quarta-feira 07 2013

Dispositivo gera energia elétrica a partir de micróbios do esgoto

Meio ambiente

Células de combustível microbianas utilizam bactérias para produzir corrente elétrica a partir da água do esgoto

Célula de combustível microbiana: o próximo desafio dos pesquisadores é aumentar a capacidade do dispositivo
Célula de combustível microbiana: o próximo desafio dos pesquisadores é aumentar a capacidade do dispositivo (Logan at al)
Produzir energia elétrica de forma sustentável e evitar o desperdício de água. Essas duas importantes metas para a preservação ambiental foram combinadas em um único dispositivo, criado por pesquisadores da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos Estados Unidos: as células de combustível microbianas.
Esses dispositivos utilizam bactérias para transformar a água que vai para o esgoto em matéria-prima para a produção de eletricidade – uma ideia que existe há mais de um século, mas só recebeu atenção a partir da década de 1960. O conceito de células de combustível microbianas, porém, é bem mais recente, com cerca de dez anos.
Em um vídeo da Sociedade Americana de Química, Bruce Logan, um dos pesquisadores à frente do projeto, explica o funcionamento do dispositivo. Segundo ele, o maior desafio agora é produzir um equipamento com capacidade para milhares de litros de água.

Comissão aprova 'ficha limpa' para funcionários comissionados do Senado

Por ERICH DECAT, estadao.com.br
veja.com
De acordo com o texto aprovado, senadores ficam impedidos de contratar condenados por crimes como lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e abuso de autoridade, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado, conforme Lei da Ficha Limpa



A Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou nesta quarta-feira, 7, projeto que obriga os senadores a contratarem funcionários comissionados "ficha limpa". A proposta segue para Mesa Diretora da Casa para ser colocada na pauta do Plenário.
O projeto de resolução, de autoria do senador Randolfe Torres (Psol-AP), segue os critérios da Lei da Ficha Limpa estabelecidos desde 2010 aos candidatos que desejam disputar uma eleição.
"Os princípios que inspiraram a Lei da Ficha Limpa não devem, todavia, nortear apenas aqueles que se submetem ao processo eleitoral", defende Randolfe em trecho da proposta.
De acordo com o texto aprovado, os senadores ficam impedidos de contratar um funcionário que tenha sido condenado (em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado) por crimes dolosos, lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e abuso de autoridade, entre outros.
O relator da proposta, senador Inácio Arruda (PcdoB-CE), defende que as regras valham não só para os novos contratados, como também para os atuais funcionários. "Vai valer assim que ela for promulgada pela Mesa Diretora. E entendo que não apenas para as novas contratações mas para aquelas que já estão aí. Vai ser feito um pente fino", afirmou ao Broadcast Político, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado. "O que se quer é que aquilo que já foi aprovado para todos os servidores agora seja aplicado para nossos gabinetes", acrescentou.

A presidente Dilma pensa em adiar o leilão do trem-bala, com medo de um total fracasso

Trem-bala é furada

Fonte: Veja
A presidente Dilma pensa em adiar o leilão do trem-bala, com medo de um total fracasso. Deveria adiar mesmo: para sempre! Tudo parece errado nessa questão do trem-bala. Para começo de conversa, a enorme presença estatal.
Se faz mesmo sentido esse meio de transporte, quem disse que a iniciativa privada não poderia fazer por conta própria? Sempre que o governo precisa mergulhar como grande sócio, é porque o projeto pode não ser economicamente viável, e outros interesses (políticos, eleitoreiros, corrupção?) estão em jogo.
Vale lembrar que nos Estados Unidos, empresários criaram linhas nacionais de ferrovias sem um tostão estatal, e o governo, quando entrava, era para burocratizar tudo, engessar as empresas, conceder subsídios e impedir a livre concorrência. A novela A Revolta de Atlas, de Ayn Rand, mostra bem como isso funciona, e eu trato do assunto em capítulo do meu livro Privatize Já também.
Além disso, o governo petista tem essa mania de achar que pode decidir na marra cada detalhe da economia, incluindo os preços, o retorno dos investimentos etc. Ele pode decidir algo assim por decreto, claro, mas não pode controlar seus efeitos. Ao congelar um preço, ele acaba criando escassez e mercado negro. Ao decretar um retorno abaixo daquele exigido pelo mercado, ele acaba afugentando potenciais interessados, restando apenas poucos grupos (a menor concorrência reduz a chance de sucesso do leilão).
Esses grupos que restam podem participar do leilão com objetivos escusos, visando a compensar o retorno oficial menor com malabarismos, tais como encarecer a construção da obra que ficará a cargo de empresas do próprio grupo vencedor. Não custa lembrar que o projeto do trem-bala, que começou em poucos bilhões, já está estimado em uma montanha de dinheiro realmente absurda, podendo chegar a R$ 40 bilhões!
Isso tudo com enorme participação estatal, tanto pelo lado dos fundos de pensão que devem participar, como das estatais “convidadas” a entrar no leilão e o financiamento subsidiado do BNDES, sempre ele. Será que não existem outras prioridades para os recursos do governo? Será que essa multidão que tomou as ruas do país está demandando um trem-bala que ligue o Rio a São Paulo? Será que aumentar a malha do metrô nas capitais não é algo bem mais urgente?
O governo, ao insistir no projeto do trem-bala, demonstra ter ouvidos moucos às vozes das ruas. As arenas esportivas bilionárias, que são verdadeiros “elefantes brancos”, representam uma das principais causas dos protestos. E o governo vai afundar mais algumas dezenas de bilhões do nosso dinheiro em um luxuoso trem-bala? É muito descaso com os pagadores de impostos mesmo. É o tiro de misericórdia para enterrar de vez qualquer resquício de bom senso dessa gestão do PT. Cancele o leilão, presidente Dilma!

