas e gastando recursos públicos sem qualquer critério.
Mas, ao ser dependente do capital externo para investir, o país precisa obter o aval de agências de classificação de risco, como Moody's, Standard and Poor's e Fitch. A nota emitida pelas agências é uma forma de comprovar que um determinado país é destino seguro para investimentos. E é justamente essa chancela que o Brasil corre o risco de perder. Duas das três agências cortaram a nota do Brasil e rebaixaram a perspectiva para o campo negativo. Isso indica que, se reformas não forem feitas, poderão tirar o grau de investimento do país. Com isso, muitos fundos de pensão estrangeiros, por exemplo, terão de tirar seus recursos do Brasil por não poderem aplicar a poupança de aposentados em países com pouca solidez fiscal, ou "especulativos".
O que as contas de setembro mostram é que não é mais possível postergar pagamentos, como o governo vinha fazendo no período pré-eleitoral. As chamadas "pedaladas", que consistiam em negar à Caixa Econômica Federal o repasse de recursos públicos que financiam programas sociais, foram feitas para atenuar as perdas dos meses anteriores. Contudo, em setembro, logo após a reeleição, os resultados vieram sem a "contabilidade" recém-implantada. O rombo foi impulsionado ainda pelo aumento de 22% nos gastos com a Previdência. Para a economista da Gibraltar Consulting, Zeina Latif, a situação se agrava devido ao engessamento orçamentário, que abre poucas possibilidades para cortes de gastos. "Há uma rigidez no orçamento, o que dá pouco espaço para mexer. Assim, será preciso mudar de forma contundente as políticas expansionistas", afirma. 
Diante da pouca margem de manobra, economistas já esperam aumento de impostos ainda em 2014. A volta da Cide, cuja alíquota incorre sobre combustíveis, o aumento do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e a recriação da CPMF estão na pauta da presidente para retomar a trajetória de alta da arrecadação. "O governo vai fazer um bocado de maldades. E o custo do ajuste vai ser maior, porque perdeu a confiança do mercado", afirma o economista Mansueto de Almeida, que integrava a equipe econômica da campanha de Aécio Neves. Segundo Almeida, para conseguir cortar despesas, não bastará apenas penalizar investimentos. O governo terá de negociar com o Congresso mudanças na lei que permitam maior flexibilidade orçamentária. "E isso não se faz em um ano", diz, referindo-se à previsão do governo de cumprir um superávit primário de 150 bilhões de reais em 2015, o que equivale a 2,5% do PIB. "É um cenário de muita dificuldade para fazer ajuste. É muito duro. Não sei se estão conscientes disso", afirma.
O banco Nomura constata, no entanto, que a parte boa do rombo fiscal — se é que ela existe — é a pressão que ele exercerá no seio do PT. Diz o economista Tony Volpon que o resultado servirá de munição para que ganhe força a ala do partido que defende uma política econômica mais responsável, que é justamente composta por seguidores do lulopetismo. "Isso pode acontecer mesmo depois das afirmações, durante a campanha, de que ajustes não seriam necessários. Esse mesmo grupo poderá decretar a sentença de morte da Nova Matriz Econômica", afirma, referindo-se à política implementada pela presidente que colocou em segundo plano o tripé econômico que sustentou o Plano Real, composto por metas de inflação, ajuste fiscal e taxa de juros.

AÉCIO NEVES NO RODA VIVA - COMPLETO





Reforma política: a tentação bolivariana de Dilma, que pode nem terminar o mandato, agora visa a quebrar o PMDB

