terça-feira 17 2013

No Rio, promotores e juízes querem aumento de benefícios de R$ 53,5 milhões

Rio de Janeiro

Presidência do TJ e procurador-geral do MP estadual enviaram para a Alerj mensagens que criam gasto adicional com auxílio-moradia e gratificações

Daniel Haidar, do Rio de Janeiro
Desembargadora Leila Mariano, presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro
Desembargadora Leila Mariano, presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (Carlos Moraes/Ag. O Dia - 04/11/2013)
No apagar das luzes de 2013, o Tribunal de Justiça e o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro tentam aprovar benefícios adicionais para juízes e promotores, com impacto estimado em até 53,5 milhões de reais para o orçamento do Executivo para o próximo ano. Projetos de leis que tratam de benesses para a promotoria e a magistratura foram enviados na semana passada para a Assembleia Legislativa do estado do Rio de Janeiro (Alerj). Os textos entraram em votação nesta terça-feira em regime de urgência, mas, como receberam emendas, serão analisados pelos líderes das bancadas nesta quarta-feira antes de voltarem ao plenário.
As propostas criam o auxílio-moradia para a magistratura e aumentam o valor do mesmo benefício e da chamada “gratificação pelo efetivo exercício em órgão de atuação de difícil provimento” para integrantes da promotoria. Considerados verba indenizatória, sem cobrança de Imposto de Renda, os benefícios vão aumentar ainda mais os ganhos de promotores e juízes. Os salários para as duas carreiras variam de 22.000 reais a 28.000 reais, sem contar outras gratificações que elevam essa remuneração. Assim, o auxílio-moradia pode chegar a até 5.000 reais para cada beneficiado.
No caso do Tribunal de Justiça, o assunto ganhou controvérsia em abril depois que o órgão especial do TJ aprovou que fosse preparado um projeto de lei com a previsão de pagamento retroativo aos últimos 10 anos. Numa canetada só, juízes teriam direito a receber benefício que não foi pago em uma década. O projeto efetivamente enviado na semana passada foi considerado ambíguo por deputados estaduais. Por isso, parlamentares apresentaram emendas para que, caso o texto seja aprovado, não haja liberação de pagamento referente aos anos anteriores. O deputado estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB) alertou ainda que, pela legislação aplicável e pelo teor da proposta, fica aberta a possibilidade para que qualquer magistrado receba auxílio-moradia desde que não tenha residência oficial – caso da maioria dos magistrados.
A partir do alerta de Corrêa da Rocha, a presidente do Tribunal de Justiça, Leila Mariano, teve de se corrigir em ofício à presidência da Assembleia Legislativa, informou o deputado. Na mensagem enviada na semana passada ao Legislativo, a presidente do tribunal estimava um impacto de  8.795.863,92 de reais. Nos novos cálculos, o valor foi quintuplicado: o custo pode ficar em torno de 46.090.242,20 reais. O projeto recebeu 14 emendas na sessão desta terça-feira.
“Sem dúvida nenhuma os projetos vão ser aprovados. No caso da magistratura, a lei é clara e o benefício pode ser pago para todos que não têm residência oficial”, disse o deputado Luiz Paulo Corrêa (PSDB), que faz oposição a Cabral.
Os promotores já ganham auxílio-moradia equivalente a até 15% do salário, mas o procurador-geral de Justiça, Marfan Vieira, tenta autorização legal para pagar até 18%. Vieira também quer elevar o pagamento da gratificação pelo “efetivo exercício em órgão de atuação de difícil provimento”. O aumento das benesses para os promotores acarreta um gasto extra de 7.515.709,21 de reais, de acordo com estimativas do Ministério Público. Só em 2013 o auxílio-moradia custou mais de 1 bilhão de reais (1.105.971,41).
Para ter direito ao auxílio, basta que o promotor informe como endereço uma nova residência, em outra cidade, que fique a distância superior a 50 quilômetros da moradia antiga, de acordo com o órgão. O projeto recebeu 16 emendas dos deputados e também voltará para análise.


O MP do Rio também aproveitou o fim de ano para aumentar os cargos de confiança nas promotorias. A procuradoria pede aos deputados  a criação de 110 vagas para concursados e de 218 postos para comissionados. O custo desse incremento nos quadros de servidores da instituição vai custar 11.315.838,07 reais, segundo as despesas previstas para dezembro de 2013 e o ano de 2014.

Oito perguntas e respostas sobre o Jesus histórico

Os autores dos Evangelhos conheceram Jesus?


A maior parte dos historiadores concorda que nenhum dos evangelistas foi testemunha ocular da vida de Jesus. Os Evangelhos, na verdade, faziam parte de uma grande variedade de textos que circulavam nos primeiros séculos depois de Cristo e representavam o que algumas das comunidades cristãs pensavam (os Evangelhos que foram deixados de lado pela tradição católica se tornaram conhecidos como apócrifos).
 
Os textos têm autoria anônima, e os pesquisadores possuem poucas informações sobre sua exata origem geográfica. O que se sabe é que eles foram criados a partir de relatos, memórias, tradições e textos mais antigos, que circulavam entre as primeiras comunidades cristãs. Eles teriam sido escritos entre o ano 60 e o 120, e só no século II é que seus autores foram atribuídos — o primeiro Evangelho a Marcos, e o último a João.