Eddie Vedder / Bridge School Benefit 2011 (AMO)




Restaurante Antiquarius é autuado por guardar alimentos vencidos

Procon

Fiscais apreenderam 25 quilos de produtos vencidos em um dos restaurantes mais caros da cidade

Salão do restaurante Antiquarius, no Leblon
No restaurante Antiquarius, foram encontrados e apreendidos 25kg de produtos com prazo de validade vencido, dos quais 5kg eram de escargot, vencido há mais de um ano (Tomas Rangel)
O Procon do Rio de Janeiro autuou, na noite desta terça-feira, o restaurante Antiquarius, no Leblon, um dos mais caros da cidade, por comercializar alimentos vencidos. A ação faz parte da Operação Ratatouille, realizada pela Secretaria Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor (Seprocon). No local, foram encontrados e apreendidos 25 quilos de produtos com prazo de validade vencido, dos quais 5 quilos eram de escargot, que tinha prazo expirado há mais de um ano. O prato tradicional da culinária francesa feito com o molusco é o mais caro do cardápio da casa: 174 reais.
Na operação, três restaurantes em Ipanema também foram multados. No Satyricon, fiscais encontraram mais de 3 quilos de produtos com prazo de validade vencido, como presunto, queijos e diversos temperos, e cerca de 2 quilos de alimentos, como atum e legumes, que não apresentavam a informação da data de vencimento. No Esplanada Grill, foram recolhidos 5,350 quilos de peixes defumados, palmitos e molhos de camarão estragados, além de 3 quilos de batatas e filés de carne sem informação de validade. No Alcaparra, localizado no bairro do Flamengo, foram apreendidas 38 latas de refrigerantes vencidas e mais de 7 quilos de alimentos como mortadela, queijo provolone e capelete vencidos, além de 500 gramas de cogumelos sem data de vencimento.
Os restaurantes têm 15 dias para apresentar sua defesa. A multa para esses estabelecimentos pode chegar a 7 milhões de reais e é calculada de acordo com o poder financeiro de cada empresa.
Na semana passada, o Procon já havia autuado os restaurantes Giuseppe, Casa Gourmet, Galeto do Leblon, Quadrucci, Brigite's e Quadrifoglio (onde os ovos pochê eram cozidos com antecedência, aumentando as chances de contaminação alimentar por salmonela) e Celeiro, onde os fiscais recolheram 11 quilos de alimentos vencidos. "Os restaurantes mais caros não estão acreditando que podem ser fiscalizados pelo Procon-RJ. É bom que se cuidem, porque nós chegaremos a todos os lugares", avisou  Cidinha Campos, secretária estadual de Proteção e Defesa do Consumidor. Dentre os locais fiscalizados, os que não apresentaram irregularidades foram o Zuka, La Mole, Yalla, Garcia Rodrigues, Roberta Sudbrack, Giuseppe Grill, Marius Churrascaria e Crustáceos e as duas filiais do Restaurante Gero, em Ipanema e na Barra da Tijuca.
Outro lado - Segundo a assessoria do Antiquarius, "as medidas corretivas já foram tomadas" e o prato de escargot está fora do cardápio há anos. Em nota, o restaurante explicou que descarta os alimentos dias antes de atingirem o prazo de validade. A assessoria do Alcaparra informou que vai averiguar o que aconteceu, "pois a casa mantém um rígido controle de qualidade".

Condenação de Edmundo Santos Silva, ex-presidente do Flamengo

Condenado

Condenado em segunda instância
A Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro manteve a condenação de Edmundo Santos Silva, ex-presidente do Flamengo. Em 2011, o clube venceu um processo contra o dirigente por conta de gastos sem comprovação entre 1999 e 2001. De acordo com a decisão, Edmundo Santos Silva terá que ressarcir o clube em 18,7 milhões de reais. Mas ainda cabe recurso ao STJ.
Por Lauro Jardim
http://veja.abril.com.br/blog/radar-on-line/futebol/ex-presidente-do-flamengo-e-condenado-a-devolver-18-milhoes-ao-clube/

Presidente do TSE quer suspensão de repasse de dados de eleitores à Serasa

Por atualizado às 13h17, estadao.com.br
Ministra Cármen Lúcia pedirá uma análise do plenário do Tribunal sobre acordo que permite à empresa privada ter acesso a informações de 141 milhões de brasileiros



Presidente do TSE quer suspensão de repasse de dados de eleitores à Serasa
"Ministra Cármen Lúcia não teria sido informada sobre acordo"
Brasília - A presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Cármen Lúcia, defendeu nesta quarta-feira, 7, a suspensão imediata do repasse de dados de eleitores para a Serasa Experian e quer que o plenário da corte analise o acordo, revelado pelo Estado nesta quarta. A parceria, publicada no Diário Oficial da União do dia 23 de julho, prevê que a empresa pode fornecer as informações de 141 milhões de brasileiros aos seus clientes, embora o documento diga que cabe às partes zelar pelo sigilo dos dados.

De acordo com assessores do tribunal, apesar da decisão ter sido publicada no Diário Oficial, a ministra não teria sido informada do assunto. "Deve ser levado ao Plenário do TSE porque o cadastro fica sob a responsabilidade da corregedoria-geral, mas é patrimônio do povo brasileiro e submetido ao TSE como órgão decisório maior", afirmou a ministra nesta quarta. "O TSE que vir a publico informar o que aconteceu e os cuidados. E isso certamente será feito pela corregedora-geral que é a responsável pela cadastro dos eleitores. O compromisso do TSE é de total transparência com a cidadania."
Conforme informações do tribunal, a decisão de firmar a parceria com a Serasa Experian, partiu da ex-corregedora do tribunal Nancy Andrighi e foi confirmada pela sua sucessora, ministra Laurita Vaz. A presidente do TSE sugeriu à atual corregedora a suspensão do convênio até a análise do acordo pelo plenário. A Serasa é uma empresa privada que gerencia banco de dados sobre a situação de crédito dos consumidores do País.
Pelo acordo firmado, o tribunal entrega para a empresa privada os nomes dos eleitores, número e situação da inscrição eleitoral, além de informações sobre eventuais óbitos. Em troca, servidores do TSE ganhariam uma espécie de certificação digital (espécie de assinatura eletrônica válida para documentos oficiais) da Serasa, o que facilitaria a tramitação de processos pela internet.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Serasa informou que os dados previstos no acordo são públicos e o acesso não viola o direito à privacidade do eleitor. Diz ainda que o objetivo da cooperação é verificar informações para evitar fraudes.

