sábado 02 2013

Rede de ONGs ensina a deter corrupção enquanto é tempo

Transparência

Sem alarde, Observatórios Sociais se alastram por cidades médias e pequenas do Brasil, monitorando editais de licitação de forma sistemática, antevendo fraudes e garantindo vultosa economia para os cofres municipais. E agora querem pôr o pé nas principais metrópoles do país

Daniel Jelin
Corrupção mãos dinheiro
Fiscalização sistemática previne a corrupção e eleva o debate sobre a qualidade dos gastos públicos (iStock)
Há dois caminhos para combater a corrupção. Um deles é o de punir os malfeitos — e todos sabem como é difícil obter condenações no Brasil, e mais ainda reaver os valores desviados. O outro caminho é o da prevenção, o de se antecipar aos corruptos. É a isso que se dedica o Observatório Social do Brasil (OSB), uma rede de ONGs que se alastrou por 14 estados. O ponto de partida é a constatação de que boa parte das fraudes pode ser adivinhada nas entrelinhas das licitações. Basta ter acesso à papelada, o olho treinado e (muita) paciência para desenredar suas tramas. O mesmo método evita que erros que não envolvem má fé, mas saem caro para o contribuinte, sejam cometidos. Em 2012, a OSB conseguiu impedir que 305 milhões de reais escoassem dos cofres municipais.
A ideia nasceu em Maringá, no Paraná, na esteira de um escândalo de corrupção que estourou na gestão do prefeito Jairo de Moraes Gianoto, tendo por pivô seu secretário de Fazenda, Luiz Antonio Paolicchi. Gianoto se afastou do cargo em 2000, perdeu a reeleição e se retirou da política — e da cidade. Em 2006, foi condenado a 14 anos de prisão por desvio de verbas públicas, sonegação e formação de quadrilha. Em 2010, em nova sentença condenatória, a Justiça cobrou o ressarcimento de estratosféricos 500 milhões de reais em ação por improbidade administrativa. Gianoto recorre em liberdade. Paolicchi foi assassinado em 2011.
Enquanto os processos se arrastavam na Justiça, um grupo de moradores indignados resolveu, em vez de vandalizar as lojas da cidade ou incendiar caminhões, organizar um sistema de fiscalização do poder público que prevenisse futuras tramoias. O marco zero é 2005. Naquele ano, a prefeitura lançou um edital para a compra de 2.918.000 comprimidos para dor de cabeça. Na licitação, foi fixado o valor de 0,009 centavos por drágea. Na hora do empenho, "esqueceram" um zero, e o preço saiu por 0,09. Esse singelo "descuido" teria então o efeito de multiplicar por dez o gasto total (de 26.262 mil reais para 262.620 mil reais). Revelada a trapalhada, o processo foi suspenso.
A experiência em Maringá deu tão certo que começou a ser reproduzida por outras cidades. Com o tempo, ganhou um amplo leque de apoios institucionais: Ministério Público, OAB, Federações da Indústria e do Comércio, Receita Federal, Tribunais de Contas, universidades e, principalmente, as Associações Comerciais, que abrigam 70% dos Observatórios Sociais (OS). Atualmente, 77 municípios contam com seus próprios observatórios. Na próxima segunda-feira, Curitiba sedia o quarto encontro nacional, para que as boas práticas de cada unidade sejam compartilhadas pelas demais.
Divulgação
Ater Cristofoli, presidente do OSB: "O grande negócio está na prevenção"
"Depois que roubam..." – O empresário Ater Cristofoli, de 49 anos, dirigiu a primeira réplica do Observatório, em Campo Mourão, no interior do Paraná, onde nasceu e hoje mantém fábricas, uma fundação, escola técnica e incubadora. "A gente se tocou que, enquanto fazia rifa, vendia jantar e colhia doações para ajudar a Santa Casa, o Lar dos Velhinhos ou a APAE, milhares de reais eram jogados fora em compras mal feitas ou desvios", diz. "E o grande negócio está na prevenção. Depois que roubam... aí esquece." Com a entrada em cena do Observatório Social, os custos com material escolar caíram para um terço, e o gasto com medicamentos, pela metade. Cristofoli hoje está à frente da organização nacional dos Observatórios Sociais, e seu objetivo é acelerar a irradiação da franquia.
Basicamente, os Observatórios Sociais funcionam assim: um punhado de técnicos, voluntários e estagiários debruça-se sobre os editais das principais modalidades de licitação (concorrência, convite, tomada de preços e pregões), com especial atenção aos casos em que o governo a descarta (inexigibilidade ou dispensa de licitação); encontrada uma suspeita, a secretaria ou a prefeitura é formalmente notificada; não havendo providências, o caso é reportado aos vereadores (que têm, a propósito, o dever constitucional de fiscalizar a administração municipal); se nada funcionar, recorre-se então ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas. "Mas em geral você liquida o caso logo na primeira etapa", conta Cristofoli. "É muita exposição. Quando a gente pega uma irregularidade, é que está muito evidente."