O PT conseguiu quatro mandatos com a Constituição que aí está. Ficará, se Dilma conseguir encerrar o próximo período, 16 anos no poder. E se prepara, um tanto alheio à realidade, para fazer uma reforma que busque eternizá-lo no poder. Não vai conseguir.
Mesmo com o país dividido, mesmo tendo obtido apenas 38% dos votos, com uma abstenção recorde; mesmo estando quase exilado às faixas de renda do país hoje mais dependentes dos benefícios estatais, os petistas se acham na condição de liderar uma reforma política contra o Congresso. Que os peemedebistas não duvidem um só segundo: o partido, embora o principal aliado do petismo, é o principal alvo das tentações totalitárias dos companheiros.
Em seu discurso, Dilma afirmou que pretende encaminhar a reforma política via plebiscito, que é como colocar o carro adiante dos bois; que é como fazer o rabo abanar o cachorro. Repetiu a sua intenção nas duas entrevistas concedidas até agora. No seu modelo ideal, fazem-se um plebiscito e uma constituinte exclusiva para a reforma. Em favor da tese, alega ter recebido uma petição de movimentos sociais com oito milhões de assinaturas. Ocorre que mais de 80 milhões deixaram de votar na represidenta. Perceberam a desproporção?
Fazer uma constituinte exclusiva corresponde a montar uma assembleia só com a finalidade de fazer a reforma, que será, obviamente, distorcida pelos ditos movimentos sociais, que nada mais são do que braços do PT. Pior: se os constituintes podem elaborar o texto e ir para casa, não terão compromisso nenhum com os seus efeitos.
É claro que, desse processo, resultaria um modelo tendente a fortalecer os fortes e a enfraquecer os fracos. O partido quer, por exemplo, financiamento público de campanha. Ora, como seria distribuído esse dinheiro? Teria de obedecer necessariamente aos votos obtidos na eleição anterior. Vale dizer: quem hoje dispõe de uma vantagem tenderia a carregá-la para o futuro. O PT tem também especial predileção pelo voto em lista. Quer encher o Congresso com os seus burocratas sem rosto.
Se propostas como essas vencem um plebiscito, os congressistas estariam obrigados a aceitá-las. “Ah, mas se é a vontade da maioria…” Bem, propostas as mais asquerosas e fascistoides podem contar com o apoio da maioria sem que a democracia saia ganhando com isso, não é mesmo? Proponha pena de morte e mutilações para bandidos perigosos, e isso tende a contar com a anuência popular. Quem disse que é bom?
O PMDB resiste à tentação totalitária da senhora Dilma Rousseff e faz muito bem! Até porque a legenda está na mira dos companheiros. Eles sabem que o partido dificilmente deixará de ter um candidato próprio nas próximas eleições.
A única forma decente de conciliar uma participação mais direta com os pressupostos da democracia representativa é fazer a reforma com o auxílio de referendo. Aí, sim: o Congresso vota uma reforma, e a população diz se aceita ou não a mudança.
Fora desse modelo, o que se tem é tentação golpista. O golpismo das urnas, que substituiu os tanques no neoautoritarismo em  curso em vários países da América Latina. Dilma que não venha posar de bolivariana. A gente nem sabe se ela termina o mandato, certo? A Venezuela,  a Bolívia e o Equador não são aqui.
Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/reforma-politica-a-tentacao-bolivariana-de-dilma-que-pode-nem-terminar-o-mandato-agora-visa-a-quebrar-o-pmdb/#.VFDn-e-p1EY.twitter

Mais uma denúncia grave sobre as urnas, que chega com RG, CPF, nome e sobrenome

Recebo da leitora T. M. a seguinte mensagem. Leiam. Volto em seguida.
Prezado Reinaldo Azevedo,
eu voto no colégio Rio Branco, em frente e o Sion. Quando chegou minha vez de votar, no primeiro turno, a mesária me pergunta se eu já havia votado. Eu disse que não. Ela chamou o fiscal e me conduziu para a coordenadora-geral porque lá constava que eu já havia votado.
Sumiram com meu título eleitoral. No final, exigi 2a. via do meu título e certidão de quitação eleitoral, já que sou aposentada (ELA CITA O ÓRGÃO PÚBLICO PARA O QUAL TRABALHOU) e preciso da quitação, senão não recebo meus proventos.
Esperei por duas horas lá, até chegar minha segunda via e a quitação. E disse que eu só sairia de lá após ter votado.
Não sei como fizeram, mas o fiscal me conduziu à sala de votação e consegui votar. Tenho o comprovante da certidão de quitação eleitoral, datada do dia 05 outubro.
Esta é a prova.
É preciso sim, que o PSDB exija apuração das urnas.
Atenciosamente,
T.M
Voltei
T. M. manda nome, sobrenome, RG, CPF e órgão público do qual é aposentada. Eis aí um caso. Se ela estiver falando a verdade — e por que mentiria? —, a questão é grave. Se constava que ela já tinha votado, então o comando eletrônico do seu voto — o número que libera a urna — já tinha sido acionado. Como é que ele foi acionado uma segunda vez? O mesmo número, então, teria de permitir dois votos.
É evidente que isso tem de ser apurado. E com rigor. Os dados estão à disposição do deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), que cuida do assunto no PSDB.
Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/mais-uma-denuncia-grave-sobre-as-urnas-que-chega-com-rg-cpf-nome-e-sobrenome/