Um novo e estranho estado sólido é, na verdade, líquido

Por Jamie Condliffe-- Gizmodo
Cientistas da Universidade La Sapienza, em Roma, descobriram o feito bizarro.



Reprodução
Reprodução
Normalmente, se você resfria uma substância a uma temperatura específica, ela se torna sólida – o estado mais estável de matéria existente, de acordo com físicos tradicionais. Mas tudo isso pode mudar, já que pesquisadores descobriram um novo estado líquido estranho que é mais estável do que um cristal sólido.
Uma equipe de cientistas da Universidade La Sapienza, em Roma, usaram simulações de computadores para criar um líquido estranho que pode ajudar cientistas a criarem materiais bizarros no futuro. Começando com um modelo de coloide – um líquido com pequenas partículas suspensas, como um leite com pequenos glóbulos de gordura – eles foram capazes de resfriar virtualmente o fluido até ele tomar uma forma estável parecida com sólida, mas com uma estrutura molecular de um líquido. Frank Smallenburg, um dos pesquisadores, explica:
"Um coloide tem partículas pequenas o suficiente para fazer a energia térmica ser importante… Quando fazemos ligações mais flexíveis, a fase líquida se mantém estável mesmo em temperaturas extremamente baixas… As partículas simplesmente nunca vão se ordenar em um cristal, a não ser que sejam comprimidas a altas densidades."
Se o fluido for resfriado corretamente, as ligações flexíveis vão permitir que o material virtual seja resfriado a temperaturas extremamente baixas e se comporte como o vidro em temperatura ambiente – parcialmente líquido, parcialmente sólido. A chave para o resultado está nas ligações que existem em coloides. Cristais sólidos normalmente são formados quando o líquido é resfriado porque eles exigem menos energia para assumir aquela forma de estrutura ordenada; em vez disso, os coloides com ligações flexíveis têm mais formas de se conectarem com outras moléculas quando estão em estado líquido. A pesquisa foi publicada na Nature Physics.
O próximo passo é descobrir se a teoria funciona na prática, e se a nova descoberta pode ser usada para criar materiais que se aproveitem do conhecimento – mas isso ainda deve demorar um tempo.

Homem é detido na Inglaterra por ameaçar mulheres através de Twitter

Por EFE Brasil-- EFE Multimedia
Londres, 7 ago (EFE).- Um homem foi detido nesta quarta-feira em Bristol, no oeste da Inglaterra, por conta de sua relação com uma série de ameaças feitas contra diversas mulheres através do Twitter, informou a polícia britânica.



Homem é detido na Inglaterra por ameaçar mulheres através de Twitter
Homem é detido na Inglaterra por ameaçar mulheres através de Twitter
Londres, 7 ago (EFE).- Um homem foi detido nesta quarta-feira em Bristol, no oeste da Inglaterra, por conta de sua relação com uma série de ameaças feitas contra diversas mulheres através do Twitter, informou a polícia britânica.
O homem, de 32 anos mas cuja identidade não foi revelada, foi detido por ameaças de estupro à deputada trabalhista Stella Creasy e à defensora de causas feministas Caroline Criado-Peres, indicou a Scotland Yard.
O detido será interrogado em uma delegacia local sob a suspeita de ter cometido um delito em virtude da chamada Lei de Proteção e Assédio, acrescentaram as forças de ordem.
Este caso obrigou há poucos dias o responsável do Twitter no Reino Unido, Tom Wang, a pedir desculpas às mulheres que foram ameaçadas, algo que qualificou como 'inaceitável'.
Além das duas mulheres, as colunistas Hadley Freeman, do jornal 'The Guardian', Grace Dent, do 'The Independent', e Catherine Mayer, da revista 'Time', revelaram recentemente que tinham recebido ameaças de bomba por parte do mesmo usuário anônimo do Twitter, sem que até o momento as razões tenham sido reveladas.
No caso de Criado-Pérez, esta tinha liderado uma campanha, apoiada por mais de 35 mil empresas, contra a retirada da egífie da reformadora social Elizabeth Fry das notas de 5 libras esterlinas em favor do ex-primeiro-ministro Winston Churchill.
A ativista denunciava que os bilhetes britânicos ficariam sem representação feminina (exceto o da rainha Elizabeth II), apesar do Banco da Inglaterra anunciar há dias que em 2017 a escritora Jane Austen substituirá o cientista Charles Darwin nas notas de 10 libras.
Copyright (c) Agencia EFE, S.A. 2010, todos os direitos reservados

Miguel Nicolelis divulga imagem de exoesqueleto robótico desenvolvido por sua equipe

Por Daniel Junqueira-- Gizmodo
Projeto busca devolver a habilidade de andar a pessoas com paralisia.



Divulgação
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O neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis divulgou hoje uma imagem do exoesqueleto robótico que está sendo desenvolvido para o projeto Andar de Novo.
A imagem acima mostra os cinco módulos do exoesqueleto e o seu backpack de controle – e o cientista promete mais informações sobre os módulos e outras imagens ainda nesta semana.
O projeto Andar de Novo está sendo desenvolvido por 170 cientistas do mundo inteiro e é liderado por Nicolelis. A ideia é devolver a habilidade de andar a pessoas com paralisia – e , se tudo der certo, Nicolelis e sua equipe querem uma criança paralítica dando o pontapé inicial da Copa do Mundo de 2014.
Nicolelis não é uma pessoa fácil de lidar, mas seu projeto é muito interessante e pode ser um grande passo não só para a ciência brasileira como mundial. Aguardamos por esses outros detalhes que serão divulgados ainda nesta semana sobre o desenvolvimento do Andar de Novo.

Localização online amplia funções, mas desafia privacidade

Por BBC-- BBC Brasil
Serviços de geolocalização avançam em áreas como monitoramento dos filhos, gestão de serviços públicos, segurança, marketing e agricultura.