O roteiro básico dos Observatórios Sociais se completa com a divulgação dos editais, para aumentar a concorrência, a presença nos pregões, para apontar os lances suspeitos, e o acompanhamento das entregas, para garantir que os contratos sejam efetivamente cumpridos. "O efeito psicológico é muito grande", diz José Roberto de Jesus, do OS de Rolim de Moura (RO). A entidade entrou em operação em 2009, seguindo um roteiro comum: antes de abrir as portas, azeitou o trânsito com o Ministério Público e arrancou, na campanha municipal de 2008, o compromisso público dos candidatos com a iniciativa. Já no primeiro ano, a cidade conseguiu reduzir o custo de várias compras: cálices de plástico baixaram de 12,90 reais em 2008 para 1,05 a unidade; anticoagulante, de 47 reais para 17,50 reais; papel para impressora, de 15 reais para 1,92 reais.
Metrópoles no alvo – A economia para os cofres públicos vai bem além das miudezas. A partir da análise de 378 licitações, Itajaí (Santa Catarina) conseguiu salvar do desperdício ou da corrupção 29 milhões de reais em 2012. Em São José (também em SC), a revogação de um único edital — para exploração do serviço de estacionamento rotativo — evitou desembolsos que somariam 15 milhões de reais ao longo de dez anos. "O grau de confiança dos observatórios é muito grande. Eles têm conhecimento técnico para verificar os documentos", diz o promotor Davi do Espírito Santo, coordenador do Centro de Apoio Operacional da Moralidade Administrativa. Em 2013, o MP de Santa Catarina formalizou uma parceria com OSs do estado. São duas frentes. Por uma delas, os OS vão ajudar a verificar se as administrações municipais estão cumprindo a lei de acesso de informação efetivamente. Na outra frente, as ONGs farão chegar aos promotores as denúncias de editais viciados.
Segundo Espírito Santo, uma das razões da credibilidade dos observatórios é seu caráter técnico. "Não são denúncias movidas por partidarismo ou vingança", diz. Para manter este perfil, os observatórios não aceitam militantes entre seus 1.500 voluntários nem funcionários dos órgãos que eventualmente serão fiscalizados. "O foco é a gestão, não o prefeito", diz Roberto de Jesus.
Esta neutralidade política tem se mostrado um empecilho para a implantação dos Observatórios Sociais nas grandes metrópoles, onde a agenda dos partidos, governo e oposição exerce maior influência sobre as entidades que costumam prestar auxílio aos escritórios. "Nas cidades de pequeno ou médio porte, a experiência tem funcionado muito bem. Mas ainda não sabemos lidar com cidade grande", admite Cristofoli.
Em São Paulo, a iniciativa está sendo gestada com apoio do sindicato dos auditores-fiscais da Receita Federal. Para além da questão política, Luiz Fuchs, vice-presidente do Sindifisco em São Paulo, aponta o tamanho da cidade como o principal desafio. Por exemplo: o orçamento da cidade aprovado para 2013 foi de 42,1 bilhões, quase cinquenta vezes o de Maringá, de 870 milhões. Fuchs explica que ainda está em estudo a melhor estratégia para enfrentar as contas municipais, se por região ou subprefeitura, por exemplo.
Má gestão – O monitoramento sistemático das contas eleva o debate sobre a qualidade do gasto público. Em junho de 2013, por exemplo, a Câmara de Ponta Grossa licitou a compra de sete veículos. Exigências: freio a disco nas quatro rodas, faróis de neblina, vidros elétricos nas quatro portas, aparelho de MP3 e câmbio automático. Total orçado: 311.184,60 reais. Os números vieram a público, e pipocaram as críticas. Os vereadores então baixaram as exigências, e o custo final da compra saiu por 198.800 reais, uma economia de 112.384,60 reais.
Às vezes nem se trata de corrupção. É má gestão, mesmo. Depois dos casos dos comprimidos, os maringaenses descobriram, por exemplo, que a cidade mantinha estocados cadernos de desenho em quantidade suficiente para os próximos 24 anos, carbono preto para 62 anos e pincéis marcadores para 133 anos. Em resposta à revelação desses e de outros absurdos, a prefeitura promoveu a organização de um almoxarifado central e a informatização do controle de estoques. "Hoje temos uma execução orçamentária mais racional", diz a presidente do Observatório Social de Maringá, Fábia dos Santos Sacco. "Não está perfeito. Mas avançamos bastante."