Roda Viva | Arnaldo Jabor | 15/09/2014



'Dilma tem dois meses para mudar estilo de governar'

Entrevista - Henrique Eduardo Alves

Presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves afirma que a presidente reeleita tem de adotar nova forma de negociação com o Congresso imediatamente e descarta assumir um ministério no ano que vem

Marcela Mattos, de Brasília
Presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves
MÁGOA – O presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, derrotado na disputa pelo governo do Rio Grande do Norte: "O Lula nunca tinha visto o Robinson na vida dele. Se amanhã passar do lado, acho que o Lula nem o reconhece mais" (Pedro França/Agência Senado/VEJA)
'De fora da janela do Palácio do Planalto há um país dividido. E tem de se ter muito cuidado para que amanhã não haja uma crise. Agora tem de se calçar a sandália da humildade'
Na primeira semana depois das eleições, o Congresso Nacional deu um claro recado à presidente reeleita Dilma Rousseff (PT): derrubou o decreto bolivariano que criava conselhos populares em órgão públicos, convocou ministros e a presidente da Petrobras, Graça Foster, para prestar esclarecimentos em comissões e ensaia desengavetar propostas que causam dor de cabeça ao Planalto, como o chamado Orçamento Impositivo. Para Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), presidente da Câmara dos Deputados, Dilma precisa saber “conversar e “compartilhar mais” já nos próximos dois meses, quando encerra seu primeiro mandato. “Não pode ser como vinha sendo: o PT escolhendo o que quisesse, principalmente os melhores ministérios, e deixando o resto para os outros. Não pode e não deve ser assim. A presidente Dilma tem dois meses para provar que as coisas não vão ser assim”, afirmou. Depois de onze mandatos na Câmara, Alves foi derrotado na disputa pelo governo do Rio Grande do Norte e ficará sem mandato em janeiro. Nos últimos dias, seu nome passou a figurar na bolsa de apostas do futuro ministério de Dilma, o que ele descarta. Mas, como reza o anedotário político de Brasília, quando se quer um cargo de ministro, o melhor a fazer é afirmar justamente o contrário – diz a máxima que, a partir daí, seu nome passará ser lembrado constantemente. Leia a entrevista ao site de VEJA.
Como o senhor viu o apoio de Lula ao seu adversário Robinson Faria (PSD) na disputa ao governo do Rio Grande do Norte? Eu fui surpreendido. O Lula nunca tinha visto o Robinson na vida. Esqueceram de avisar que o Robinson que ele apoiou neste ano é o mesmo contra quem ele gravou em 2010. Se amanhã passar ao lado, acho que o Lula nem o reconhece mais. Enquanto eu era líder do PMDB, sempre que havia uma votação importante, o Lula me chamava para conversar e para negociar. Agora, ele grava uma entrevista em um formato de bate-papo elogiando o Robinson, dizendo que ele vai mudar o Rio Grande do Norte. Isso foi decisivo para a derrota, foram muitas inserções ao longo de vários dias.
O senhor chegou a procurar o PT pedindo que as gravações não se repetissem no segundo turno? Eu procurei o Michel Temer, que na hora telefonou para o Lula pedindo para que não gravasse mais. Tudo bem que a chapa do Robinson estava com o PT para o Senado, mas no plano nacional eu estava com a Dilma. Depois que pedi para pararem, foi quando usaram as propagandas desbragadamente. O Lula não deve ter feito nenhum gesto para pararem de usar. O Temer também procurou o Rui Falcão, mas não adiantou. Ficou uma coisa muito constrangedora. O Lula ia lá toda hora e classificava o outro candidato como a mudança. Mas sou eu que o conheço, eu que o ajudei, que fui o seu parceiro.
Então como fica a relação entre o PT e o senhor depois destas eleições? A Dilma teve outro comportamento. Eu disse que ela poderia ir lá no Estado que todos estaríamos ao lado dela. Mas também disse que ia entender se ela achasse melhor não ir, e ela realmente não foi. Não tenho nada a reclamar dela. Mas, com o Lula, eu vou fazer o quê? Tem de ter maturidade e experiência para virar essa página. Eu reconheço que a participação dele foi muito importante para o resultado eleitoral. Mas, com ressentimentos, ficamos menores. E eu não quero ficar menor com isso.
A derrubada do decreto de Dilma foi um troco ao PT? Essa afirmativa é desinformação ou má-fé. Essa matéria aguardava votação há três meses. Eu decidi pautá-la, fiz um pronunciamento defendendo que o decreto era inconstitucional, tentei diversas vezes que o Aloizio Mercadante o retirasse e apresentasse um projeto de lei com urgência. O que nós queríamos era tirar a vinculação dos conselhos à Presidência da República. Toda votação que se abria, a oposição começava a obstruir enquanto não pautasse o decreto. Na hora que deu para ser votado, a obstrução do PT não teve efeito. Se já era meu desejo que ele fosse votado e derrubado e a pressão estava grande, não teve como ser diferente. A Câmara ia ficar em um impasse sem votar nada? Mas isso não tem nada a ver com situação nenhuma. Eu já falei com a Dilma, dei parabéns pela eleição, e ela sequer tocou neste assunto. A presidente ainda disse que na próxima semana, quando voltar de viagem, gostaria de falar comigo porque ia precisar muito da minha ajuda.