Localização online amplia funções, mas desafia privacidade
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Usar mapas, saber onde seus amigos estão e fazer 'check-in' em seus lugares favoritos são alguns dos usos mais tradicionais da geolocalização - tecnologia que usa dados do seu tablet ou celular para identificar sua posição geográfrica.
Mas as aplicações dessa tecnologia têm crescido exponencialmente, em setores que vão de segurança a publicidade, de serviços públicos a agricultura.
Com isso, também ganham força os debates éticos e de privacidade: até que ponto um governo pode usar essa tecnologia para obter dados de seu cidadão? E um pai tem o direito de monitorar todos os passos de seus filhos?
'A questão da privacidade é preocupante para muitas pessoas, e as legislações (dos países) não acompanham a tecnologia', diz à BBC Brasil Jane Frost, da empresa de pesquisas britânica Market Research Society (MRS).
Com a ajuda de especialistas, a BBC Brasil listou alguns usos da geolocalização que têm crescido ou podem crescer:
Uso social
Esse talvez seja um dos usos mais difundidos da geolocalização, como mostram dezenas de aplicativos de celular que compartilham dicas de restaurante e de compras com base na localização do usuário.
Incluem indicações de viagem e entretenimento, informações sobre a bicicleta para alugar mais próxima e o tradicional upload de fotos, com menção ao local onde foram tiradas.
O aplicativo Localmind, por exemplo, coloca os usuários em contato com moradores de determinadas áreas para receber dicas locais ou para perguntar a frequentadores de um determinado bar se o local já está lotado.
Até o Facebook permite a usuários de smartphones identificar locais próximos onde comer ou visitar.
Aplicativos de carona também usam o GPS para unir pessoas que vão fazer percursos semelhantes e podem compartilhar seus carros.
Segurança
Enquanto empresas de transporte usam o GPS para rastrear e proteger suas cargas, pais adotam aplicativos para cuidar da segurança de crianças.
É o caso, por exemplo, do ZoeMob, serviço que permite aos pais, via celular com GPS, saber se seus filhos saíram de um determinado perímetro geográfico ou se entraram num carro em alta velocidade, além de monitorar mensagens e ligações recebidas por eles.
A segurança bancária também começa a incorporar o GPS, diz Frost. 'Pela localização do seu telefone, o banco poderá identificar se é você quem está sacando dinheiro da sua conta no caixa eletrônico', explica.
E seguradoras também poderão em breve ter acesso a uma 'caixa-preta' dos veículos, que, poderá identificar lugares visitados pelo carro e a velocidade média percorrida por ele para o cálculo de seguros e a prevenção de fraudes.
A fabricante de computadores Apple também tem um serviço de rastreamento de celulares - Find My iPhone - que rastreia o equipamento em caso de furto. E seguradoras também oferecem o serviço para celulares e computadores.
Comercial e marketing
Aplicativos de táxi já incorporam o GPS para mostrar aos usuários onde estão os taxistas mais próximos, e lojas começam a identificar clientes que estejam nas proximidades para avisar-lhes de promoções.
Nessa área, as possibilidades são ilimitadas, conta Eduardo Peixoto, executivo-chefe de negócios do laboratório tecnológico brasileiro CESAR. 'Há o que se chama de computação contextual: pega-se o contexto do usuário para influenciar suas decisões, combinando diferentes dados.'
É possível, por exemplo, aliar os dados de localização e temperatura para avisar o usuário que uma loja próxima oferece roupas de frio; ou unir dados do carro à posição geográfica para informar sobre os postos de gasolina mais próximos.
Serviços públicos
Que tal usar o GPS de usuários para identificar quais as rotas de ônibus mais demandadas de uma cidade? Ou combinar o localizador de veículos com um acelerômetro, para identificar que pontos do trajeto estão esburacados?
Estes são alguns dos usos possíveis para geolocalizadores que podem ajudar administradores a gerenciar serviços públicos. Outras possibilidades são o mapeamento de crimes e do suprimento de água, por exemplo.
'Mas é preciso cuidado com a interpretação desses dados - que dão um bom indicativo histórico, mas nem sempre permitem previsões', aponta Frost.
'No caso do ônibus, por exemplo, a análise dos dados pode indicar quantos usuários tomam determinada linha de ônibus, mas não quantos precisam dela. Se uma linha é pouco confiável, talvez seja pouco usada. Mas isso não significa que não haja demanda para ela.'
Ônibus em São Paulo
"Ônibus em São Paulo"
Já existem experiências positivas em lugares como a Nigéria, que usou dados de GPS para monitorar a mortalidade materna e infantil.
'A partir dos dados de geolocalização foi possível identificar o raio em que determinadas populações eram atendidas por clínicas médicas', explica Cara Carter, da empresa de pesquisas ORB International. 'Com isso, conseguimos medir o impacto de programas sociais.'
E, no Brasil, está em curso o Siniav - Sistema de Identificação Automática de Veículos, que tem como meta acoplar nos carros um chip que permita identificar, por exemplo, taxas pendentes e veículos roubados ou em situação irregular.
Prevenção (e previsão) de conflitos
A ORB International, que é especializada em pesquisas em locais de difícil acesso, também participou de um projeto para tentar identificar áreas que poderiam ser alvejadas pelo grupo guerrilheiro Exército de Resistência do Senhor, em Uganda.
Para chegar a conclusões, a empresa fez uma análise geoespacial, a partir de imagens de satélite e informações geográficas de locais previamente atacados pelos guerrilheiros.
Segundo Carter, da ORB, também é possível usar a geolocalização para tentar prevenir violência ou fraude eleitoral, por exemplo.
'Se temos áreas com histórico de violência ou de baixa confiança no processo eleitoral, podemos mapeá-las e notificar o governo ou mesmo observadores internacionais.'
Agricultura
A agricultura de precisão já é um conceito antigo no Brasil, mas a geolocalização está abrindo novas oportunidades.
O laboratório CESAR, por exemplo, acoplou GPS em equipamentos de irrigação usados em amplas plantações de grãos no Centro-Oeste. 'Esse GPS mede a velocidade da irrigação, a pressão da água e dá informações remotas aos administradores', explica Eduardo Peixoto, executivo-chefe de negócios da empresa.
Soja
"Soja"
O próximo passo, diz ele, é mapear, em parceria com a Embrapa, os dados coletados pelos GPS em busca de uma regulagem padrão para cada tipo de cultura agrícola.
Voluntariado e ajuda humanitária
A geolocalização tem sido usada tanto para aproximar voluntários de causas como para aprimorar o trabalho humanitário.
Nos EUA, após o furacão Sandy, em 2012, surgiram aplicativos de celular como o Sprout Help, que avisava voluntários sobre áreas que necessitavam medicamentos e suprimentos. Também permitia que pessoas avisassem se estivessem em uma área que precisasse de ajuda.
No trabalho humanitário, a geolocalização também é usada para gerenciar a ação de ONGs, gerando mais dados para monitorar o uso do dinheiro, identificando a localização (e a segurança) dos agentes humanitários e comparando indicadores sociais de determinadas áreas.
Gafes e privacidade
Como costuma acontecer com novas tecnologias, deve crescer o debate em torno da privacidade e da ética no uso das informações coletadas por GPS, apontam os especialistas consultados pela BBC Brasil.
E, enquanto isso, o serviço deve propiciar também algumas gafes - por exemplo, de pessoas que dizem ao chefe que estão doentes e são 'deduradas' por seu geolocalizador mostrando que elas estão, na verdade, no cinema.
'É como um novo Big Brother', diz Jane Frost.
'Não é uma tecnologia boa nem ruim - tudo depende de seu uso. Somada a outros dados, permite uma análise multidimensional. Mas a ética (no seu uso) deve ser aplicada também nos serviços públicos (que usem dados dos cidadãos).'
Para Peixoto, do CESAR, 'vai demorar até que legisladores entendam essa questão, já que as mudanças tecnológicas foram radicais nos últimos anos. Isso rende uma discussão relevante, porque permite uma vigilância em alto nível.'
Alguns cuidados com os dados de geolocalização - que tampouco são cegamente confiáveis, já que muitas vezes não são tão precisos quanto se imagina - já são tomados por pesquisadores em campo, explica Carter.
'Nunca marcamos pontos ao lado de uma casa, por exemplo, para preservar seus moradores. Marcamos áreas genéricas. Ao mesmo tempo, o GPS nos dá segurança porque sabemos que, se o tablet de nossos agentes for roubado, podemos localizá-lo pelo dispositivo.'
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Queer: política sexual do noise