Itajaí (SC)

O observatório de Itajaí é um dos mais ativos do país. Seus números ilustram a capacidade dos OSs para proteger os cofres públicos. De 2009 a 2012, a entidade monitorou 1160 processos licitatórios, evitando desperdícios que somam 151.689.141,86 reais. O OS busca fiscalizar todo tipo de licitação. No ano passado, foram acompanhados 203 pregões presenciais (economia de 13.559.432,79 reais), 38 editais da modalidade convite (economia de 376.524,31 reais), 29 tomadas de preços (economia de 2.483.087,39 reais), 6 concorrências (economia de 12.249.223,62 reais) e 7 pregões eletrônicos (economia de 246.375,20 reais). Total no ano: 29 milhões de reais.

Maringá (PR)

O observatório de Maringá é o primeiro do país e serviu de inspiração para todos os demais. Seu primeiro grande caso, em 2005, foi um edital para compra de 2.918.000 comprimidos antiinflamatórios. Na licitação, fixou-se o valor de 0,009 centavos a drágea. No empenho, um zero "sumiu", e ficou 0,09. Com isso, o gasto total pularia de 26.262 mil reais para 262.620 mil reais. Revelada a trapalhada, o processo foi suspenso.

Londrina (PR)

Em Londrina, o Observatório conseguiu em 2010 a impugnação de um edital de 53,4 milhões de reais para terceirização da gestão do sistema de iluminação pública. Entre diversas irregularidades, a equipe apontou: inexistência de projeto básico e executivo; integração irregular de diversos serviços acessórios e até incompatíveis; ilegalidade do prazo para execução; inexistência de cotação para formação do preço; etc. Segundo estimativas da entidade, o custo do serviço saltaria de aproximadamente 100 mil reais por ao mês para 450 mil reais por mês. Vícios similares foram encontrados em editais lançados para o mesmo serviço por outras cidades do estado.

Rolim de Moura (RO)

Logo no primeiro ano de atuação do OS de Rolim de Moura, em 2009, houve uma substancial redução de custos das compras feitas em pregões. Cálices de plástico adquiridos em 2008 por 12,90 reais saíram por 1,05 real em 2009; Papel para impressora baixou de 15 reais para 1,92 real. Soro controle patológico foi de 80 reais para 28 reais; Anticoagulante, de 47 reais para 17,50 reais; Corante, de 61,50 reais para 26,40 reais. Para garantir que os contratos sejam efetivamente cumpridos, a equipe do OS também acompanha a entrega das compras.

Ponta Grossa (PR)

Em junho de 2013, a Câmara de Ponta Grossa lançou um edital para a compra de sete carros, exigindo um modelo sedan motor 2.0 e seis hatch 1.6, todos com freio a disco nas quatro rodas, faróis de neblina, vidros elétricos, aparelho MP3 e câmbio automático. Custo total: 311.184,60. A licitação veio a público, e os pontagrossenses não gostaram: acharam excessivo. Um novo edital foi lançado, baixando as exigências: sete automóveis hatch motor 1.0, sem a necessidade de câmbio automático, farol de neblina ou MP3. Em julho, foi feito o pregão. Custo total: R$ 198.800,00, economia de R$ 112.384,60. Além disso, tramita na casa outro processo de licitação para a compra de rastreadores, para que o uso dos veículos também seja fiscalizado.

São José (SC)

Em 2012, o observatório apontou 11 indícios de irregularidades em edital para conceder à iniciativa privada a exploração de vagas de estacionamento rotativo na cidade, entre eles a suspeita de direcionamento da licitação. A concessão, por dez anos, previa a arrecadação de 15 milhões de reais. O caso foi levado primeiro à prefeitura e depois à Câmara Municipal, sem que fossem prestadas as devidas explicações. Diante disso, o OS recorreu ao Tribunal de Contas de Santa Catarina, que mandou suspender o processo para uma análise detalhada do caso. Confirmadas as irregularidades, o município revogou a concorrência.

