domingo 21 2014

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Tesoureiro do PT procurou doleiro Youssef, aponta jornal

Lava Jato

João Vaccari Neto esteve em uma das empresas administradas pelo doleiro. Depoimento de contadora de Youssef poderá trazer mais detalhes sobre esquema bilionário

João Vaccari Neto, tesoureiro do PT
João Vaccari Neto, tesoureiro do PT (Lula Marques/Folhapress/VEJA)
O tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, procurou o doleiro Alberto Youssef dias antes da Operação Lava Jato ser deflagrada pela Polícia Federal. Youssef é investigado em um esquema bilionário de lavagem de dinheiro e está preso desde março. Já Vaccari é tesoureiro do partido desde 2010 e considerado um dos homens mais próximos ao ex-presidente Lula e articulador do ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini. As informações foram divulgadas pelo jornal Folha de S.Paulo nesta quarta-feira.

Vaccari procurou o doleiro na sede de uma das empresas usadas por Youssef, a GFD Investimentos, com sede em São Paulo. Segundo relatório elaborado pela Polícia Federal, Vaccari procurou Youssef no dia 11 de fevereiro. Ao não encontrar o doleiro, Vaccari deixou o prédio apenas quatro minutos depois. 
Questionado sobre a relação que mantém com Youssef, o petista afirmou “não ter relacionamento”, mas não explicou o motivo que o levou a procurar Youssef. "Conheço o sr. Alberto Youssef, mas não tenho nenhum relacionamento com ele. Na data citada estive no local, mas fui informado de que ele não se encontrava", disse Vaccari. A PF diz que irá apurar o motivo da visita.
Segundo a contadora Meire Poza, que trabalhava para o doleiro e prestava serviços também a GFD, “a empresa não tinha atividades comerciais de fato”. Meire revelou à PF detalhes do esquema comandado por Youssef, conforme revelou VEJA. Meire era responsável por manusear notas fiscais frias, assinar contratos de serviços que jamais foram feitos e montar empresas de fachada destinadas à lavagem de dinheiro. Nesse período, ela viu malas de dinheiro saindo da sede de grandes empreiteiras e chegando às mãos de notórios políticos. Nesta quarta-feira, Meire prestará depoimento ao Conselho de Ética da Câmara para falar sobre as denúncias de envolvimento de parlamentares com Youssef.
Ela contou que foi para a GFD a convite de Enivaldo Quadrado, que se apresentava como diretor financeiro da empresa. Condenado no julgamento do mensalão por ter usado sua corretora para abastecer o esquema de compra de apoio parlamentar durante o primeiro governo Lula, Quadrado trabalhava na sede da GFD até a PF deflagrar a Lava Jato.
No relatório elaborado pela investigação da PF, Quadrado cita o nome de Vaccari em uma troca de e-mails datada de fevereiro de 2012. O tema do e-mail era o fundo de previdência da Petrobras, Petros. 
A PF irá investigar se o tesoureiro do PT teria intermediado negócios entre o Petros e empresas de Youssef, como detalhou reportagem do jornal.

Lava Jato expõe milionária rede do colarinho branco

Polícia Federal

Dez nomes que aparecem na lavanderia de dinheiro desmontada pela operação foram denunciados ou investigados pela Polícia Federal por crime financeiro em sete escândalos recentes da política brasileira