Nem se trata de encontrar espaço para o ruído, mas de roer lentamente o sexo com partitura, o desejo como coreografia e os corpos com tonalidade fixa. E a parte mais excitante: tudo soa. Tudo é som. Cada ínfima parte do mundo tem seu próprio ruído. Isso é noise, isso é sexo. Democracia
por Fabiane Borges, Hilan Bensusan
Noise não é música. Queer não é sexo. Talvez estejamos à beira da era da pós-música e estamos querendo ver ao longe a era do pós-sexo. Mas há ziguezagues frenéticos e pode ser que até a música retorne, até o sexo retorne. Queremos isso? O noise é um deslocamento para fora das margens da história da música canônica; uma requebrada, uma saída do eixo, mas que se repete cada vez mais: o noise tem um pedigree em Cage, Boulez, Zappa, um outro em Captain Beefheart, Sonic Youth, Wunderlitzer e tem outros. O deslocamento se faz expondo matéria sonora que ficou deixada de lado pelo cânone da música; aquilo que soa amorfo ou abjeto para além do que é apenas desafinado. Os detritos da música - que têm o nome do que perturba a transmissão. Adicionar noise é uma intromissão no caminho esperado da informação: fazer ruído. Deixar as coisas roídas. Boyan Machev [1] descreve o noise como uma desorganização da vida: um agente provocador que logo se comporta como um agente infeccioso. Machev opina que o noise é a arte da desorganização e por isso mesmo é a arte da alteração, da expressão da potência e da transformabilidade. Do que parecia amorfo emerge alguma nova morfologia e, se continuamos ruindo, uma outra. Trata-se de roer a teia que vai da matéria ao instrumento e do instrumento o som. A matéria ela mesma faz som - matéria-sem-instrumentos é equipamento esquizo. Noise contamina a música e, eventualmente, vai se tornando música. A música vai ficando ruída, infestada de desorganização.
Queer é o noise do sexo. O plano, se precisarmos apresentar um plano, é o curto-circuito: não precisar mais dos órgãos sexuais, com sua velha morfologia, para o prazer. Do corpo ao órgão, do órgão ao prazer - arrancar matéria orgástica do corpo desorganizado. Mas Machev diz: a arte da alteração, da expressão da potência, da transformabilidade. O que é queer, e o que é trans, inter, a, poli, cybersexual traz as marcas da potência porque é agente infeccioso. Nem se trata de encontrar espaço para o ruído, mas de roer lentamente o sexo com partitura, o desejo como coreografia e os corpos com tonalidade fixa. E a parte mais excitante: tudo soa. Tudo é som. Cada ínfima parte do mundo tem seu próprio ruído, não necessariamente audível. Somos tecno-humanos e necessitamos dos canais de amplificação para aproximarmos nossa escuta do inaudível, da multiplicidade sonora que nos rodeia e que ignoramos. Isso é noise, isso é sexo. Democracia.
Mas tudo pode ser diferente. O queer e o noise não nos garantem liberdade por principio. Podemos imaginar o ouvido, esse órgão sensorial, crescendo no interesse de investimento capitalístico a ponto de torná-lo o território de maior especulação e investimento e aos poucos diminuir seu investimento no sexo... Isso poderia ser chamado de uma era pós-musical, mas sem fuga do capital. No entanto ainda vivemos com a imposição da ordem do progresso (harmonia) e o progresso da ordem (controle), que são valores caros mantidos pelos higienistas urbanos, sexuais e sonoros. Progresso é aumento de controle. Por essas, nem estamos tanto em era pós-sexual e pós-musical. Precisamos de mais... reconhecimento por parte de investimento de capital e por vias legais é um avanço social em um sentido e avanço de mais controle por outro. E assim vamos liberando espaços na matriz de inteligibilidade, na medida que nossas lutas sociais se multiplicam em suas formas de manifestar-se, já não sabendo bem em frente do que, já que perdemos paulatinamente a referência do espaço-para-a-manifestação. Esse carnaval ativista tem cores de arco-íris e faz festas manifestos, um grande carnaval de rua exagerando gestos e gestos.
O hermafrodita tem uma história de transformabilidade: ela é o noise, o ruído que interfere na melodia hétero. Retorcer a vida das pessoas, interferindo nos subterrâneos dos desejos
— O que você quer fazer — eu disse depois de muitos minutos com os lábios trancados, calculando, em assembléia com todos os pedaços politicamente engajados de mim.
Ela sussurrava, como se estivesse falando apenas para o meu ouvido direito, como se não quisesse que o resto de mim ouvisse. Ela disse, eu quero continuar. Eu quero. Eu quero que você não pare.
Em um impulso, desci meu rosto até seus seios, pequenos, os mamilos eretos como se apontassem para alguma coisa na minha direção. Beijei seus peitos e ela, lentamente, roçou seu pênis ereto pela minha barriga.
— Eu vim aqui ser uma mulher, ser uma mulher para você.
— Você veio como mulher hoje, outro dia você vem como, eu parei, como, outra coisa? 
— Não sei, ela fez. 