Estudante do ensino médio descobre fóssil raro de filhote de dinossauro

Paleontologia

Segundo os pesquisadores que analisaram o material, o fóssil pertencia a um herbívoro com menos de um ano de idade

Fóssil: encontrado no estado americano de Utah, o filhote de dinossauro teria menos de um ano e 1,8 metro de comprimento
Fóssil: encontrado no estado americano de Utah, o filhote de dinossauro teria menos de um ano e 1,8 metro de comprimento (Museu de Paleontologia Raymond M. Alf )
Um estudante americano do ensino médio foi o responsável pela descoberta do menor e mais completo fóssil já encontrado do Parassaurolofo, um dinossauro herbívoro que viveu há cerca de 75 milhões de anos. O filhote, apelidado de Joe, tinha cerca de 1,8 metro de comprimento e menos de um ano de idade. A descoberta foi publicada nesta terça-feira, no periódico PeerJ.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Ontogeny in the tube-crested dinosaur Parasaurolophus (Hadrosauridae) and heterochrony in hadrosaurids

Onde foi divulgada: periódico PeerJ

Quem fez: Andrew A. Farke​, Derek J. Chok, Annisa Herrero, Brandon Scolieri e Sarah Werning

Instituição: Museu de Paleontologia Raymond M. Alf, nos EUA, e outras

Resultado: Um estudante americano foi o responsável pela descoberta do menor e mais completo fóssil já encontrado do Parassaurolofo, um dinossauro herbívoro que viveu há cerca de 75 milhões de anos
No verão de 2009, Kevin Terris e outros estudantes ajudavam o paleontólogo Andy Farke, do Museu de Paleontologia Raymond M. Alf, nos Estados Unidos, a procurar por fósseis de dinossauros no estado de Utah. No caminho até uma área que nunca havia sido explorada antes, Terris avistou um pedaço de osso saindo de uma rocha. A princípio, Farke acreditou fazer parte de uma costela de dinossauro, comum na região. Uma análise minuciosa mostrou que se tratava dos ossos de dedos e que, do outro lado da rocha, havia um crânio.
Fóssil raro – A equipe concluiu que o fóssil era de um filhote de dinossauro, um achado raro. O material, porém, só pôde ser escavado no ano seguinte, porque no momento de sua descoberta a equipe tinha autorização apenas para coletar ossos encontrados na superfície.
Joe foi levado para o Museu Alf, onde um estudo revelou tratar-se do mais completo Parassaurolofo já encontrado. Apesar de esqueletos adultos desse dinossauro já terem sido descobertos, pouco se sabia sobre seu desenvolvimento. Com menos de um ano de idade e quase 2 metros de comprimento, o fóssil apresenta uma pequena protuberância na parte de trás de seu crânio, que mais tarde se tornaria um tubo de osso oco, principal característica desse dinossauro.
Comunicação – Os cientistas acreditam que esse tubo era usado para amplificar os sons emitidos por esses animais, facilitando sua comunicação.
Esse fato surpreendeu os pesquisadores. Dinossauros semelhantes só começam a desenvolver essa característica quando estão na metade de seu tamanho adulto, enquanto Joe mal havia atingido um quarto dele – estima-se que ele pudesse chegar a mais de 7,5 metros de comprimento.  
A análise do crânio do animal permitiu também aos pesquisadores reconstituir sua capacidade vocal. Eles concluíram que, devido ao osso mais curto localizado atrás da cabeça, os filhotes provavelmente emitiam sons muito mais agudos do que os adultos. "Junto com as diferenças visuais, isso pode ter ajudado os animais que viviam na mesma área a descobrir quem era o chefe do grupo", explica Farke.
Um modelo digital em 3D de todo o fóssil foi disponibilizado gratuitamente na internet, a fim de facilitar o acesso a essa descoberta por pesquisadores de todo o mundo.




Acusado de corrupção diz ter marcado reunião com secretário de Haddad

Por Artur Rodrigues, Bruno Ribeiro, Diego Zanchetta e Fabio Leite, de O Estado de S. Paulo, estadao.com.br


Interceptações telefônicas mostram que, após saber da investigação, um dos quatro servidores presos sob suspeita de arrecadação de propina na Secretaria de Finanças afirmou que se reuniria com Antonio Donato e com o vereador Paulo Fiorilo (PT)



SÃO PAULO - Homem forte da gestão Fernando Haddad (PT), o secretário de Governo, Antonio Donato, é citado em escutas telefônicas pelo suspeito de chefiar um esquema de arrecadação de propina na Secretaria Municipal de Finanças, Ronilson Bezerra Rodrigues, durante a gestão do ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD). A transcrição de ligações interceptadas durante a investigação mostra que Rodrigues procurou Donato e também o vereador Paulo Fiorilo (PT), quando o cerco se fechou contra o grupo.