Com o passar dos séculos — e com a ortodoxia cristã tendo relações cada vez mais próximas ao Império Romano — surgiu a preocupação de delimitar exatamente quais os textos que guardavam a memória verdadeira sobre Jesus. Por volta do século IV, depois de sérias disputas teológicas, a Igreja finalmente escolheu quais haviam sido inspirados por Deus — criando o cânone do Novo Testamento. "Decidiu-se assim quais textos seria destruídos e quais preservados, e quais tradições cristãs seriam perseguidas e quais aceitas pela Igreja", diz André Chevitarese, professor do Instituto de História da UFRJ e autor dos livros "Jesus Histórico - Uma Brevíssima Introdução" e "Cristianismos: Questões e Debates Metodológicos" (Editora Kline), em entrevista ao site de VEJA.

Dentre os textos do Novo Testamento, aqueles que os historiadores atribuem, de fato, a alguém que conviveu com Jesus são as encíclicas escritas por Paulo — pelo menos sete delas teriam sido ditadas pelo apóstolo. "Na forma como o Novo Testamento está organizado, os quatro Evangelhos aparecem antes dos textos de Paulo. No entanto, as encíclicas foram escritas primeiro. O pesquisador tem de começar a ler por elas — assim fica mais fácil entender a evolução das primeiras comunidades cristãs."

Como era a família de Jesus?

A família de Jesus é citada em diversos pontos das escrituras, de Maria e José até seus irmãos e primos. No Evangelho de Marcos, o primeiro a ser escrito, seus parentes são mostrados de forma bastante distanciada. Em certo momento, eles tratam Jesus como maníaco, afirmando que suas atividades como pregador só poderiam ser fruto da loucura. Jesus se afasta, e passa a defender uma nova percepção de família, formada por aqueles que estão juntos dele, fazendo a vontade de Deus.

Nos outros Evangelhos, no entanto, a família é mostrada como sendo muito mais próxima do movimento de Jesus — com destaque especial para a figura de Maria, presente em momentos-chave da história. Em Atos dos Apóstolos, o livro bíblico que narra o que acontece com os discípulos após a ressurreição, a família recebe ainda mais destaque: os parentes de Cristo estão entre os principais pregadores da nova religião cristã que passa a ser construída. Dessa vez, o destaque fica para Tiago, irmão de Jesus e um dos principais líderes do cristianismo primitivo.

"Do primeiro texto, em que a família vê Jesus como um louco, ao último, onde são eles que levam adiante o cristianismo, parece haver uma contradição — mas não necessariamente. Pode ser que, com o passar do tempo, a família tenha se reaproximado de Jesus, e tomado seu lugar na Igreja", diz André Chevitarese.

A citação bíblica aos irmãos de Jesus é alvo de grandes discussões entre acadêmicos e teólogos, pois pode afrontar uma das principais crenças da igreja católica: a da virgindade de Maria. Ao longo dos séculos, os teólogos católicos esboçaram possíveis explicações para isso. Uma delas diz que eles seriam, na verdade, meios-irmãos de Jesus, filhos de um primeiro casamento de José. Outra explicação afirma que o termo grego utilizado no texto bíblico original pode significar tanto primo quanto irmão, e teria havido uma confusão nas traduções.
 
Essa segunda interpretação também pode estar correta. "A noção de família que se apresenta no contexto do século I mediterrâneo é muito diferente da atual. Ela é uma família extensiva, onde todos os parentes orbitam em torno de uma figura masculina mais velha. Nesse ambiente, o primo pode, sim, ser um irmão."

João Batista existiu?

Assim como Jesus, João Batista é um personagem histórico. Segundo diversas fontes da época, ele era um importante pregador judeu que viveu na Galileia durante o século I. O tipo de movimento messiânico comandado por João e Jesus era bastante comum na época. Esmagados pelo Império Romano, os camponeses judeus eram levados a esperar pela intervenção de um salvador que fosse mudar os rumos da história. O historiador judeu Flávio Josefo cita dezenas de candidatos a messias em seus textos.

Segundo as fontes históricas, o movimento liderado por João Batista chegou a ser, por certo tempo, mais importante que o de Jesus. "O número de páginas que Josefo dedica a Batista é muito maior do que o dedicado a Jesus. O historiador narra como Herodes reconhece sua força e manda matá-lo. Isso mostra que era Batista quem realmente desafiava Roma em sua época", diz André Chevitarese.

Na verdade, segundo os historiadores, Jesus pode ter sido um discípulo de João Batista — teria sido com ele que aprendeu a batizar, exorcizar e a desafiar as autoridades romanas. Acontece que, em algum momento, discípulo e mestre romperam. "As ideias dos dois eram muito diferentes. Enquanto João acreditava em preparar o caminho para um personagem divino intervir na história, Jesus dizia que essa personagem já veio, e era ele mesmo", diz o pesquisador.

Os próprios Evangelhos podem servir para mostrar o quanto João Batista era importante em seu tempo histórico. Segundo os pesquisadores, a necessidade que os evangelistas demonstram ter de citá-lo em seus textos se deve ao fato de sua memória ainda continuar forte no século I. Assim, os autores precisam mostrar que esse personagem, que até então permanecia independente do cristianismo, poderia ser amarrado à sua própria teologia. "Os cristãos tiveram a necessidade de mostrar que João Batista enxergou em Jesus o Messias. Assim, eles conseguiram demonstrar ainda mais o valor de Jesus."

