quarta-feira 31 2012

Mulheres que param de fumar antes dos 30 anos reduzem risco de morte prematura em até 97%


Tabaco

Estudo que envolveu mais de 1 milhão de mulheres no Reino Unido também revelou que há uma perda de 11 anos na expectativa de vida para fumantes na casa dos 70 e dos 80 anos

Tabagismo
Abandonar o cigarro até os 30 anos diminui o risco de mortalidade prematura em 97%, aponta estudo britânico(Thinkstock)
As mulheres que abandonam o cigarro antes dos 30 anos de idade tem o risco de morte prematura por doenças causadas pelo cigarro reduzido em 97%. Quanto mais tarde a mulher deixava de fumar, no entanto, menor é a taxa de reversão. Os resultados fazem parte de uma extensa pesquisa realizada por mais de uma década com 1,3 milhão de mulheres no Reino Unido, conhecida por Million Woman Study. Publicado no periódico médico The Lancet, o estudo coincide com o centenário de Richard Doll (1912-2005), um dos primeiros cientistas a identificar a ligação entre câncer de pulmão e o tabagismo.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: The 21st century hazards of smoking and benefits of stopping: a prospective study of one million women in the UK

Onde foi divulgada: The Lancet

Quem fez: Kirstin Pirie, Richard Peto, Gillian K Reeves, Jane Green, Valerie Beral

Instituição: Million Woman Study

Dados de amostragem: 1,3 milhão de mulheres que tinham de 50 a 65 anos na época do início do acompanhamento

Resultado: Os resultados da pesquisa mostraram que mulheres que abandonam o cigarro até os 30 anos reduzem o risco de morte prematura em 97%. O estudo mostrou que 2/3 das mortes de mulheres fumantes foram ocasionados por doenças relacionadas ao tabaco.
Entre 1996 e 2001, o Million Woman Study, projeto colaborativo do Cancer Research UK e do Serviço de Saúde Nacional (NHS, na sigla em inglês), reuniu 1,3 milhão de mulheres que tinham entre 50 e 65 anos na época do ingresso no estudo. Inicialmente, 20% das mulheres fumavam, 28% tinham abandonado o cigarro e 52% não eram fumantes. Cada uma foi acompanhada por um período de 12 anos.
Quando um primeiro recenseamento foi realizado, três anos após o início da pesquisa, constatou-se que as fumantes tinham quase três vezes mais chances de morrer nos nove anos seguintes comparadas às não fumantes. Isso significa que dois terços de todas as mortes de mulheres fumantes na casa dos 50 aos 70 anos são ocasionados por males relacionados ao tabagismo, como câncer de pulmão, enfermidades pulmonares crônicas, doenças do coração ou derrame cerebral. Ao longo do levantamento, 66.000 participantes morreram. Nestes casos, o NHS informava os pesquisadores a causa da morte.




Apesar de o risco de morte estar relacionado com a quantidade de cigarros consumidos por cada pessoa, o MiIlion Woman Study mostrou que mesmo as mulheres que fumavam menos de 10 cigarros por dia tiveram uma mortalidade duas vezes mais alta em comparação com as não fumantes.
Efeitos reversivos – Outro resultado do estudo mostrou que há uma perda de 11 anos na expectativa de vida entre as mulheres fumantes na casa dos 70 e dos 80 anos.
Richard Peto, professor da Universidade de Oxford e co-autor da pesquisa, afirmou que as mulheres que abandonam o cigarro ganham, em média, 10 anos a mais de vida. Segundo Peto, o Million Woman Study permitiu que pela primeira vez fossem observados diretamente a relação do tabagismo prolongado com a mortalidade prematura de mulheres. Isso porque "tanto no Reino Unido quanto nos EUA as mulheres que nasceram na década de 40 formaram a primeira geração na qual muitas fumaram um número substancial de cigarros ao longo da vida adulta", disse.

Leis anti-fumo reduzem em até 25% internações por doenças relacionadas ao cigarro


Tabagismo

Pesquisa olhou para os impactos de medidas aplicadas em diversos países que restringem o cigarro em ambientes como bares e restaurantes

Cigarro: Leis anti-fumo têm impacto positivo sobre a saúde da população em um período de um ano
Cigarro: Leis anti-fumo têm impacto positivo sobre a saúde da população em um período de um ano (Thinkstock)
Um levantamento americano que analisou as consequências das leis anti-fumo em diversos países concluiu que essas medidas têm, sim, um impacto direto e rápido sobre a saúde da população. Segundo a pesquisa, feita pela Universidade da Califórnia com o Instituto Nacional de Saúde (NHI, sigla em inglês) dos Estados Unidos, a aplicação desse tipo de legislação, como por exemplo, a proibição o fumo em restaurantes e bares, é capaz de reduzir rapidamente o número de internações decorrentes de doenças como as cardiovasculares ou as respiratórias. Essa diminuição ocorre, segundo os pesquisadores, tanto entre os fumantes quanto entre pessoas expostas ao fumo passivo.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Association Between Smoke-Free Legislation and Hospitalizations for Cardiac, Cerebrovascular, and Respiratory Diseases: A Meta-Analysis

Onde foi divulgada: periódico Circulation

Quem fez: Crystal Tan e Stanton Glantz

Instituição: Universidade da Califórnia, Estados Unidos

Dados de amostragem: 45 pesquisas sobre leis anti-fumo

Resultado: Em um período de um ano, as leis anti-fumo, que proíbem cigarro em bares, restaurantes ou no trabalho, reduzem em 15% as hospitalizações por ataque cardíaco; em 16% as por AVC; e em 24% por problemas respiratórios, como asma
Os autores do estudo revisaram, ao todo, 45 pesquisas que analisaram, durante um ano, as consequências de 33 leis anti-fumo aplicadas em diversos países, entre eles Estados Unidos, Alemanha e Uruguai. As conclusões foram publicadas nesta semana no periódico Circulation, da Associação Americana do Coração.
Segundo os resultados, as legislações que proíbem o fumo em bares, restaurantes ou no trabalho diminuem, no período de um ano, em 15% as hospitalizações por ataque cardíaco; em 16% as internações por acidente vascular cerebral (AVC); e em 24% as hospitalizações por problemas respiratórios, como asma ou doença pulmonar obstrutiva crônica. A pesquisa ainda mostrou que as leis mais abrangentes — ou seja, que proíbem o fumo em bares, em restaurantes e também no trabalho — são as que provocam os maiores benefícios.
Para Staton Glandz, coordenador do trabalho, esses resultados apoiam a posição da Associação Americana do Coração, que acredita que leis anti-fumo deveriam se estender a todos os ambientes de trabalho e lugares públicos. "Legislações mais fortes significam reduções imediatas nos problemas de saúde relacionados ao tabagismo, o que acontece em decorrência da diminuição do fumo passivo e do número de pessoas que deixam de fumar por causa dessas leis", diz Glantz.