O que o senhor acha que tem de mudar na relação entre Executivo e Legislativo no novo governo? A Dilma nunca foi parlamentar e nunca passou nesta Casa, como todos os outros presidentes passaram e sabem das tensões que temos aqui, da necessidade de dar respostas. Ela exerceu uma função gerencial e se tornou presidente da República. Eu acho que ela precisa conversar mais. Quando convencer, muito bem. Quando não, que seja convencida. Acho que ela vai partir para isso, para um modelo diferente do primeiro mandato. Até porque antes ela tinha um contexto eleitoral muito favorável, mas agora não, está dividido. E aqui, pelo radicalismo da campanha, é um prato cheio para o Aécio, porque as coisas vão se tornar ainda mais radicais. Mais do que nunca vai exigir a colaboração do PMDB e ela própria vai ter de conversar mais com o setor produtivo, com representantes empresariais, com o setor sindical e com parlamentares.
Este ano foi marcado por tensões entre a bancada do PMDB e o Planalto. O que o Michel Temer disse sobre o novo governo depois da reeleição? Nada. Mas agora a situação é outra. Fora da janela do Palácio do Planalto há um país dividido. E tem haver muito cuidado para que amanhã não haja uma crise. É preciso calçar a sandália da humildade. A Dilma, na reta final das eleições, quando precisou da ajuda do Nordeste, recorreu ao Lula. Até então quase não se via o Lula participar das eleições, ele estava mais focado na disputa de São Paulo. A Dilma tem de compartilhar mais, de participar mais. Não pode ser como vinha sendo, o PT escolhendo o que quisesse, principalmente os melhores ministérios, e deixando o resto para os outros. Não pode e não deve ser assim. A Dilma tem dois meses para provar que as coisas não vão ser assim.
Qual o caminho natural para a presidência da Câmara? Antes uma aliança entre o PT e o PMDB era importante porque juntava muitos votos e quase conseguia maioria. Era um rodízio que se impunha por serem as duas grandes bancadas da Casa. Agora mudou a configuração e essas duas legendas não fazem 140 votos. O fato de elas se entenderem não é nenhuma garantia de que farão o presidente da Casa. Deve-se buscar o candidato que reflete o sentimento da Casa, da independência, que procure angariar apoio tanto da base quanto da oposição. Há, hoje, um PMDB que não votou em Dilma. Nessa configuração confusa e muito dividida, acho que o discurso vencedor vai ser de quem falar pelo Parlamento. Eu acho inevitável que o PMDB procure a todos, oposição e governo, e caracterize o discurso de Parlamento.
Há hoje um nome alternativo ao Eduardo Cunha? Não. Ele é a indicação da bancada. O Eduardo tem credibilidade, é respeitado pelos parceiros, pelos adversários e cumpre acordos. É um nome muito forte.
O senhor está na Câmara há 44 anos. Está preparado para não viver mais essa rotina?Preparadíssimo. Eu passei a minha vida inteira morando em hotel sozinho, passava dois ou três dias com a família e viajava. Imagine o que é pegar um avião toda terça e quinta ao longo de todo esse tempo. Agora eu estou preocupado com a minha qualidade de vida. Eu tenho uma empresa de comunicação e vou ficar no comando do PMDB do meu Estado. Continuo na política. Mas quero ter mais qualidade de vida, fazendo o que eu gosto.
E a possibilidade de assumir algum ministério? Muitos querem que eu fique em Brasília. Há pressão nesse sentido pela experiência que eu tenho aqui. Eu poderia ficar fazendo um meio de campo entre o Michel Temer e o Eduardo Cunha. Mas a indicação que eu tenho agora é ter uma qualidade de vida melhor.
Então o senhor descarta tornar-se ministro? Descarto. Qualquer ministério. Ministério é pior, porque a gente tem de estar aqui de segunda a sexta. A política sacrifica muito a família. Eu tenho dois filhos que quase não vejo. A gente começa a ver que o tempo está passando e está perdendo algumas oportunidades. Então há coisas que vêm pelo bem. Eu tenho um jornal, uma TV e vou ter participação política, mas vivendo com mais estabilidade.
Quem poderia ser capaz de fazer esse meio campo e melhorar o diálogo com o Parlamento? O Jaques Wagner, ex-governador da Bahia, é uma boa pessoa. Ele é experiente, competente, malandro. Eu acho que ele vai para Relações Institucionais. A Dilma não pode mais correr riscos. O país está dividido.