Jesus sabia ler?

Jesus demonstra saber ler em dois momentos da Bíblia. O primeiro deles acontece no Evangelho de Lucas, quando ele entra em uma sinagoga na cidade de Nazaré e começa a ler textos escritos pelo profeta Isaías. O segundo é mostrado no Evangelho de João, onde Jesus aparece escrevendo. Logo depois de intervir no apedrejamento de uma mulher — usando o conhecido desafio de "quem nunca tiver pecado que atire a primeira pedra" — ele se abaixa e começa a escrever no chão.

O problema é que ambos os trechos apresentam problemas. Não existe nenhum indício de sinagoga em Nazaré e, mais importante, o verbo grego para ler é o mesmo para memorizar — Jesus poderia simplesmente ter decorado a passagem de Isaías. Ao mesmo tempo, o trecho tirado do Evangelho de João (capitulo 8, versículo 8) é bastante discutido entre os pesquisadores. Muitos deles vêm a passagem como uma alteração tardia feita à Bíblia, adicionada já no século V.

A verdade é que as estimativas dos historiadores mostram que entre 95% e 98% da população que vivia naquela região do mediterrâneo era analfabeta. Seria natural que Jesus, um camponês pobre que nasceu e nunca saiu daquele ambiente, estivesse dentro dessa estatística.

"Na verdade, o maior incômodo com o fato de Jesus ser analfabeto vem do mundo contemporâneo. Hoje, se assume que uma liderança — politica, religiosa ou econômica — precisa ter feito até faculdade, quanto mais saber ler. Mas essa não era uma demanda dos discípulos."

Qual era a religião de Jesus?

"Jesus nasceu judeu, viveu judeu, e morreu judeu", responde André Cheviterese. Foi só nos séculos seguintes à sua morte que a Igreja começou a se distanciar do judaísmo e a se aproximar do Império Romano. Nesse processo, a teologia cristã vai se tornando cada vez mais arredia aos judeus, resvalando até no antissemitismo — o que transparece nos Evangelhos, principalmente no de João.

"Acho que a base para se entender isso está na tensão que é criada entre a comunidade cristã joanina [que se pretendia seguidora do apóstolo João] e a religião judaica. A partir da década de 80 do século I, seu proselitismo se torna tão agressivo que eles são expulsos das sinagogas. A partir daí, se tornam muitos hostis", diz o pesquisador.

Assim, no Evangelho de João (capítulo 8, versículo 44), Jesus se refere aos judeus como Filhos do Diabo, adoradores de um Deus homicida e mentiroso. Do mesmo modo, a narração deixa de mostrar Jesus sendo morto de forma sumária pelos romanos. Segundo os textos, ele é assassinado a pedido dos judeus — Pôncio Pilatos até lava as mãos.
 
"Essas passagens não deixaram de ser repercutidas desde então, e foram usadas, inclusive, para perseguir os judeus. Por sorte, a Igreja se desviou dessa visão nas últimas décadas", afirma o historiador.

esus seria casado com Maria Madalena?

Maria Madalena é uma das figuras mais importantes e disputadas de todo o cristianismo. Ela costuma ser usada como a prova de que Jesus teria apóstolos e apóstolas — o que contraria a doutrina religiosa de só permitir padres do sexo masculino. Mais que isso, ela é uma personagem central dos Evangelhos, pois é a primeira a visitar o sepulcro de Jesus e perceber que seu corpo não estava lá — e a primeira a reconhecer o Cristo ressuscitado.

Do século I ao IV, houve uma grande disputa dentro do cristianismo para decidir se mulheres poderiam ou não assumir funções de proeminência nos ritos religiosos. "No ano 591, o papa Gregório Magno proferiu uma homilia onde juntava duas personagens diferentes citadas no Evangelho de Lucas. Ele afirma que uma mulher vista como pecadora (uma prostituta) e Maria Madalena eram a mesma pessoa. Desse modo, sugere que as mulheres são demoníacas", afirma Chevitarese. 

No século XIX, a Igreja finalmente voltou atrás: Maria Madalena deixa de ser prostituta e é promovida a santa. Mesmo assim, sua imagem como pecadora continua entranhada no imaginário cristão.
 
Quanto às teorias que defendem seu casamento com Jesus, elas têm origem em uma passagem do Evangelho de Felipe, um dos livros apócrifos, onde os dois personagens aparecem se beijando. "Analisando esse trecho com os olhos de hoje, alguns pesquisadores enxergaram um elemento erótico na cena. Mas no mesmo evangelho Jesus beija seus apóstolos homens. Isso não tinha nada de anormal. Usar isso para afirmar que Jesus tinha um caso com Maria Madalena passa longe de fazer história."

Jesus foi traído por Judas?

Os pesquisadores costumam concordar que Jesus foi traído e entregue por um de seus discípulos para o exército romano. Mas o traidor é desconhecido. A figura de Judas — desde seu nome até seus trejeitos — parece ter sido criada sob medida para objetivos teológicos.

"Ele é fruto de uma teologia evidentemente antijudaica. Seu nome remete a Judá, a Judeia. Suas características também vêm das caricaturas que se fazem dos judeus: ele ama o dinheiro, é traidor e ladrão. Do século 2 em diante, isso vai, de novo, ser usado como ferramenta antissemita. Quando pensado em seus efeitos de longo prazo, isso é muito cruel. É só lembrar da malhação de Judas, por exemplo", diz Chevitarese.