Nelson Rodrigues, aos 100, ainda é a cara do Brasil real



Augusto Nunes

O dramaturgo Nelson Rodrigues inventou o teatro brasileiro em 1943, com a peça Vestido de Noiva. O romancista, com o pseudônimo Suzana Flag ou sem camuflagens, devassou e simultaneamente seduziu o universo habitado por aquela que muitos anos depois seria batizada de “nova classe média”. O cronista do Brasil real - enquanto colecionava achados metafóricos que o transformariam num frasista incomparável e concebia imagens magnificamente exatas - pariu criaturas que, conjugadas, mostram não o que os nativos da terra gostariam de ser, mas o que efetivamente são. O torcedor apaixonado do Fluminense descobriu que “a mais sórdida pelada é de uma complexidade shakespeariana” e foi o primeiro a coroar Pelé. Ele foi e fez tudo isso - e muito mais - em apenas 68 anos de vida. É compreensível que o dia da morte física de Nelson Rodrigues tenha sido também o primeiro dia do resto de sua eternidade.

A imortalidade de Nelson Falcão Rodrigues, nascido no Recife em 23 de agosto de 1912, é reafirmada pelo centenário do gênio. Diferentemente das efemérides do gênero, desta vez não foi preciso reapresentar o país a outra vítima da amnésia endêmica que chegou com as primeiras caravelas. Desde a década de 70, quando começou a transformar-se numa prova contundente de que nem toda unanimidade é burra, Nelson está livre da temporada no limbo a que são condenados os grandes mortos. De lá para cá, não se passou um só dia sem que estivessem em cartaz peças teatrais ou filmes baseados em sua obra, ou sem que fossem vendidos exemplares dos livros que continuaram a multiplicar-se em edições sucessivas. Também é certo que neste momento, em alguma esquina ou mesa de botequim, alguém está animando a roda de conversa com a evocação de uma frase ou criatura de Nelson Rodrigues. Ou apenas Nelson, porque basta o prenome para a identificação de um velho conhecido.

A admiração por Nelson hoje é compartilhada por todos os brasileiros com mais de dez neurônios - sejam quais forem a idade, a filiação política, a tendência ideológica, o signo, o peso e a estatura. E assim sempre será, porque os muitos grandes momentos de Nelson Rodrigues nunca ficarão grisalhos. A crítica de teatro Barbara Heliodora prevê que, como ocorre com a obra de William Shakespeare, pelo menos quatro peças de Nelson - Vestido de Noiva, Boca de Ouro, A Falecida e O Beijo no Asfalto - continuarão encantando plateias daqui a 500 anos. Os descendentes dos nossos tetranetos reconhecerão uma similar de Engraçadinha na garota ao lado, ou dormirão imaginando que espécie de veículo estará transportando Solange, a dama que, no Brasil do século XX, caçava aventuras no lotação.

“Ele será sempre um grande autor”, afirma Barbara Heliodora, que atribui a Nelson Rodrigues a subida aos palcos dos diálogos que reproduzem a língua falada pelas plateias. “Nelson era um repórter extraordinário, e foi muito influenciado pela experiência como jornalista”, diz. “Tinha um ouvido tão maravilhoso que conseguiu captar o brasileiro falando. Nós aprendíamos na escola que poderíamos falar errado, mas deveríamos escrever corretamente. Os autores escreviam certo, esquecidos de que aquilo era para ser falado.” Só depois de Vestido de Noiva os atores começaram a falar o português das ruas. A descoberta do diálogo em brasileiro fez de Nelson Rodrigues, segundo o crítico Sábato Magaldi, “um autor seminal, que fecundou a nossa 
Segundos depois, sentava à mesa e já começava a batucar mais uma de suas histórias da “cabra vadia”, personagem que testemunhava entrevistas imaginárias que ele conduzia
Nelson diverte crianças de colégio com uma encarnação Nas redações, Nelson parava, tomava café e fazia uma piada com os colegas. 


Nelson Rodrigues com Sebastião Araujo, técnico do seu time do coração, o Fluminense, no difícil ano de 1979, quando o time perderia o campeonato carioca para o Flamengo

Nelson diverte crianças de colégio com uma encarnação da “cabra vadia”, personagem que testemunhava entrevistas imaginárias que ele conduzia
Nas redações, Nelson parava, tomava café e fazia uma piada com os colegas. Segundos depois, sentava à mesa e já começava a batucar mais uma de suas histórias
Nelson Rodrigues com Sebastião Araujo, técnico do seu time do coração, o Fluminense, no difícil ano de 1979, quando o time perderia o campeonato carioca para o Flamengo
Se Barbara Heliodora consegue distinguir o jornalista do dramaturgo, os amigos do singularíssimo pernambucano criado no Rio de Janeiro sempre enxergaram um Nelson só, que parecia vários por ser, na definição do jornalista e escritor Otto Lara Resende, um feixe de paradoxos. “É um profundo individualista e vive da emoção coletiva”, disse Otto. “Foi um conservador e tem uma obra revolucionária. Orgulha-se de ser um reacionário e foi um dos autores mais censurados do Brasil.” O psicanalista e escritor Hélio Pellegrino achava que todas as versões do amigo viviam sob “o império da fantasia, em que realidade e invenção sempre se misturam”. Se a opção se impunha, a realidade sofria outra derrota: “Nelson é fiel à sua imaginação”.

Nelson Rodrigues era perigosamente imaginoso tanto com desafetos quanto com os mais íntimos amigos. Um deles só descobriu que fora transformado no nome alternativo da peça que entraria em cartaz naquela noite ao ler o enorme letreiro em neon: “Bonitinha mas Ordinária ouOtto Lara Resende”. A brincadeira que ultrapassara os limites do sarcasmo suspendeu por algumas semanas as conversas diárias entre o autor da homenagem e o integrante do grupo que reunia o que a usina de superlativos qualificava de “amigos além da vida e além da morte”. Anistias concedidas por Nelson Rodrigues eram amplas e irrestritas, mas tinham prazo de validade. Consertado o estrago, o parceiro ofendido não demorava a pousar em alguma história contada por quem sempre desprezou a fronteira que separa o real do imaginado.


“A crônica policial piorou porque os repórteres de hoje não mentem”, lastimava o homem que ainda menino enfeitava com detalhes fantasiosos histórias de casais que se matavam por amor. Nas crônicas ou nos romances de Nelson, o verdadeiro tirava o irreal para dançar o tempo todo. Com um sotaque lisboeta que nunca existiu, Otto Lara Resende era repatriado de Portugal para contracenar com a cabra vadia, única espectadora de entrevistas imaginárias conduzidas em um suposto terreno baldio - ou, ainda, para testemunhar mais um assombro provocado pelo Sobrenatural de Almeida, que alterava bruscamente uma situação ou o resultado de um jogo do Botafogo. Passados mais de trinta anos, está claro que histórias e personagens jamais ficarão datados. As criaturas que se tornaram inverossímeis num Brasil menos primitivo viraram documentos de época.