O hermafrodita tem uma história de transformabilidade: ela é o noise da bi-tonalidade sexual — o ruído que interfere na melodia hétero. Hermafroditas em muitos contextos tiveram um papel pedagógico: retorcer a vida das pessoas, interferindo nos subterrâneos dos desejos. Um agente provocador, agente infeccioso que não apareceu com uma intenção de dissipação, mas que modula os desejos. [2] Parte de uma revolução por contaminação, parte de uma desestabilização por introduzir o órgão inesperado — por ruído. Quando os instrumentistas deitam na ribalta, prontos para um dueto de violino e piano e esbarram em fagotes, trombones, contrabaixos, oboés, harpas, marimbas, secadores de cabelo, pratos, copos e não podem mover os dedos sem esbarrar em instrumentos que não sabem tocar — esbarram ao invés de tocar e retiram do entulho matéria sonora.
O clitóris que é pau é ruído, interrompe a informação, deforma, desinforma, reforma, transforma e inventa possibilidades súbitas, como se a interação entre os órgãos que não são mais instrumentos na mão de uma torre de controle vestida de azul ou de rosa se desse por fricção e não por plano de vôo. Pensemos na célebre pergunta de D. H. Lawrence: por que minha mão deve ser vista como sendo vassala da mente que a dirige? E agora: porque os pedaços da minha genitália devem ser instrumentos de um sistema nervoso central azul-marinho ou rosa-carmim que os sujeita? Não é que as partes dos corpos sejam autônomas, mas elas podem escapar dos controles das matrizes heterossexuais. Queer - coisa ruída, barulhenta - é uma conspiração com este fim: celebrar o que escapa.
Esquizerda se excita sempre com as novas fronteiras. Ela aprende alguma coisa com o capital - se gay virou produto, pós-colonial virou logo de música ou de cinema, trata-se de mudar a velocidade
Queer é pinto no lixo, perereca pelo mato, guitarra arrastada por uma caminhonete. [3] Trata-se de uma proliferação. Nem se trata sempre de fundir os termos da diferença sexual, mas de fazer bolinar o feminino, o masculino, como se fossem corpora prontos a serem seduzidos e desviados e postos fora do eixo: a ejaculação delicada da garota, os seios fartos com mamilos ouriçados do meu macho; cada centímetro dos corpos fazendo uma transição entre os dois lados da diferença. Não se trata de varrer a diferença sexual - ou antes as muitas diferenças sexuais - para baixo do tapete; nem mesmo de agir como se 6 bilhões de sujeitos queer já existissem. É antes tentar mobilizar o poder revolucionário do barulho que muitas vezes é tratado como inaudível. E que carrega potência de revolução. Uma revolução por aglutinação, recombinação, por desvio de rota.
Julia Serano, no seu Barrette Manifesto que aparece junto com seu Trans Woman Manifesto [4], aponta para o grau de perigo que parece conter, para os homens heterossexuais que orbitam em torno do poder, as presilhas de cabelo das meninas - assim como todas as coisas de garota. E ela diz: eu sei disso porque, como uma mulher trans, eu sou agente duplo e vivi como um rapaz a maior parte da minha vida. O perigo da bolsa, do colar e do batom não termina com o feminismo incluindo as mulheres no clube dos executivos ou dos políticos e nem com a visibilidade gay ou mesmo das mulheres pós-operatórias. E é bom que não termine, porque resistência - como qualquer potência - se dobra e desdobra no tempo. (Um heterossexual aprecia os contornos femininos de uma pica depois de estar por um tempo desejando os contornos femininos das pernas, dos quadris e dos seios da amante.)
Nada vai trazer de volta a higiene das fronteiras coloniais - entramos em um tempo de contágio universal. ? Quiçá!! O capital se insere nos tecidos subcutâneos do contágio: vende figurinos lésbicos em Haight-Ashbury, música do Congo em Tóquio, remédio canadense em Luanda, droga colombiana em Oslo. A dinâmica da esquizerda é a dinâmica da infecção nesses mesmos tecidos - ela não quer uma saúde pós-revolucionária estável e bonachona, como se tivesse alcançado a quietude e a plenitude. Esquizerda se excita sempre com as novas fronteiras. Ela aprende alguma coisa com o capital - se gay virou produto, pós-colonial virou logo de música ou de cinema, trata-se de mudar a velocidade: deixar vazar um terceiro-mundismo queer, uma música que não é música, um sexo que não tem órgãos. A esquizerda promove objetos de desejo que não podem ficar parados em uma vitrine. Nem se trata de vencer uma batalha final contra o capital - mas de cutucá-lo com uma vara curta ou com um dildo de 18 X 8.
Mais:
Fabiane Borges e Hilan Besunsan assinam a coluna Políticas Esquizotrans no Caderno Brasil de Le Monde Diplomatique. Leia as edições anteriores:
Por uma pornografia livre
Contra a mercantilização dos desejos e o patriarcado falocêntrico, queremos fazer uma pornografia com o odor de Walt Whitman. Oceano-sexual, via-láctea sexual, brisa-sexual, esperando-por-você-sexual. Uma pornografia livre como uma grafia do corpo livre, ou uma geografia da alma livre