Fornecedoras da Petrobras repassaram R$ 206 mi a empresas de Youssef

Lava Jato

Os valores correspondem ao período entre novembro de 2009 e dezembro de 2013, informa o jornal 'O Globo'

Crime perfeito: em depoimentos à Polícia Federal e ao Ministério Público, o doleiro Alberto Youssef relatou que as “doações legais” das empreiteiras foram a fórmula criada para esconder a propina
Crime perfeito: em depoimentos à Polícia Federal e ao Ministério Público, o doleiro Alberto Youssef relatou que as “doações legais” das empreiteiras foram a fórmula criada para esconder a propina (BG PRESS/VEJA)
O Ministério Público Federal (MP) identificou depósitos de 206,3 milhões de reais provenientes de fornecedores da Petrobras nas contas correntes de três empresas de fachada do doleiro Alberto Youssef, pivô do bilionário esquema de desvios investigado pela Operação Lava Jato da Polícia Federal, informa o jornal O Globo nesta sexta-feira. Os valores correspondem ao período entre novembro de 2009 e dezembro de 2013 e constam em levantamento feito pelo órgão a partir de quebras de sigilo bancário dessas empresas.
Segundo o levantamento, a GDF Investimentos recebeu o maior valor: 96,3 milhões de reais. Em seguida, vem a MO Consultoria, com depósitos que somam 70,4 milhões de reais e, por último, a Empreiteira Rigidez, com 39,5 milhões de reais. Somente essa última firma repassou 21,5 milhões de reais ao grupo Labogen, composto por empresas que Youssef usava para enviar recursos ao exterior.
O executivo Júlio Camargo, da Toyo Setal, que assinou acordo de delação premiada após ter sido citado pelo doleiro, afirmou aos investigadores ter depositado 16,6 milhões de reais para três empresas – Auguri, Piemonte e Treviso. O dinheiro teria sido doado a campanhas políticas. Sete políticos foram beneficiados com a doação em 2010, cinco deles eram do PT. De acordo com o que Youssef disse à Justiça Federal, a Toyo Setal também fez depósitos no exterior. Nas eleições deste ano, o comitê do PR foi agraciado com 2 milhões de reais da Toyo Setal e três candidatos à Câmara pelo PT - Henrique Fontana Júnior (RS), Benedita da Silva (RJ) e Luiz Sérgio Nóbrega de Oliveira (RJ) - receberam 150.000 reais, informa a reportagem.