O doleiro Alberto Youssef
O doleiro Alberto Youssef (Folhapress/VEJA)
Dez nomes que aparecem na lavanderia de dinheiro desmontada pela Operação Lava Jato foram denunciados ou investigados pela Polícia Federal por crime financeiro em sete escândalos recentes da política brasileira, entre eles o mensalão, a CPI dos Bingos e o Caso Banestado. Alvo central e coordenador do "engenhoso e sofisticado" esquema de lavagem de dinheiro usado para "esquentar" os recursos de caixa 2, oriundos, segundo a Polícia Federal, de corrupção e fraudes que atingiram a Petrobras entre os anos de 2009 e 2014, o doleiro Alberto Youssef é o melhor exemplo de reincidente.
"Alberto Youssef possui envolvimento há mais de duas décadas com crimes (...). Já foi preso e condenado, descumpriu acordos de colaboração e voltou a atuar de maneira ainda mais grave, realizando evasão de aproximadamente meio bilhão de reais", registrou o Ministério Público Federal, no pedido de manutenção da prisão dos réus da Lava Jato, em julho. Os dez personagens de outros escândalos que voltam a aparecer na Lava Jato se ligam em rede com a atual lavanderia de Youssef por transações cambiais, sociedades ocultas e abertas e troca de informações e recursos, conforme revelaram as investigações da PF.
Seus negócios no câmbio negro começaram em 1992, conforme ele mesmo disse em 2004 ao juiz Sérgio Moro, nos autos da Operação Farol da Colina - que apurava o megaesquema de lavagem de dinheiro mantido por doleiros, revelado no Caso Banestado. "Realmente, Youssef foi um dos principais doleiros envolvidos no Caso Banestado, com evasão fraudulenta milionária de divisas por contas CC5 na praça de Foz do Iguaçu nos anos 90", afirma o Ministério Público Federal. Por meio de três empresas (duas offshores fora do Brasil) movimentou mais de 800 milhões de dólares. Com ele, aparecem dois outros doleiros: Antonio Claramunt, o Toninho Barcelona, e Raul Srour - que voltou a ser preso na Operação Lava Jato.
Preso e prestes a ser condenado por causa da Banestado, Youssef aceitou a delação premiada em 2004 - colaborou com a Justiça em troca de redução da pena. Admitiu a lavagem de 25 milhões de dólares, os crimes contra o sistema financeiro e o desvio de recursos públicos. "Youssef se comprometeu inclusive a não realizar atividade delitiva sob pena de revogação do acordo", anotam os procuradores. Dois anos depois, voltou a ter o nome envolvido no caso do Mensalão, mas não foi denunciado. "Verifica-se que a corretora Bônus Banval, era, em verdade, de Alberto Youssef", afirmam.
Enivaldo Quadrado, que foi apontado como dono da corretora usada por Marcos Valério no mensalão, voltou a ser preso na Lava Jato, por ser um "funcionário de Youssef". Agora, dez anos após sua delação premiada, Youssef foi pego pela PF como chefe da organização que lavava dinheiro por meio de pelo menos doze empresas abertas em nomes de "laranjas", no Brasil e em países como Hong Kong, China, Holanda e Estados Unidos. Usando oito dessas empresas, a Lava Jato aponta que Youssef simulou importações e enviou ao exterior 44 milhões de dólares por meio de 3.649 operações de câmbio fraudulentas. Youssef teria montado uma rede colarinho branco com três outros grupos de doleiros, associados a políticos, agentes públicos e empresários.
Para o Ministério Público, Youssef, "mesmo tendo feito termo de colaboração com a Justiça, (...) voltou a delinquir, indicando que transformou o crime em verdadeiro meio de vida". Nos grampos da Lava Jato, o doleiro mencionou os estragos que a prisão em 2003 lhe causaram. "Eu tinha 150 milhões de dólares na conta, eu quebrei fiquei com 20 negativo, paguei todo mundo." O doleiro, "sem nunca ter uma atividade lícita", como ressalta o MPF, ficou rico e estava negociando a compra de um jato quando foi preso, no dia 17 de março, em São Luís (MA), onde havia conseguido a liberação de um pagamento de precatório por parte do governo estadual para uma empresa investigada.
Padrões - Enquanto a lei de crimes financeiros é a mesma desde 1986, o esquema de lavagem de Youssef foi se modernizando. A atual especialidade da lavanderia do doleiro era criar empresas de fachada no Brasil e fora do país (as offshores) para simular importações, movimentando assim recursos ilegais por operações de câmbio autorizadas pelo Banco Central.
Ele montou a MO Consultoria e a Empreiteira Rigidez, que serviam para emitir notas fiscais de serviços nunca prestados. Outras, como o Labogen e a GFD enviavam os recursos para o exterior. A partir das chamadas contas de passagem o dinheiro seguia para outras. "O criminoso de colarinho branco faz uma análise de risco. O fato de ele não ir preso é um incentivo para o crime", afirmou o procurador Rodrigo de Grandis, especialista em lavagem de dinheiro do Ministério Público Federal.
(Com Estadão Conteúdo)

Miséria que garante eleições do PT - Na favela Dilma Rousseff, falta água, luz, saneamento – mas tem Bolsa Família