A interceptação telefônica foi registrada em 16 de julho deste ano, às 17h23. Ex-subsecretário da Receita da Secretaria de Finanças, Rodrigues estava sendo seguido de carro. Segundo a transcrição do áudio, ele afirma a um interlocutor que os quatro suspeitos - Eduardo Horle Barcellos, Luis Alexandre Cardoso Magalhães e Carlos Augusto di Lallo Leite do Amaral, além do próprio Rodrigues - haviam sido "chamados", mas que ele estava bem e havia marcado um encontro com o Donato e Fiorilo. Os quatro fiscais foram presos na semana passada, acusados de comandar esquema que deu prejuízo de R$ 500 milhões aos cofres municipais em fraudes na arrecadação do Imposto sobre Serviços (ISS).
Fiorilo, presidente da CPI dos Transportes, admite ter se encontrado com Rodrigues no dia 19 de julho, uma quinta-feira. O vereador afirma que foi "procurado" por Rodrigues na Câmara Municipal.
"Ele disse que estava sendo perseguido. Eu disse que não tinha como ajudar. Ele contou que estava sendo perseguido pela gestão do PT e que precisava de ajuda. Afirmei que a Controladoria-Geral do Município (CGM) era independente e que ele deveria procurar um advogado", disse o parlamentar.
O vereador disse que nunca se encontrou com Rodrigues em seu diretório na zona leste. "Atendi Rodrigues em uma quinta-feira, durante um intervalo da sessão da CPI."
Já Donato não foi localizado até as 13h deste sábado para comentar sua citação nas conversas.
Donato admitiu, em nota divulgada na sexta-feira, ter indicado Ronilson para trabalhar na São Paulo Transporte (SPTrans). Disse que a indicação foi feita antes que houvesse investigações contra ele.
A versão contradiz a Prefeitura, que recebeu denúncia sobre o esquema de corrupção envolvendo Rodrigues no ano passado. A equipe de transição, chefiada por Donato, recebeu cópia das acusações. .
Na nota, o secretário diz que conheceu Rodrigues na Câmara, enquanto era vereador, mas que nunca se encontrou com os outros suspeitos. "Rodrigues compareceu diversas vezes ao Legislativo, representando o secretário de Finanças da gestão passada, Mauro Ricardo."
Amante. Interceptações telefônicas mostram conversas do auditor Luis Alexandre Magalhães com sua amante que comprometem vários servidores. A mulher ameaça denunciar Magalhães. Além dos membros da quadrilha identificados pela investigação, ela cita pelo menos mais dez pessoas. Fala também "sobre como o dinheiro entrava e saía e sobre o esquema da Odebrecht, que fazia as notas fiscais frias". A construtora nega envolvimento no esquema.
Ela ameaça entrar em contato com a imprensa e mandar e-mail relatando a corrupção para Donato, para outros secretários e para o titular da CGM, Mário Vinícius Claussen Spinelli. As ameaças, no entanto, foram feitas quando Spinelli e o promotor Roberto Bodini já investigavam o esquema e preparavam a prisão dos acusados.