Tem lugar assegurado no Museu Nacional do Maniqueísmo, por exemplo, o padre de passeata, religioso que comparecia em trajes civis às manifestações de rua contra a ditadura militar. Estará ao lado de sua versão feminina, a freira de minissaia, e a poucos metros da estudante de psicologia da PUC, que queria saber o que o cronista achava da morte de Deus, e da estagiária de calcanhar sujo, que se formara em jornalismo para esbanjar autossuficiência e mau humor nas redações. Todos nascidos em 1968, são filhotes do direitista atormentado pelas atividades clandestinas do primogênito, engajado na luta armada. Em alguns episódios, Nelson foi longe demais na louvação de uma ditadura que torturava e matava inimigos. Mas o conjunto da obra é tão luminoso que revoga as manchas escuras.

Outras invenções do ficcionista delirante são atemporais e continuarão por aí durante séculos. O idiota da objetividade, por exemplo. A vizinha gorda e patusca. Palhares, tão definitivamente canalha que, na casa do irmão, beija à força o pescoço da cunhada que passa pelo corredor. Esses seguirão contracenando com personagens que iluminam a face do Brasil que tenta, inutilmente, esconder as taras, as vergonhas familiares, a guerra conjugal, o adultério, os preconceitos, a sexualidade reprimida, a mesquinhez patológica. “Se todo mundo conhecesse a vida íntima de todo mundo, ninguém cumprimentaria ninguém”, resumiu Nelson Rodrigues.

Os habitantes desse universo fantástico têm o olho rútilo e o lábio trêmulo, reagem à adversidade com arrancos de cachorro atropelado, seu pensamento é tão raso que uma formiguinha poderia atravessá-lo com água pelas canelas. Grã-finas com narinas de cadáver suportam maridos com três papadas e três bochechas em cada lado do rosto. A cabeça dos intelectuais tem a aridez de três desertos, os especialmente infelizes se sentam no meio-fio para chorar lágrimas de esguicho, caem tempestades de quinto ato do Rigoletto, há homens bonitos como havaiano de cinema, faz um calor de rachar catedrais e existe gente varada de luz como santo de vitral. Um mundo assim, espalhado por dezessete peças, nove romances, sete livros de contos e crônicas e milhares de artigos em jornais, merece mais que uma única vez sobre a face da Terra. O mundo maravilhoso que Nelson Rodrigues criou merece existir para sempre.

Obsessivo confesso e sem cura, obcecado especialmente pela morte, Nelson jurava que, durante a infância, fugia da escola para assistir a velórios. Aos 13 anos, estreou como repórter de polícia no jornal do pai, cobrindo um caso de suicídio passional. Adolescente, ouviu o som do tiro de revólver disparado por uma mulher que, inconformada com o noticiário que lhe devassara a vida íntima, resolveu vingar-se com o assassinato do dono do jornal, Mário Rodrigues, ou de algum de seus filhos. À morte do irmão, o ilustrador Roberto Rodrigues, seguiu-se a do pai. Depois vieram os anos de pobreza, a tuberculose que lhe impôs duas internações em Campos do Jordão, as chuvas do trágico verão carioca de 1966 que mataram o irmão Paulo e toda a família, o fim angustiante do primeiro casamento, as turbulências do segundo, o nascimento da filha cega, as torturas infligidas ao seu filho Nelsinho no cárcere. Em 21 de dezembro de 1980, o homem que passou a vida inteira pensando na morte se foi. Nunca se saberá se já tinha descoberto que era imortal.

Matéria publicada originalmente em VEJA, edição 2283, de 22 de agosto de 2012 

Carlos Drummond de Andrade nasce em 31 de outubro de 1902, em Itabira, centro de Minas Gerais

Meire Kusumoto
veja.com


Poeta Carlos Drummond de Andrade em 1962
Carlos Drummond de Andrade nasce em 31 de outubro de 1902, em Itabira, centro de Minas Gerais, o nono dos catorze filhos dos primos Carlos de Paula Andrade e Julieta Augusta Drummond. Da união do racional e moderno coronel Carlos – foi o primeiro itabirano a usar cimento para asfaltar a calçada e também o primeiro a instalar uma banheira em casa – com a jovem que preenchia todos os quesitos da educação clássica dada às moças da época – francês, música, costura, catolicismo – nasce o poeta, que, de certo modo, virá a ser uma comunhão das características dos pais. 

Aos dez anos, Drummond tem uma de suas primeiras experiências literárias, ao ler uma versão infantil das Aventuras de Robinson Crusoé. Pouco depois, ganha dos pais aBiblioteca Internacional de Obras Célebres, um compilado de literatura e filosofia em 24 volumes, que o pequeno Carlito não divide com ninguém, apesar dos protestos de um dos seus irmãos, José.

Aos treze anos, entra para o Grêmio Dramático e Literário Artur de Azevedo, por influência de seu pai, então um dos líderes políticos de Itabira. Pelo estatuto da academia, somente rapazes com dezoito anos podem se associar, mas o documento é modificado especialmente para Carlito. No ano seguinte, 1916, Drummond se torna um dos 74 internos do Colégio Arnaldo, em Belo Horizonte. Lá, conhece Gustavo Capanema, que se tornará ministro da Educação em 1934 e empregará Carlito em seu ministério. A fase do Colégio Arnaldo, porém, dura pouco. Doente, o menino volta para casa apenas quatro meses depois e por quase um ano e meio permanece em Itabira se recuperando. Nesse período, aproveita para retomar a leitura, dedicando-se à obra de Gustave Flaubert.

Em 1918, começa a estudar no Colégio Anchieta, em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro. Nesse ano, escreve sua primeira novela, sobre uma formiga filósofa, que é lida apenas por um amigo da escola.  Embora tenha notas excelentes, Drummond começa a se enfastiar da vida no colégio e, no ano seguinte, ao discordar de um professor durante a aula, é expulso por mau comportamento e “insubordinação mental”, como diz a carta enviada pela instituição ao pai do menino. Ele não voltará à escola nem terminará os estudos.

A família do poeta se muda para Belo Horizonte em 1920. Nesse ano, Drummond publica a sua primeira crítica, no Jornal de Minas. Depois de escrever algumas matérias e crônicas para o jornal por um valor insignificante, ele procura trabalho no Diário de Minas, para onde escreverá pelos próximos dez anos.