Assentamento Dilma Rousseff, no Piauí
Casebres de taipas em uma das vielas da invasão Dilma Rousseff, na periferia de Teresina (PI) - Felipe Frazão/VEJA.com

Assentamento Dilma Rousseff, no Piauí
Crianças brincam num domingo à tarde nas vielas de terra da Vila Dilma Rousseff, em Teresina (PI) - Felipe Frazão/VEJA.com

Assentamento Dilma Rousseff, no Piauí
Placa na entrada da Vila Dilma Rousseff, invasão de casabres na Zona Norte de Teresina (PI) - Felipe Frazão/VEJA.com

Assentamento Dilma Rousseff, no Piauí
A servente dona Branca, líder comunitária da Vila Dilma Rousseff - Felipe Frazão/VEJA.com

Assentamento Dilma Rousseff, no Piauí
'Esqueleto' de novos casebres em construção na Vila Dilma Rousseff. Associação estima que cerca de 1.000 famílias vivem no local - Felipe Frazão/VEJA.com

Assentamento Dilma Rousseff, no Piauí
A dona de casa Maria Isabel da Silva, de 68 anos, mais recente moradora da Vila Dilma Rousseff, em Teresina (PI) - Felipe Frazão/VEJA.com

Assentamento Dilma Rousseff, no Piauí
O camelô Carlos da Silva Gomes e a mãe Maria Isabel da Silva em frente à casa onde vivem na Vila Dilma Rousseff, em Teresina (PI) - Felipe Frazão/VEJA.com

Banheiro no Assentamento Dilma Rousseff, no Piauí
Banheiro improvisado com palha de palmeira na favela Dilma Rousseff, no Piauí - Felipe Frazão/VEJA.com

Assentamento Dilma Rousseff, no Piauí
A dona de casa aposentada Maria Isabel da Silva caminha no quintal de sua nova casa na Vila Dilma Rousseff, em Teresina (PI) - Felipe Frazão/VEJA.com

Assentamento Dilma Rousseff, no Piauí
Reservatório de água adaptado na casa do camelô Carlos da Silva Gomes, um dos primeiros moradores da Vila Dilma Rousseff em Teresina (PI) - Felipe Frazão/VEJA.com

Assentamento Dilma Rousseff, no Piauí
Caminhonete Rural Willys estacionada na Vila Dilma Rousseff, em Teresina (PI) - Felipe 
Frazão/VEJA.com

Assentamento Dilma Rousseff, no Piauí
Bar na esquina da principal viela da ocupação Dilma Rousseff, criada há quase 4 anos na Zona Norte de Teresina (PI) - Felipe Frazão/VEJA.com

Moradias do programa de governo ' Minha Casa Minha Vida'  ao lado do Assentamento Dilma Rousseff, no Piauí
Casas desocupadas do Minha Casa Minha Vida no residencial Mirante da Santa Maria da Codipi, Zona Norte de Teresina (PI) - Felipe Frazão/VEJA.com



Assentamento Dilma Rousseff, no Piauí
Uma das últimas casas de taipas com telhado de palha da Vila Dilma Rousseff, no bairro Santa Maria da Codipi, em Teresina (PI) - Felipe Frazão/VEJA.com




Assentamento Dilma Rousseff, no Piauí
Pequeno barraco de taipa construído com barro e talo de babaçu na Vila Dilma Rousseff, em Teresina (PI) -
 Felipe Frazão/VEJA.com


Assentamento Dilma Rousseff, no Piauí
A moto é um dos principais meios de transporte em Teresina (PI), principalmente em locais pobres como a Vila Dilma Rousseff - Felipe Frazão/VEJA.com

Assentamento Dilma Rousseff, no Piauí
Vizinhos na Vila Dilma Rousseff, em Teresina (PI): Maria de Lourdes com o bebê Luís Eduardo no colo, Cleudia Regina e o marido Antônio Soares com a filha Adrielle Suyane - Felipe Frazão/VEJA.com

Assentamento Dilma Rousseff, no Piauí
Quintal da casa de Antônio Soares e Cleudia Regina, onde vizinhas se reúnem para conversar na Vila Dilma Rousseff, em Teresina (PI) - Felipe Frazão/VEJA.com

Estrutra de uma casa no Assentamento Dilma Rousseff, no Piauí
Estrutra de uma casa de taipa em construção no assentamento Dilma Rousseff, em Teresina (PI) - Felipe Frazão/VEJA.com