Cafezinho com Marieta


Marina Rossi
Fotos Jorge Bispo
Styling Ale Duprat / abá mgt
Beleza Lu Moraes
Aos 50 anos de carreira e prestes a estrear sua 31ª peça, Marieta Severo conta à Gente sobre sua vida numa grande família, fala de política, casamento e trabalho. Muito trabalho. Exatamente o ponto que separa a doce dona Nenê da atriz que levanta poeira nos palcos
Marieta Severo chega apressada ao Teatro Poeira, no Rio de Janeiro. Passa reto pelo camarim e corre para a cozinha do espaço carioca de propriedade dela e da atriz Andréa Beltrão. “Queria ver se tem um cafezinho para o pessoal”, explica ela à assessora, pouco depois de cumprimentar todos, um a um. Prestes a completar 50 anos de carreira, a atriz se confunde na vida real com um de seus mais populares personagens. Qualquer semelhança com a solícita dona Nenê do seriado A Grande Família, na Globo há 13 anos, não é mera coincidência.
A simpatia e o espírito maternal da personagem também não são mera encenação. Aos 66 anos, Marieta é mãe de três filhas de seu casamento com o cantor Chico Buarque, e avó de seis netas e um neto. A semelhança com dona Nenê, porém, para por aí. Além da agitada vida numa grande família, Marieta tem uma atribulada agenda de trabalho. Está em cartaz no filme  Vendo ou Alugo em que contracena com a filha Silvia Buarque. Grava a próxima temporada de A Grande Família. E estreia nos palcos em 20 de setembro com a peça Incêndios, no Teatro Poeira. A peça, do libanês-canadense Wajdi Mouawad, montada em vários países, virou filme que foi indicado ao Oscar em 2011. Conta o drama de uma mãe que, ao morrer, deixa uma carta para os dois filhos com a incumbência de encontrar no Oriente Médio o pai e um terceiro irmão, até então inexistente. Na montagem, a direção é de Aderbal Freire Filho, que há oito anos namora a atriz.“Ele é um dos melhores diretores do Brasil”, diz.
De família de classe média carioca, Marieta começou a contracenar nos palcos da escola e nunca mais parou. Depois de 30 peças, 10 novelas e 35 filmes, diz ainda sentir frio na barriga antes de subir ao palco. “Tenho insônia matinal. Umas duas horas depois de dormir, acordo e fico agitada.” Marieta dorme tarde e mora sozinha.  A vida da atriz imita a arte, mas só até certo ponto. Enquanto corre o papo, chega o cafezinho:
Gente – Você tem uma grande família, com filhos e netos. É a dona Nenê na vida real?
Marieta Severo – Completamente! Não é à toa que a dona Nenê ficou assim. Adoro esse assunto!  Adoro ter criança, adoro minha família e preservo isso. A gente se fala quase todo dia. Todo domingo a gente gosta de estar junto. De algum jeito me inspirei na minha mãe para fazer a dona Nenê. Minha mãe foi professora de inglês numa certa época, mas ela era uma mulher completamente da família. Agora, minha mãe era muito lida. Eu me lembro da minha mãe sempre lendo, que é um lado que a dona Nenê não tem.
Gente – Nesse papel, você representa milhares de brasileiras, mães, esposas. E você tem três filhas. E seis de seus sete netos são meninas. Como é viver rodeada de mulheres?
Marieta – É muito bom. Queria muito ter uma filha. Quando Silvinha (a primogênita) nasceu, disse: ufa! Já tenho uma. E aconteceu de ter três filhas e seis netas. Gosto do universo feminino.  Me sinto à vontade. Com o Chiquinho (seu neto), mesmo ele sendo pequeno, procurava acompanhá-lo nas brincadeiras, mas acabava fazendo tudo errado! E ele dizia: “Não, vó. Não é assim!”. Aí achava que estava arrasando e dizia : “Aí ele lutou e deu um tiro”. E ele: “Não, vó. Não deu, não!” Só dava furos!
Gente – Você diz que não quer mais casar, que quer continuar namorando.
Marieta –
 É isso. Definitivamente. É assim há oito anos, nove anos.
Gente – Nunca pensou em  se casar novamente?
Marieta –
 Como sou muito “aqui e agora”, o dia de hoje está bom assim. Gosto de morar sozinha. Muito! Adoro. Mas não tenho solidão nenhuma. Se é uma coisa que eu não tenho é solidão. Não dá tempo. E quando fico sozinha, eu adoro. Por isso durmo tarde e gosto tanto da madrugada…
Gente – E na madrugada você  fica produzindo, escreve, lê?
Marieta 
– Sei lá menina, o que tanto eu fico lá enrolando. Até parece que fico produzindo coisas! Eu leio, vejo televisão. Adoro assistir tevê
na madrugada. Sou a rainha da Globo News! Vejo a mesma notícia dez vezes. Aí vejo o Programa do Jô, leio…

Gente – Separações são marcadas por dores que com o passar do tempo vão se assentando. Há histórias difíceis e histórias que são recompostas. Você e Chico Buarque passam a sensação de que souberam transformar a ruptura de um casamento de 30 anos numa relação boa. Hoje, anos depois, o que aprendeu com a experiência de desfazer um casamento longo?

Marieta – Aprendi basicamente que é bom você ter coragem e mudar coisas na sua vida. Que outras coisas se apresentam. É bom. E eu tenho certeza: não conseguir transformar uma história, que é a maior da sua vida – um casamento de 30 anos –, na amizade mais importante da sua vida é uma tristeza muito grande. Uma sensação de perda muito dolorosa. A gente tem um ao outro, só que de outra maneira. Somos uma família. Temos a coisa mais preciosa das nossas vidas que são nossas filhas e netos. Não poder compartilhar isso deve ser muito triste. Tem muita gente que não consegue, e eu agradeço à vida por ter feito a gente conseguir. É muito importante e é uma coisa que prezo demais. Dou muito valor por termos conseguido.
Gente – Essa relação fez diferença na criação das suas filhas?
Marieta –
 Toda diferença! A gente vai comer uma pizza todo mundo junto. Domingo tá todo mundo almoçando.  A gente conversa, fala, é igual. Tem um código que se estabelece quando a família está junto. Um fala de uma coisa que o outro já sabe e já vai adiante e quem não é da família não entende.
Gente – A canção “Beatriz”, de Chico, foi feita para você?
Marieta –
 Olha, isso de dizer que tal música foi feita para tal pessoa é realmente desconhecer completamente um processo de criação. O que entra num processo de criação são coisas tão misteriosas, tão pouco lincadas à realidade direta.  O Chico ri muitas vezes de coisas que são ditas. Não é assim. Acho que tive uma certa sabedoria de perceber que aquela obra é uma obra de ficção. É uma poesia. Está em outro nível. Você querer ler aquilo de acordo com a sua vida, com o seu cotidiano, é loucura. Você enlouquece. É restringir a pobre da pessoa. O que a pessoa está querendo te dizer? É poesia! É um terreno onde vale tudo, onde entram subjetividades, fantasias, tudo… Não gosto de nada ao pé da letra, não.