As próprias narrativas da morte de Judas servem como exemplo de que o personagem é mais fruto da teologia do que de história. No Evangelho de Mateus, ele se enforca. No Ato dos Apóstolos, ele tropeça, rasga a barriga e morre. E nos textos de Papias, um autor cristão contemporâneo ao Evangelho de João, ele come até explodir.

Jesus foi crucificado?

A crucificação é, sim, um fato histórico. Já o contexto que a cerca, como o julgamento de Jesus e a via-crúcis, não é.
 
Ser pregado em uma cruz era a penalidade aplicada pelos romanos aos escravos que matavam seus senhores, aos escravos que se rebelavam e aos rebeldes políticos — categoria onde Jesus poderia ser facilmente incluído. O historiador Flávio Josefo, por exemplo, cita uma cena onde milhares de judeus foram crucificados após uma rebelião em Jerusalém.

Quanto à Via Crúcis e ao julgamento, eles dificilmente seriam realizados pelo governo romano naquelas circunstâncias. Jesus foi preso em Jerusalém, na sexta-feira que antecede a Páscoa. Acontece que nessa época do ano a cidade estava lotada de judeus de todos os cantos, desde o Mediterrâneo até o Oriente Médio, vindos para as festividades. Além disso, a Páscoa judaica não é uma festa apenas religiosa, mas também política — ela celebra a passagem dos hebreus da escravidão para a liberdade.
 
"Nesse ambiente explosivo, é claro que as autoridades romanas não iam prender uma liderança judaica, fazer um julgamento público e colocá-lo para desfilar de forma humilhante pela cidade, arrastando uma cruz. Isso seria uma provocação desnecessária, um tiro no pé", diz Chevitarese.

Pôncio Pilatos é um personagem histórico. Os pesquisadores sabem, a partir de escavações arqueológicas da década de 1960, que ele realmente foi um procurador romano radicado na região da Judeia. Mas não existe nenhum registro dos ritos seguidos pelo personagem na Bíblia. As autoridades romanas, por exemplo, nunca se ofereceram para soltar um prisioneiro judeu, a gosto do público. "Essas passagens foram colocadas para reforçar o caráter messiânico de Jesus. Elas são baseadas em profecias do Antigo Testamento, mas sua plausibilidade histórica é zero."

O que a história tem a dizer sobre Jesus

Religião

Pesquisas de historiadores ajudam a confirmar que, de fato, Jesus caminhou sobre a região da Galileia há 2.000 anos. As descobertas, no entanto, não devem satisfazer aqueles que levam a Bíblia ao pé da letra

Guilherme Rosa
Jesus Cristo
Ao longo dos séculos, Jesus foi interpretado de maneiras diversas por religiosos, artistas e governantes. O trabalho dos historiadores é deixar toda essa carga teológica para trás e encontrar o homem e a mensagem que deu origem a tudo(Reprodução)
O pesquisador americano Joseph Atwill é categórico: Jesus não passa de um mito. O personagem, suas palavras e ações fazem parte de uma elaborada narrativa inventada por aristocratas romanos, com o objetivo de pacificar os judeus — um povo envolvido em sucessivas rebeliões contra o império. Atwill apresentou suas ideias em outubro, numa conferência realizada em Londres, na Inglaterra. "Os romanos perceberam que o melhor caminho para acabar com a atividade missionária fervorosa entre os judeus era criar um sistema de crenças que competisse com o deles", afirmou.
Joseph Atwill não é um acadêmico da área — sua formação é em ciências da computação. Ele não publicou suas pesquisas em periódicos científicos e suas ideias estão longe de ser apoiadas por seus pares. No entanto, sua teoria recebeu atenção mundial, e foi debatida entre pesquisadores, jornalistas e religiosos. Seu poder está no fato de ela ser o capítulo mais novo de uma antiga discussão — com quase 2.000 anos de idade — sobre qual é a verdade por trás de Jesus, seus feitos, milagres e mensagem.

Para Atwill, a ideia de que Jesus não passaria de uma montagem histórica deveria funcionar como um duro golpe aplicado pela ciência contra a ignorância propagada pela religião. "Embora o cristianismo possa ser um conforto para alguns, ele também pode ser muito prejudicial e repressivo, uma forma insidiosa de controle mental que levou à aceitação cega da servidão, pobreza e guerra ao longo da história", diz. Seu erro é que a existência de Jesus não é mais uma questão de fé, mas de ciência.

Os acadêmicos da área — historiadores das mais prestigiadas universidades do mundo — afirmam restar poucas dúvidas sobre a questão. "Volta e meia aparecem essas hipóteses sobre Jesus ser um mito. Mas, do ponto de vista metodológico, parece bastante claro que ele realmente existiu", diz André Chevitarese, professor do Instituto de História da UFRJ e autor dos livros Jesus Histórico - Uma Brevíssima Introdução e Cristianismos: Questões e Debates Metodológicos (Editora Kline), em entrevista ao site de VEJA.
Jesus histórico — Os historiadores deixam claro que o personagem estudado por eles não é o mesmo da religião. Eles estão em busca de informações sobre o homem chamado Jesus, que viveu na Galileia há 2.000 anos e em torno do qual foi criada a maior religião do mundo. “Os historiadores não buscam um ser divino, que é impossível de quantificar, medir e avaliar. O Jesus da história é estritamente humano“, afirma Chevitarese.