Em Belo Horizonte, a partir de amigos em comum, que se reúnem para beber e discutir em bares, restaurantes, livrarias e cinemas, o escritor se aproxima daquele que seria um dos maiores memorialistas da literatura nacional, o então estudante de medicina Pedro Nava. Drummond e Nava acabam por fazer parte de um mesmo grupo intelectual, um entre vários que surgem às vésperas da eclosão do modernismo no país, capitaneado pela Semana de Arte Moderna de 1922. Em 1924, o grupo de Drummond encontra os modernistas paulistas – Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Blaise Cendrars – e tem início a correspondência entre o poeta mineiro e o autor de Macunaíma.

Ele envia poemas e crônicas a Mário, que, fato curioso, considera a prosa de Drummond superior à sua poesia. Isso até ler No Meio do Caminho, que o mineiro lhe enviou antes de publicar na Revista de Antropofagia, dirigida por Oswald. O poema saiu na revista em 1928 e dois anos depois foi incluído no primeiro livro de Drummond, Alguma Poesia. O texto rompe com regras da velha escola literária, que proibia a repetição de palavras e o uso de termos considerados menores por falta de erudição, caso do verbo "tinha" em vez de "havia".

"No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra."
Mesmo sem ter terminado o colégio, o escritor ingressa em um curso de farmácia, que frequenta assiduamente. Quando falta por mais de uma semana, em 1925, é por um bom motivo: seu casamento com Dolores Dutra de Morais, uma moça que conheceu no cinema de Belo Horizonte.

No começo, eles são praticamente sustentados por Carlos de Paula Andrade, que dá uma casa ao filho, além de uma mesada. A ajuda do pai, no entanto, não é motivo de vergonha nem de acomodação para o poeta. Ao contrário. Drummond faz da generosidade paterna um impulso para a sua carreira literária, lançando A Revista, periódico mineiro semelhante à revista Klaxon, dos modernistas paulistas. Em suas três edições, a publicação tem participações importantes, como a de Mário de Andrade com um capítulo de Amar, Verbo Intransitivo e a de Manuel Bandeira, com um dos mais poderosos poemas do modernismo brasileiro, Poética.

Em 1926, Drummond é promovido a redator-chefe do Diário de Minas e, por sua influência, a redação do jornal se transforma em ponto de encontro dos modernistas do estado. No ano seguinte, Dolores dá à luz o primeiro filho do casal, Carlos Flávio, mas o menino morre meia-hora após o parto, asfixiado pelo cordão umbilical. Recuperada, Dolores tem uma segunda gravidez tranquila. Maria Julieta nasce em março de 1928.

É apenas quatro meses depois do nascimento da filha que Drummond publica o poema No Meio do Caminho na primeira página da Revista da Antropofagia. Com a ajuda do amigo Rodrigo Mello Franco de Andrade, ele consegue um emprego na secretaria de Educação de Minas Gerais, onde dirige a Revista do Ensino, da Imprensa Oficial. Em 1929, o poeta se torna oficial de gabinete do órgão e deixa o seu trabalho no Diário de Minas, passando a escrever para o jornal Minas Gerais, onde assina crônicas com os pseudônimos Antonio Crispim e Barba-Azul.

Um ano depois, o escritor publica seu primeiro livro, Alguma Poesia, que trata de temas como o sentimento de desajuste do indivíduo no mundo. “Meus olhos espiam / espiam espiam / soldados que marcham / moças bonitas / soldados barbudos / …para namorar, / para brigar. / Só eu não brigo. / Só eu não namoro”, diz no poema Moça e Soldado. O livro é muito bem recebido, com críticas de diversos jornais brasileiros, segundo relata José Maria Cançado em Os Sapatos de Orfeu: A Biografia de Drummond.

Então secretário de Interior e Justiça de Minas, Gustavo Capanema, velho amigo de Drummond, convida o escritor a integrar seu gabinete, em 1931. O poeta aceita, sem nunca deixar de escrever. Seu segundo livro, Brejo das Almas, sai três anos depois, quase junto com um novo convite de Capanema, que é agora ministro da Educação e Saúde e oferece a Drummond a chefia de gabinete no seu ministério.

O poeta se muda com a família para o Rio de Janeiro, cidade onde escreverá seus próximos poemas e que verá nascer os livros Sentimento do Mundo (1940) – publicado em edição clandestina, para não passar pela polícia política do governo de Getúlio Vargas – e A Rosa do Povo (1945). É uma nova fase na vida do poeta, marcada por sua inclinação ao comunismo e por sua inconformidade diante das atrocidades causadas pela Segunda Guerra Mundial.

Em março de 1945, Drummond pede demissão do Ministério da Educação para “militar” contra Vargas. Mas já no mês seguinte começa a se questionar sobre a relação entre a liberdade individual e a orientação dos partidos políticos. No mesmo ano, enquanto escreve para a Tribuna Popular – colaboração que duraria apenas cinco meses, de abril a outubro – e atua no conselho do jornal, de orientação esquerdista, percebe que muitas matérias são editadas sob orientação dos princípios do Partido Comunista (PC). Além disso, fica claro para ele que decisões do jornal, tomadas durante as reuniões de pauta, são arbitrárias e influenciadas por membros do PC.

A partir disso, as relações entre o poeta e o PC começam a se desgastar. Quando A Rosa do Povo é lançado, com poemas como A Flor e a Náusea ("Uma flor nasceu na rua!/ Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego./ Uma flor ainda desbotada/ ilude a polícia, rompe o asfalto"), o livro é aclamado pela crítica. No Correio da Manhã, Álvaro Lins chama o autor de “figura mais revolucionária da nossa literatura moderna” e a obra, de “única realmente revolucionária”. Já os líderes do Partido Comunista lhe dedicam indiferença.

O escritor retorna então ao funcionalismo público, como chefe da Seção de História da Divisão de Estudos e Tombamentos do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), comandado pelo amigo Rodrigo Mello Franco de Andrade. Lá, ele vai trabalhar até se aposentar, em 1962.

Sua única filha, Maria Julieta, se casa em 1949 e se muda para Buenos Aires, onde dá à luz os três netos do poeta, a partir de 1950. 

Carlos Drummond de Andrade - De Itabira para o mundo





Poeta Carlos Drummond de Andrade em 1964
A maturidade não chega apenas à vida pessoal, mas também à sua produção literária.  Drummond passa a abordar temas metafísicos em seus livros, caso de Claro Enigma (1952) e Fazendeiro do Ar (1954), em que se destacam, entre outros, os poemas A Máquina do Mundo ("A máquina do mundo se entreabriu/ para quem de a romper já se esquivava/ e só de o ter pensado se carpia./ Abriu-se majestosa e circunspecta,/ sem emitir um som que fosse impuro/ nem um clarão maior que o tolerável") e Dissolução ("Escurece, e não me seduz/ tatear sequer uma lâmpada./ Pois que aprouve ao dia findar,/ aceito a noite").