http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=1199

ALGUMAS IDEIAS REVOLUCIONÁRIAS SOBRE GÊNERO E SEXUALIDADE

Quando ela era criança na Espanha e lhe faziam a clássica pergunta “O que você quer ser quando crescer?”, ela respondia: “Homem”. Hoje Beatriz Preciado tem 41 anos, é uma filósofa e ativista queer que leciona em Paris, e se declara transgênero. Eu nunca tinha ouvido falar nela antes de uma leitora me indicar sua obra (viram como aprendo com vocês?). 
O livro mais recente de Preciado é Pornotopía, que trata de como a pornografia, a partir dos anos 1950, vira uma cultura de massas (é possível lê-lo aqui). “E a masturbação, que no século 19 era vista como patologia e perda de tempo, depois da Segunda Guerra se converte numa plataforma de produção de capital”, diz ela. Logo, Hugh Hefner, fundador da Playboy, não se vê como pornógrafo, mas como arquiteto, que tenta ajudar os americanos a reconquistar o espaço doméstico. “Mais que uma revista com mulheres nuas, a Playboy tinha o projeto de abrir a casa hétero do modelo de consumo e reprodução para um de prazer e capital”  uma palestra de Preciado em espanhol). 
Mas o livro mais famoso de Preciado, um clássico do movimento transgênero ou queer, é Manifiesto Contrasexual, de 2002. Em Testo Yonqui ela fala, entre outras coisas, de como aplica testosterona nela mesma. Yonqui éjunkie em inglês, viciad@. Preciado não quer fazer cirurgia pra mudança de sexo. Ao contrário do que dizia na infância, não quer virar homem. É lésbica e se reserva o direito de não querer pertencer a um só gênero (feminino ou masculino). 
Dois anos atrás, ela deu esta entrevista ao El País. Achei espetacular, muito provocadora, e decidi traduzir alguns trechos. 
Gostei porque sabe aquele post em que perguntei, de modo totalmente intuitivo e sem nenhum embasamento teórico, se seria possível virar lésbica? Então, Preciado fala algumas coisas bem parecidas. Fico feliz ao ver que eu não falo só besteira! Diz ela: “A sexualidade é muito comparável às línguas. Aprender outra sexualidade é como aprender outras línguas. E todo mundo pode falar as línguas que quiser. Há apenas que aprendê-las, igual à sexualidade. Qualquer um pode aprender as práticas da heterossexualidade, da homossexualidade, do masoquismo...
A jornalista pergunta se não há uma sexualidade materna, assim como há uma língua materna. Para Preciado, “Há uma sexualidade que constitui o seu selo de doutrinação. Aquela que você aprende a reconhecer como natural. Mas enquanto você aprende uma segunda língua você sabe que há mais, que inclusive você pode abandonar a primeira língua sem o menor problema. Eu estive anos sem falar espanhol e o faço bem, não?
Muito bem! Preciado é uma gracinha. Mas não sei se querer é poder. Porque, se a gente pensar que um hétero pode tornar sua sexualidade mais flexível e ser homo, ou bi, a gente também vai acreditar que um homossexual pode ser "convertido" para a heterossexualidade (que é o que os fanáticos religiosos prometem com a graça de deus). Claro que ela está falando o contrário de um religioso -- ela não quer camisas de força. Preciado diz: “Não creio na identidade sexual, me parece uma ficção. Um fantasma em que alguém se pode instalar e viver confortavelmente”. 
Acho que ela está tratando ao mesmo tempo de gênero (feminino/masculino/trans) e de orientação sexual (homo/bi/hétero etc). Por exemplo, o que ela diz pode dar um nó na cabeça não só de héteros quadradinhos como eu mas também na de gays e lésbicas assumidos: “O que observo nas pessoas é uma tensão ainda que inconsciente para adequar-se ao que se supõe que é feminino, masculino, heterossexual ou homossexual. Eu também experimentei a pressão homossexual ao dizer que não sou um cara ou uma cara. Na homossexualidade há restrições, regras precisas. A tensão está ali. A revolução é outra coisa”.  
Ela vê sexo e gênero como construções biopolíticas: “o masculino é visto como técnica, construção, cultura. O feminino é visto como natureza, reprodução. O que é construído é essa distinção entre natureza e cultura que não existe, que é fictícia. [Os cromossomos XX e XY] são um modelo teórico que aparece no século 20 para tentar entender uma estrutura biológica, ponto”. 
E, por incrível que pareça, ela não acha que vivemos numa cultura hedonista: “O fato de que o que movimenta a cultura seja o prazer não quer dizer que o fim seja hedonista. O objetivo é a produção, o consumo, e, na sua etapa final, a destruição. O desafio para o que deveria ser uma esquerda para o século 21 é tomar consciência desse estado de depressão coletiva. Deve ser diferente da direita, que vive na euforia do consumo, na produção de desigualdades, na destruição. A esquerda tem que dizer: m*rda, já estamos c*gando, e isso tem que levar a um despertar revolucionário. E creio que isso pode vir daqueles que estamos à margem do político: os gays, as lésbicas, os yonquis, as putas. Ali há modos de produção estratégicos para a cultura e a economia, aí sim estão produzindo-se soluções”. 
E aqui algo que concordo 100% com ela, e que eu (e outras feministas) vivo dizendo: “Se há algo que está em crise, é a masculinidade. Desde o feminismo tem havido um trabalho crítico, mas, da parte dos rapazes, nada.
Radical, Preciado propõe ensinar às meninas não técnicas de defesa pessoal (porque, numa cultura bélica como a que vivemos, isso já as colocaria em desvantagem), mas técnicas de ataque pessoal: Busco alternativas radicais à cultura da guerra, e uma delas é o acesso igualitário às técnicas da violência. Toni Negri dizia: é preciso dar armas ao povo, já que o Estado anda armado. Eu diria: é preciso dar armas às mulheres, já que os homens andam armados. É uma guerra fria: você tem armas, eu também”.
Ahn, não concordo com isso. Quero paz. Quero uma população desarmada. Mas, se eu tivesse filhas, elas fariam alguma arte marcial desde pequeninas. Pra defesa, não pra ataque. Se bem que entendo que isso pode não ser eficaz. 
Bom, pessoas, vocês já tem pólvora para uma bela discussão. Explodam esta caixa de comentários (mas com delicadeza, educação e, se possível, humor).