Nessa busca pelo Jesus histórico, a perspectiva dos pesquisadores lembra a de São Tomé, o apóstolo que duvidou de Cristo e exigiu provas de sua ressurreição. Do mesmo modo, os historiadores não podem acreditar cegamente no que dizem as religiões e seus líderes, mas devem embasar tudo que afirmam em evidências. Essas provas não precisam ser, necessariamente, físicas, como a descoberta de uma ossada ou um túmulo. "Se esse critério fosse adotado, 95% dos personagens históricos não seriam reconhecidos", diz o pesquisador.

Hoje, o critério mais importante que os pesquisadores possuem para atestar a existência de Jesus é o da múltipla confirmação: autores diferentes, que nunca se conheceram, afirmam fatos semelhantes sobre o personagem.

Os textos mais antigos sobre Jesus datam do século I, em sua maioria escritos por seguidores do cristianismo. A exceção é Flávio Josefo, um historiador judeu que tentou escrever toda a história do povo judaico, desde o Gênesis até sua época. Ele cita Jesus, João Batista e Tiago (irmão de Jesus) como exemplos de homens que lideraram movimentos messiânicos na região da Galileia.

No século seguinte, surgem mais textos de historiadores que citam Jesus e, principalmente, o movimento iniciado por seus seguidores. "Esses dados servem para mostrar que não estamos no campo da mitologia. São autores judeus e romanos, que nunca se tornaram cristãos, e permitem afirmar de modo muito seguro que Jesus é um personagem histórico."

O homem — A esses textos se somam descobertas recentes da arqueologia que fornecem informações precisas sobre o tempo e o espaço em que Jesus viveu. Os dados não são abundantes, mas permitem esboçar como se pareceria esse personagem histórico real. "Não podemos afirmar exatamente a cor de pele e cabelo de Jesus. A partir dos mosaicos e dos afrescos que retratam outros romanos, judeus e sírios que viviam no mesmo ambiente, a tendência maior é de vermos um Jesus de cabelos preto, com a pele queimada por causa de sol", diz Chevitarese.
Segundo a maior parte dos historiadores, Jesus não nasceu em Belém, como afirmam algumas passagens bíblicas, mas em Nazaré — uma pequena aldeia montanhosa da Galileia, cuja população era camponesa e girava em torno de 500 indivíduos. "A aldeia não tinha nenhuma relevância política, não possuía construções públicas ou sinagogas. Os escritores dos Evangelhos mudaram o lugar por razões teológicas, para que o nascimento de Cristo confirmasse algumas profecias do Antigo Testamento."

Jesus teria nascido na pequena vila em torno do ano 4 A.C., e teria passado a maior parte de sua vida na região, sem nunca pisar em uma cidade grande. A exceção acontece quando ele entra em Jerusalém — ato que teria como consequência sua crucificação pelas autoridades romanas. Sua morte deve ter acontecido por volta dos anos 35 e 36 D.C., pouco tempo depois de João Batista também ter sido morto pelos romanos, segundo a narrativa de Flávio Josefo.
A mensagem — Segundo os historiadores, tão importante quanto quem era Jesus é o que ele dizia — foi sua mensagem poderosa que repercutiu em todo o mundo e, séculos mais tarde, deu origem às diversas vertentes religiosas. "Ele era um camponês pobre que, diante das injustiças que o mundo apresentava, defendia a instauração do Reino de Deus — um reino de justiça e fartura, sem hierarquias sociais", diz Chevitarese.

A mensagem espiritual — e messiânica— de Jesus era voltada especialmente aos judeus de seu tempo. Ela, no entanto, adquiria caráter político ao afrontar o Império Romano e setores da elite judaica. Foi justamente a força dessa mensagem, e os rebanhos que ela poderia angariar, que levaram à sua crucificação e morte. Como aconteceu muitas vezes na história, no entanto, o assassinato de Jesus não conseguiu matar suas ideias.
Jesus teológico — Jesus nunca chegou a colocar suas ideias no papel (nem poderia, os historiadores afirmam que ele era analfabeto). A maior parte do que chega aos dias de hoje sobre o personagem e suas ideias foi escrito por seguidores das primeiras comunidades cristãs, duas ou três gerações depois de sua morte. Os autores não estão preocupados em transmitir uma versão fiel dos fatos, como uma biografia, mas em defender os pressupostos de sua fé. Assim, os primeiros cristãos que escrevem sobre Jesus — os evangelistas — já não estão fazendo história, mas teologia.

Nessa época o cristianismo começava a se distanciar do judaísmo em que ele estava originalmente inserido, e a se aproximar do Império Romano — o que exigiu algumas mudanças em sua mensagem. "Ao serem escritas, suas ideias começam a ser diluídas, pois vários filtros são impostos. Primeiro, Jesus é um indivíduo de fala aramaica, mas quase tudo que conhecemos sobre ele está escrito em grego. Além disso, os textos são destinados a convencer um público urbano, muito diferente dos camponeses para quem Jesus pregava", diz Chevitarese.

Com o passar dos séculos, isso abriu margem para que vários teólogos interpretassem as escrituras de maneiras variadas, criando as inúmeras vertentes do cristianismo que se encontram nos dias de hoje. Assim, a depender de quem faz a homilia, Jesus pode ser visto como um personagem sagrado ou humano, santo ou falho, foco de paz ou de guerra, de fundamentalismo ou de liberdade.