Em Lição de Coisas, de 1962, ele retoma o foco sobre os acontecimentos correntes ("Os garotos da Rua Noel Rosa/ onde um talo de samba viça no calçamento,/ viram o pombo-correio cansado/ confuso/ aproximar-se em voo baixo", diz em Pombo-Correio), e também experimenta com a forma da lírica (Amar-amaro: "Porque amou por que amou/ se sabia/ p r o i b i d o p a s s e a r s e n t i m e n t o s/ ternos ou desesperados/ nesse museu do pardo indiferente"). Depois disso, a poesia de Drummond entra em um movimento mais íntimo, da memória, do qual fazem parte Boitempo (1968), Menino Antigo (ou Boitempo II, 1973) e Esquecer para Lembrar (ou Boitempo III, 1979).

E o poeta tem mesmo o que lembrar. Em seus 84 anos de vida, ele convive com boa parte dos maiores artistas do século XX, tornando-se um deles. Ama não só Dolores, sua esposa por 62 anos, mas também os affaires que tem ao longo da vida, como Lygia Fernandes, a bibliotecária do SPHAN, com quem mantém relações de 1951 até sua morte. Por uma das “conquistas”, chega até a brigar com Sérgio Buarque de Holanda: a namorada do sociólogo diz que o poeta a tinha assediado e, quando o historiador vai tirar satisfações, os dois rolam pelo chão. Drummond também é dedicado à família e, principalmente, à filha, por quem tem amor e carinho tão grandes que, após a morte de Maria Julieta, causada por um câncer no tecido ósseo, em 1984, não resiste. Drummond a segue doze dias depois, em 17 de agosto, vítima de insuficiência respiratória provocada por um infarto.


Mesmo sem ter terminado o colégio, o escritor ingressa em um curso de farmácia, que frequenta assiduamente. Quando falta por mais de uma semana, em 1925, é por um bom motivo: seu casamento com Dolores Dutra de Morais, uma moça que conheceu no cinema de Belo Horizonte.

No começo, eles são praticamente sustentados por Carlos de Paula Andrade, que dá uma casa ao filho, além de uma mesada. A ajuda do pai, no entanto, não é motivo de vergonha nem de acomodação para o poeta. Ao contrário. Drummond faz da generosidade paterna um impulso para a sua carreira literária, lançando A Revista, periódico mineiro semelhante à revista Klaxon, dos modernistas paulistas. Em suas três edições, a publicação tem participações importantes, como a de Mário de Andrade com um capítulo de Amar, Verbo Intransitivo e a de Manuel Bandeira, com um dos mais poderosos poemas do modernismo brasileiro, Poética.

Em 1926, Drummond é promovido a redator-chefe do Diário de Minas e, por sua influência, a redação do jornal se transforma em ponto de encontro dos modernistas do estado. No ano seguinte, Dolores dá à luz o primeiro filho do casal, Carlos Flávio, mas o menino morre meia-hora após o parto, asfixiado pelo cordão umbilical. Recuperada, Dolores tem uma segunda gravidez tranquila. Maria Julieta nasce em março de 1928.

É apenas quatro meses depois do nascimento da filha que Drummond publica o poema No Meio do Caminho na primeira página da Revista da Antropofagia. Com a ajuda do amigo Rodrigo Mello Franco de Andrade, ele consegue um emprego na secretaria de Educação de Minas Gerais, onde dirige a Revista do Ensino, da Imprensa Oficial. Em 1929, o poeta se torna oficial de gabinete do órgão e deixa o seu trabalho no Diário de Minas, passando a escrever para o jornal Minas Gerais, onde assina crônicas com os pseudônimos Antonio Crispim e Barba-Azul.

Um ano depois, o escritor publica seu primeiro livro, Alguma Poesia, que trata de temas como o sentimento de desajuste do indivíduo no mundo. “Meus olhos espiam / espiam espiam / soldados que marcham / moças bonitas / soldados barbudos / …para namorar, / para brigar. / Só eu não brigo. / Só eu não namoro”, diz no poema Moça e Soldado. O livro é muito bem recebido, com críticas de diversos jornais brasileiros, segundo relata José Maria Cançado em Os Sapatos de Orfeu: A Biografia de Drummond.

Então secretário de Interior e Justiça de Minas, Gustavo Capanema, velho amigo de Drummond, convida o escritor a integrar seu gabinete, em 1931. O poeta aceita, sem nunca deixar de escrever. Seu segundo livro, Brejo das Almas, sai três anos depois, quase junto com um novo convite de Capanema, que é agora ministro da Educação e Saúde e oferece a Drummond a chefia de gabinete no seu ministério.

O poeta se muda com a família para o Rio de Janeiro, cidade onde escreverá seus próximos poemas e que verá nascer os livros Sentimento do Mundo (1940) – publicado em edição clandestina, para não passar pela polícia política do governo de Getúlio Vargas – e A Rosa do Povo (1945). É uma nova fase na vida do poeta, marcada por sua inclinação ao comunismo e por sua inconformidade diante das atrocidades causadas pela Segunda Guerra Mundial.

Em março de 1945, Drummond pede demissão do Ministério da Educação para “militar” contra Vargas. Mas já no mês seguinte começa a se questionar sobre a relação entre a liberdade individual e a orientação dos partidos políticos. No mesmo ano, enquanto escreve para a Tribuna Popular – colaboração que duraria apenas cinco meses, de abril a outubro – e atua no conselho do jornal, de orientação esquerdista, percebe que muitas matérias são editadas sob orientação dos princípios do Partido Comunista (PC). Além disso, fica claro para ele que decisões do jornal, tomadas durante as reuniões de pauta, são arbitrárias e influenciadas por membros do PC.

A partir disso, as relações entre o poeta e o PC começam a se desgastar. Quando A Rosa do Povo é lançado, com poemas como A Flor e a Náusea ("Uma flor nasceu na rua!/ Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego./ Uma flor ainda desbotada/ ilude a polícia, rompe o asfalto"), o livro é aclamado pela crítica. No Correio da Manhã, Álvaro Lins chama o autor de “figura mais revolucionária da nossa literatura moderna” e a obra, de “única realmente revolucionária”. Já os líderes do Partido Comunista lhe dedicam indiferença.

O escritor retorna então ao funcionalismo público, como chefe da Seção de História da Divisão de Estudos e Tombamentos do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), comandado pelo amigo Rodrigo Mello Franco de Andrade. Lá, ele vai trabalhar até se aposentar, em 1962.

Sua única filha, Maria Julieta, se casa em 1949 e se muda para Buenos Aires, onde dá à luz os três netos do poeta, a partir de 1950.

A maturidade não chega apenas à vida pessoal, mas também à sua produção literária.  Drummond passa a abordar temas metafísicos em seus livros, caso de Claro Enigma (1952) e Fazendeiro do Ar (1954), em que se destacam, entre outros, os poemas A Máquina do Mundo ("A máquina do mundo se entreabriu/ para quem de a romper já se esquivava/ e só de o ter pensado se carpia./ Abriu-se majestosa e circunspecta,/ sem emitir um som que fosse impuro/ nem um clarão maior que o tolerável") e Dissolução ("Escurece, e não me seduz/ tatear sequer uma lâmpada./ Pois que aprouve ao dia findar,/ aceito a noite").