Gente – Em Incêndios, a direção é do Aderbal. Como é o prazer de exercer o que você mais gosta ao lado da pessoa que ama?
Marieta –
 Esse é o terceiro trabalho que fazemos juntos. Quando estamos Andréa (Beltrão), eu e Aderbal dentro do Teatro Poeira, a emoção é muito maior do que em qualquer outra circunstância de trabalho. Agora estou com Aderbal e um elenco maravilhoso. Estamos o tempo todo criando.
Gente – Você é politizada. Isso é  de família? Seus pais eram?
Marieta –
 Não muito. Meu pai foi líder estudantil na época da faculdade de direito. E esse era um tema na minha casa. A minha mãe era uma mulher muito inteligente, muito informada. Então se falava muito de tudo, mas não era uma família com uma atuação política. Era uma família de classe média, consciente da vida política do País.

Gente – A figura da mulher no poder pode representar uma nova era? Está satisfeita com a Dilma?
Marieta –
 Achei bem bacana ter uma mulher presidenta. É muito simbólico. Acho que se você olhar o Brasil de 20, 30, 40 anos atrás e o Brasil de agora, é impossível não reconhecer muitas conquistas sociais e uma estabilidade econômica. E o mais importante desse momento que estamos vivendo é esse despertar da sociedade.  É impossível eu não achar que temos vitórias muito grandes. E eu gosto de ter um olhar positivo em cima desses governos democráticos. Eu me permito ter. Faço questão de ter.
Gente – Você fez o coro do “Lula Lá”, em 1989. Faria campanha política hoje?
Marieta –
 Se achar necessário, sim.
Gente – Em Vendo ou Alugo, a sua personagem fuma maconha. Já experimentou drogas?
Marieta –
 A minha geração experimentou de tudo. Eu era das menos animadas (risos). Tive filho muito cedo. Com 27 anos , já tinha três filhos e trabalhava como uma louca. Então era complicado ter tempo disponível para desbundar. Desbundar não fez muito parte da minha vida. Faltou um pouquinho do desbunde. E a minha geração é a geração do desbunde. Eu experimentei pouco por excesso de trabalho e de família e de tudo.
Gente – Qual considera ser o papel da sua vida?
Marieta – 
Quando fiz No Natal a Gente Vem te Buscar (1979), do Naum Alves de Souza, foi a primeira vez que eu produzi no teatro. E foi meu primeiro trabalho com o Naum. Ele teve muita influência sobre mim no sentido de eu encontrar a minha entidade como atriz. Sinto que ali foi um ponto de virada. Ganhei prêmio com esse trabalho. Tive reconhecimento maior. Eu me lembro de me descobrir como atriz com ele. A peça tinha humor. E me lembro de começar a aprender a lidar com aquilo, a descobrir que eu podia fazer aquilo. (Marieta mostra no celular uma foto antiga de quando fez a novela O Sheik de Agadir, em 1966, e diz: “Olha como o tempo é cruel”.)
Gente – Falando em tempo, você tem um talento inquestionável, mas também sempre foi bonita…
Marieta –
 Não, não fui. Estou falando sério. Nunca fui considerada uma mulher bonita, gente. O que acho bacana é que eu tenho um tipo de rosto que posso fazer, desde a mulher feia até enfeitar e ficar mais charmosa. Mas nunca fui bonita. As mulheres bonitas da minha geração são outras. Não tenho essa responsabilidade. Posso ficar caquética na boa! Vejo fotos minhas hoje em dia e falo: “Ah, até que eu era engraçadinha”. No máximo! Mas nunca me achei bonita. Eu era uma moreninha jeitosinha.  A Tonia (Carrero), que era uma geração bem acima da minha, era de parar o trânsito. A Leila (Diniz) era uma mulher muito bonita, de traços, tinha um narizinho. A Dina (Sfat) também. Achava a Dina linda.