É por isso que o estudo do Jesus histórico é importante. "Ele pode ajudar a colocar um freio naqueles que querem transformar pressupostos teológicos em verdades históricas", diz Chevitarese. Seu objetivo não é acabar com a teologia ou retirar da história de Jesus seu caráter espiritual. O que a ciência faz é descobrir o que, de fato, pode ser afirmado sobre o homem e sua época. As muitas lacunas que permanecerão abertas apresentam mistérios suficientes para que a religião possa se instalar. 

Palestra: Confrontos Religiosos e Fundamentalismos - Leandro Karnal



Sérgio Cabral volta a usar helicópteros do Estado para viajar nos fins de semana

Rio de Janeiro

Governo do Estado justifica o uso alegando questões de segurança e uma recomendação da Subsecretaria Militar, órgão ligado à Casa Civil

20 de junho - 13h04: Cabral e o filho Marco Antono embarcam no Agusta, aeronave comprada em 2011 por 15,7 milhões de reais, rumo ao Palácio Guanabara, que fica a uma distância de apenas sete quilômetros

abral e o filho Marco Antono embarcam no Agusta, aeronave comprada em 2011 por 15,7 milhões de reais, rumo ao Palácio Guanabara, que fica a uma distância de apenas sete quilômetros - Oscar Cabral

Durou pouco a fase “humilde” de Sérgio Cabral. Depois de ter reconhecido em julho que havia cometido erros de falta de diálogo, e de se comprometer a não mais usar helicópteros do Estado do Rio para seus deslocamentos pessoais, o governador retomou o velho hábito. De acordo com os relatórios de controle de uso das aeronaves da Secretaria Estadual da Casa Civil, revelados pela Folha de S. Paulo, Cabral e família voltaram a voar entre o Rio e Mangaratiba, onde o governador tem uma casa de veraneio.
VEJA revelou, em julho, a rotina de voos de Cabral e do primeiro escalão do governo. O governador usava, então, helicópteros para ir de casa para o trabalho. Também estavam incluídos nas viagens empregados domésticos e o cachorro Juquinha, da família. A retomada dos voos seria uma “recomendação da Subsecretaria Militar”, órgão da Casa Civil que tem entre suas atribuições a segurança do governador.
A reportagem publicada no site da Folha de S. Paulo informa que a primeira dama, Adriana Ancelmo, com dois filhos e uma babá viajaram para Mangaratiba em cinco domingos consecutivos, entre 13 de outubro e 10 de novembro
O governo do estado justificou o uso das aeronaves com a seguinte nota: "O processo de enfrentamento da criminalidade no Estado do Rio nos últimos anos, que tem tido como resultado a queda de todos os índices, acarreta riscos para os seus responsáveis, em especial o governador do Estado, que é, em última análise, o comandante desse processo. A Subsecretaria Militar da Casa Civil, com base em relatórios sigilosos, não abre mão do uso de helicópteros nos deslocamentos do governador e de sua família para a sua residência, em especial levando em conta a regularidade de dias, horários e destino das viagens".

Táxis em corredor: o novo 'calcanhar de aquiles' de Haddad

São Paulo

Promotoria cobra da prefeitura que retire os táxis dos corredores em 45 dias

Protesto de táxis em São Paulo
Protesto de táxis em São Paulo (Marco Ambrosio (Frame/Folhapress))
A administração do petista Fernando Haddad em São Paulo ganhou nesta terça-feira um presente – ainda que sob a roupagem de uma possível ação judicial. O Ministério Público Estadual decidiu cobrar da prefeitura a revogação da portaria que libera a circulação de táxis com passageiros nos corredores exclusivos de ônibus. O promotor de Habitação e Urbanismo Maurício Ribeiro Lopes afirmou que intimará a administração municipal a derrubar a regra em até 45 dias. Caso o pedido não seja cumprido, o MP ameaça ajuizar uma ação civil pública contra a prefeitura. 
Questionada, a gestão Haddad disse que ainda não tem uma resposta sobre a questão. No entanto, o governo já planejava tirar os táxis das vias exclusivas. Na semana passada, o secretário de Transportes, Jilmar Tatto, defendeu a medida: “É evidente que o táxi atrapalha a velocidade nos corredores de ônibus. Tirando o táxi dos corredores, aumenta em 28% a velocidade", disse em entrevista à rádio CBN, com base em um estudo da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). A pressão do MP tira da prefeitura o ônus do enfrentamento com os taxistas, que ontem realizaram um protesto pelas ruas da cidade.
A portaria que permite aos táxis transitar nos corredores exclusivos de ônibus é de 2005, quando o prefeito era José Serra (PSDB), e vem sendo renovada semestralmente.

A exigência do MP ocorre no momento em que sindicatos da categoria pleiteiam a liberação do tráfego de táxis nas novas faixas de coletivos, criadas por Haddad em seu primeiro ano de mandato. As faixas aumentaram a velocidade dos ônibus e, em setembro, tiveram aprovação de 88% da população, segundo pesquisa do Datafolha. Porém, em seguida, a cidade passou a sofrer com recordes de congestionamentos. A piora no trânsito se refletiu na popularidade do prefeito, que teve queda acentuada. Caso atrapalhe ainda mais o deslocamento na cidade, a retirada dos táxis dos corredores — mesmo que feita por "pressão" do MP — tende a agravar os problemas de Haddad com o eleitorado.