Em Lição de Coisas, de 1962, ele retoma o foco sobre os acontecimentos correntes ("Os garotos da Rua Noel Rosa/ onde um talo de samba viça no calçamento,/ viram o pombo-correio cansado/ confuso/ aproximar-se em voo baixo", diz em Pombo-Correio), e também experimenta com a forma da lírica (Amar-amaro: "Porque amou por que amou/ se sabia/ p r o i b i d o p a s s e a r s e n t i m e n t o s/ ternos ou desesperados/ nesse museu do pardo indiferente"). Depois disso, a poesia de Drummond entra em um movimento mais íntimo, da memória, do qual fazem parte Boitempo (1968), Menino Antigo (ou Boitempo II, 1973) e Esquecer para Lembrar (ou Boitempo III, 1979).

E o poeta tem mesmo o que lembrar. Em seus 84 anos de vida, ele convive com boa parte dos maiores artistas do século XX, tornando-se um deles. Ama não só Dolores, sua esposa por 62 anos, mas também as amantes que tem ao longo da vida, dentre elas Lygia Fernandes, a bibliotecária do SPHAN, com quem mantém relações de 1951 até sua morte. Por uma das “conquistas”, chega até a brigar com Sérgio Buarque de Holanda: a namorada do sociólogo diz que o poeta a tinha assediado e, quando o rapaz vai tirar satisfações, os dois rolam pelo chão. Por outro lado, dedica-se à família e, principalmente, à sua filha e por ela tem amor e carinho tão grandes que, após a morte de Maria Julieta, causada por um câncer no tecido ósseo, em 1984, não resiste. Drummond segue doze dias depois, em 17 de agosto, vítima de insuficiência respiratória provocada por um infarto.

Sudeste e Nordeste concentram investimento das estatais


Contas Abertas

As duas regiões acumulam R$ 50,9 bi dos R$ 107 bi previstos param este ano. Dados vão na contramão do discurso do governo federal sobre as estatais

Em 2009, o governo recebeu das estatais 26,683 bilhões de reais em dividendos
Em 2009, o governo recebeu das estatais 26,683 bilhões de reais em dividendos (Patrícia Santos)
Os investimentos das empresas estatais brasileiras estão concentrados no Sudeste e no Nordeste do país, revela levantamento da ONG Contas Abertas. Dos 107 bilhões de reais previstos para serem investidos em 2012, 50,9 bilhões de reais são destinados às duas regiões. Os dados do Ministério do Planejamento vão, portanto, na contramão do discurso do governo federal, que promete colocar as estatais como locomotivas para puxar o desenvolvimento de todo o país.
As regiões Nordeste e Sudeste concentram quase metade (47,6%) de todos os investimentos previstos. Se forem consideradas apenas as dotações regionalizadas (59,1 bilhões de reais) – excluídos os projetos exteriores e nacionais, que beneficiam todo o país –, a concentração fica ainda mais evidente: 86,3%.
“Há um esforço por parte do governo em manter os investimentos, para continuar estimulando a economia. Hoje temos uma definição clara do papel das estatais como indutora do crescimento do Brasil”, comentou Murilo Barella, diretor do Departamento de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Dest) do Planejamento. Da verba prevista para investimentos das estatais, o Sudeste foi a região que mais recebeu: cerca de 31,4 bilhões de reais (29,3% do total). Já o Nordeste, segundo colocado em dotação, ficou com 19,6 bilhões de reais (18,3% do previsto).
No Sudeste, a maior ação é a de desenvolvimento da produção de petróleo e gás natural nas bacias de Campos e do Espírito Santo, com 5,5 bilhões de reais. Já o custo previsto da manutenção dessa infraestrutura é de nada menos de 3,7 bilhões de reais. Outros 1,2 bilhão de reais estão destinados para a produção na Bacia de Santos.
Por sua vez, o maior projeto das estatais no Nordeste é a implantação da Refinaria Abreu e Lima, em Recife (PE). A obra conta com verba prevista de 8,5 bilhões de reais. Nos investimentos regionais, o Norte aparece na terceira colocação, com investimentos na casa de 3,7 bilhões de reais (3,5% do total previsto). Logo atrás, a região Sul, que recebeu 3,5 bilhões de reais (3,3% do total).
O último colocado, o Centro-Oeste, foi o único a receber valores inferiores ao bilhão: cerca de 832,5 milhões de reais (0,8% do total). Juntas, essas três regiões receberam apenas 7,6% de todo o valor previsto para investimentos de estatais em 2012 – 8,1 bilhões de reais.
Dentre os projetos de cunho nacional, destacam-se dois da Petrobras: exploração de petróleo e gás natural em bacias sedimentares marítimas, com 9,9 bilhões de reais, e desenvolvimento da produção de petróleo e gás natural no pré-sal, com 4,1 bilhões de reais. No exterior, a maior ação também é da Petrobras: Adequação da Infraestrutura de Exploração e Produção de Petróleo e Gás Natural, com verba de cerca de 3,7 bilhões de reais.
Ao analisar a distribuição da dotação pelo número de habitantes, a concentração das verbas fica ainda mais evidente. As regiões Sudeste e Nordeste foram as únicas que receberam mais de 300 reais para cada habitante. Segundo a estimativa populacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Sudeste recebeu 384,60 reais em investimentos estatais para cada habitante. Já a região Nordeste, 363, 66 reais.
Entre os estados da federação, o que mais recebeu investimentos estatais foi o Rio de Janeiro, com 12,8 bilhões de reais, seguido por Pernambuco – 9,8 bilhões de reais. Qualquer um desses dois estados recebeu dotação superior às previstas para as regiões Sul, Norte e Centro-Oeste, somadas.