Gente – Certa vez você contou que jogou fora cartas trocadas com Leila Diniz quando morava em Roma. E você se arrependeu depois. Por isso, hoje guarda tudo. O que você guarda da sua juventude?
Marieta – 
A paixão pela dança. Eu queria ser bailarina. Estudei balé clássico e contemporâneo. Você falou da minha juventude e me lembro que eu dançava nas festas o tempo t-o-d-o. Se eu pensar na minha juventude, acho que o que mais fiz foi dançar. Eu era o maior pé de valsa. Entrava em concurso de rock, adorava dançar.
Gente – Como se prepara para um novo personagem?
Marieta –
 A primeira coisa é o texto te tocar de diversas formas. É um trabalho de entendimento: o que é essa peça? O que o autor quer dizer com isso? Em que lugar se passa? Depois, o que é esse personagem dentro desse contexto? Para esse processo, preciso de imagem (ela mostra o camarim, cheio de fotos na parede)? Vou cortando figuras, à medida que vou lembrando de um pintor que tenha a ver com aquele personagem. E aí entra a música. Procuro descobrir músicas que me alimentem. Se você for ver o meu texto de agora (mostra um calhamaço  encadernado, com uma capa com um desenho do  pintor Lucian Freud), é cheio de imagem. E isso eu faço antes de começar a ensaiar. É um trabalho preliminar.
Gente – E o que você tem ouvido ?
Marieta –
 Ah, um bando de coisas. Música brasileira, clássica. A (diretora francesa de teatro e cinema) Ariane Mnouchkine diz uma coisa maravilhosa: “A cozinha do ator eu não quero saber, eu quero o bolo pronto”. Você tem que estar com o bolo pronto. Da minha cozinha a gente já está falando muito (risos).

Marieta Severo e Filhas

Marieta Severo: "Eu aprendi que o dever de casa é uma obrigação da criança"


A disciplina dos tempos da escola é essencial para a atriz que precisa se dedicar a fazer pesquisas e decorar textos


Eu adorava a escola! Para mim era um castigo se não pudesse ir. Lembro bem dos brinquedos, do jardim e de muitos professores. Gostava da maneira como eles ensinavam, dos métodos. Era como se tudo fosse um grande jogo! Eu fazia as lições de casa sozinha, mas sempre que tinha uma redação como tarefa, meu pai se aproximava, fazia perguntas e lia comigo. Era um momento em que eu estabelecia um elo especial com ele.
Normalmente meus pais não ficavam checando a lição de casa. No máximo, davam uma olhada para ver se estava sendo feita. Aprendi que o dever de casa é uma obrigação da criança e segui isso com os meus filhos. Acho que corrigir a tarefa é um momento importante da relação entre professor e aluno. O professor precisa sentir se a filosofia geral da aula foi passada. Se os pais ajudam sempre, fica difícil detectar o grau de dificuldade daquela criança.
Além disso, a lição de casa cria um senso de responsabilidade no aluno. Eu mantenho essa relação até hoje na minha profissão, já que tenho muito dever de casa. Preciso ter disciplina, dentro de uma medida de bom senso. Nada que se torne um massacre, porque acredito que a hora de lazer e de brincar deve ser respeitada. A lição de casa tem ainda a função de fixar e de reforçar o que foi visto na escola. Não me incomoda a criança se aprofundar fazendo pesquisas e complementar o estudos, mas o ideal é que fazer isso de uma maneira prazerosa e não como um suplício. Até porque hoje se aprende de várias formas.
Na minha infância não havia muitas opções de programas culturais. Eu me lembro que meus pais liam bastante e penso na minha mãe na horizontal, sempre lendo... Esse era o meu estímulo. Comecei a ler com as obras Monteiro Lobato, depois vieram uma coleção de romances chamada Biblioteca das Moças e os Contos da Condessa de Seguir. Mas eu também adorava ir ao cinema e ao Teatro Municipal do Rio de Janeiro, para ver espetáculos de balé, minha grande paixão.
Hoje há muito mais atrações. Levo os meus netos para teatro, cinema, livrarias... Com sete netos, posso fazer um pouco de tudo! O meu neto mais velho, de 16 anos, até me ensinou a gostar da banda Metallica. Falei que se ele passasse de ano, o levaria ao show. E ele rebolou para passar! Eu fui e não é que gostei? Os meninos adoram jogos e se divertem tocando guitarra. Já as meninas gostam de musicais, peças e exposições. Quando elas ficam sabendo de alguma programação, ligam e me pedem para levá-las. Faço isso com o maior prazer!

Marieta Severo nasceu na cidade do Rio de Janeiro e é uma das mais respeitadas atrizes brasileiras, premiada várias vezes por atuações no teatro, na TV e no cinema.