Protesto – O protesto dos taxistas contra a proibição de circularem nas faixas exclusivas de ônibus aconteceu na segunda-feira, em carreata na Zona Sul e no Centro de São Paulo. O comboio saiu do Aeroporto de Congonhas e seguiu para estacionar no Viaduto do Chá, em frente ao gabinete de Haddad.
(Com Estadão Conteúdo)

Edward Snowden escreve carta aberta para o povo brasileiro

 Por Nadiajda Ferreira-- Gizmodo
Em carta que foi divulgada após governo americano negar sua anistia, ex-analista da CIA oferece ajuda ao governo brasileiro para combater espionagem americana



Reprodução / GizmodoNadiajda Ferreira
Reprodução / GizmodoNadiajda Ferreira
A Folha de São Paulo publicou uma carta aberta de  Edward Snowden para o povo do Brasil, na qual ele explica o funcionamento da Agência Nacional de Segurança, fala sobre a dimensão das informações angariadas pelo serviço secreto norte-americano e oferece ajuda ao Brasil na luta contra a espionagem.
A carta foi divulgada logo após a Casa Branca afirmar que não haverá anistia para Snowden. O governo americano está fechando o cerco sobre ele e Snowden deixa claro no texto que precisa de um país que lhe conceda asilo político permanente para que ele tenha mais liberdade para fazer revelações. A permanência de Snowden na Rússia tem o prazo de um ano e não vai demorar para terminar. Algumas semanas atrás, Snowden deu sua primeira entrevista para uma publicação brasileira.
A carta representa um pedido de ajuda. Gleen Greenwald, o primeiro jornalista a publicar as informações concedidas por Snowden, mora no Brasil. Além disso, a presidenta Dilma Rousseff foi um dos líderes de Estado a se manifestar com mais vigor contra a espionagem americana. Talvez isso seja suficiente para que Snowden tenha a esperança de receber asilo do nosso país. Até o momento, não houve um pronunciamento oficial do governo brasileiro sobre a mensagem dele.
Abaixo, leia na íntegra a tradução da carta.
Carta aberta ao povo do Brasil
Edward Snowden
Seis meses atrás, emergi das sombras da Agência Nacional de Segurança (NSA) dos EUA para me posicionar diante da câmera de um jornalista. Compartilhei com o mundo provas de que alguns governos estão montando um sistema de vigilância mundial para rastrear secretamente como vivemos, com quem conversamos e o que dizemos.
Fui para diante daquela câmera de olhos abertos, com a consciência de que a decisão custaria minha família e meu lar e colocaria minha vida em risco. O que me motivava era a ideia de que os cidadãos do mundo merecem entender o sistema dentro do qual vivem.
Meu maior medo era que ninguém desse ouvidos ao meu aviso. Nunca antes fiquei tão feliz por ter estado tão equivocado. A reação em certos países vem sendo especialmente inspiradora para mim, e o Brasil é um deles, sem dúvida.
Na NSA, testemunhei com preocupação crescente a vigilância de populações inteiras sem que houvesse qualquer suspeita de ato criminoso, e essa vigilância ameaça tornar-se o maior desafio aos direitos humanos de nossos tempos.
A NSA e outras agências de espionagem nos dizem que, pelo bem de nossa própria “segurança” –em nome da “segurança” de Dilma, em nome da “segurança” da Petrobras–, revogaram nosso direito de privacidade e invadiram nossas vidas. E o fizeram sem pedir a permissão da população de qualquer país, nem mesmo do delas.
Hoje, se você carrega um celular em São Paulo, a NSA pode rastrear onde você se encontra, e o faz: ela faz isso 5 bilhões de vezes por dia com pessoas no mundo inteiro.
Quando uma pessoa em Florianópolis visita um site na internet, a NSA mantém um registro de quando isso aconteceu e do que você fez naquele site. Se uma mãe em Porto Alegre telefona a seu filho para lhe desejar sorte no vestibular, a NSA pode guardar o registro da ligação por cinco anos ou mais tempo.
A agência chega a guardar registros de quem tem um caso extraconjugal ou visita sites de pornografia, para o caso de precisarem sujar a reputação de seus alvos.
Senadores dos EUA nos dizem que o Brasil não deveria se preocupar, porque isso não é “vigilância”, é “coleta de dados”. Dizem que isso é feito para manter as pessoas em segurança. Estão enganados.
Existe uma diferença enorme entre programas legais, espionagem legítima, atuação policial legítima –em que indivíduos são vigiados com base em suspeitas razoáveis, individualizadas– e esses programas de vigilância em massa para a formação de uma rede de informações, que colocam populações inteiras sob vigilância onipresente e salvam cópias de tudo para sempre.
Esses programas nunca foram motivados pela luta contra o terrorismo: são motivados por espionagem econômica, controle social e manipulação diplomática. Pela busca de poder.
Muitos senadores brasileiros concordam e pediram minha ajuda com suas investigações sobre a suspeita de crimes cometidos contra cidadãos brasileiros.
Expressei minha disposição de auxiliar quando isso for apropriado e legal, mas, infelizmente, o governo dos EUA vem trabalhando arduamente para limitar minha capacidade de fazê-lo, chegando ao ponto de obrigar o avião presidencial de Evo Morales a pousar para me impedir de viajar à América Latina!
Até que um país conceda asilo político permanente, o governo dos EUA vai continuar a interferir com minha capacidade de falar.
Seis meses atrás, revelei que a NSA queria ouvir o mundo inteiro. Agora o mundo inteiro está ouvindo de volta e também falando. E a NSA não gosta do que está ouvindo.
A cultura de vigilância mundial indiscriminada, que foi exposta a debates públicos e investigações reais em todos os continentes, está desabando.
Apenas três semanas atrás, o Brasil liderou o Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas para reconhecer, pela primeira vez na história, que a privacidade não para onde a rede digital começa e que a vigilância em massa de inocentes é uma violação dos direitos humanos.
A maré virou, e finalmente podemos visualizar um futuro em que possamos desfrutar de segurança sem sacrificar nossa privacidade.
Nossos direitos não podem ser limitados por uma organização secreta, e autoridades americanas nunca deveriam decidir sobre as liberdades de cidadãos brasileiros.
Mesmo os defensores da vigilância de massa, aqueles que talvez não estejam convencidos de que tecnologias de vigilância ultrapassaram perigosamente controles democráticos, hoje concordam que, em democracias, a vigilância do público tem de ser debatida pelo público.
Meu ato de consciência começou com uma declaração: “Não quero viver em um mundo em que tudo o que digo, tudo o que faço, todos com quem falo, cada expressão de criatividade, de amor ou amizade seja registrado. Não é algo que estou disposto a apoiar, não é algo que estou disposto a construir e não é algo sob o qual estou disposto a viver.”
Dias mais tarde, fui informado que meu governo me tinha convertido em apátrida e queria me encarcerar. O preço do meu discurso foi meu passaporte, mas eu o pagaria novamente: não serei eu que ignorarei a criminalidade em nome do conforto político. Prefiro virar apátrida a perder minha voz.
Se o Brasil ouvir apenas uma coisa de mim, que seja o seguinte: quando todos nos unirmos contra as injustiças e em defesa da privacidade e dos direitos humanos básicos, poderemos nos defender até dos mais poderosos dos sistemas.
Tradução de Clara Allain 
http://tecnologia.br.msn.com/noticias/edward-snowden-escreve-carta-aberta-para-o-povo-brasileiro