TCU detecta sobrepreço em obra do Comperj


Governo

Segundo Fiscobrás, de um total de 200 empreendimentos fiscalizados, que cobrem os maiores projetos de infraestrutura do país, 124 tinham falhas

Refinaria Abreu e Lima
Refinaria Abreu e Lima foi pivô de crise entre o TCU e o ex-presidente Lula em 2010 (Bobby Fabisak/Exame)
O Tribunal de Contas da União (TCU) encontrou irregularidades graves em seis de cada dez obras tocadas pelo governo federal em 2012. De acordo com relatório divulgado na terça-feira, de um total de 200 empreendimentos fiscalizados, que cobrem os maiores projetos de infraestrutura do país, 124 tinham falhas. O risco de prejuízo aos cofres públicos apurado nas auditorias alcança 2,5 bilhões de reais. As constatações são Fiscobrás, programa de fiscalização de obras realizado anualmente que é referência para o bloqueio de repasses na Lei Orçamentária do exercício seguinte, votado pelo Congresso. 
Apesar da imensa fatia de projetos problemáticos, o TCU pediu a paralisação de apenas 22 obras, 17% do total. Nos demais casos, entendeu ser possível corrigir os erros no curso dos serviços. Na lista a ser enviada ao Legislativo, sete obras são novas. O tribunal aponta superfaturamento, falhas de projeto e suspeitas de direcionamento de licitação. O prejuízo maior (162 milhões de reais) foi constatado nas tubovias (ligações entre tubulações) do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), da Petrobrás. O TCU concluiu que os preços acertados no contrato, de 731 milhões de reais, ainda com 1% de execução, são mais altos que os do mercado.
Cortes efetivos - As outras 15 obras já apareciam em anos anteriores, mas as irregularidades não foram sanadas, segundo o tribunal. Ao votar a Lei Orçamentária, os parlamentares tradicionalmente ignoram as recomendações do TCU, por orientação do governo, ou liberam recursos aos empreendimentos, mediante acordos feitos com os gestores.
Em 2011, das 26 obras com pedido de paralisação, somente cinco tiveram corte no orçamento. Pivô de crise entre o TCU e o ex-presidente Lula em 2010, a Refinaria Abreu e Lima (PE), por exemplo, ficou livre de restrições e, agora, persiste na relação do TCU, por suposto sobrepreço em seis contratos. É o orçamento mais caro, de 25 bilhões de reais. Procurada, a Petrobras não se pronunciou até o fechamento desta edição.
O TCU também quer parar projetos do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), alvo da faxina de Dilma Rousseff em 2011, entre eles a construção de quatro portos fluviais no Amazonas, a 58,8 milhões de reais. O TCU diz que os valores previstos em três editais e em contrato já assinado foram inflados em 15 milhões de reais.
Alvo de um esquema de corrupção investigado pela Polícia Federal, a Valec tem as duas principais obras - as ferrovias Norte-Sul e Oeste-Leste - novamente na lista. Em São Paulo, o TCU pede o bloqueio de verba para a drenagem das bacias dos córregos Canela e Borá, em São José do Rio Preto (SP), por supostas deficiências em projetos, e para o Complexo Viário Baquirivu, em Guarulhos (SP), por alterações indevidas e superfaturamento. 

Paris continua uma festa – Kassab convida Haddad para viagem à Cidade-Luz. Com Dilma.


veja.com


Por Evandro Spinelli, na Folha:
Gilberto Kassab (PSD) e Fernando Haddad (PT) devem passar alguns dias juntos em Paris em novembro. Kassab convidou seu sucessor para, juntos, defenderem a candidatura de São Paulo à World Expo 2020, exposição mundial de projetos urbanos na sede do Bureau Internacional das Exposições (BIE), na capital francesa. A presidente Dilma Rousseff (PT) também deve participar do evento, marcado para 20 de novembro. Dilma e Kassab acertaram a participação da presidente em um encontro no Palácio do Planalto, em julho.
Haddad informou ontem que tem a intenção de viajar. Nos próximos dias, as equipes do atual e do futuro prefeito vão acertar os detalhes. Confirmando a presença de Dilma, crescem as chances de Haddad participar da viagem e da cerimônia. As despesas do prefeito eleito, inclusive, podem ser pagas pela prefeitura. Os detalhes serão definidos até a semana que vem pela Secretaria de Relações Internacionais do município.
(…)
Por Reinaldo Azevedohttp://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/

'Dirceu e Genoino pagam por Lula'


Estadão
Clara Becker afirma que ex-ministro, com quem viveu por quatro anos no Paraná, 'não é ladrão'
31 de outubro de 2012 | 2h 08
Notícia
DÉBORA BERGAMASCO - O Estado de S.Paulo
A família do ex-ministro José Dirceu (Casal Civil) já se prepara para o pior: sua condenação em regime fechado por envolvimento com o mensalão. Enquanto o Supremo Tribunal Federal não decide a pena, parentes já planejam como serão as visitas na cadeia. A refeição da penitenciária é uma das preocupações, pois ele é reconhecido como um sujeito bom de garfo. "Meu medo é que ele se mate na prisão", chora Clara Becker, 71 anos, sua primeira mulher e mãe de seu filho mais velho, o deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR).

Casados por apenas quatro anos na época da ditadura militar, ela é amiga próxima do ex-marido há mais de três décadas e tem certeza de que "Dirceu não é ladrão". "Se ele fez algum pecado, foi pagar para vagabundo que não aceita mudar o País sem ganhar um dinheiro (...) Se ele pagou, foi pelos projetos do Lula, que mudou o Brasil em 12 anos", afirma, referindo-se ao pagamento a parlamentares da base aliada que receberam dinheiro para votar a favor de propostas do governo do ex-presidente Lula, segundo a denúncia do Ministério Público.

Para ela, militantes do PT como Dirceu e José Genoino, ex-presidente do partido, estão sendo sacrificados. "Eles estão pagando pelo Lula. Ou você acha que o Lula não sabia das coisas, se é que houve alguma coisa errada? Eles assumiram os compromissos e estão se sacrificando", indigna-se.

"Sabe, é muito sofrimento. Uma vez peguei meu filho chorando de preocupação com o pai. E minha neta, Camila, também sente muito."

Desde que começou o julgamento da ação penal 470, Dirceu diminuiu sua exposição pública. Para se poupar de constrangimentos, ele evita circular com desenvoltura, ser visto em Brasília ou jantar fora - seu passeio predileto. Agora, o ex-todo-poderoso do governo Lula lista quem são seus amigos fiéis e os recebe em sua casa de São Paulo ou na de Vinhedo (SP). No fim de semana do dia 7 de outubro, eleição municipal, ouviu ao telefone uma ordem expressa: "Benhê, limpa a área que eu tô chegando". Era Clara avisando que lhe faria uma visita na casa do interior paulista e deixando claro que não queria dividir a atenção do ex-marido com mais ninguém - nem com a atual namorada dele, Evanise Santos. Clara saiu de Cruzeiro do Oeste, no interior do Paraná, levando em um isopor uma peça de carneiro temperada no vinho branco e alecrim. Instruiu a empregada a deixar a carne três horas no forno, enquanto aguardava o anfitrião chegar em casa.

Quando ele apontou no portão, ela ouviu também uma voz feminina. Chispou escada acima e se trancou no quarto, alegando enxaqueca. Só desceu quando seu filho bateu na porta e avisou que a "dor de cabeça" já havia ido embora. Depois do fim de semana de comilança e champanhe, Dirceu despediu-se dela, dizendo: "Preciso ir embora mais cedo para São Paulo, tenho que eleger o (Fernando) Haddad".