'Quero peitos de silicone, mas não mexo em nada lá embaixo', diz Laerte

PEDRO IVO TOMÉ
DE SÃO PAULO

Marilia Coutinho, 49, irmã caçula do cartunista Laerte, gosta de uma ideia do autor de "Alice no País das Maravilhas", o inglês Lewis Carroll (1832-1898). "Ele dizia que as pessoas não deveriam depositar suas esperanças de felicidade em algo que podem perder. E veja: você nunca vai perder uma barra de aço."
Bióloga com pós-doutorado em estudos sociais da ciência e autora de dois livros ("Powerlifting: De Volta ao Básico" e "Estética e Saúde: A Linha Tênue Entre Beleza e Saúde", ambos de 2011), Marilia faz levantamento de peso e é recordista mundial de agachamento "raw" (sem equipamentos). Na categoria até 60 kg, ela, com 1,52m de altura, foi a única mulher capaz de levantar com 175 kg sobre os ombros.
Seu irmão, Laerte, 61, criador de tiras publicadas pela "Ilustrada", além de colaborações para os suplementos "Folhinha" e "Equilíbrio", veste-se com roupas femininas desde 2009 e adotou o nome Sônia. "Agora quero colocar peitos de silicone", afirma. "Mas não vou mexer em nada lá embaixo."

Desde 2009, o cartunista se veste de mulher e adotou o nome Sônia
A ideia de Laerte/Sônia não é ter duas personalidades nem dois sexos (só dois nomes). O que interessa a ele é acabar com as imposições do que é um homem ou uma mulher. Ele não quer ser nem um nem outro, e sim um transgênero. Ou "transgênera", como prefere, em mais uma subversão (o termo é usado no masculino). Os dois irmãos são próximos. "Nossos caminhos são diferentes, mas lidamos com a mesma realidade. E entramos em atrito com as regras desse jogo."
O que está em questão aqui é mais do que a realização pessoal, é uma luta contra os estereótipos. "Reivindicamos o direito de ser dono do próprio corpo. Eu quero ser forte, rápida, flexível. Não importa o aparelho genital com que nasci", diz Marilia.
SEXO E POLÍTICA
A ligação entre os dois vai além da familiar. "Temos reflexões tão parecidas que já são quase uma coautoria", diz ela. Ao todo, são quatro os irmãos Coutinho. O mais velho, Mauro, 63, é empresário. Entre o cartunista e a levantadora de peso tem Helena, 59, fotógrafa.
As buscas de Laerte e Marilia começaram na política. Os dois fizeram parte do Partido Comunista na década de 1970 e a militância deixou marcas profundas em ambos.
Marilia tinha 15 anos e praticava esgrima quando entrou no partido, em 1978. Chegou a ser campeã brasileira aos 14 anos, mas abandonou o esporte quando começou a levar a militância mais a sério. "No Partidão, achavam que aquilo era um desvio pequeno-burguês. Aí, abandonei o esporte", diz.
No ano seguinte, entrou para a Convergência Socialista, hoje PSTU. Suas primeiras experiências sexuais aconteceram com líderes partidários das duas organizações. "Sexo fazia parte da política", diz. "Eu estava despertando para a sexualidade e, de repente, tinha que transar para fazer parte do grupo", conta. "Depois, fui estuprada, no PSTU, na Convergência. Fui expropriada de mim mesma."
Laerte só soube que a irmã tinha passado por problemas no partido muitos anos depois. "Eu também passei por constrangimentos, mas com ela foi uma coisa violentíssima." O cartunista, hoje um bissexual assumido, diz ter bloqueado seu lado homossexual. Em uma campanha para eleições sindicais na década de 1980, chegou a desenhar um personagem da oposição como um gigante gay, usando a homofobia como arma política.
"Fazer parte daquele movimento foi fundamental para o meu processo criativo, mas sufoquei uma parte de mim para viver como o 'tio Stálin' achava certo", diz, referindo-se ao ditador soviético Joseph Stálin (1878-1953), que perseguiu os homossexuais na União Soviética durante seu governo, dos anos 1920 até a sua morte.
Laerte militou no Partidão entre 1973 e 1985. Largou quando percebeu "um movimento cultural, de quadrinhos, que era o que queria fazer".
Marilia saiu da militância em 1981 e, no mesmo ano, recebeu o diagnóstico de psicose maníaco-depressiva. Chegou a tomar 11 remédios ao mesmo tempo. Envolveu-se com drogas, "maconha, ácido, álcool, o que caía na minha mão", passou por "desastres conjugais" e um "parênteses de felicidade": o nascimento da filha Melina, em 1989. Em 2005, tentou o suicídio.

O cartunista Laerte em entrevista exclusiva, falando sobre a sua atitude de se vestir travestido de mulher

Quando se recuperou, tomou duas decisões: deixou as drogas --lícitas e ilícitas-- e começou a levantar peso. Apesar de estável, a atleta ainda sente a depressão à espreita. "Me disseram que eu viveria no máximo cinco anos sem remédios. Isso não sai fácil da cabeça."
Laerte também passou por um grande trauma em 2005, a perda de um de seus três filhos, Diogo, de 22 anos, em um acidente de carro durante o Carnaval. Desde então, batalha para se reencontrar profissionalmente: "Gostaria de estar surfando numa técnica que eu já tenho. E acontece o contrário".
Oito anos depois de seus piores momentos, Laerte e Marilia ainda enfrentam preconceitos. Mas, segundo ele, manter a exposição de suas vidas "pode ser importante para outras pessoas". Marilia completa: "É possível optar pela felicidade".