Moradias do programa de governo ' Minha Casa Minha Vida'  ao lado do Assentamento Dilma Rousseff, no Piauí
Casas na entrada do maior conjunto habitacional do Piauí, o Jacinta Andrade, na Zona Norte de Teresina - Felipe Frazão/VEJA.com

Moradias do programa de governo ' Minha Casa Minha Vida'  ao lado do Assentamento Dilma Rousseff, no Piauí
Moradias habitadas do programa de governo Minha Casa Minha Vida ao lado da Vila Dilma Rousseff, em Teresina (PI) - Felipe Frazão/VEJA.com


Assentamento Dilma Rousseff, no Piauí

Casa de taipas em construção na Vila Dilma Rousseff, em Teresina (PI) - Felipe Frazão/VEJA.com

Assentamento Dilma Rousseff, no Piauí

Casebre na Vila Dilma Rousseff, invasão que ganhou o nome da presidente na Zona Norte de Teresina (PI) - Felipe Frazão/VEJA.com

http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/na-favela-dilma-rousseff-falta-agua-luz-saneamento-mas-tem-bolsa-familia

Na favela Dilma Rousseff, falta água, luz, saneamento – mas tem Bolsa Família

Eleições 2014

Site de VEJA visitou a "vila" que leva o nome da presidente-candidata na periferia de Teresina, no Piauí, Estado onde metade da população recebe benefícios do Bolsa Família