Arruda e Jaqueline Roriz são condenados por improbidade

Justiça

Justiça manda ex-governador do DF, deputada e seu marido pagarem ao todo 1,5 milhão por participação no mensalão do DEM. Cabe recurso da decisão

Justiça as vezes, Deixa a Cegueira de Lado!! ;)
José Roberto Arruda
José Roberto Arruda (DEDOC)
A Justiça do Distrito Federal considerou culpados nesta segunda-feira o ex-governador José Roberto Arruda (PR-DF), a deputada federal Jaqueline Roriz (PMN-DF) e o marido dela, Manoel Neto, de improbidade administrativa no esquema conhecido como mensalão do DEM, que revelou em 2009 a compra de apoio parlamentar na Câmara Legislativa do Distrito Federal. Os três réus foram condenados a devolver aos cofres públicos 300 000 reais, além do pagamento de multa no valor de 600 000 reais e danos morais de 200 000 para cada um, totalizando 1,5 milhão de reais.
A decisão foi do juiz Álvaro Ciarlini, da 2ª Vara da Fazenda Pública do DF, e acarreta ainda a suspensão dos direitos políticos dos condenados por oito anos. Eles também estão proibidos de ocupar cargo público. Como a decisão foi em primeira instância, Arruda, Roriz e Neto ainda podem recorrer. 
Delator – Considerado o delator do esquema de corrupção, Durval Barbosa – secretário de Relações Institucionais durante os governos de Joaquim Roriz e José Roberto Arruda –  também foi condenado, mas a pena foi extinta devido ao acordo de delação premiada feito com o Ministério Público. 
De acordo com a denúncia apresentada pelo MP, Barbosa confirmou à Justiça que Jaqueline Roriz e Manoel Neto receberam propina de 50 000 reais para apoiar a candidatura de Arruda ao governo do Distrito Federal em 2006. A principal prova apresentada por Barbosa foram vídeos, como o que mostra a deputada Jaqueline Roriz recebendo dinheiro
Brizza Cavalcante/Agência Câmara

Deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF)
Segundo ele, a quantia era oriunda de empresas de informática que pagavam propina para receber contratos com o governo do DF. O delator também disse que Jaqueline recebeu três rádios que foram usados durante a campanha eleitoral dela.
Ginásio – José Roberto Arruda responde ainda a outras ações na Justiça do DF. Em abril deste ano, ele foi condenado em primeira instância a 5 anos e 4 meses de prisão no regime semiaberto e multa de 400 000 reais por dispensa indevida de licitação para a reforma do ginásio Nilson Nelson, em Brasília, em 2008. O ex-secretário de Obras Márcio Machado também foi considerado culpado. O caso está no Tribunal de Justiça do DF, responsável pelo julgamento do recurso apresentado pelos réus.


Arruda recentemente se filiou ao PR, mas não declarou para qual cargo pretende concorrer nas eleições do próximo ano. Ele pode participar do pleito pois não é considerado ficha suja, uma vez que não foi condenado por nenhum órgão colegiado do Judiciário desde que a lei da ficha limpa entrou em vigor.