Como as leis contra a corrupção nos EUA obrigaram a direção da Petrobras a se mexer; já não basta Graça Foster fechar a cara em depoimentos previamente ensaiados; agora, a coisa ficou feia

A Petrobras está numa encalacrada, e a questão, agora, deixou de ser local. Não dá mais para fingir que se investigam isso e aquilo. Já não basta mais à presidente da empresa, Graça Foster, ir ao Congresso e responder a perguntas a que teve acesso previamente, transformando o que deveria ser esclarecimento em pantomima. A seriedade da coisa subiu de patamar. O busílis é o seguinte: a PricewaterhouseCoopers, auditoria responsável por avaliar os balanços da estatal, resolveu pressionar a direção da empresa a aprofundar as investigações das roubalheiras na estatal, segundo critérios das leis anticorrupção dos EUA. Ou a gigante brasileira fazia isso, ou a Price deixaria de analisar seus balanços.
E que consequências isso teria? A auditoria informaria ao conselho da Petrobras a sua decisão; se, ainda assim, nada fosse feito, a Price informaria à SEC (órgão que regula o mercado de capitais nos EUA) o rompimento do contrato. Seria um golpe gigantesco na credibilidade da estatal no mercado internacional, isso num momento delicado, em que a empresa depende vitalmente de financiamento externo. Sem a análise do balanço, a Petrobras estaria fora do mercado.
Parece piada, mas é assim: foi preciso que as leis americanas fossem evocadas para que a Petrobras se coçasse e decidisse investigar a sem-vergonhice. Dois escritórios especializados em leis americanas anticorrupção foram contratados: nos EUA, o escolhido foi o Gibson, Dunn & Crutcher. No Brasil, o Trench, Rossi e Watanabe, de São Paulo. Eles vão colaborar com a comissão interna criada pela Petrobras para investigar o caso.
Na mira da comissão interna da Petrobras, estão diretores nomeados por Lula. A comissão pediu ainda autorização à Justiça para ouvir Paulo Roberto Costa sobre a construção da refinaria de Abreu e Lima, informa a Folha:“A empresa pediu que Costa esclarecesse, entre outras coisas, o teor de reuniões com o ex-presidente da estatal José Sergio Gabrielli e o ex-diretor de Serviços Renato Duque realizadas entre o fim de 2005 e o começo de 2006 sobre Abreu e Lima. A Petrobras quer saber por que, às vésperas da implantação de Abreu e Lima, Costa foi com Gabrielli e Renato Duque a reunião em Brasília. A estatal pede explicações sobre as revisões do valor da obra, que subiu de US$ 4 bilhões para US$ 13,4 bilhões entre 2006 e 2009”.
Essa informação é pública há muito tempo. Só agora o comando da Petrobras resolveu cobrar explicações. E só o fez porque a Price exigiu.
Que coisa, né? Quem sabe o fato de o mercado ser globalizado — e de as leis americanas serem bastante severas com corruptos — possa fazer bem ao Brasil. A Price obriga agora a Petrobras a fazer o que já deveria ter sido feito há muitos anos, não é, governanta? Que ironia! Quem sabe as leis contra a corrupção dos EUA ainda acabem fazendo bem aos brasileiros.
Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/como-as-leis-contra-a-corrupcao-nos-eua-obrigaram-a-direcao-da-petrobras-a-se-mexer-ja-nao-basta-graca-foster-fechar-a-cara-em-depoimentos-previamente-ensaiados-agora-a-coisa-ficou-feia/

"O Brasil despertou. Descobrimos que somos muitos."





O Brasil despertou. Descobrimos que somos muitos."É só isso que espero que a oposição SEJA OPOSIÇÃO.