Felipe Frazão, de Teresina (PI)
Assentamento Dilma Rousseff, no Piauí
Casebres de taipas em uma das vielas da invasão Dilma Rousseff, na periferia de Teresina (PI) - Felipe Frazão/VEJA.com
O sol a pino, o tempo seco e a temperatura diária por volta dos 38 graus castigam Teresina entre setembro, outubro e novembro, época do ano que os nativos apelidaram de "b-r-o-bró", sílaba final dos três meses mais quentes do ano na capital do Piauí. A condição é ainda mais penosa para os moradores da Vila Dilma Rousseff, uma favela formada por casebres de taipas na Zona Norte da cidade. A vegetação local, formada por cajueiros e palmeiras (ou pindobas, como são chamadas no Estado), oferece pouca proteção do sol. Caminhar nas vielas de terra durante o dia torna-se uma tarefa árdua. Apesar de levar o nome da presidente-candidata, líder de intenção de voto no Estado, a invasão, distante 18 quilômetros do centro, parece ainda mais longe do poder público: falta água encanada, energia elétrica e saneamento básico mínimo – banheiro em casa é um privilégio.
Criada há mais de três anos, a “vila” (um eufemismo local para favela) abriga atualmente cerca de 1.000 famílias, segundo moradores ouvidos pela reportagem. As palavras mais pronunciadas entre eles são "água", "energia" e "gambiarra", um resumo das carências mais urgentes. No último levantamento, em meados de 2013, havia 658 famílias e mais de 800 barracos de pé – os que continuam vazios ou fechados pertencem a quem os vizinhos chamam de aproveitadores. Os moradores construíram os casebres de cômodo único por conta própria, erguidos com talo de babaçu preenchido com barro. A madeira fina, típica da região, compõe a cerca. As folhas secas das palmeiras cobrem os telhados – embora a maior parte dos moradores esteja comprando telhas para evitar ataques incendiários na madrugada. A palha tem outra serventia: funciona como tampão nos cercadinhos nos quintais, onde se toma banho de balde.
Na entrada da invasão, destaca-se um pé de faveiro, árvore do cerrado com copa mais larga. Nela, está pregada a placa que dá ares de legalidade: "Assentamento Dilma Rousseff". Não há nenhuma outra formalidade que indique a presença do poder público na favela, aberta na periferia do bairro Santa Maria da Codipi. A água e a luz são puxadas ilegalmente das redes de um condomínio vizinho, construído com recursos do programa Minha Casa Minha Vida. Para se refrescar, os moradores armazenam água em baldes e anilhas de concreto que funcionam como caixa d’água improvisada. Ou vão tomar banho de rio.
A invasão estabeleceu-se ao lado do maior conjunto habitacional do Estado, o Residencial Jacinta Andrade, com 4.300 casas de alvenaria. Uma nova leva de casas do Residencial Mirante de Santa Maria da Codipi, de 648 unidades e orçamento de 20 milhões de reais, também permanece fechada, sem nenhum morador, à 700 metros de distância. Apesar da condição menos degradante, lá também passou a faltar água neste ano, o que levou os mutuários a abandonarem o lugar. O Ministério Público do Piauí investiga a distribuição de casas a moradores que não se encaixavam nas regras do programa e a revenda proibida. Moradores também denunciaram à Polícia Federal que casas eram usadas como “veraneio”, para festas e churrascos. O Ministério Público Federal abriu uma ação civil pública para apurar desperdício de dinheiro público na obra do Jacinta Andrade, que atravessou os períodos de governo dos últimos três chefes do Executivo locais, ex-aliados que agora protagonizam a disputa. Ao custo de 147 milhões de reais, a construção lançada no governo Wellington Dias (PT), candidato a retornar ao posto, atravessou o mandato do seu sucessor e agora desafeto, Wilson Martins (PSB), e permanece incompleta no mandato-tampão de Zé Filho (PMDB), ex-vice de Martins, que assumiu o governo em abril e concorre à reeleição.
Trabalhadores sem-teto que não conseguiram ser sorteados para receber uma casa do condomínio Jacinta Andrade ergueram a favela. O terreno baldio era rota de fuga, esconderijo de traficantes e local de desova de corpos, além de palco de execuções e linchamentos. Em uma reunião com catorze líderes comunitários na prefeitura de Teresina, decidiram homenagear a presidente recém-eleita. “Na época a gente precisava de um nome forte e o mais forte era o da presidente”, diz Branca, como é conhecida a auxiliar de serviços gerais Risomar Granja Nascimento, de 45 anos.
Branca é um exemplo do pragmatismo teresinense. Filiada ao PCdoB, trabalhou em 1989 na campanha do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Neste ano, é cabo eleitoral do governador Zé Filho (PMDB).  Ela conta que passou a presidir o conselho comunitário da Vila Dilma Rousseff com ajuda da primeira-dama de Teresina, Lucy Soares, mulher do prefeito Firmino Filho, do PSDB. Neste ano, também comprometeu-se a trabalhar pela eleição do sobrinho do prefeito, Firmino Paulo (PSDB), para deputado estadual. Mas vota em Dilma – não no PT, ressalva. “Voto para presidente é uma questão minha, eu que tenho de escolher”, justifica. “A presidente Dilma tem um cartaz doido por aqui. Meu voto é da Dilma. Mas por causa do Lula, isso não nego para ninguém. Eu preferia que ele fosse candidato, porque sou pernambucana como ele. E ele só ganha meu voto para a Dilma, porque eu conheço os outros candidatos do PT daqui.”