Parente. "Hoje gosto dele como se fosse meu parente, mas já sofri muito. Sabe aquele homem que é tudo o que pediu a Deus? Pois Deus me deu e me tirou", sorri. Clara, que conta nunca mais ter namorado depois de viver com o ex-ministro, foi casada, na verdade, com Carlos Henrique Gouveia de Mello, um jovem órfão paulistano de origem argentina, pessoa que nunca existiu, a não ser no disfarce adotado pelo então subversivo banido do Brasil e procurado pelo regime militar.

Clara sabia que o marido guardava um segredo. Imaginou que ele tivesse uma família em outra cidade, mas que teria fugido "da bruxa da mulher dele e se ele quer ficar comigo e não com ela, deixe ele aqui, né?", lembra. Só quando a anistia política foi decretada, em 1979, foi que José Dirceu contou à mulher quem realmente era, apontando uma foto dele e de outros exilados em recorte de jornal. "Pensei assim: 'Ai, era isso? Grande coisa', porque nem estava por dentro do que aquilo significava."

Sua preocupação foi ter registrado o filho com o nome de um pai fantasma. Mas compreendeu a importância da mentira. Também diz não ter-se magoado quando, assim que voltou a ser Dirceu, mudou-se para São Palo. "Ele até quis que eu fosse junto, mas não dava, eu estava com filho pequeno, ajudava minha família e ele nem salário tinha, só queria saber de fundar essa miséria desse PT", conta ela, que é petista roxa, com direito a uma piscina nos fundos de casa decorada com a estrela e a legenda do partido em minipastilhas.

Arrependida. Para ela, o único golpe foi ir a São Paulo e encontrar cabelos pretos de mulher no banheiro. Descobriu que era traída. "O Dirceu me disse: 'Se eu tenho outra é um problema, agora se a gente vai se separar é outra questão'. E eu: 'Não, senhor, acabou aqui, cara'. Peguei minhas coisas, o moleque pela mão e fui embora. Hoje, me arrependo, se eu não tivesse deixado o campo limpo, estaria com ele...", imagina.

Ela diz já ter preferido ser viúva a ver Dirceu "cada dia mais bonito" indo em sua casa visitar o filho todo mês. Depois se convenceu de que seria melhor para Zeca ter o pai por perto e sempre cedia sua cama para o ex-marido dormir com mais conforto, mesmo que ele não tenha contribuído com um centavo de pensão. Clara acha que nunca foi amada por ele. "Dirceu nunca amou nenhuma mulher nessa vida, viu? O que ele amou foi a política e pode ir preso por isso", diz. "Agora que o cartão de crédito acabou, quero ver quem vai lá visitá-lo", provoca.

Em um de seus últimos encontros com o ex-marido, Clara o fez chorar: "Eu disse a ele: 'A nossa ampulheta está acabando, você não se tocou, hein, garoto? Mas se um dia você precisar de mim, eu venho cuidar de você'. Ele ficou todo apaixonado e prometeu que ia me comprar um cordão de ouro igual ao que o ladrão me roubou. Mas não comprou, né, só falou..."
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,dirceu-e-genoino-pagam-por-lula,953704,0.htm

Sei não… Acho que a ex-mulher de Dirceu foi escalada para enviar um recado ao Apedeuta: “Ele está pagando pelo Lula. Ou você acha que o Lula não sabia das coisas…?”


veja.com

É…
Interessante um texto publicado hoje no Estadão, de Débora Bergamasco.  Ela entrevista Clara Becker, 71, a primeira mulher de José Dirceu, com quem ele ficou casado quatro anos.  Só que usava nome falso: Carlos Henrique Gouveia de Mello. Veio a anistia, ele olhou pra ela, disse o famoso “eu não sou eu” e se mandou. Mas ela o perdoou, a a gente nota!  É a mãe do deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR).
Clara e Dirceu, tudo indica, estão em permanente contato. Mãe do deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR), que já demonstrou ter herdado um pouco da, vá lá, esperteza do pai, é certo que ela não concederia uma entrevista sem a autorização do ex-marido. Dada a delicadeza da coisa, em casos assim, o entrevistado — ou quem negocia em seu nome… — costuma ter algum controle sobre o que sai publicado. Em suma, estou inferindo que Dirceu sabia, sim, o que Clara iria dizer. E o que ela disse? Que tal isto?
“Se ele [Dirceu] fez algum pecado, foi pagar para vagabundo que não aceita mudar o País sem ganhar um dinheiro (…) Se ele pagou, foi pelos projetos do Lula, que mudou o Brasil em 12 anos”. Referindo ao ex-marido e a Genoino, manda brasa: “Eles estão pagando pelo Lula. Ou você acha que o Lula não sabia das coisas, se é que houve alguma coisa errada? Eles assumiram os compromissos e estão se sacrificando”
Sou quase tentado a ver a mão de advogado em certas declarações: “Se ele fez algum pecado…; se é que houve alguma coisa”… Dirceu pode estar tão no controle do que foi publicado que há até passagens nas quais ele não aparece exatamente bem — ao menos segundo a, digamos, moral convencional. Um bom despiste. Querem ver?
Quando o ta Carlos falou que era Dirceu e que suas prioridades eram outras, não houve uma separação imediata. Leiam este trecho:
Para ela, o único golpe foi ir a São Paulo e encontrar cabelos pretos de mulher no banheiro. Descobriu que era traída. “O Dirceu me disse: ‘Se eu tenho outra é um problema, agora se a gente vai se separar é outra questão’. E eu: ‘Não, senhor, acabou aqui, cara’. Peguei minhas coisas, o moleque pela mão e fui embora. Hoje, me arrependo, se eu não tivesse deixado o campo limpo, estaria com ele…”, imagina.
Huuumm… O sujeito de duas caras e de dois nomes também ambicionava ter ao menos duas mulheres. Parece que ele tentou ali negociar uma relação política com a companheira, que passava pela traição consentida. Ele tinha um jeito bem pouco convencional de entender também a República… Essa frase permite algumas permutas, como esta: “Seu eu corrompi alguém é um problema; se eu vou ser punido, é outro problema”.
A reportagem termina assim:
Em um de seus últimos encontros com o ex-marido, Clara o fez chorar: “Eu disse a ele: ‘A nossa ampulheta está acabando, você não se tocou, hein, garoto? Mas se um dia você precisar de mim, eu venho cuidar de você’. Ele ficou todo apaixonado e prometeu que ia me comprar um cordão de ouro igual ao que o ladrão me roubou. Mas não comprou, né, só falou…”
Entendo.
Algo de atrapalhado se passa nos porões do petismo. Marcos Valério, como revelou VEJA, quer discutir o benefício da delação premiada. E a mãe do filho de Dirceu, um deputado federal que nada tem de ingênuo, decide dizer que, se o ex-marido fez algo de errado, Lula sabia de tudo. Ninguém duvida disso, é evidente. A questão é saber que peso isso tem vindo de Dirceu e qual é a o preço.
Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/