A quem lhe pergunta sobre a coerência das escolhas políticas, Branca responde: “Dizem que a água e vinho não se misturam, mas isso só vale para nós que somos pobres. Os ricos se misturam. Os políticos aqui de Teresina são assim, vão para cima do palanque e se esculhambam, mas quando termina vão para um lugar de rico que tem acolá na Avenida do Jóquei tomar whisky e conversar como se nada tivesse acontecido, enquanto os bestas ficam brigando por eles.”
A Associação de Moradores do Residencial Dilma Rousseff abriu seu CNPJ em novembro de 2011. Por iniciativa da vereadora Graça Amorim (PTB), que pediu votos na comunidade em 2012, o prefeito sancionou a lei que deu o título de “utilidade pública” à associação em março do ano passado. Segundo Branca, Firmino Filho prometeu ajudar os moradores a se fixarem no local. Há mais de um ano, o prefeito anunciou, durante reunião pública para evitar a reintegração de posse da ocupação, o lançamento de um Plano Diretor de Regularização Fundiária em Teresina. Apesar disso, os vizinhos da Vila Dilma Rousseff convivem com o iminente medo de despejo – o terreno é particular – e reclamam de nunca terem recebido qualquer benefício governamental.
Eles reclamam da precariedade do lugar: no inverno, entre fevereiro e abril, chove e venta forte em Teresina, o que derruba os postes de madeira levantados para passar a fiação. Uma parede inteiriça da casa do pedreiro Antonio dos Santos Soares, de 30 anos, foi ao chão. Ele teve de correr com a mulher e a filha para não ser atingido. Para o pedreiro, os políticos desperdiçam dinheiro com campanhas eleitorais e deveriam ver "se alguém está com fome". “Esse dinheirão danado que eles andam gastando com carreata e soltando fogos, deviam dar uma carga de barro para um pobre que está precisando”, diz.
Bolsa Família – Soares é eleitor convicto de Dilma, assim como a maioria dos moradores da vila. Ele acredita que só a presidente-candidata tenha condições de aumentar a geração de empregos no país. Também desconfia que postos de trabalho serão fechados se ela for derrotada. “O emprego ficou mais facilitado depois que ela entrou e ela fez um bom trabalho ajudando as mães com o Bolsa Família.” O raciocínio político de Soares ajuda a entender os índices de intenção de voto ostentados pela presidente no Estado: Dilma atinge 61%, ante 24% de Marina Silva (PSB) e 6% de Aécio Neves (PSDB). A preferência por Dilma sobe para 67% entre os piauienses que ganham até um salário mínimo – o inverso do que ocorre com Marina e Aécio, que atingem, respectivamente, 16% e 3% nessa faixa do eleitorado.
Mulher de Soares, a dona de casa Cleudia Regina Gomes Sales, de 31 anos, é uma das beneficiárias do programa na vila. Ela ganha auxílio de 112 reais para manter na escola a filha Adrielle Suyane, de 4 anos. A vizinha Maria de Lourdes Pereira da Costa, de 22 anos, também passou a receber a quantia após o nascimento do menino Luís Eduardo, de 1 ano e 4 meses. Elas fazem parte de uma realidade massificada no Piauí: atualmente o governo federal paga a Bolsa Família para 458.081 no Estado, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. De janeiro a setembro, o governo federal desembolsou 729 milhões de reais em benefícios para famílias que equivalem a 48% da população piauiense. Em 2013, foram 903 milhões de reais.
Durante a conversa com o site de VEJA, Cleudia pediu por três vezes que o repórter lhe arranjasse uma indicação para trabalhar na prefeitura de Teresina. Ao contrário do marido, Cleudia relata dificuldade em conseguir um emprego. Ela elogia Dilma, mas é categórica ao dizer que o governo não levou benefícios para a ocupação. "Até agora não recebemos nada. Os postes são gambiarra, a encanação também, não tem fossa e falta água direto numa quentura dessa para as crianças”, relata. “Acho que a Dilma deve ter ajudado, ela é muito querida aqui. Eu não tenho o que dizer [reclamar] dela não. Muita gente aqui diz que está com o voto garantido para ela.”
A adesão a Dilma, contudo, não é unânime. Um dos primeiros moradores da invasão, o camelô Carlos da Silva Gomes, de 45 anos, eleitor da petista em 2010, agora pensa em anular o voto. Ele afirma que perdeu a confiança nos políticos. “Votei na Dilma devido à incerteza. Ela já vinha com o Lula e eu sabia que ia continuar o governo dele”, diz o vendedor ambulante. “Hoje a gente vê que a corrupção já vem de muito tempo, é só o que a gente houve falar na televisão. A gente não vê o benefício, não vê eles se dedicarem ao voto da pessoa. Eu mesmo nunca fui beneficiado pelo governo municipal, estadual nem federal.”
Mais nova moradora da vila, a mãe de Gomes, Maria Isabel da Silva, de 68 anos, também está indecisa sobre a quem confiar o voto presidencial. “Estava pensando na Marina, mas ainda não tenho opção”, diz a dona de casa, que lembra ter tido como último benefício do governo o Bolsa Escola, de 32 reais, para um neto. O benefício, que "servia para comprar uma merenda no colégio", foi cortado quando o rapaz completou 16 anos. No domingo passado, Maria Isabel se juntou ao terreno em que a família ergueu três casebres, o primeiro há 3 anos e 7 meses. Reflexivo, Gomes cobra a presença do Estado no local onde deseja viver pelos próximos anos. “Não penso em sair daqui. Já me sinto como dono mesmo. É muito bom ter o que é da gente.”
Assentamento Dilma Rousseff, no Piauí
Crianças brincam num domingo à tarde nas vielas de terra da Vila Dilma Rousseff, em Teresina (PI) - Felipe Frazão/VEJA.com